Lançamentos
Radar: Next Week’s Washing, Casablanca Drivers, Siren Section, Naima Bock, Kali Uchis

O Radar internacional de hoje encerra com um grande nome do pop – e abre com quatro nomes que você precisa ouvir hoje mesmo. O primeiro da fila é o Next Week’s Washing, uma banda que vai fazer muita gente sonhar – e que faz uma música contemplativa, com ótima letra, e um verdadeiro presente para os futuros fãs. Mas ouça tudo na ordem que bem entender, porque aqui é território livre. E passe adiante sempre!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Next Week’s Washing): Hayden Armstrong/Divulgação
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NEXT WEEK’S WASHING, “TO CARRY ON”. Essa banda trabalha no departamento de “música para sonhar”. O Next Week’s Washing vem de Toronto, no Canadá, prepara um EP para o fim do ano e adianta os trabalhos com To carry on, pós-punk sonhador, com os dois pés na psicodelia, e uma trama de guitarras que lembra Echo and The Bunnymen, Teardrop Explodes e o Primal Scream do começo, sempre em clima noturno.
A letra fala de um dilema existencial eterno, como a própria banda conta. “Ela aborda a experiência universal de enfrentar os desafios da vida e descobrir suas causas. Ao fazer isso, você se sente mais à vontade com as coisas que a vida lhe impõe e consegue aceitar quaisquer desafios como eles são. Em termos simples, você é capaz de seguir em frente – como o título sugere”, dizem. Os vocais, por sua vez, deram trabalho: a banda passou um bom tempo aperfeiçoando tudo, para criar várias camadas.
CASABLANCA DRIVERS, “EASY”. Vindos da Córsega (ilha na França), os músicos Alexandre Diani e Nicolas Paoletti montaram o Casablanca Drivers em sua terra natal em 2012 – depois instalaram-se em Paris e estão lá até hoje. Voltada para uma mescla de rock e sons eletrônicos, a banda já soltou três EPs e dois álbuns. Easy, single que anuncia o próximo álbum, é dance-punk no melhor dos sentidos, com tecladeira hipnótica, guitarras distorcidas e vibrações que convidam tanto a dançar quanto a bater cabeça na pista. O clipe da faixa foi dirigido por Alexandre Courtes, o cara que criou os capacetes do Daft Punk – se você ainda não assistiu, espere algo bastante perturbador e tão hipnótico quanto a música
SIREN SECTION, “MEDICINE”. Duo de Los Angeles formado por James Cumberland e John Dowling , o Siren Section já está junto há duas décadas, e faz um som que definem como glitchgaze – eletrônica, guitarras pesadas, experimentalismo, clima deprê e denso. Medicine, novo single, mostra uma banda com características e junções sonoras próprias: tem referências de Orchestral Manoeuvres In The Dark e até de Joy Divison, mas tem uma serração de guitarras vindas do shoegaze, lado a lado com vocais melódicos. Em 2026 sai um novo álbum da dupla.
NAIMA BOCK, “TAKES ONE” (LIVE). Cantora britânica contratada pela Sub Pop, Naima participou, em abril de 2024, do festival Faveurs de Printemps, em Tandem, Toulon, na França. Foi dessa apresentação bastante minimalista – voz, violão e aplausos da plateia silenciosa – que vieram as releituras do EP ao vivo Live in Toulon, com cinco faixas de seus álbuns Giant palm (2022) e Below a massive land (2024).
A desencantada Takes one abre a seleção, com Naima embalando tristezas abissais com um violão simples e um vocal de longuíssimo alcance. “Mas se é preciso um para conhecer outro / então graças a deus eu não te conheço de jeito nenhum (…) / se você me levasse embora, eu deixaria tudo ir / algum dia, você encontrará outro”, diz a letra.
