Cultura Pop
Sylvain Sylvain, um músico da moda

Já que o guitarrista Sylvain Sylvain morreu na quarta-feira (13) após uma batalha contra um câncer, a partir de agora, só sobrou o vocalista David Johansen vivo para contar a história do dois discos dos New York Dolls, lançados em 1973 e 1974. E que serviram para introduzir uma das mais impressionantes e inovadoras bandas de rock dos anos 1970.
Bem antes do punk, os New York Dolls já adicionavam peso e sacanagem ao receituário do glam rock. O grupo conseguiu ser influência, simultaneamente, do punk, da new wave, do hair metal e do hard rock, com ecos em bandas como Smiths (Morrissey ficou extremamente impactado por uma aparição deles no Old grey whistle test), Blondie e Guns N Roses. E, claro, o aspecto visual do grupo – todo mundo vestido com roupas bem andróginas, com maquiagens desmontando no suor – contava e muito.
TRUTH AND SOUL
Aliás, isso contava a ponto do próprio Sylvain, guitarrista do grupo, ter tido um envolvimento bem profundo com moda durante boa parte de sua vida. Nascido Sylvain Mizrahi, no Cairo, Egito, ele vinha de uma família ligada à alfaiataria. Já estabelecido em Nova York, na adolescência em 1968, ele conheceu o primeiro baterista do New York Dolls, Billy Murcia – vindo de Bogotá, Colômbia, e imigrante como ele.
Os dois montaram uma marca de malhas, a Truth and Soul, que tinha origens bem mais hippies do que a história do New York Dolls poderia fazer supor. A marca vendia suéteres tricotados, chapéus, roupas com animal print, e tudo o que poderia fazer sucesso com a juventude descolada da época.

A empresa chegou a ter uma lojinha em (adivinhe só) Woodstock. O festival de Woodstock, como todo mundo está careca de saber, foi em Bethel, não na cidade novaiorquina que deu nome do evento. Mas a dupla foi até lá também. A Truth And Soul chegou a ter certa presença no mercado, a ponto de ter até anúncios descolados publicados em revistas – tipo esse aí de cima.
Em 1972, Murcia, sócio de Sylvain na marca, morreu de overdose. O músico nem sequer chegou a gravar discos com os New York Dolls. E logo depois disso, a banda, com Jerry Nolan nas baquetas, seria contratada pela Mercury. A Truth And Soul foi desaparecendo gradativamente e a banda (e depois, a carreira solo) passou a ser a prioridade do guitarrista.
MALCOLM
Sylvain sempre lembrava que, anos antes de Malcolm McLaren lançar os Sex Pistols, o empresário chegou a se impressionar com a aparência dele. Isso porque em 1971, numa feira de roupas, o criador da banda punk (e então dono da marca Let It Rock) estava mostrando algumas peças ao lado de Vivienne Westwood, enquanto a Truth And Soul também estava lá.
Sylvain lembra que Malcolm deu a ideia de sua banda (que já estava em andamento) usar roupas femininas. Anos depois, Malcolm esteve por trás da fase comunista (você já leu sobre isso no POP FANTASMA) do grupo. Se o NYD já não fazia muito sucesso, imagina vestido de vermelho, decorando o palco com bandeiras com a foice e o martelo, e portando o Livro Vermelho de Mao, em shows dados nos cafundós dos Estados Unidos.
DE VOLTA
E aí que em 2015 a Vogue noticiou que a Truth And Soul estava de volta, comandada por Sylvain e vendendo de chapéus (como os que ele usava no palco) a roupas com estampa de leopardo, além de casacos de couro feitos para motociclistas. A empresa ainda mantém uma página no Facebook, que não vinha sendo atualizada – possivelmente porque Sylvain estava hospitalizado.

E já que você chegou até aqui, pega aí New York Dolls ao vivo no Musicladen, em 1973.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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