Crítica
Ouvimos: The Offspring, “Supercharged”

- Supercharged é o 11º álbum de estúdio do The Offspring. Hoje a banda é formada por Dexter Holland (voz, guitarra, teclados), Noodles (guitarra solo), Todd Morse (baixo), Jonah Nimoy (teclados) e Brandon Pertzborn (bateria). O álbum foi produzido por Bob Rock.
- O grupo teve muitas mudanças de formação ao longo dos tempos – hoje, o único integrante original do grupo é Dexter, e mesmo Noodles entrou pouco depois do início. Recentemente, uma mudança bastante discutida no grupo rolou por causa da saída do baterista Pete Parada, que teria sido demitido por não ter se vacinado contra o coronavírus (o músico alegou que tinha síndrome de Guillain-Barré e não podia se vacinar).
- Perguntado sobre se o novo disco tinha o novo ou o antigo Offspring, Noodles disse que “era um pouco de cada coisa. Definitivamente algumas coisas old-school e então algumas coisas de rock e então algum tipo de coisa pop punk também, com certeza”.
Quem pulou muito ao som de músicas como Self esteem e Come out and play tem uma tarefa dura pela frente: dar atenção a um disco novo do Offspring sem deixar de perceber que, infelizmente, o mainstream acabou fazendo mal demais ao grupo norte-americano. Do razoável Splinter (2003) para cá, o design sonoro da banda foi ganhando contornos bem estranhos e se tornando a cara da guerra de volume do punk – com os vocais agudos de Dexter Holland cada vez mais lááááá em cima, e o som do grupo virando um mix de punk, metal e emocore.
Isso, na real, vem acontecendo ao longo dos anos – embora tenha rolado um sopro de vida com alguns hits do século 21, como a tristonha You’re gonna go far, kid. O novo Supercharged, vale dizer, dá uma mudada leve na equação: tem várias músicas que os fãs de fé (em especial quem passou a gostar da banda depois da ida para a Sony) vão gostar de conferir nos shows. Entre elas, estão a própria homenagem Come to Brazil (que, enfim, ganha no final um bisonho “ole ole ole ole/oleeee ole” de torcida), o tom meio U2 anos 2000 de Ok, but this is the last time e o hardcore Truth in fiction, repleto de referências a deepfakes e manipulações da internet (verso bom esse: “o futuro está se rendendo/você encontrará sua verdade na ficção dos fatos”).
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Já Make it all right vai na veia power pop do grupo, abrindo com vocais blasé no estilo Billie Eilish (feitos por uma cantora canadense chamada Rebecca Soichet). You can’t get there from here, pode acreditar, tem una introdução de acordes que lembra Tambores, lado B da banda punk paulistana Inocentes (e citando um exemplo mais próximo do Offspring, tem bastante a ver com a fase Sony do Bad Religion). E a grande curiosidade do disco é Get some, hardcore repleto de riffs e solos de hard rock, lembrando uma música do Grand Funk ou do Ted Nugent extremamente acelerada – com direito a um “uhu” roubado do arranjo de Sympathy for the devil, dos Rolling Stones. O Offspring voltou distante dos tempos de Smash (segundo álbum e primeiro sucesso, de 1994). Mas voltou com mais força do que em outros momentos recentes – e dá para perceber de cara.
Nota: 7
Gravadora: Universal
Crítica
Ouvimos: Hélio Delmiro e Augusto Martins – “Certas coisas”

RESENHA: Gravado pouco antes da morte de Hélio Delmiro, Certas coisas evita o tom de despedida com repertório variado e ótima sintonia com Augusto Martins.
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Quando o violonista Hélio Delmiro morreu (vítima de complicações de diabetes e problemas renais em 16 de junho, aos 78 anos), não apenas Certas coisas, gravado com o cantor Augusto Martins, estava terminado, como também o músico já estava prestes a cumprir agenda de imprensa – já até tinha dado uma entrevista. Produzido por Moacyr Luz, o álbum chuta a tristeza para o mais longe possível e escapa do clima de epitáfio, por causa da dinâmica entre cantor e músico, e pela vontade com que Hélio ataca violão e guitarra nas doze faixas.
Hélio Delmiro teve inúmeros amigos, parceiros e testemunhas. Seu trabalhos como guitarrista e violonista de cantoras como Elis Regina e Clara Nunes sempre são lembrados. Mas ele também tocou em grupos como o Fórmula 7, e na banda da versão carioca do Jovem Guarda, programa apresentado por Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos durante os anos 1960.
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Como um reflexo dessa trajetória variada, o repertório de Certas coisas vai da MPB clássica à mais popular. Certas coisas, de Lulu Santos e Nelson Motta, aparece com algo de blues no andamento – e De repente, lado B da dupla de compositores, encerra o álbum ganhando cara de música de Gilberto Gil. Fotografia (Tom Jobim), que teve a guitarra de Hélio na gravação do disco Elis & Tom (1974), traz o músico ao violão unindo jazz e blues, e encartando um trecho de Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Jardin d’hiver, popularizada por Henri Salvador, investe no samba-jazz noturno, e até Como vai você, de Antonio Marcos e Mario Marcos, está no repertório.
Augusto, cantor bom e despojado, acompanha e se deixa acompanhar por Hélio. O resultado vai do canto correto da faixa-título à entrega de Fotografia e de Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) – que se torna um samba épico, quase viajante – passando por uma versão contida até demais do bolero Contigo aprendi (Armando Manzanero). O repertório tem uma música totalmente inédita – a ótima Acanhado, de Hélio e Moacyr Luz – e traz como maior surpresa Bye bye Brasil, de Chico Buarque e Roberto Menescal, gravada como se fosse uma bossa pop de Rita Lee e Roberto de Carvalho.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Mills Records
Lançamento: 30 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: Alberto Continentino – “Cabeça a mil e o corpo lento”