KALI UCHIS feat MARIAH THE SCIENTIST, “PRETTY PROMISES”. Sincerely, excelente disco de Kali Uchis lançado em maio, ganha agora sua edição deluxe, Sincerely: P.S., com cinco faixas a mais e dois duetos exclusivos. Um deles é Pretty promises, música que tem pouca relação com o clima clássico e sessentista do álbum original: une elementos de r&b e dream pop, com vibe vertiginosa e sonhadora. A cantora e compositora pop Mariah the Scientist participa da faixa. Já saiu há alguns dias, mas sempre vale recordar Sincerely, disco ótimo que tem sido pouco comentado – e que agora, por causa do fim da turnê de Kali, ganha revitalização (resenhamos ele aqui).
Lançamentos
Radar: Clara Bicho, Tontom, Seu Calixto, Miragaya, Tenório

Atchim! Em meio a um baita resfriado, vamos devagar para o segundo Radar nacional da semana – agora são três vezes! – destacando o clipe retrô-moderninho de Clara Bicho, mas seguindo também com o pop brasileiro de Tontom, o rock’n roll de Seu Calixto e Miragaya, e o jazz indie do Tenório.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Clara Bicho): Pedro Patti / Divulgação
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CLARA BICHO, “TELEJORNAL ANIMAL”. Primeiro single da mineira Clara desde o EP Cores da TV (resenhado pela gente aqui), Telejornal animal é um easy listening ensolaradíssimo, com balanço lembrando Lincoln Olivetti e estileira dream pop nos vocais e nos teclados. Narrando um romance mediado pela TV, a letra fala em largar tudo e voar pra bem longe de tudo que causa estresse e aporrinhação.
Já o clipe, dirigido por Mariana Barbosa, traz a personagem Lua – um personagem imaginado por Clara, que ganhou fantoche feito por Laura Kind – apresentando um misto de telejornal com talk show no estilo do Johnny Carson. A cláusula de tempo é a dos anos 1960/1970: vestidões, roupas em clima psicodélico, gente fumando na plateia e até no palco. Ainda que Telejornal animal, a música, seja o mais 2025 possível.
TONTOM, “OLHA”. A carioca Tontom (Antonia Perissé) também lança o primeiro single após um EP – Mania 2000 saiu no ano passado e foi resenhado pela gente aqui. Olha, o novo compactinho dela, é uma ska-bossa com efeitos, ruídos e psicodelia no design sonoro. A letra, por sua vez, narra de maneira fofíssima o começo de uma paixão. “Eu escrevi o single enquanto conhecia meu namorado, fiz a melodia junto com o primeiro verso, e ao longo do tempo e dos acontecimentos, fui completando as lacunas vazias da melodia com a letra. É uma canção extremamente sincera e pessoal”, conta ela, que hoje está estudando música em Berlim, na Alemanha.
SEU CALIXTO, “LÁ FORA”. Essa banda de Salvador (BA) une referências como Clube da Esquina, Raul Seixas e Red Hot Chili Peppers – e, pode acreditar, você vai encontrar tudo isso misturado em Lá fora, novo single de Pedro Bulcão (voz), Seu Zé (guitarra), Gabriel Brandão (baixo) e David Bernardes (bateria). É uma música que une o senso melódico e as texturas imortalizadas por John Frusciante (guitarrista do RHCP) e uma poesia bem brasileira. Seu Zé, o guitarrista, conta que a música fala sobre aproveitar de maneira plena “a companhia de outra pessoa, uma conexão de almas que exclui o resto do mundo”. Já a ideia por trás da melodia é a de “traduzir um clima de que há tempo de sobra para aproveitar o momento, sem pressa”.
