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Crítica

Ouvimos: Shame – “Cutthroat”

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Em Cutthroat, o Shame amadurece sem perder a ferocidade: mistura punk, art rock e pós-punk com ecos de The Fall, Joy Division e até funk carioca.

RESENHA: Em Cutthroat, o Shame amadurece sem perder a ferocidade: mistura punk, art rock e pós-punk com ecos de The Fall, Joy Division e até funk carioca.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Dead Oceans
Lançamento: 5 de setembro de 2025

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Das bandas que ficaram famosas nos últimos dez anos, o Shame até hoje é o que mais parece com aquele primo que se recusa a “crescer” no sentido mais comum do termo. Aliás, eles parecem ter até mais apreço pela atitude que-se-foda do que os Viagra Boys, banda para a qual eles andaram abrindo shows.

Mais do que adultos bancando punks gritalhões, Charlie Steen (voz), Eddie Green, Sean Coyle-Smoth (ambos guitarra), Josh Finety (baixo) e Charlie Forbes (bateria) se parecem em vários momentos com uma versão anfetamínica de The Fall e Public Image Ltd, ou com o último grito da no-wave. Cutthroat, quarto álbum do grupo, leva essa vibe carne-de-pescoço adiante, mas com outros climas sonoros: parece que, mesmo sem amansar o som, o Shame vai se aproximando, do seu jeito, de uma noção mais formal de pós-punk + art rock + rock pauleira.

Logo na abertura, a faixa-título é quase stoner e quase metal – deixa um certo perfume de AC/DC no ar, inclusive. Cowards around também tem punk e pauleira anos 1970 misturados, com uma letra que espalha brasa para todo mundo: políticos safados, fãs de shake de proteínas, vendedores de seguros que usam gel no cabelo, etc. Quiet life invade a área do country-punk tenso, Plaster tem lembranças de Hüsker Dü, Siouxsie and The Banshees e Therapy?, Sons mais elegantes aparecem em Spartak, pós-punk + britpop gélido e melódico, e na eletrônica Axis of evil, que chega a lembrar um videogame antigo, por causa do teclado e da programação – são faixas nas quais Charlie soa grave, quase hipnótico ao cantar.

Além disso, recriações selvagens e pesadas da música de bandas como Talking Heads, New Order e Joy Division aparecem em To and fro (“não quero muito / me dê tudo o que você tem”, prega a letra), Screwdriver e After party. Tem também Lampião, música baseada nas histórias contadas pela família da namorada de Charlie (que é brasileira), com letra impacientemente narrada e um estilo musical que parece unir funk carioca e Public Image Ltd. A evolução vem chegando e faz bem ao Shame.

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Crítica

Ouvimos: After Geography – “A hundred mixed emotions”

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After Geography estreia com som repleto de referências de Beatles, Paul McCartney/Wings e David Bowie, além de psicodelia suave e power pop.

RESENHA: After Geography estreia com som repleto de referências de Beatles, Paul McCartney/Wings e David Bowie, além de psicodelia suave e power pop.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: KRML / Reptide
Lançamento: 3 de outubro de 2025

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Essa banda francesa é absolutamente inacreditável: um quarteto cujo som pode ser definido tranquilamente como power pop, mas é bem mais do que isso. As referências são os últimos discos dos Beatles, a fase pré-Rumours do Fleetwood Mac, algo dos Bee Gees dos anos 1960, bandas como Badfinger e Big Star, David Bowie, o comecinho dos Wings, o início solo de George Harrison. Tudo isso junto, forma o After Geography, que chega ao primeiro disco, A hundred mixed emotions, literalmente entregando o que promete no título do álbum.

  • Ouvimos: Julian Lennon – Because… (EP)
  • Ouvimos: Paul McCartney e Wings – One hand clapping

Nem dá para esconder que Julien Meret, Nicolas Baud, Lalie Michalon e Arthur Blanc são fanáticos por Beatles. “After geography” foi uma piada criada por Ringo Starr quando a banda ia lançar o disco Revolver (1966), pouco depois dos Rolling Stones lançarem Aftermath, no mesmo ano – o batera brincou que depois do “além da matemática” (trocadilho literal com aftermath, “consequências” em português) viria o “além da geografia”. Hear me out, na abertura, tem clima de It’s all too much + Tomorrow never knows, soft rock psicodélico de fibra. A faixa-título é uma tristezinha com violão, cordas e metais, com heranças de Kinks e Hollies, mas sem negar as raízes beatlemaníacas.

A funkeada Feel alive deve a Bachman-Turner Overdrive da mesma forma que deve ao britpop. Lalala song e Gemma, por sua vez, são 100% Paul McCartney e Wings, ainda mais a segunda, com várias partes diferentes e clima quase clássico. Mirror of creed tem ares de lado-Z do Abbey Road, com cordas lindas – e uma parte final meio progressiva, que faz lembrar Pink Floyd. She’s magnetic, por sua vez, tem muito de bubblegum sessentista, mas ganha cordas patinantes que lembram a disco music e surgem combinadas com percussão.

O fim do disco combina climas herdados de Bob Dylan e George Harrison em Slippin’ away, e um combo Lennon + Harrison + Bowie na bela A certain elation. Se você chorava pelos cantos lembrando dos discos mais que perfeitos lançados pela sumida banda irlandesa The Thrills nos anos 2000, tá aí mais uma banda para você anotar no seu caderninho.

