Lançamentos
Radar: Miley Cyrus, St Vincent, The Hives, Wet Leg e mais sons novos internacionais

Música boa saindo por todos os lados – tem até coisa que já ficou para semana que vem. 2025 não está dando descanso. No Radar estrangeiro desta semana, tem hitmaker de estádio (Miley Cyrus) e gente nova que ainda nem pisou no mainstream, mas já merece sua atenção. Dez faixas certeiras pra sua playlist ficar no ponto e tocar no talo. Bora lá?
Foto Miley Cyrus: Glen Luchford/Divulgação
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MILEY CYRUS, “PRELUDE” / “SOMETHING BEAUTIFUL”. Ficou assustado / assustada com a guinada indie-rock-prog (!!) empreendida por Miley Cyrus em suas duas novas músicas? Bom, passado o susto inicial, os dois singles de Something beautiful, o tal álbum visual de Miley supostamente inspirado em Pink Floyd (e previsto para sair dia 30 de maio, com o filme do disco saindo em junho), revelam um projeto pop, jazzístico, distorcido e ambicioso, e que não necessariamente vai aproximar a cantora de uma galera mais indie – mas provavelmente vai trazer mais criatividade e perturbação ao universo pop do qual ela vem. Shawn Everett, que trabalhou com The War On Drugs e The Killers, é um dos produtores ao lado da própria Miley. E na quinta-feira (3) tem single novo, End of the world.
ST. VINCENT, “DOA (DEATH OF A UNICORN)”. Se Miley Cyrus virou indie, talvez você não estranhe a trevosa St Vincent (ou Annie Clark, seu nome verdadeiro) lançar sua canção mais pop. DOA está na trilha do filme Death of a unicorn, uma comédia de horror de Anna Chandler, com Paul Rudd e Jenna Ortega no elenco, ainda sem data de exibição no Brasil. E, enfim, é pop, mas à maneira de St Vincent, já que o som é um eletrorock com batida funkeada, lembrando uma Gang Of Four acelerada (e com direito a uma guitarra-base que oscila entre Chic e juju music). Nem precisa falar em que volume você deve escutar esse sonzão. Certo?
THE HIVES, “ENOUGH IS ENOUGH”. The Hives forever forever The Hives, próximo álbum dos Hives, programado para 29 de agosto, tem créditos para o “sexto membro” Ranzy Fitzsimmons como autor – mesmo que o disco anterior, The death of Randy Fitzsimmons (2023) tenha anunciado o falecimento do sujeito, que na verdade é um codinome do guitarrista Niklas Almqvist. O disco tem produção de Pelle Gunnerfeldt e Mike D (Beastie Boys), participação de Josh Homme (Queens Of The Stone Age) e acaba de ser anunciado com o single/clipe Enough is enough, desde já um clássico master da paciência que se esgota. E a faixa é creditada a quatro Fitzsimmons (Randy, Chip, Montgomery e Wilbur).
WET LEG, “CATCH THESE FISTS”. O disco novo da dupla formada por Rhian Teasdale e Hester Chambers (tem mais integrantes, mas elas são “a” banda) está previsto para sair dia 11 de julho e se chama Moisturizer. Aparentemente, mesmo com o destaque dado às duas, é um trabalho mais coletivo, no qual todos os músicos participaram. E, segundo Rhian, o disco que vem por aí fala sobre a descoberta de sua sexualidade: “Pensava que era heterossexual e que sempre seria assim, até conhecer a pessoa com quem namoro agora. Estas canções são sobre ela”, conta. Catch these fists é um rock “indie” e quase falado, que lembra a descontração do Elastica. O clipe, dirigido pelo próprio Wet Leg, traz a banda se exercitando e treinando como se fosse entrar num ringue. Só falta falar “tá pago!”