MIRAGAYA, “LOCKDOWN”. Autor de músicas para comerciais e trilhas, o guitarrista Ronaldo Miragaya deu um tempo nas bandas com vocalistas e decidiu montar um power trio instrumental com Vinícius Giffoni (baixo) e Dawton Mendes (bateria). O trabalho chegou ao disco, por intermédio do selo Caravela Records, e também à TV: o EP Ao vivo do Ipiranga sai nas plataformas e também virou especial do canal de TV Music Box Brazil. Lockdown, uma das mais significativas faixas do EP, dá uma cara blues-rock ao fecha-tudo da pandemia, trazendo o que Miragaya chama de “riffs e grooves coexistindo em harmonia”, além de inúmeros solos.
TENÓRIO, “PEDRA DO RIO NÃO SABE QUE MONTANHA É QUENTE”. Jazz caudaloso, progressivo e referenciado em Tigran Hamasyan, Amaro Freitas, Radiohead, Badbadnotgood e Porstishead. É a proposta do Tenório, projeto musical que acaba de estrear com seu primeiro single, Pedra do rio não sabe que montanha é quente. Uma música que passeia por vários ritmos, conduzida pelo piano e pelo design percussivo.
Na formação do Tenório, Filipe Consolini (piano), Henrique Meyer (guitarra), Victor José (baixo) e Felipe Marques (bateria). O grupo pretende lançar mais um single até o começo de dezembro, e o álbum inteiro do Tenório no ano que vem.
Crítica
Ouvimos: Lana Del Rabies – “Omnipotent fuck”

RESENHA: Projeto solo de Sam An, Lana Del Rabies cria em Omnipotent fuck um noise demoníaco e visceral, mistura de ritual, grito e salvação pelo barulho.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Feral Crone Recordings
Lançamento: 7 de novembro de 2025
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Disquinho bom pra ouvir depois da meia-noite, esse. Lana Del Rabies não é uma banda – é o codinome usado pela musicista Samanta Angulo (que também reduz o nome verdadeiro para Sam An), de Los Angeles. Lana Del Rabies, além da zoação explícita com a cantora Lana Del Rey, é um projeto de noise extremo, demoníaco, feito para aterrorizar.
Omnipotent fuck, quarto disco de LDR, faz lembrar aquela velha história de quando Jimmy Page (Led Zeppelin) comprou a Boleskine House, que pertencia ao ocultista Aleister Crowley, e botou um amigo para tomar conta da mansão enquanto se ocupava dos afazeres do Led. O tal amigo não apenas se mudou para lá como também levou a família – e de noite, com a esposa no quarto trancado à chave, ouvia os rugidos de um suposto “animal selvagem” à solta nos corredores da casa.
- Ouvimos: Ethel Cain – Perverts
Nas nove faixas de Omnipotent fuck, Lana une todo tipo de ruído maligno, de teclados ambient a percussões assustadoras – por sinal, num curioso espelho da trilha que o próprio Page fez para Lucifer rising, filme do cineasta do oculto Kenneth Anger. Soltando a voz, ela dá agudos, sussurra e também “é” esse animal selvagem, em tons guturais.
O disco abre com Tactical avoidance, uma porrada ambient satânica em que ela repete as palavras “isolamento” e “excesso”, ambas transformando-se em grito e em dor. Lá pelas tantas parece que um espírito maligno toma conta da faixa – espírito esse que se solta em Objective death e Consensual pain, faixa repleta de risadas que soam como algo ritualístico, e de gritos de dor.
O restante de Omnipotent fuck é basicamente o monstro da Boleskine House arranhando sua porta: Bedroom sores une “gritos”, “pecados” e a ordem “toque-me!” na letra, com direito a ruídos que lembram nada menos que (olha aí, ó) o interlúdio instrumental de Whole lotta love, do Led. Wisdom spit, a melhor do álbum, é tiro, porrada e obscenidade. Vulnerable package é totalmente desenvolvida nas sombras, com Lana berrando “estou prestes a ter a porra de um desmaio!”. Obedient master é post rock demoníaco e hipnótico.
No fim, a faixa-título recebe o ouvinte com um grito gutural, é trilhada no corredor da violência sonora, e tem tanto ruído que chega a doer no ouvido – encerrando c0m tudo rodando violentamente ao contrário. A salvação pelo barulho, pela vertigem e pelo esporro, ao alcance de um clique.
