Crítica
Ouvimos: Sly & The Family Drone, “Moon is doom backwards”

- Moon is doom backwards é o sétimo álbum da banda de jazz experimental londrina Sly & The Family Drone. O disco foi gravado em 2021 e só está sendo lançado agora.
- O Bandcamp da banda tem um texto que define o som como “um tipo de silêncio ‘tambores ouvidos através da parede’, ‘zumbido elétrico inquietante’. Um tipo de silêncio ‘inspetor particular bisbilhotando’, ‘sax solo no telhado'”.
- No álbum, tocam James Allsopp (metais, clarinete baixo), Kaz Buckland (bateria, metais, eletrônicos), Matt Cargill (eletrônicos, voz e percussão), Ed Dudley (voz, eletrônicos) e Will Glaser (bateria, eletrônicos).
- “Foi a primeira vez que gravamos em um estúdio de verdade. Foi num estúdio residencial na fazenda Larkin, em Essex. Ficamos no local por duas noites e três dias. Todos nós nos hospedamos, cozinhamos e saíamos juntos, e isso significava que podíamos ficar no local e fazer o que quiséssemos. Isso veio de uma pequena onda de atividade de tocar ao vivo novamente”, contou Matt Cargill aqui.
Ouvir o disco de Sly & The Family Drone (excelente nome de banda, por sinal) caminhando ou correndo na rua é garantia de sustos: os ruídos surgem sem muito aviso prévio e o que parecia um barulho à espreita, como se fosse feito no quarto ao lado, ou viesse de algum prédio meio distante, pode se tornar uma música inteira. Esse grupo do Reino Unido faz jazz experimental e meditativo com lembranças de Miles Davis, Charles Mingus e bandas de noise rock, deixa drones rolando enquanto percussões e efeitos de guitarra levam as músicas adiante, e trabalha num limiar em que você pode não reconhecer determinados instrumentos. É o que você já escuta em Glistening benevolence, cujos cinco minutos abrem o disco.
Going in, a segunda faixa, é jazz do outro mundo, lembrando Sun Ra e as viagens “jazzísticas” de pré-punks como MC5 e Stooges – sax ruidoso, percussão apocalíptica à frente, design musical selvagem e psicodélico, encerrando com um final de ruído de transmissão. Cuban funeral sandwich vem devagar, num silêncio cortado por notas de um clarinete baixo, que parece se movimentar como uma cobra no meio da mata – o som lembra algo que se parece até com Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz ou Naná Vasconcellos, ganhando um ritmo que soa como algo brasileiro lá pelo final. Joyess austere post-war biscuits abre com um chamado conduzido pelo saxofone, e vai se tornando pura psicodelia, com sons esparsos, percussões com eco, ruídos, distorções e metais que soam como guitarras.
O lado quase industrial do disco aparece nos ruídos eletrônicos da abertura de Guilty splinters, seguidos por percussão, saxofone, bateria e algo que soa como uma transmissão tentando começar. É a música mais “roqueira” do disco, ganhando um ritmo pesado e marcial, e um andamento quase pré-punk. Ankle length gloves soa como Mutantes e Pink Floyd, com ruídos de caixinha de música alterados, vozes distorcidas e clima psicodélico-aterrorizante, escapando um pouco do tom free-jazz total do disco, e dando outros ares ao som do grupo. Isso ao vivo deve ser bem legal.
Nota: 8,5
Gravadora: Human Worth
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Crítica
Ouvimos: Babymetal – “Metal forth”

RESENHA: Em Metal forth, o Babymetal mistura peso e pop: nu-metal, j-pop, rap e até soul, provando maturidade após 15 anos de carreira.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
Babymetal é heavy metal para não-metaleiros, você poderia dizer. Nem tanto, né? É um banda que vem da cultura asiática de criação de ídolos, é formada por meninas (que já são mulheres) e gerenciada por uma agência poderosa – a Amuse, que tem até escola de música. Mas dá pra dizer, sem medo de errar, que muita gente foi apresentada ao universo do som pesado por causa delas. Até porque o Babymetal é esperto o suficiente para agregar mumunhas pop, e estilos como r&b e rap, a um universo conhecido pelo radicalismo.
Você piscou o olho e o Babymetal já tem quinze anos, várias turnês e, curiosamente, um número de discos bem pequeno. Metal forth é o quarto álbum e funciona bem para metaleiros de ouvidos abertos e sem preconceitos. Dando um passeio pelas faixas: Ratatata tem ar de j-pop e k-pop, e une som pesado, rap e dance music. Song 3 é uma porrada que une vocais guturais (da parte dos convidados do Slaughter To Prevail) e vozes meio Alvin e os Esquilos. From me to you, na abertura, herda sonoridades do metal alternativo e da música pop – é som rápido, pesado, eletronificado.
Entre as surpresas de Metal forth, tem Sunset kiss, que deixa o Babymetal com uma cara de Spice Girls trabalhadas no couro e no preto. E My kiss, um nu-metal cuja introdução ameça uma chupada em Ratamahatta (hit do Sepultura com participação de Carlinhos Brown). Tom Morello põe energia em Metal!!!, que também traz emanações de Sepultura, mas une som pesado e soul. Já White flame, no final, aponta para vários lados: j-pop, emo, punk… encerrando com um solo de guitarra final que lembra Queen.
Quem ouvir Metal forth de mente aberta, vai descobrir que, com o tempo, o Babymetal foi se tornando um projeto bastante equilibrado – as integrantes cresceram e o mundo ao redor delas mudou bastante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Capitol
Lançamento: 8 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Deb and The Mentals – “Old news” (EP)