CAR SEAT HEADREST, “CCF (I’M GONNA STAY WITH YOU)”. Colocamos essa música de última hora aqui, já que saiu agora há pouquinho: o single novo do Car Seat Headrest continua a aventura progressiva que a banda de Will Toledo pôs para rodar no single anterior, Gethsemane – e que serve de batedor para o disco The scholars, o mais ousado do grupo, que sai dia 2 de maio. Dessa vez, somos apresentados à história de Beolco, um estudante que se acha conectado espiritualmente ao dramaturgo que criou a universidade Parnassus, onde ele estuda. O clipe dá imagens em animação para a história. Já o som parece unir Paul Simon e The Who (!) como se sempre tivessem existido um para o outro.
THE OPHELIAS, “CICADA”. “Essa música é sobre como nenhum dos meus ex relacionamentos ou ex-amigos usa mídia social. Cabe a mim adivinhar o que estão fazendo, como passam o tempo. Acho que às vezes é melhor não saber!”, conta Spencer Peppet, do The Ophelias, sobre a tensa e doce Cicada, música nova do grupo norte-americano. Um indie rock levado adiante por cordas e por uma melodia difícil de tirar da mente. Spring grove, disco novo do grupo, sai dia no 4 de abril, e tem produção de Julien Baker (Boygenius).
FLORIST, “JELLYFISH”. “Você é apenas uma pequena parte / mas sua vida vale muito / destrua o sentimento de que você não é/ destrua o sentimento de que você não é o suficiente”, canta candidamente Emily Sprague, vocalista do Florist, banda indie de Nova York, que lança o disco Jellyfish nesta sexta (4). Tanto a faixa-título quanto o disco falam sobre “repensar o que é normalizado para que possamos ser mais simbióticos uns com os outros e com a Terra” e fazem questão de lembrar a quem ouve que “somos merecedores de felicidade e amor”. Doçura em forma de indie-folk.
SOLARRIO, “SO MANY QUESTIONS”. Quem diria que algo parecido com a batidinha de Girl I’m gonna miss you, do Milli Vanilli, ia ganhar clima vaporwave, synths gelados e vibe moderninha (com direito a um lyric video baseado em emoticons e mensagens pelo celular)? Solarrio – ou David Baremboim, seu nome verdadeiro – é um cantor e compositor que cresceu entre Paris, Berlim e Chicago, e fala em So many questions sobre amor, limites e verdades que doem.
DAHL, “ALLEYS”. Com um leque de influências que inclui bandas como Radiohead, Efterklang e The Arcade Fire, o Dahl é uma banda de art rock do Canadá (como tá vindo coisa legal de lá, por sinal) que oscila entre o quase-progressivismo e a ambient music. Alleys, música marcada por teclados circulares e por uma sonoridade estelar, saiu ano passado no EP mais recente do grupo, The Earle’s Hall Sessions. E surgiu de uma espécie de retiro do Dahl, em que o grupo se propôs a escrever e gravar sete músicas em dois dias (e conseguiu!).
THE BOLSHOI BROTHERS, “JUST A GIRL”. Parece nome de dupla de malabaristas de circo (os grandes “irmãos Bolshoi”, enfim), mas não é: Trevor Tanner e Paul Clark, ex-integrantes do Bolshoi – aqueles caras de hits oitentistas como A way e Sunday morning, lembra? – retomaram a banda, só que com o nome The Bolshoi Brothers. O primeiro álbum do novo grupo, epônimo, já saiu, destacando o single Just a girl, que une folk setentista e sintetizadores que aludem tanto ao rock progressivo quanto ao synth pop. Curiosidades sobre o grupo: 1) baseados originalmente em Londres, os dois hoje vivem nos Estados Unidos – Trevor na Flórida e Paul em Seattle; 2) a dupla não trabalhava junta há 35 anos e começou a bolar o disco na época da pandemia, cada um em seu canto; 3) o visual de Trevor e Paul hoje em dia varia entre o gótico e o motoclubber, com couro da cabeça aos pés (Trevor adotou até uma bandana).
