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Crítica

Ouvimos: Parcels – “Loved”

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Em Loved, o Parcels refina seu sophisti-pop com vibes eletrônicas apresentando clima casual, grooves disco relaxados e vocais vintage em faixas leves e dançantes.

RESENHA: Em Loved, o Parcels refina seu sophisti-pop com vibes eletrônicas apresentando clima casual, grooves disco relaxados e vocais vintage em faixas leves e dançantes.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Because
Lançamento: 12 de setembro de 2025

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Banda formada na Austrália em 2014, o Parcels é uma banda de poucos discos de estúdio – Loved é o terceiro. Em compensação, honrando a tradição de grupo bom de festival, já sairam dois álbuns ao vivo, e também um número considerável de EPs e singles.

Com referências que vão de Marvin Gaye a Beatles e Beach Boys, e uma vocação enorme para juntar tudo isso com uma vibração electropop, o quinteto pode ser definido basicamente como sophisti-pop – pu qualquer uma dessas definições que apaziguam o lado roqueiro e o lado pop em vez de botar tudo para brigar. Traduzindo: o Parcels é “dançante” e “eletrônico” quase na mesma medida em que é clássico e voltado para o pop das antigas. Uma espécie de linha do tempo musical.

  • Ouvimos: Chéri Chéri – Don’t you think it’s funny (EP)
  • Ouvimos: Lake Street Dive – Good together

Loved é o famoso “se você gostou dos outros discos vai adorar esse”. A receita de Parcels (2018) e Day/Night (2021) volta melhorada, orgânica e relaxada, com a alegria quase disco music de Tobeloved e Ifyoucall, o soft rock-britpp de Safeandsound e a UK garage humanzada de Yougotmefeeling. Sorry tem algo do lado mais pop e pós-disco do Daft Punk diluído, num clima tecno e pop, que não necessariamente é tecnopop. Leaves tem algo de jazzístico tanto quanto tem algo de soul e disco.

Um detalhe de Loved é que as músicas, mesmo as mais trabalhadas, seguem um clima de total casualidade – às vezes parece que invadimos o estúdio onde os Parcels ensaiam e compõem, e não deve ser por acaso que os títulos surgem sem espaços, como em working titles de canções. Esse despojamento rola no balanço tranquilo de Everybodyelse e no clima contemplativo e romântico de Iwanttobeyourlightagain, que fecha o disco deixando a impressão de um ensaio estendido que valeu e virou música.

Além disso, vocais lembrando Bee Gees, Earth, Wind & Fire e até Beatles surgem na onda disco de Summerinlove, Leaveyourlove, Thinkaboutit e Finallyover – essa, com um andamento que lembra Let’s get it on, sucesso de Marvin Gaye. Pop bem feito, sofisticado, vintage e (muito) desencanado.

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Ricardo Schott é jornalista, radialista, editor e principal colaborador do POP FANTASMA.

Crítica

Ouvimos: Sorry – “Cosplay”

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Sorry faz de Cosplay um jogo pop de citações, referências e ruídos, misturando pós-punk, baladas tensas e homenagens irônicas ao passado.

RESENHA: Sorry faz de Cosplay um jogo pop de citações, referências e ruídos, misturando pós-punk, baladas tensas e homenagens irônicas ao passado.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Domino
Lançamento: 7 de novembro de 2025

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O Sorry, banda londrina liderada pela dupla Asha Lorenz e Louis O’Bryen, recentemente soltou uma frase lapidar a respeito de como rola a transa entre as pessoas e a cultura pop nos dias de hoje: “Nós simplesmente usamos coisas do passado porque são a única coisa à qual nos agarramos. Estamos todos fazendo cosplay de algo que não existe”, afirmam.

Traduzindo: há alguns anos, o saudoso Isaac Hayes criticava o rap dizendo que de tanto samplear, os artistas iriam acabar sampleando os próprios samplers. É exatamente isso que rola hoje com a febre de IA, ou com o reenvelopamento de coisas antigas (já existe newsletter há trocentos anos e só agora virou mania). Rola também com a febre de remakes. Afinal, se “novela é tudo igual”, como dizem os detratores, nada melhor do que pegar uma história que já deu certo e criar em cima – mesmo com o risco de estragar o original.

