Lançamentos
Retrato: psicodelia e mistério no single/clipe “Espelho”

O duo paulistano Retrato, formado por Ana Zumpano (bateria e voz) e Beeau Gomes (guitarra e voz) define-se como “uma banda que mistura música brasileira, psicodelia, anos 60 e 70 e artes visuais”. O clipe do primeiro single do grupo, a curtinha Voo, une videoarte no estilo dos anos 1980 e sonoridade meio beatle, meio mutante, mas com ruídos estrategicamente inseridos no arranjo, em meio a bases e solos. Agora sai o novo single da banda, Espelho.
Boa parte do clipe da faixa foi gravado em meio a vários espelhos, num clima bem misterioso e psicodélico. “A música fala sobre a dualidade dos encontros e a reflexão que surge através da imagem, enxergando nós mesmos como espelhos uns dos outros. O clipe é uma alegoria a virtualidade dos reflexos e num jogo simbólico onde o real e o imaginário projetado se confundem, conseguimos enxergar novas camadas do inconsciente, presente na escolha da linguagem em preto e branco que remete à luz, sombra e tem inspiração nos filmes surrealistas de Maya Deren, Luis Buñuel e Man Ray”, diz Ana.
Ana faz parte também do Echo Upstairs, cujo EP ganhou resenha no Pop Fantasma.
Foto: Vitor Cohen/Divulgação
Lançamentos
Urgente!: City Mall em single, Beth Gibbons ao vivo, Ligia Kamada em clipe, MPB e rock nacional em vinil e CD

Comentada aqui no Pop Fantasma algumas vezes, a banda paulista City Mall — especializada nos sons que ecoam por consultórios e elevadores (um city pop relaxado, mas com imaginação de sobra) — acaba de somar à sua discografia o single City tour. A faixa junta synth pop e jazz, e transforma a paisagem urbana do centro de São Paulo em trilha sonora. Para marcar o momento, a banda lançou também uma live session com a nova música.
O som novo do City Mall inaugura a quinta edição do projeto Patterns, parceria do selo Sound Department com a Cavaca Records, o Museu do Sintetizador e o Estúdio Trampolim. A ideia do projeto é ousada nesses tempos de algoritmos: foco em artistas que expandem os limites da linguagem musical e mergulham fundo nas experimentações (Foto City Msll: Yasmin Kalaf/Divulgação).
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Você se apaixonou por Lives outgrown, disco sublime que Beth Gibbons lançou no ano passado (e que a gente resenhou por aqui)? Então corre: Beth foi a convidada da vez no Tiny Desk Concerts, e levou sete músicos para apertarem-se entre prateleiras e mesas no estúdio da série. Entre estantes, fios, mesas e papéis, o repertório solo da cantora do Portishead chega a ranger. É daqueles vídeos que não dá pra deixar passar.
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“Sentir mas sem sofrer do corte / olhar pra dor e até sorrir com a sorte”, canta Lígia Kamada em Sacode, uma das faixas mais marcantes do álbum Kamadas, gravada com participação de Jhayam. A música acaba de ganhar um clipe em preto e branco, dirigido por Gui Midões, com cenas urbanas e tomadas na Serra da Mantiqueira. Para conferir o repertório de Kamadas ao vivo: no dia 23 de maio, Lígia sobe ao palco do Sesc São José dos Campos.
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Jornalista especializado em rock e histórias em quadrinhos, Heitor Pitombo tem muitas histórias para contar — e uma das mais curiosas é a de ter sido o primeiro jornalista a entrevistar Paul McCartney no Brasil, durante a coletiva de 1990 (foi o primeiro a abrir os trabalhos com uma pergunta). “Mas alguns anos antes disso, comecei a trilhar uma trajetória muito ligada à música, que me levou a tocar com diversos grupos e formações dos mais variados estilos, e a compor centenas de canções”, diz ele, que agora se prepara para lançar o CD (sim, CD) O tempo não é nada, com participações de Guto Goffi, Torcuato Mariano, Beto Saroldi, Andrea Ernest Dias e Luiz Lopez.
O álbum chega às plataformas em versão digital, mas também vai ganhar edição física — um crowdfunding (confira aqui) está no ar para bancar o lançamento em CD, com encarte e letras. A gente aqui no Pop Fantasma já apoiou, e recomendamos que você faça o mesmo. Mas atenção: o financiamento vai só até esta terça (13), às 23h59.