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Crítica

Ouvimos: Mateus Moura – “A imitação do vento”

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Bossa psicodélica e vozes entrelaçadas guiam Mateus Moura em A imitação do vento, disco meditativo que transforma o cotidiano em caminhada e conhecimento.

RESENHA: Bossa psicodélica e vozes entrelaçadas guiam Mateus Moura em A imitação do vento, disco meditativo que transforma o cotidiano em caminhada e conhecimento.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Guamundo Home Studio
Lançamento: 5 de junho de 2025

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Ex-integrante do Les Rita Pavone (banda paraense que entrevistei outro dia), Mateus Moura abre seu álbum solo A imitação do vento na onda da bossa voadora e psicodélica, com delicados arranjos de sopros e um violão + vocal mais delicado ainda – em Orelha de pau, música de letra lisérgica, falando em invenções e intenções humanas. É preciso confiar, que vem na sequência, insere meditação onde há a mão e os passos do ser humano: a música é uma ciranda lenta e meditativa, marcada por sopros, percussões e vocais (de Mateus, Mainumy e Ane Dias) que, em alguns segundos da faixa, parecem soar a cappella.

Essa junção de celeste e terreste é uma das marcas de A imitação do vento – que por acaso tem uma música chamada Celeste, um samba-choro dividido por Mateus e Karimme Silva, em que os desafios da estrada ganham ar de conhecimento do dia a dia. Outra marca é a junção de vozes, tanto que há poucas faixas verdadeiramente “solo” no álbum. Estrela d’alva fala de céu, existência e semeaduras existenciais, com vibe de forró meditativo, trazendo Cacau Novais dividindo as vozes. Manhãzinha é um blues-seresta amazônico, com solo de sax, Lariza nos vocais com Mateus, e um quê de Luiz Melodia na música e na letra – que compara a vida com um rio fluindo, trazendo versos como “não há pressa que valha tanto / nem tristeza que se eternize”.

  • Ouvimos: Charlotte dos Santos – Neve azul (EP)

Já a marca principal do álbum é a transformação do dia a dia em conhecimento, em trabalho de caminhante, e em matéria de meditação. Uma estética que passa por todo o disco, chegando também a faixas como a valsa-blues O sopro (com Malu Guedelha), o forró Marujo de alto-mar (com Iris da Selva, aberta por um trecho curto, narrado, que lembra O ébrio, de Vicente Celestino) e a belíssima seresta-jazz Voz da noite, dividida com outro ex-Les Rita Pavone, Rafael Pavone.

No repertório de A imitação do vento, ainda tem o xote Luana, a carta para a mãe Mateus – aberta com acordeom e prosseguida com um violão que dá uma cara pinkfloydiana para a faixa –, a latinidade de Por la madre Tierra e, no encerramento, o samba Solo, cuja letra soa como um diário de caminhante e sonhador (“o sonho, ele vem me ensinar / se eu canto é pra aprender / o que eu preciso cantar”).

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Ouvimos: Chrissie Hynde – “Duets special”

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Duets Special traz Chrissie Hynde em covers fiéis e emotivos com convidados, unindo soul, 60’s pop e clima melancólico.

RESENHA: Duets Special traz Chrissie Hynde em covers fiéis e emotivos com convidados, unindo soul, 60’s pop e clima melancólico.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Parlophone
Lançamento: 17 de outubro de 2025.

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Surgido da ideia de fazer algo ao lado de Rufus Wainwright, Duets special é o segundo disco de Chrissie Hynde sem os Pretenders, trazendo a cantora dividindo uma série clássica de covers com convidados. Uma das faixas é justamente um dueto dela com Rufus, na versão de Always on my mind, sucesso de Elvis Presley – o velho country-gospel romântico imortalizado pelo cantor ressurge em versão triste de piano, com clima bem desolado, bem diferente da exuberância de Elvis.

É um dos momentos de Duets special em que Chrissie se limita a mostrar como determinada música bateu nela ao longo dos anos. Rola também com a vibe enigmática de Dolphins, sucesso sessentista de Fred Neil, relido por Hynde ao lado de Dave Gahan (Depeche Mode), que canta como um rei da voz. Ou na releitura de First of the gang to die, de Morrissey, que vira de vez uma canção 60’s e pop nas vozes dela e de Cat Power. Isso porque muita coisa de Duets special é bastante fiel aos originais, o máximo possível. Me and Mrs. Jones, o hit de Billy Paul, reaparece com vibe de soul elegante, trazendo Chrissie e k.d. lang.

A voz de Mark Lanegan, morto em 2022, e com quem Chrissie nunca chegou a se encontrar (trocaram e-mails após 2020 e fizeram planos infelizmente nunca concretizados), aparece postumamente na versão de outro clássico imortalizado por Elvis, Can’t help falling in love. E It’s only love, dos Beatles, mantém a vibe psicodélica na versão ao lado de Julian Lennon.

Uma surpresa é Sway, dos Rolling Stones, com Lucinda Williams: ficou fiel ao original country-rock mas agora dá para entender a letra, que era praticamente mastigada por Mick Jagger. Outra: I’m not in love, aquele baladão do 10cc, que já havia sido gravado pelos próprios Pretenders numa releitura meio folk-pop, retorna na mesma grandiloquência do original, com Hynde e Brandon Flowers (The Killers).

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