Vai daí que o Sorry decidiu brincar com isso em seu terceiro álbum, Cosplay – a dupla diz ter “morrido” ao começar a compor para o disco, e o release zoa a possibilidade de uma turma nova ter ocupado os lugares deles, tipo o sósia que ficou no lugar do “falecido” Paul McCartney nos Beatles. As referências que vão surgindo em letras e músicas são enfiadas nas canções da mesma forma que o Oasis fazia com as músicas dos Beatles – tipo Noel Gallagher (Oasis) fazendo uma música chamada Wonderwall sem admitir que a inspiração veio do álbum Wonderwall music, de George Harrison (1968) ou sapecando uma outra canção chamada It’s getting better now.

  • Ouvimos: Piri & Tommy – Magic (EP)

Algumas dessas referências ganham crédito: a balada introvertida e explosiva Antelope, candidamente cantada por Asha, fala que “existe uma arte em te amar / aprendo algo novo a cada um ou dois anos / agora que se espalha mais rápido do que a velocidade com que falamos / como a bala de canhão na música do Dylan“. A não ser que você tenha todo o repertório de Bob Dylan na ponta da língua, provavelmente vai se sentir tentado/tentada a procurar no Google. Provavelmente é a bala de canhão que voa em Blowin’ in the wind, embora tenha também a gravação que ele fez do tema tradicional Dink’s song, que fala de alguém que “movia seu corpo como uma bala de canhão”.

Bom, vale dizer que a letra fala também que existe “uma lua assassina” (“killing moon”, no original). A balada Candle, que consegue ter algo ao mesmo tempo de Garbage e de Cranberries – margeando o clima tenso das duas bandas – evoca fragilidade falando em “sou apenas uma vela ao vento” (epa, Elton John passou aqui?). Jetplane, punk sombrio herdado de The Cure e das guitarras em desalinho da no wave, tem um sample de Hot freaks, do Guided By Voices. Mais: para fazer o refrão do ótimo trip hop Waxwing, o Sorry achou que seria uma excelente ideia homenagear o hit único da coreógrafa Toni Basil, Mickey, de 1982. Ficou… pitoresco, vamos dizer.

Na maior parte do tempo, Cosplay mostra o Sorry não muito irmanamente dividido entre canções sombrias e sons com herança pós-punk. Estes últimos governam músicas como Echoes (som lindo e gélido, com algo de Garbage e vocal despedaçado), Jetplane, o alt pop fantasmagórico de Love posture. Today might be the hit é um rock com cara punk, guitarras distorcidas e clima ligeiramente beatle – na real, tem tanto de Beatles quanto de Siouxsie and The Banshees – e cuja letra é uma espécie de mantra irônico das (im) possibilidades: “hoje pode ser o dia do sucesso / ou pode ser um dia péssimo / Yada-yada-yada-ya / nada vai me incomodar mais”.

Por outro lado, tem a elegância ruidosa de Magic, as estranhas sombras de Into the dark (cuja letra faz uma referência pra lá de “que porra é essa?” ao dramaturgo japonês Yukio Mishima) e a balada violeira Life in this body, música em que o amor e os relacionamentos se transformam numa perigosa despersonalização. No final, Jive, música que abre tão sussurrada que até as guitarras e a bateria parecem sussurrar junto – e ganha depois um clima ruidoso e sexy. Cosplay parece um jogo de tabuleiro em formato de disco, cheio de pedrinhas, labirintos e “volte três casas”.

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Crítica

Ouvimos: Guided By Voices – “Thick rich and delicious”

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Guided By Voices revisita demos antigas e aposta em algo próximo do power pop em Thick rich and delicious, disco de 15 faixas que destaca o talento melódico de Robert Pollard.

RESENHA: Guided By Voices revisita demos antigas e aposta em algo próximo do power pop em Thick rich and delicious, disco de 15 faixas que destaca o talento melódico de Robert Pollard.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Guided By Voices Inc
Lançamento: 31 de outubro de 2025

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O que você mais vai achar na internet, provavelmente, são definições para o som do Guided By Voices, grupo criado há heroicos 42 anos pelo músico norte-americano Robert Pollard. A Wikipedia arrisca quatro: lo-fi, indie rock, slacker rock e garage rock, e todas fazem sentido. Power pop, heartland rock e até grunge e guitar rock também já foram citadas por aí – algumas dessas definições foram usadas até mesmo por este crítico musical que vos fala.

Pode ser que – e isso por culpa da própria crítica musical e do mercado fonográfico – muita gente tenha desaprendido a ouvir rock sem rotular o que está ouvindo. Aquela coisa de “isso é rock” sem que imediamente a música tenha que fazer parte de algum nicho ou ramificação, tipo shoegaze, guitar rock, punk, pós-hardcore, pós-punk ou coisas do tipo. Isso porque, no geral, o Guided By Voices, mesmo sendo na prática uma banda punk, indie-rock, independentaça, talvez seja um raro caso de grupo que segue cada vez mais próximo da nomenclatura “rock”, puramente falando.

