Crítica
Ouvimos: The Coral, “Sea of mirrors”

- Sea of mirrors é o décimo primeiro álbum de estúdio da banda de rock inglesa The Coral, produzido por Sean O’Hagan. Na formação da banda: James Skelly (voz, guitarra, percussão). Paul Duffy (baixo, sax, backing vocals), Nick Power (teclados, gaita, piano, backing vocals), Ian Skelly (bateria) e Paul Molloy (guitarras).
- O disco foi concebido como a trilha sonora de um “western spaghetti imaginário”. “Acho que realmente estamos numa fase da nossa carreira em que a questão é: “o que não fizemos?” Ainda não fizemos um álbum country, então faremos a nossa versão. Não fizemos uma trilha sonora ou um álbum do tipo orquestral, então faremos isso também”, disse James Skelly para a Rolling Stone UK.
- O ator e músico irlandês Cillian Murphy (Peaky blinders) faz uma narração em Oceans apart, a faixa de encerramento.
A ideia de um “disco de country rock usando uma lente psicodélica”, divulgada pelo próprio The Coral, deu muito certo – e torna quase inimaginável aquela banda indie, psicodélica e meio lascada, embora interessada na construção de boas melodias e excelentes arranjos, de discos lá do comecinho. Sea of mirrors segue o destino conceitual do The Coral, fazendo uma adição ao psicodélico disco duplo Coral island (2021) e servindo de ponte para mais um disco, Holy Joe’s Coral Island Medicine Show, que vai sair apenas em vinil e que muita gente não vai conseguir sequer ouvir.
Pode ser até uma espécie de espelho daquelas maluquices do Flaming Lips, banda que já lançou um álbum dividido em quatro CDs que precisavam ser tocados ao mesmo (Zaireeka), mas o disco do The Coral não é nenhuma doideira. É um álbum quase cinematográfico, inspirado pelas trilhas de Ennio Morricone, com vinhetas entre as faixas (The actor and the cardboard cowboy, Eleanor, Almeria) e belezas como o country Cycles of the seasons, o easy listening Faraway worlds, a curiosa bossa-folk Child of the moon (que lembra Caetano Veloso, inclusive na maneira de cantar, e parece coisa do primeiro disco londrino dele, até mesmo no arranjo de cordas). A sonoridade alude a Beach Boys (nas surpresas que rolam a cada melodia), a Burt Bacharach, e a uma espécie de versão lisérgica de Glen Campbell, em vários momentos.
Nota: 9
Gravadora: Run On.
Foto: Reprodução da capa do álbum
Crítica
Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.
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O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).
Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.
Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1
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Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).
Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.
A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.
Leia também:
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- Ouvimos: Negro Leo, Rela
- Ouvimos: Residents, Doctor Dark
- Relembrando: The Residents, Meet The Residents (1974)
Crítica
Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.
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Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.
A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.
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