RESENHA: Alberto Continentino, com Cabeça a mil e o corpo lento, faz pop-psicodélico com clima setentista e cinematográfico, misturando MPB, soul, bossa, boogie e city pop.
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Mais do que o groove das músicas de Lincoln Olivetti e Robson Jorge, os discos de Gal Costa feitos entre os anos 1970 e 1980 – com todo aquele aspecto pop, mágico e quase espacial – parece servir de referência para vários álbuns e músicas das novas gerações da MPB. O terceiro disco de Alberto Continentino, Cabeça a mil e o corpo lento, tem muito desse clima.
Essa musicalidade rola em faixas que passam igualmente por um filtro psicodélico (Coral, com Dora Morelenbaum, e o single Milky way, com Leticia Pedroza) e fluido musicalmente – é o caso do disco todo, mas especialmente de O ovo do sol, que lembra os discos de orquestras dos anos 1970 e tem um quê passadista-futurista que ruma em direção a Stereolab e Arthur Verocai.
- Ouvimos: Dora Morelenbaum – Pique
- Urgente!: Wet Leg aquece para Moisturizer no Tiny Desk. Ana Frango Elétrico na vibe pós-disco.
- Ouvimos: Stereolab – Instant holograms on metal film
Cerne, por sua vez, é um balanço no estilo de discos de Dom Salvador e Waltel Branco, com ritmo dado por assovios. Manjar de luz, com Ana Frango Elétrico, é tranquila e mântrica em letra e música. Go get your fix, com Gabriela Riley, une samba, bossa e city pop, e Uma verdade bem contada, com Nina Miranda nos vocais e Kassin na parceria, é boogie com cara de trilha de filme nacional antigo.
Como músico, Alberto tem duas décadas de carreira e trabalhou com músicos como Caetano Veloso, Ana Frango Elétrico, Adriana Calcanhotto – é um nome que provavelmente você já viu em muitos shows e discos. Em Cabeça a mil e corpo lento, por sua vez, ele filtra tudo que aprendeu nos estúdios e palcos por um clima voador e quase sempre, cinematográfico. O terço final do disco, com o soul Negrume, o pop francês carioca Vieux souvenirs (com Nina Becker) e a balada Madrugada silente – uma parceria com Negro Leo, levada por piano Rhodes, violão e baixo – traz bastante disso.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Selo RISCO
Lançamento: 17 de junho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Gustavo Ortiz – “Desafogo” (EP)

RESENHA: Com samba, jazz e até ambient, o EP Desafogo, de Gustavo Ortiz, trata de liberdade e denúncia, com destaque para a faixa José, João.
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“Desafogo” é uma daquelas palavras que a gente está acostumado a ler mas, em vários casos, nunca parou para ver o significado – uma palavra ligada ao fim de algo que oprime, pressiona, sufoca. No caso do EP do paulista Gustavo Ortiz, ela conceitua um repertório que fala sobre formas diferentes de viver. Mas apontando também para os tais momentos em que a opressão diária dá um tempo.
O clima também é de denúncia, e muita. A faixa José, João, com Romulo Fróes, foi lançada em single no simbólico 1º de maio, e é dedicada ao pai de Gustavo, um ex-caminhoneiro que começou a trabalhar ainda na infância, e morreu de covid poucos dias antes de receber a vacina – o clipe traz imagens do aniversário de 3 anos de Gustavo, com o pai entre os presentes, A faixa-título, composta há 16 anos, fala sobre como às vezes é complicado apenas esquecer dos problemas e descansar. Botafé propõe, na letra, liberdade para ser, ao mesmo tempo, silêncio e barulho.
Musicalmente, Desafogo é um samba com variadas referências. A faixa de abertura Trago voa pelo jazz, pelo samba de Jorge Ben e até pelo ambient. A faixa-título tem samba, afoxé e até um lado seresteiro, com coral feminino no estilo das Gatas. O violão e a voz dominam Casca cascata, e uma vibe quase carioca, herdada de Aldir Blanc e seus muitos parceiros, aparece em José, João. E Botafé encerra o disco em tom de chamada e de valsa afro.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente/Tratore
Lançamento: 20 de junho de 2025
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