  • Ouvimos: White Lies – Night light
  • Mais Guided By Voices no Pop Fantasma aqui.

No geral, o GBV faz som de guitarras, bastante referenciado em The Who, e com a mesma noção pé-fincado-na-terra, de heroi do rock, que dá sentido à existência de Bruce Springsteen. Com uma média de três discos lançados por ano, e basicamente centrados na figura de Pollard como compositor, tinham tudo para ser uma banda repetitiva – o diabo é que até quando eles se repetem, conseguem fazer discos excelentes, porque é uma repetição que você vai querer ouvir de novo.

Thick rich and delicious, que já é o 42º (!) álbum do grupo – e o segundo lançado em 2025 – explora o passado do Guided By Voices, com músicas novas misturando-se a canções que estavam perdidas em demos havia vários anos. Por acaso, é um dos discos recentes mais associáveis com os momentos mais power pop do grupo, como na fase em que gravaram dois discos pelo selo TVT (e deram uma estourada na maconhística Glad girls).

Babies and gentlemen, (You can’t go back to) Oxford Talawanda, Our man Syracuse, A. Glum Swoboda (canção de clima mod e sixties) e Phantasmagoric upstarts unem melodias bacanas com peso e agilidade que lembra bandas como The Who, The Cars e Replacements. Robert ainda impõe clima mágico ao punk de ataque Lucy’s world e à tristeza selvagem de Mother John – esta, soando como alguém tentando recobrar a sanidade sozinho no quarto. Há também um lado beatle em A tribute to beatle Bob e na punk e épica Captain Kangaroo won the war.

Com 15 músicas, algumas delas bem curtas, Thick rich and delicious pode parecer um disco esquisito e até pouco comercial. O irônico é que, dos álbuns mais recentes do GBV, é o disco em que mais dá para enxergar Pollard como um grande criador de melodias.

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Crítica

Ouvimos: Lorena Moura – “Mata-leão”

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Estreia de Lorena Moura, Mata-leão mistura MPB 70/80, blues e psicodelia em faixas delicadas e vintage; um disco agridoce, pop e cheio de identidade.

RESENHA: Estreia de Lorena Moura, Mata-leão mistura MPB 70/80, blues e psicodelia em faixas delicadas e vintage; um disco agridoce, pop e cheio de identidade.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Cavaca Records
Lançamento: 12 de novembro de 2025

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O disco de estreia da carioca Lorena Moura é mais um disco-de-pandemia – o repertório começou a ser pensado por ela junto com o letrista Luca Fustagno na época em que estava todo mundo trancado em casa. Mata-leão, afirmam os dois, tem mais a ver com a luta pela sobrevivência existencial (o “matar um leão por dia”) do que com jiu jitsu.

O repertório de Mata-leão mergulha em referências da MPB transante dos anos 1970/1980 (Angela Ro Ro, Gilberto Gil, Lincoln Olivetti, Robson Jorge). Por sinal, essa é uma das maiores influências da MPB jovem dos dias de hoje, mas Lorena impõe sua identidade com graça, musicalidade variada (evocações de Hyldon, Rita Lee, de jazz e de bittersweet setentista aparecem em vários momentos) e com uma boa noção de som vintage. Tanto que músicas como a sensível e misteriosa Perigo e o blues-rock Quis (esta, com uma onda musical ligada a Gil e a Beatles, além de um beat pós-disco que vai surgindo), caso tivessem sido lançadas lá por 1978, seriam cultuadas por DJs nos dias de hoje.

Mata-leão vai crescendo com a toada agridoce Mãe (uma bossa pop e celestial), o blues indie-rock Carinho, a melancolia celestial de Tripulação/Eu e Elise, e a balada blues Manhã – esta, com clima psicodélico, letra imagética, guitarra jazzística e teclados com uma sonoridade meio derretida, além de referências de Marina Lima do comecinho e de Angela Ro Ro.

No fim do disco, uma música chamada Titanomaquia – que nada tem a ver com o disco dos Titãs e fala mesmo é da guerra de dez anos entre os titãs (os da mitologia grega, não a banda) e os deuses olímpicos. Um samba leve, quase bossa, cuja letra conta uma história quase distópica envolvendo prédios, Carnavais e lugares do Brasil. Mata-leão, no geral é uma estreia que equilibra vocais delicados e solos de guitarra, romantismo e saudade, MPB e apelo pop.

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