Crítica
Ouvimos: The Jesus and Mary Chain, “Sunset 666 (Live at Hollywood Palladium)”

- Sunset 666, disco ao vivo, foi gravado durante uma série de seis shows do The Jesus and Mary Chain no Hollywood Palladium em 2018, quando a banda abria as apresentações do Nine Inch Nails, que estava de volta (ironicamente, o NIN abriu shows do Jesus em 1990).
- O show incluiu a participação da ex-vocalista do Belle & Sebastian, Isobel Campbell, em duas músicas, Sometimes always e Black and blues (esta, no disco Damage and joy, de 2017, era cantada pela banda com Sky Ferreira). As doze primeiras faixas do set foram gravadas em 15 de dezembro de 2018. As últimas cinco são do show de quatro dias antes.
Desprovido da microfonia do disco Psychocandy (1985) e do culto blasé e indie que cercava a banda nos anos 1980, o The Jesus and Mary Chain é basicamente um grupo que se equilibra entre reverências a Velvet Underground (e Nico), Beach Boys e Shangri-Las. E cujas canções em discos como Honey’s dead (1992) podem ser reduzidas tranquilamente ao formato voz e violão, mesmo quando tem barulho no meio. Na audição deste Sunset 666, gravado em 2018 durante a divulgação do bom Damage and joy, salta um Bob Dylan incrustrado no vocal meio amarfanhado de Jim Reid. Isso acontece mesmo durante a execução de músicas que os fãs da banda já ouviram um trilhão de vezes, como Just like honey, Sometimes always (uma das duas faixas gravadas com a voz de anjo de Isobel Campbell, contrastando com o som do grupo) e até o pós-punk Head on.
Hoje, é curioso notar que mesmo nos momentos mais ruidosos, o J&MC pareceu sempre mais querer ser um par de The Who ou Kinks do que de Stooges e Iggy Pop – um traço perceptível em músicas recentes como Black and blues. O que não impede a banda de descambar pro ruído herdado de Suicide e Wire imediatamente em vários outros momentos, e de basear seus arranjos numa muralha de guitarras, de fazer inveja ao “wall of sound” do hoje proscrito Phil Spector. É assim, meio equilibrada entre a tradição e a ruptura, entre o experimentalismo e o familiar, que vai a carreira da banda. E assim seguem as músicas do Sunset 666, um disco que serve para lembrar porque é que tanta gente ficava apaixonada pelo som do Jesus só de ver as fotos e ler as resenhas da Bizz, sem nunca nem sequer ter escutado os discos.
Ao contrário de uma série de “retornos” recentes, o álbum mais recente do Jesus, Damage and joy, de 2017, fez boa figura e rendeu músicas bacanas como All things pass. Daí as músicas desse disco soarem muito bem quando dispostas ao lado dos maiores clássicos de Jim e William Reid. A dupla não economizou no set list de 2018, incluindo a misteriosa Some candy talking, charmosíssima como sempre, Teenage lust envolta em barulho, The living end unindo microfonia e peso punk, I hate rock n roll dando o clima irônico necessário a tudo do Jesus, e Reverence durando nove minutos, com seus versos “quero morrer como Jesus Cristo” e “quero morrer como JFK” possivelmente chocando ainda mais em 2023. Head on, ironicamente, volta bastante parecida com a versão que os Pixies fizeram dessa mesma música, bem mais feroz.
Gravadora: Fuzz Club
Nota: 10
Foto: Reprodução da capa do disco
Crítica
Ouvimos: Babymetal – “Metal forth”

RESENHA: Em Metal forth, o Babymetal mistura peso e pop: nu-metal, j-pop, rap e até soul, provando maturidade após 15 anos de carreira.
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Babymetal é heavy metal para não-metaleiros, você poderia dizer. Nem tanto, né? É um banda que vem da cultura asiática de criação de ídolos, é formada por meninas (que já são mulheres) e gerenciada por uma agência poderosa – a Amuse, que tem até escola de música. Mas dá pra dizer, sem medo de errar, que muita gente foi apresentada ao universo do som pesado por causa delas. Até porque o Babymetal é esperto o suficiente para agregar mumunhas pop, e estilos como r&b e rap, a um universo conhecido pelo radicalismo.
Você piscou o olho e o Babymetal já tem quinze anos, várias turnês e, curiosamente, um número de discos bem pequeno. Metal forth é o quarto álbum e funciona bem para metaleiros de ouvidos abertos e sem preconceitos. Dando um passeio pelas faixas: Ratatata tem ar de j-pop e k-pop, e une som pesado, rap e dance music. Song 3 é uma porrada que une vocais guturais (da parte dos convidados do Slaughter To Prevail) e vozes meio Alvin e os Esquilos. From me to you, na abertura, herda sonoridades do metal alternativo e da música pop – é som rápido, pesado, eletronificado.
Entre as surpresas de Metal forth, tem Sunset kiss, que deixa o Babymetal com uma cara de Spice Girls trabalhadas no couro e no preto. E My kiss, um nu-metal cuja introdução ameça uma chupada em Ratamahatta (hit do Sepultura com participação de Carlinhos Brown). Tom Morello põe energia em Metal!!!, que também traz emanações de Sepultura, mas une som pesado e soul. Já White flame, no final, aponta para vários lados: j-pop, emo, punk… encerrando com um solo de guitarra final que lembra Queen.
Quem ouvir Metal forth de mente aberta, vai descobrir que, com o tempo, o Babymetal foi se tornando um projeto bastante equilibrado – as integrantes cresceram e o mundo ao redor delas mudou bastante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Capitol
Lançamento: 8 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Deb and The Mentals – “Old news” (EP)