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Dois discos que nasceram digitais agora ganham vida em vinil. A banda paraibana Papangu anuncia o lançamento físico de Holoceno (2021) — o primeiro disco deles — em LP vermelho marmorizado 180g, além de CD digipack e fita cassete. A pré-venda já está rolando no site da Taioba Music.
Já Tudo é minha culpa, álbum que funciona como autobiografia musical da pernambucana Joyce Alane, também vai sair em vinil, CD e cassete — no LP, há luxos como capa holográfica 3D e encarte de 12 páginas com fotos e letras. Em parceria com o selo cearense Wakati Produções, o disco já está em pré-venda. Os envios começam em setembro.
Lançamentos
Radar: Vitória Faria, Day Limns, Heal Mura, Quarto Quarto e outros sons

Sons lançados agorinha e muita variedade (a ponto de irmos da dance music hipnotizante ao forró, passando pelas guitarras pesadas) é a receita do Radar de hoje, aqui no Pop Fantasma. Ponha tudo na sua playlist! (foto Vitória Faria: Flora Negri/Divulgação).
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VITÓRIA FARIA feat ASSUCENA ASSUCENA, “DOIS CENTÍMETROS”. Canção com vibe de forró e clima de blues, tudo misturado, Dois centímetros é o terceiro single da acordeonista e cantora Vitória Faria. A letra fala de uma época delicada na vida da cantora, quando estava apaixonada por uma pessoa em transição de gênero, mas o relacionamento estava chegando ao fim. “Essa música é a fotografia do nosso último encontro”, ela diz. “Acho louco pensar que o meu chão estava desabando, eu não sabia onde colocar todo aquele amor mas não sabia também, que exatamente naquele momento, ela estava num processo interno e pessoal de transição”, conta ela, que trouxe Assucena Assucena, com quem tocou na banda As Baías, para participar da faixa. Uma música que parece sussurrada no ouvido da gente. E Vacas exaustas, álbum de Vitória Faria, sai neste mês.
DAY LIMNS, “DEUS É HUMANO”. “Eles estão vivendo o Armageddon / colocando deus contra todos / de onde eu vi, para onde eu vou / deus é humano.” É assim, sem rodeios, que Day Limns abre o recém-lançado A beleza do caos, seu novo EP. A faixa de abertura, Deus é humano, já dá o tom: uma mistura intensa de nu-metal, trap, rap e variedade hyperpop — na mesma linha ousada de discos recentes de Charli XCX. A canção faz uma leitura nada ortodoxa do sagrado: aqui, o divino caminha pelas ruas, respira o mesmo ar poluído das cidades, sente as dores do agora. Deus, afinal, é humano. O título do EP também vem como uma faísca filosófica. “Se o caos veio antes da luz, então é em nós que ela nasce”, diz Day.
HEAL MURA feat RENATO COHEN, “TANTRUM (RENATO COHEN REMIX)”. Sob o nome Heal Mura, o tecladista Murilo Faria (da Aldo The Band) vem lapidando um universo eletrônico que flutua entre o experimental e a healing music. Seu disco The limited repetition of pleasure (já resenhado por aqui) mostrou isso com clareza e sutileza. Agora, ele volta com uma nova leitura de Tantrum, remixada por ninguém menos que Renato Cohen – lenda das pistas e, nas palavras do próprio Murilo, um verdadeiro herói pessoal. Cohen levou a faixa original para outro plano: intensificou o pulso dançante da música e empurrou a experiência para um transe completo. O resultado é uma viagem que começa introspectiva e termina no meio da pista, de olhos fechados e corpo entregue.
QUARTO QUARTO, “ME FAZ MAL”. Formado em São Paulo em plena pandemia, o Quarto Quarto pratica um emocore urgente, nervoso e cheio de sensibilidade, que fala das incertezas do agora — como em Me faz mal, seu novo single. Há momentos em que a quebradeira rítmica se aproxima do pós-hardcore, mas sempre com espaço para respiro e afeto. Com dois EPs lançados (Prédio cinza, tempo bom, de 2022, e Sorte, de 2024), a banda prepara Revés, que sai em breve. Ele e Sorte, juntos, formam um álbum inteiro — feito em partes, como se necessário viver cada lado da história antes de contá-la por completo.