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Crítica
Ouvimos: Phil Lynott’s Grand Slam – “Orebro 1983”

RESENHA: Registro raro de Phil Lynott com o Grand Slam em 1983 mostra o líder do Thin Lizzy flertando com punk, pós-punk e reggae, em show na Suécia – sem deixar o som de sua antiga banda de lado.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Cleopatra Records
Lançamento: 15 de agosto de 2025
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Com passagens por grupos de punk, pós-punk e new wave, o cantor, compositor, tecladista e guitarrista escocês Midge Ure nunca entendeu direito como é que ele foi parar justamente no Thin Lizzy, nomão do hard rock. Foi o que ele contou ao documentário Phil Lynott: Songs for while I’m away, sobre a história do líder da banda, que esteve em cartaz na edição 2021 do festival In-Edit. O fato é que o músico, que já estava até efetivado como vocalista no Ultravox, era amigo de Phil e foi chamado para ocupar guitarra e teclados no grupo entre 1979 e 1980, enquanto o grupo não arrumava um guitarrista fodão para o cargo.
Além de tocar no grupo nesse período, Midge também foi responsável por encher os ouvidos do amigo com novidades do synthpop, da música eletrônica e do pós-punk. Phil, que já andava interessadíssimo em punk rock, não apenas gostou do som, como também adotou essa sonoridade em várias músicas de seus trabalhos solo. Um pouco – mas só um pouco – disso vazou também para o Grand Slam, banda de curta duração que Phil montou em 1983 com dois ex-Thin Lizzy (Brian Downey, bateria, e John Sykes, guitarra solo) e outros músicos de sua banda solo.
- Relembrando: Thin Lizzy – Jailbreak
O Grand Slam não conseguiu contrato com nenhuma gravadora e limitou-se a fazer turnês pela Europa durante um ano – mas deixou várias demos e gravações ao vivo, nas quais se percebe que o som de Phil já estava encharcado de referências do punk, às vezes soando como um Sex Pistols motorbiker ou como um Motörhead menos bravio, cabendo também referências de reggae em vários momentos. O repertório incluía os hits solo de Phil e alguns poucos sucessos do Thin Lizzy – Whiskey in the jar, a balada Sarah, feita para sua filha mais velha, e (às vezes) The boys are back in town – pintavam no set list.
Foi nesse clima que a turma foi fazer um show em Orebro, cidade na Suécia, em 1983 – show esse que já foi diversas vezes pirateado, e ganhou resgate em vinil pelo selo Cleopatra Records. Orebro 1983 começa pela faceta mais tecnopop fake de Phil (Yellow pearl, por sinal uma parceria com Midge), segue com a roqueiragem de Old town e insere mais dois hits do TL no setlist (A night in the life of a blues singer e Still in love with you). Parisienne walkways, hit solo do ex-Thin Lizzy Gary Moore (chamada pelo sem-filtro Lynott de “Parisienne blowjob”, “boquete parisiense”), vem em clima de bluesão com viradas de bateria – se você detesta o som daquelas baterias eletrônicas Simmons, que pegaram mais que praga de piolho em creche lá por 1983, nem encare.
O som de Orebro 1983 mostra também que o The Police era ou uma influência, ou uma sombra, ou uma matéria de bullying para Lynott. O hit Solo in soho tem aquele mesmo clima de “europeus se metendo a fazer reggae” do Police. King’s call, outra música solo, tem argamassa roquenrol e clima pós-punk-reggae – lembra o som do Herva Doce. Já The boys are back in town é aberta com uma zoação feroz com Every breath you take – a banda toca a introdução do hit do Police, Phil parece sacanear a voz de Sting e em seguida avisa que se trata “apenas de uma introdução musical”. Para matar as saudades do comandante Phil.
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