RESENHA: Deb and The Mentals volta às raízes em Old news: punk, grunge e new wave com peso, energia e nostalgia.
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Com uma formação nova que traz Fi (NX Zero), na guitarra, Deb and The Mentals decidiu voltar ao começo num EP de nome sintomático, Old news. Deb Babilônia adota novamente as letras em inglês nas cinco faixas do disco – e a banda corresponde com um som voltado para uma confluência entre punk, grunge e new wave. A faixa de abertura Together again une anos 1980 e 1990, soando como Ramones na fase Mondo bizarro (1992). Suck me in, com um pouco mais de peso, tem muito de bandas como Generation X. A noventista To erase vai para a pequena área do punk + metal, com peso e intensidade.
O “lado B” de Old news tem um hardcore rápido, cavalar e acelerado, Burn it down, fechado com microfonias. Tem também a música mais bonita do disco, Runaway, união de punk e rock britânico oitentista, chegando a lembrar Smiths. Dying spark, por sua vez, chama atenção pela boa marcação de baixo e bateria, e pela linha do tempo sonora que vai dos anos 1970 aos 1990.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Algohits
Lançamento: 13 de agosto de 2025
- Ouvimos: Paira – EP01 (EP)
- Ouvimos: A Terra Vai Se Tornar Um Planeta Inabitável – Ident II dades (EP)
- Ouvimos: akaStefani e Elvi – Acabou a humanidade
Crítica
Ouvimos: Klisman – “CHTC”

RESENHA: Em CHTC, Klisman transforma o Centro Histórico de Salvador em rap visceral, misturando trap, afropop e relatos de vida dura.
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CHTC, título do disco de estreia do rapper baiano Klisman, é uma sigla para “Centro Histórico tá como?” – e uma lembrança do coração de Salvador, um conjunto de pontos turísticos que explicam a história da capital baiana (Pelourinho, Elevador Lacerda, Mercado Modelo), além de um entorno de dez bairros. Klisman cresceu por lá e levou tudo para seu som, que une mumunhas do trap, e um certo elemento de perigo vindo do rap, além de erros e acertos pessoais. O som une beats de trap, afropop e vibes latinas.
Klisman fala da vida como ela se apresentou não apenas para ele, mas para vários amigos seus. Reparação histórica entra na mente dos que são tidos como vilões, em versos como “se eu roubo esse gringo é reparação histórica / visão de cria não pega na ótica” e “poucos sabem o dilema que eu vivo / do tipo: como vender drogas e ser um bom filho? / como tirar vidas e criar meu filho?”. Caminho certo cria imagens musicais para retratar um dia a dia que exige posicionamento rápido (“são escolhas que mudam o caminho de casa”), o mesmo rolando na ameaça sonora de 25kg e na sagacidade de Proibido branco. O próximo é rap lento e climático que une ódio e tiração de onda.
Para quem for ouvir CHTC, o conselho é tentar entender tudo como um filme e não sair julgando: Klisman entrega todas as contradições de quem cresceu numa realidade bem distante do que a classe média enxerga como normal – e o normal ali são leis bem estranhas. Em Praia da Preguiça, aberta com sample de violão e flautas, e Pixadão de guerra, sonhos misturam-se com alfinetadas em trappers famosos e realidades de trincheira (“a emoção de ver o alemão sangrar / é a mesma de ver o irmão prosperar”). Ainda sou o mesmo vai para vários lados da violência urbana: “quantas mãe vai ter que chorar? / ele poderia ter um Grammy / mas ele tá na boca portando uma Glock”.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Nadamal
Lançamento: 22 de maio de 2025.
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