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POP FANTASMA apresenta Julico, “Ikê maré”

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POP FANTASMA apresenta Julico, "Ikê maré"

No caldeirão da banda sergipana The Baggios, tem rock, blues, psicodelia, influências brasileiras, etc. O vocalista e guitarrista do grupo, Julico, estreia solo com Ikê maré, disco que põe funk anos 1970 e mais grooves brasileiros na receita, em faixas como Nuvens negras, Aonde viemos parar, Eu são/Curtis says e várias outras. O músico diz que nos últimos tempos só tem dado música brasileira em seu som – primordialmente o som nacional feito no fim dos anos 1960 e 1970, somado ao soul, funk e psicodelia. Assim surgiu a receita do disco.

“Dou valor total à turma que criou seu jeito próprio de compor e vem inspirando novas gerações. O que falar de Jorge Ben e Tim Maia, bicho? Gênios! inspiração total!”, anima-se Julico. “Estou me envolvendo cada vez mais nos detalhes das produções da época e buscando preencher as lacunas que sobraram na nossa música contemporânea”, completa Julico, lembrando aliás ter crescido familiarizado com a música de Tim Maia, por intermédio de sua mãe.

TIM, PAULO DINIZ, FUNK

“O Tim e Paulo Diniz, assim como Jorge Ben, me salvaram em vários momentos. Seja na busca de referências de grooves, letras, arranjos, seja pra animar o dia, ou até refletir mesmo, saca? São artistas viscerais! Tim Maia foi quem mais dialogou com a minha descoberta da música funk/soul, que estava ali flertando com o rock naturalmente nos anos 1970”, revela. “Já pensando em guitarrista especificamente eu estou mais pendente para as influências do Pepeu Gomes, Alvin Lee, Paulo Rafael, Hendrix, Eddie Hazel, a turma do Sly and Family Stone…”.

No cardápio musical, entram também os artistas do selo Daptone (The Frightners, Charles Bradley, Menaham Street Band), The Arcs, Lee Fields, Curtis Mayfield. “Isso pensando nos artistas que ajudaram a construir esse álbum. Mas se for listar mesmo no geral ai já começo a entrar em Tetê Espindola, que foi das melhoras pesquisas/descobertas dessa quarentena. E Mulatu Astatke, Milton Nascimento (muito!) e por aí vai”.

PRA CIMA

Ikê maré é um disco cujo repertório parece feito para grandes plateias, em virtude dos refrãos “pra cima”, das músicas dançantes, do repertório com total mescla MPB-psicodelia-pop. Julico espera ver todo mundo dançando assim que rolarem shows.

“Eu mesmo me pego dançando, batendo pé e cabeça quando escuto um disco de Novos Baianos, Funkadelic ou Marku Ribas, essa turma saca do swing. Eu busquei não projetar nada além da conclusão do disco, queria muito ressignificar minhas intenções com a música. Tudo isso foi um laboratório muito importante por eu não ter nenhum parâmetro. Tinha baixa expectativa com o lançamento deste trabalho, por ser o primeiro, por ser caseiro, e por partir de uma proposta despretensiosa. Mas evoluiu e estou apegado a esse disco, e passei a acreditar mais no potencial dele”, conta.

Aliás, Julico espera que na quarentena, pelo menos a galera dance na sala, no quarto ou no banheiro. “É preciso extravasar, pôr pra fora essa ansiedade que nos come vivo”, conta.

INDEPENDENTE

Ikê maré (cujo título é uma expressão que no vocabulário do cantor, “representa o tempo, com seus ensinamentos e ciclos”) é um trabalho quase todo solitário. Julico construiu tudo no seu tempo, em casa, durante cinco meses.

“Já é uma forma que venho desenvolvendo em boa parte das pré-produções da The Baggios, mas dessa vez eu pude levar mais a sério, já que se tratava de um álbum inteiro à vera”, conta. “Eu pude gravar tudo com os meus equipamentos simples mesmo, só tenho uma placa de dois canais, algumas guitarras, dois microfones, vários pedais para guitarra, e muita vontade de fazer”.

Uma parte do disco foi feita antes do isolamento. “Por alguma força da natureza eu gravei a bateria antes da pandemia. Foi na casa do amigo Dudu Prudente com o Ravy Bezerra nas baquetas em fevereiro. Isso numa casa na beira do rio Vaza-Barris no Caípe Velho, povoado de São Cristóvão, cidade que vivi trinta anos. Não poderia começar o processo de uma maneira menos simbólica. A partir daí gravei todo o resto de minha casa”, conta ele.

Ao mesmo tempo, Julico pôs a geografia de sua terra no disco, em canções como Caípe Velho, Caípe Novo, Paramopama/Vaza-Barris. “O Caípe Velho é uma região interiorana cheia de jaqueiras, mangueiras e até mangues, nas regiões beira-rio. A estrada é de barro com paisagem repleta de verdes. Com alguns rios, sitios, casebres, gente simples e cheia de amor pra dar. Passei minha infância indo de bike para lá, roubando frutas e tomando banho de rio”.

MUNDO NOVO

Julico diz que Ikê maré traz meio a meio, em suas letras, lembranças particulares e histórias do novos tempos que o Brasil anda vivendo. “O disco pra mim simboliza muito a maturidade que o tempo me trouxe em relação a lidar com os problemas do mundão. Então naturalmente eu faço minha leitura do que estamos vivendo. A arte é uma extensão de nós mesmos. No meu caso, eu não consigo me desconectar por completo das minhas vivências para compor. Tá tudo ali junto e misturado”, conta.

Ele cita Nuvens negras e Aonde viemos parar como sendo músicas impregnadas “dessa leitura do mundo contemporâneo refém das redes sociais”, como afirma. “Mas a narrativa do disco justifica a fuga desse caos urbano, da tecnologia que vem nos domando a cada dia. É uma doideira tudo isso, eu me vejo refém do meu próprio celular, mesmo sabendo que o mesmo me provoca ansiedade sempre, que me entope de coisas que nem queria realmente ver. E mesmo assim não me desapego. É um tipo de relação abusiva, né não? O documentário O dilema das redes, mesmo contando o quase óbvio, deixou muita gente apavorada. Mas eu também fiquei de cara, essa parada é prejudicial para a humanidade”.

Pega aí Ikê maré.

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Foto: Victor Balde/Divulgação

Ricardo Schott é jornalista, radialista, editor e principal colaborador do POP FANTASMA.

Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

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Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

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Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

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No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

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Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

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Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

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