Destaque
POP FANTASMA apresenta andre L. R. mendes, “Insubmissão aos urubus”

Cantor e compositor baiano, andre L. R. mendes (assim mesmo, com nome e sobrenome em minúsculas) vem do rock nacional dos anos 1990. Liderou a banda de power pop Maria Bacana, que gravou um CD pela Rock It! e retornou em 2018 com o segundo álbum, A vida boa que tem os dias que brincam leves. Solo, já tem sete álbuns na discografia e vem soltando uma série de singles, com a ideia de juntar tudo no álbum em novembro de 2020. O mais recente, Insubmissão aos urubus, inclui na roda um pouco de realismo fantástico (à moda de Gabriel Garcia Marques) para falar da atual situação do Brasil.
“Eu poderia criar uma ficção falando de um país que foi tomado por uma milícia…mas aí não seria ficção, não é?”, brinca. “Eu decidi, desde o início da minha carreira solo, que minha música seria leve num sentido amplo… Por mais que o tema fosse sério, eu não gostaria de ‘baixar a energia’ do ouvinte. Acho que a opção pelo realismo fantástico veio da leitura recente de Garcia Marques e da leitura que já está impressa no meu DNA de Eduardo Galeano e da busca pela leveza pra tratar de um tema tão atual: a opressão e a reação do oprimido”.
O disco que sai no fim do ano se chama Manda notícias, nome do primeiro single lançado em 2020 por andre, que fala justamente sobre a pandemia. “As pessoas vinham elogiar como eu abordei o tema do isolamento sem ser didático. Não quero fazer uma música que não sobreviva quando o momento que inspirou sua feitura passar”, conta ele, cujo próximo álbum já estava pronto e parado no estúdio quando começou o isolamento. A solução para andre – que faz de tudo em seus discos, da produção à capa – foi separá-lo em diversos singles, lançados um a cada mês. “Lancei uma primeira música logo no início da quarentena e foi uma solução pra esse sentimento de pausa compulsória”, conta.
Um retorno do Maria Bacana não está nos planos de andre, apesar de um segundo disco ter sido lançado há pouco. O grupo marcou época nos anos 1990 com um power pop cheio de bons refrãos e canções como Primavera e Repeat, please! (a da “Coca-Cola sem gás”, que fez sucesso).
“Tinha alguns anos que não nos víamos e, depois de alguns telefonemas, fizemos um som em estúdio em 2016. Ficamos acertados de fazer um show no ano seguinte pra comemorar os 20 anos de lançamento do disco de 1997. Evoluí essa ideia de um show, pra um disco. Discos são livros, a melhor maneira de eternizar essa comemoração seria gravar um álbum”, conta.
A vida boa que tem os dias que brincam leves acabou saindo um ano após a comemoração e andre define a experiência como enriquecedora. Mas a festa não foi adiante. “Diferente da maioria das bandas, nosso ‘artista difícil’ é o baixista, Lelê, que é uma figura muito bacana mas é bastante imprevisível. Logo depois do segundo show de lançamento do disco novo, ele sumiu durante semanas, tipo incomunicável mesmo. Então ele mandou uma mensagem dizendo que estava saindo da banda e sumiu completamente, não respondia mensagem no Whatsapp nem atende ligação. Não acho impossível que a gente volte a tocar algum dia no futuro, mas acho bastante improvável. A história da Maria Bacana daria um livro”, completa.
E já que o disco novo vem impregnado dessa energia do isolamento, como está sendo a experiência pra andre? Ele diz que é um cara isolado e as coisas correm razoavelmente tranquilas. “Obviamente que seis meses sem sair de casa é algo inimaginável pra todos nós antes dessa pandemia, então tem dias mais chatos. Mas aí eu lembro do quanto eu sou privilegiado por poder fazer essa quarentena e os dias chatos ficam completamente em perspectiva”, conta.
Já acompanhar as notícias sobre o Brasil, que inspiraram o single novo, é que complica. “Estamos vivendo uma distopia, sequestrados pelo pensamento mais mesquinho, individualista, reacionário, dogmático e recalcado… Mas nós vamos superar isso, uma parte da sociedade que estava ‘em cima do muro’ já desceu pro lado progressista. Nós somos o país de Castro Alves, Darcy Ribeiro, Jorge Amado, Caetano Veloso, Oscar Niemeyer, Tom Jobim, Leonel Brizola, Gilberto Gil, Candido Portinari, Luiz Inácio Lula da Silva, Dorival Caymmi, Tom Zé… A lista é enorme! O Brasil é uma país maravilhoso, rico nos mais diversos aspectos. Nós vamos superar esse momento tenebroso e viveremos novamente aquele clima de alegria que não precisa explicar, só sentir, que vivíamos na época da redemocratização ou na época dos governos Lula”, conta.
Foto: Cintia M/Divulgação
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã
Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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