MARCOS LAMY feat LUCAS LÓ, “MULECAGEM”. “É um single importante, que carrega influência de grandes nomes da música nordestina, como Luiz Gonzaga e Dominguinhos, e transporta todo mundo para as festas juninas que se aproximam”, conta o maranhense Marcos Lamy sobre Mulecagem. Um forró que se inicia com uma parte instrumental duradoura (quase um minuto de solos de sanfona, no mais puro virtuosismo nordestino), e que está programado para o repertório de Braço de mar, álbum que vai sair ainda esse mês. A letra é pura zoeira, avisando que a sala tá cheia, ainda tem gente chegando – mas pisando devagarzinho, dá para se divertir. Novidade, mas com o pé na tradição.
GUANDU feat MARINA MOLE, “MAIS UM DIA”. O novo single da banda paulistana Guandu, que volta a colaborar com a artista experimental Marina Mole, mergulha num lo-fi melancólico, com aquela textura de gravação caseira feita nos anos 1990. E não é só charme estético: Mais um dia foi mesmo registrada em fita, num gravador Tascam de quatro canais, como se fosse uma demo perdida no tempo. O clipe acompanha esse espírito: passeia pela paisagem urbana de São Paulo com olhos que parecem ver tudo pela primeira — ou talvez pela última — vez. A canção antecipa o álbum de estreia do Guandu, previsto para junho, com doze faixas. Se seguir esse clima, vem coisa bonita por aí.
UNDO, “PORCOS NÃO OLHAM PRO CÉU”. “Fomos pegos de assalto / acordados com tapas na cara / dinossauros apontam suas Taurus / nos escombros do Museu Nacional”. O novo single do supergrupo de André Frateschi (voz), Rafael Mimi (guitarras), Johnny Monster (guitarras), Dudinha (baixo) e Rafael Garga (bateria) é direto e vai na veia do autoritarismo, da desigualdade e da intolerância – coisas que o Brasil viu de perto várias vezes. O som é um pós-punk que faz lembrar os anos 1980, graças aos synths e programações, mas sempre com os dois pés na modernidade de bandas como Idles e Arctic Monkeys. Barulho com propósito, feito por quem não quer apenas passar pela história, mas sacudi-la um pouco antes de seguir em frente.
ATOR CARIOCA, “A DOR É A GRAÇA”. Com nome descontraído e fotos de divulgação que mostram os integrantes em cenários luminosos, o Ator Carioca se dedica mesmo é à angústia sonora – com toques de pós-punk, math rock, MPB anos 1970 e outros estilos. Nada a esconder, novo disco da banda maranhense, já está entre nós, e último single a anunciá-lo foi A dor é a graça, som que tem até toques de flamenco nos solo de violão. Para quem ainda não escutou o álbum, Hugo Rangel (guitarra) e Orlando Ezon (vocal) avisam que se trata de um som acústico, experimental e introspectivo.
Crítica
Ouvimos: Clara Bicho, “Cores da TV” (EP)

“Artista visual, musicista e jornalista pela UFMG”, como se define em seu instagram, Clara Bicho oferece mais do que apenas música em seu aguardado primeiro EP, Cores da TV – o disco é um universo esperando para ser desvendado. As melodias tem ar indie pop, as letras têm clima de diário, os cenários mostram Clara interagindo com todos os lugares dos quais ela fala nas letras.
A paleta indie pop do disco traz influências de disco music na faixa-título Cores da TV (parceria com Sophia Chablau), que traz sonoridade remetendo a grupos como Girl Ray, enquanto Meu quarto é mais experimental, soando como um passeio introspectivo pelos guardados de Clara Bicho e pelas recordações de uma vida (“faz um tempo ue eu tento me organizar / mas disso tudo aqui eu não quero me livrar”).
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Quase sempre, o som de Cores da TV parece “derreter”, como numa psicodelia pop, herdada tanto de Mutantes quanto de Flaming Lips. Rola isso na bossa indie Música do peixe, que depois se transforma numsamba-rock, e também no pop adulto oitentista (city pop, digamos) de A rua. Luzes da cidade, quase na mesma vibe, é um pop de quarto que remete ao boogie dos anos 1980, cujo vocal tem sujeira de gravação feita em casa.
No final, o som luminoso e repleto de recordações de Árvores do fundo do quintal, gravada ao lado da banda catarinense Exclusive Os Cabides (“as árvores do fundo do quintal / mandam lembranças / de quando a gente era criança”). Uma música, e um EP, em que passado e afeto são tão importantes quanto o futuro, e formam uma visão nova de música pop.
Nota: 9
Gravadora: Bolo de Rolo
Lançamento: 5 de maio de 2025.
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