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Crítica

Ouvimos: Papangu, “Lampião Rei”

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Ouvimos: Papangu, "Lampião Rei"
  • Lampião Rei é o segundo álbum da banda paraibana Papangu, formada por Rai Accioly (guitarra, vocais), Marco Mayer (baixo, guitarras, vocais), Hector Ruslan (guitarras, vocais), os irmãos Pedro Francisco (flautas, guitarras, percussão, teclados, vocais) e Rodolfo Salgueiro (teclados, triângulo, vocais) e Vitor Alves (bateria e percussão).
  • O disco tem participações de Philippe Bussonnet (ex-baixista do Magma), Marian Sarine (Deafkids), João Kombi (Test), Paulo Ró e Andrea P. Num papo com o site Scream & Yell, Marco revelou que conhece Philippe desde 2013, quando o Magma tocou no festival Mimo, em Olinda, e que ficaram amigos. Depois, o músico esteve em Paris, levou a interface de áudio com o material do Papangu e ousou pedir a Philippe uma participação no disco (leia toda a história aqui, é bem legal).

O ideal é resistir à tentação de colocar o Papangu na mesma prateleira de bandas influenciadíssimas pelo rock brasileiro dos anos 1970. Essa influência aparece, claro, naturalmente na sonoridade de um grupo cuja sonoridade vai do rock pesado ao progressivo. E cujo imaginário inclui lendas brasileiras, Lampião, climas solares e rituais – o que aproxima o Papangu tanto do underground nordestino de cinco décadas atrás, quanto de bandas como Terreno Baldio, Ave Sangria e Perfume Azul do Sol.

Lampião Rei é basicamente um disco que não existiria sem o tom gutural do black metal, sem o stoner rock e até sem a criatividade associada ao “faça você mesmo” do punk – afinal, misturar jazz, progressivo, sons orientais, metal extremo, umbanda e psicodelia, tudo separadinho às vezes em poucos minutos, não é pra qualquer um. O disco abre com canções divididas em excertos (Acende a luz I, II e III), indo da delicadeza prog aos vocais guturais e às fortes linhas de baixo – cortesia de Philippe Bussonet, ex-baixista da banda francesa Magma, em participação especial.

O álbum prossegue com o peso herdado de Black Sabbath e Gentle Giant de Boitatá (Incidente na pia batismal da Capela de Bom Jesus dos Aflitos), com o afro jazz rock de Oferenda no Alguidar e chega a um resultado próximo da MPB indie e experimental de 1978/1979 em Sol raiar (Caminhando na manhã bonita). No final, Ruínas e Rito de coroação, também divididas em excertos, unem rock, jazz e experimentações.

Nota: 9
Gravadora: Repose Records

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Crítica

Ouvimos: Wado – “Obstrução samba”

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Com 21 minutos, Obstrução samba, de Wado, impressiona pela completude e reinvenções criativas de faixas feitas com Momo. Um disco breve e denso.

RESENHA: Com 21 minutos, Obstrução samba, de Wado, impressiona pela completude e reinvenções criativas de faixas feitas com Momo. Um disco breve e denso.

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Nem sempre álbuns curtos costumam ser completos – alguns às vezes ficam com uma baita cara de mixtape, de ponte entre um trabalho e outro, ou de EP bem fornido. Pois bem: Obstrução samba, disco novo de Wado, tem 21 minutos (é menor que o lado A de muitos álbuns) e chama a atenção justamente pela completude e pelos universos visitados ao longo da audição.

O conceito de Obstrução samba nasceu do documentário As cinco obstruções, de Lars Von Trier e Jørgen Leth, no qual Lars propõe a Leth a refação de um filme dele. A “obstrução” aqui foi que Wado retrabalhou músicas que havia composto com o músico Marcelo Frota, o popular Momo, para um álbum deste lançado em 2023, Gira. E incluiu outras faixas na lista final.

No caso do primeiro single, o samba-funk Jão, originalmente gravado por Momo, já dava pra sentir as mudanças de cara. A leitura de Wado, que traz a participação de Fábio Trummer (Eddie), é menos afrobeat que o original de Momo e joga na área do samba-rock, com emanações de Mundo Livre S/A e Paralamas do Sucesso (este, nos metais, que têm algo do hit Pólvora).

  • Ouvimos: Vinicius Barros – Cidadela
  • Ouvimos: Beto – Matriz infinita do sonho

Gira, Para e Passo de avarandar estão entre as outras, gravadas com participações especiais (João Menezes, Marina Nemesio e a dupla Priscila Tossan/Janu respectivamente). A primeira é afoxé-pop com metais, orgânico e mântrico. Para, curtinha (1:11), é samba e maracatu com vibe afro e orquestral. Passo de avarandar invade áreas como a do soul e do dub, propondo a observação da natureza e do dia a dia.

Sereia vem na sequência de Jão e continua o som dela, também com Marina Nemesio, enquanto vibes espiritualistas surgem em Atotô Obaluaê, com Alvaro Lancelotti. No final, Moraes Moreira é a sombra que paira sobre os frevos Esse mar e Deixa acontecer – não é por acaso, já que Davi Moraes, filho do compositor baiano, é coautor de ambas.