Crítica
Ouvimos: Pélico – “A universa me sorriu – Minhas canções com Ronaldo Bastos”

RESENHA: Em A universa me sorriu, Pélico e Ronaldo Bastos unem lirismo e pop, misturando folk-MPB, bossa e ecos dos anos 1970 e 1980.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Solov / YB Music
Lançamento: 26 de setembro de 2025
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Aldir Blanc foi o letrista de canções de lirismo e enfrentamento, como O mestre-sala dos mares, e de sambas-crônica como Incompatibilidade de gênios – ambas com seu maior parceiro, João Bosco. Também mandou bala num lado pop hoje pouco lembrado, compondo canções com o Roupa Nova (Coração pirata e o tema da novela A viagem) e escrevendo um rap para a abertura da novela Quatro por quatro (Picadinho de macho, com Tavito, gravada por Sandra Sá).
Letristas, de modo geral, têm esse ecletismo e essa versatilidade – e com Ronaldo Bastos não é diferente. O niteroiense compôs bastante com Milton Nascimento, mas também usou bastante seu lirismo a favor da música pop, escrevendo canções com Lulu Santos (Um certo alguém), Celso Fonseca (Sorte, hit de Gal Costa e Caetano Veloso) e Ed Wilson (Chuva de prata, gravada por Gal). Muita gente não notou, mas Ronaldo foi também produtor de João Penca e Seus Miquinhos Amestrados – cuidou de discos como Okay my gay (1986) e escreveu com eles músicas como Romance em alto-mar.
- Ouvimos: Jup do Bairro – Juízo final
Daí que A universa me sorriu, disco do paulistano Pélico, que traz dez canções feitas por ele com Ronaldo, acaba encapsulando todos esses lados do letrista de clássicos como Trem azul, lado a lado com a musicalidade delicada do cantor e compositor. Pélico investe num som que, em linhas gerais, é folk-MPB, com melodias sensíveis e direcionamento pop. É o que rola em músicas como a alegre faixa-título (que faz referência a Nada será como antes, de Ronaldo e Milton), a bossa-folk Infinito blue – além da vibe contemplativa e saudosa de faixas como Marinar e o folk agridoce e imagético de O amor ficou. A canção de amanhecer Luz da manhã, no final do álbum, guia o disco para a tradição do pop brasileiro adulto (Dalto, Marina Lima, Flavio Venturini).
Tem coisas em A universa me sorriu que, se tivessem sido feitas lá pelos anos 1970 e 1980, teriam endereço certíssimo – a alegre e amorosa Sua mãe tinha razão, por exemplo, já poderia ter sido gravada por Gal Costa. Faixas como Louva-a-deus e É melhor assim – esta, uma espécie de ska abolerado com Marisa Orth nos vocais ao lado de Pélico – têm muito de Paralamas do Sucesso e Rita Lee. E o relacionamento de Ronaldo com o rock brasileiro desencanado dos anos 1980 dá as caras em Sem parar, canção sessentista de tom beatle, com Silvia Machete dividindo os vocais. Não perca.
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Crítica
Ouvimos: Winter – “Adult Romantix”

RESENHA: Em Adult romantix, Samira Winter mistura shoegaze, psicodelia e memórias entre LA e NY, criando um túnel de verões, amores e melancolia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Winspear
Lançamento: 22 de agosto de 2025
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Nascida em Curitiba, Samira Winter mudou-se para Boston e, depois, para Los Angeles – e posteriormente para Nova York. Quando vivia em LA, começou a tramar o Winter, basicamente uma banda que transita entre o barulho do Idlewild e o clima celestial do Cocteau Twins. Mas Samira acrescenta ao som detalhes eletrônicos, referências que vão da psicodelia ao rock britânico oitentista, e um tom de conversa ao pé do ouvido, em que temas como amores que vem e vão, inseguranças e questões do passado vão surgindo nas letras.
No caso de Adult romantix, as mudanças de residência e o amadurecimento pessoal fizeram com que Samira criasse “um túnel de verões e memórias” em forma de disco, com influências assumidas de Sonic Youth e Elliott Smith, entre outros. Just like a flower investe num shoegaze brilhante e celestial, cuja letra pergunta: “o amor pode durar pra sempre”? Hide-a-lullaby, guitar rock com batida seca, une “defeitos” de gravação propositais a um clima de sonho e escapismo. Misery é um guitar rock delicado, que alude a esqueletos no armário (“conte-me todos os seus segredos e tudo que bota você para baixo”, diz a letra). A mórbida Sometimes I think about death, contraditoriamente, é um pós-punk dançante com vibe robótica.