RESENHA: Deb and The Mentals volta às raízes em Old news: punk, grunge e new wave com peso, energia e nostalgia.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
Com uma formação nova que traz Fi (NX Zero), na guitarra, Deb and The Mentals decidiu voltar ao começo num EP de nome sintomático, Old news. Deb Babilônia adota novamente as letras em inglês nas cinco faixas do disco – e a banda corresponde com um som voltado para uma confluência entre punk, grunge e new wave. A faixa de abertura Together again une anos 1980 e 1990, soando como Ramones na fase Mondo bizarro (1992). Suck me in, com um pouco mais de peso, tem muito de bandas como Generation X. A noventista To erase vai para a pequena área do punk + metal, com peso e intensidade.
O “lado B” de Old news tem um hardcore rápido, cavalar e acelerado, Burn it down, fechado com microfonias. Tem também a música mais bonita do disco, Runaway, união de punk e rock britânico oitentista, chegando a lembrar Smiths. Dying spark, por sua vez, chama atenção pela boa marcação de baixo e bateria, e pela linha do tempo sonora que vai dos anos 1970 aos 1990.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Algohits
Lançamento: 13 de agosto de 2025
- Ouvimos: Paira – EP01 (EP)
- Ouvimos: A Terra Vai Se Tornar Um Planeta Inabitável – Ident II dades (EP)
- Ouvimos: akaStefani e Elvi – Acabou a humanidade
Crítica
Ouvimos: Klisman – “CHTC”

RESENHA: Em CHTC, Klisman transforma o Centro Histórico de Salvador em rap visceral, misturando trap, afropop e relatos de vida dura.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
CHTC, título do disco de estreia do rapper baiano Klisman, é uma sigla para “Centro Histórico tá como?” – e uma lembrança do coração de Salvador, um conjunto de pontos turísticos que explicam a história da capital baiana (Pelourinho, Elevador Lacerda, Mercado Modelo), além de um entorno de dez bairros. Klisman cresceu por lá e levou tudo para seu som, que une mumunhas do trap, e um certo elemento de perigo vindo do rap, além de erros e acertos pessoais. O som une beats de trap, afropop e vibes latinas.
Klisman fala da vida como ela se apresentou não apenas para ele, mas para vários amigos seus. Reparação histórica entra na mente dos que são tidos como vilões, em versos como “se eu roubo esse gringo é reparação histórica / visão de cria não pega na ótica” e “poucos sabem o dilema que eu vivo / do tipo: como vender drogas e ser um bom filho? / como tirar vidas e criar meu filho?”. Caminho certo cria imagens musicais para retratar um dia a dia que exige posicionamento rápido (“são escolhas que mudam o caminho de casa”), o mesmo rolando na ameaça sonora de 25kg e na sagacidade de Proibido branco. O próximo é rap lento e climático que une ódio e tiração de onda.
Para quem for ouvir CHTC, o conselho é tentar entender tudo como um filme e não sair julgando: Klisman entrega todas as contradições de quem cresceu numa realidade bem distante do que a classe média enxerga como normal – e o normal ali são leis bem estranhas. Em Praia da Preguiça, aberta com sample de violão e flautas, e Pixadão de guerra, sonhos misturam-se com alfinetadas em trappers famosos e realidades de trincheira (“a emoção de ver o alemão sangrar / é a mesma de ver o irmão prosperar”). Ainda sou o mesmo vai para vários lados da violência urbana: “quantas mãe vai ter que chorar? / ele poderia ter um Grammy / mas ele tá na boca portando uma Glock”.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Nadamal
Lançamento: 22 de maio de 2025.
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos8 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop9 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop7 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop8 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?