Esse mar, por acaso, fala do mar como quem fala da vida (“mesmo sem saber nadar, eu fui pro mar / aprendi com as ondas e com a mão de Iemanjá”) – e traz Wado, Davi Moraes, Adriano Siri e Otto, autores da faixa, unindo ritmo, existência e luta, numa das melhores faixas de Obstrução samba.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Lab344
Lançamento: 11 de julho de 2025.

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Ouvimos: Crizin da Z.O. – “ACLR + 6”

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ACLR + 6, EP de Crizin da Z.O., mistura funk, punk e poesia crua pra retratar um cotidiano sufocante, acelerado e cheio de dor — mas também de criação.

RESENHA: ACLR + 6, EP de Crizin da Z.O., mistura funk, punk e poesia crua pra retratar um cotidiano sufocante, acelerado e cheio de dor — mas também de criação.

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ACLR + 6 é a continuação (talvez um bônus) de Acelero, quarto álbum de Crizin da Z.O., projeto criado por Cris Onofre em parceria com os produtores Danilo Machado e Marcelo Fiedler. Num espelho do que fazem grupos como o norte-americano clipping, e os também cariocas Caxtrinho e Disstantes, o lance de Crizin é falar da vida de hoje quase como um meme aterrador, ou um chip indesejado, do qual não podemos fugir. Transporte público incipiente, dia a dia de operário, baixos salários, fome, miséria, miséria existencial, vida acelerada e apertada, remédios prescritos, indignação, racismo geográfico… tudo isso bate ponto na poética e no som de Crizin.

ACLR + 6 acelera, sem trocadilho, com o funk gélido de Repetição zero, entre ônibus e trens lotados, decepções e boletos: “marmita azedou dentro da mochila / enquanto eu sofria den’do busão / o ódio sobe, a lágrima escorre / e assim nóis caneta mais um refrão”. Fatal, com Edgar, é uma pancada meio metal, meio funk 150 bpm, que desfere chicotadas nas big techs, no capitalismo e no jogo sujo disfarçado de limpo. Sem atalho, com Sarine, invade os ouvidos com vocal quase percussivo, enquanto Reflexán di dia é metal, funk, punk e candomblé, tudo junto, com o projeto Scúru Fitchádu levando tudo para a vibe e o idioma de Cabo Verde.

Lcuas Pires e Mbé, igualmente convidados do disco, surgem em Baía, com sons que vão embarcando em outros sons e criam um universo sombrio e belo, que contempla as adversidades (“eu olho pra Baía de Guanabara e penso / essa água é tão preta”) e fala das big techs atravessando nossa vida, pensamentos e gestos. Repetição um encerra o disco com vibração de samba pós-punk: baixo à frente, violão (de Kiko Dinucci) tocado de forma sombria e repetitiva, letra apontando para as mortes do dia a dia e para os apagamentos da memória. Uma ilha de edição musical.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: QTV
Lançamento: 17 de julho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Veigh – “Eu venci o mundo”

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Veigh lança Eu venci o mundo, trap com discurso de vitória, ostentação e dilemas modernos, entre crítica social e autoafirmação intensa.

RESENHA: Veigh lança Eu venci o mundo, trap com discurso de vitória, ostentação e dilemas modernos, entre crítica social e autoafirmação intensa.

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O trap tem movido montanhas e conquistado fãs no Brasil – e tem se posicionado como o mais novo som preparadíssimo para irritar pais, professores e pessoas mais velhas em geral. Uma irritação que vem acompanhada de boas doses de racismo e preconceito social, e que também surge lado a lado com a mesma complacência com que ouvimos os “bitches” desferidos por rappers – afinal que lado é pra correr?

Enquanto ninguém decide, vale conferir o que Veigh faz em Eu venci o mundo, basicamente um trap com o mesmo discurso de vitória na guerra que tem dominado álbuns de rap no Brasil, como os mais recentes de Djonga e BK*. É uma linguagem da nova geração: temas como mindset, mindfullness, foco e outras coisas que aparecem em palestras de coaches são pulverizados e levados para um universo mais realista, em letras como as de Reuniões comigo mesmo, a gangsta e safada Hiperfoco (pura ostentação em versos como “quando você tem mais de uma dama / o dia dos namorados é mais difícil”) e a balada triste fake Perdoe-me por ser um astro (“se eu não fosse eu / também me invejaria /perderia horas falando de mim”).

Com flow bacana e bases criativas, Veigh é o puro “se eu posso, você também pode, irmão” em gotas. Eu venci o mundo fala de neymarização e fãs interesseiras em Belieber, que conta a história de uma atual admiradora que já foi do fã clube de Justin Bieber – e mandando recado: “tô solteiro agora / alguém por favor avisa a Anitta”. Também é pura sacanagem macha em Dono da verdade e na sombria Taylor, dedo na cara de traidores em Artista genérico e Indiretas com a voz, e mais ostentação em Sangue do cordeiro, formando um cenário que causa admiração em muitas pessoas, estranhamentos em outras tantas, indiferença em várias, e sentimentos que nem me arrisco a dar nome numa turma enorme.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Supernova Entrertainment
Lançamento: 26 de junho de 2025

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