- Ouvimos: Laufey – A matter of time
Recordações boas e doloridas surgem em faixas intensas como o shoegaze Like lovers do, a distorcida In my basement room (que lembra os primeiros ensaios de Samira no seu porão em Los Angeles, aos 20 e poucos anos) e a introspectiva e acústica The beach. O fim do disco insere mais detalhes de psicodelia em arranjos e composições, como no som viajante e circular de Candy #9, na parede de ecos de Running (na qual a voz é tão sussurrada que mal dá para entender a letra) e na parede sonora de Hollow, que abraça o/a ouvinte.
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Crítica
Ouvimos: Rocket – “R is for rocket”

RESENHA: Rocket, quarteto de Los Angeles estreia com R is for rocket, disco que mistura pós-grunge, dream pop e nostalgia noventista com boas guitarras e letras afiadas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Transgressive Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025
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Não tem como não simpatizar com uma banda com um nome desses: Rocket, “foguete”, remete à figura do homem sozinho no espaço, algo que leva direto a David Bowie, ao glam rock, ao Rocket to Russia dos Ramones, até ao Rocket man do Elton John e ao Rocket dos Smashing Pumpkins.
O disco se chama R is for rocket, e aí já surge algo da soletração de The groover, do T. Rex – copiada pelos Pixies no hit Cactus. Você vai acabar sendo obrigado/obrigada a ouvir o disco, e foi meio assim que me senti ao deparar com o debute desse quarteto de Los Angeles. Parece que tem algo aí que conversa com vários anos de memória rocker, de climas sonhadores ligados ao estilo.
Passada a fantasia inicial, tudo (mais ou menos) no lugar. R is for rocket é um bom disco de rock, uma boa estreia, e um álbum que mexe mais na atualização da nostalgia noventista do que em qualquer outra coisa. Mas parece que a vocalista e baixista Alithea Tuttle, os guitarristas Baron Rinzler e Desi Scaglione e o baterista Cooper Ladomade estão trabalhando com um plano musical na cabeça que envolve atacar por vários flancos diferentes.
Ou seja: se você quiser, pode colocar o Rocket na gavetinha do pós-grunge e do “rock alternativo” norte-americano. Mas o grupo é abrangente a ponto de abrir o disco com um pós-punk eletrônico lembrando The Cure, Wire e Sonic Youth (The choice) e de partir para a luta na grande área do dream pop (em Act like your title).
Lá pela terceira faixa, Crossing fingers, rolam ritmos quebrados numa onda pós-hardcore e lembranças do Foo Fighters e dos Smashing Pumpkins do começo. Um clima que surge também na melódica Another second chance (com um som lindo de guitarra do meio para o final) e na vibe anos 90 de One million, que ganha vocais com doçura shoegaze e onda sonora igualmente próxima dos Beach Boys.
Na segunda metade de R is for rocket, o Rocket traz emanações de Fugazi, Velocity Girl e emo midwest (Pretending e o guitar rock Crazy), ganha um clima sombrio (em Number one fan), volta a mexer no espólio do Sonic Youth (Wide awake) e impressiona pela jam guitarrística e meditativa da faixa-título, que dura quase sete minutos e encerra o álbum.
Já as letras, feitas por Alithea Tuttle, mexem num tema que não estará desatualizado nem daqui a cem anos: a verdade por trás dos relacionamentos, sejam de amor ou de amizade, ou até de parentesco. Nesse departamento, é peia atrás de peia: Act like your title fala de expectativas de família, One million fala de fantasias, Pretending traz manipulação em altíssimo grau (“queria que você provasse que estou errada de alguma forma / mudando a mente de todos / você é tão bom em fingir”).
De alguma forma, o Rocket tentou fazer um disco que, no entendimento deles, pode estar sendo discutido e ouvido daqui a vinte anos – e isso é ótimo.
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