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Crítica

Ouvimos: Os Fonsecas, “Estranho pra vizinha”

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Ouvimos: Os Fonsecas, "Estranho pra vizinha"
  • Estranho pra vizinha é o álbum de estreia da banda paulista Os Fonsecas, formada por Caio Colasante (guitarra), Felipe Távora (voz), Thalin (bateria) e Valentim Frateschi (baixo).
  • O grupo surgiu em 2019 e lançou o primeiro EP, Fundo de meia, em 2020. Além da banda, os integrantes se dividem em vários outros projetos musicais – Valentim tem uma carreira solo baseada na MPB setentista e Thalin trabalha com hip hop, por exemplo.
  • O selo do grupo é o Seloki Records, definido pela Wire Magazine (na qual eles já foram parar) como uma gravadora “apaixonada por mídia obsoleta, especialmente K7s, e com distanciamento de imagens mercantilizadas de música brasileira”.

Se você quiser uma definição exata pro som da banda Os Fonsecas… Bom, vai ficar querendo. O mais aproximado é dizer que se trata de um pós-punk louco, no melhor dos sentidos, e variado a ponto de se confundir com MPB e psicodelia. Também dá pra dizer que Estranho pra vizinha não vai soar nada estranho para fãs de Mutantes e de Titãs (até 1989), colocando-se com folga naquela estética de rock brasileiro pensado para soar fora dos padrões.

Estranho pra vizinha investe em experimentações rítmicas, letras irônicas (Não peço mais, logo na abertura, já insere o ouvinte no contexto da banda) e influências que vão do punk e do rock sessentista ao jazz. Nessa linha-sem-linha, entram o tom beatle-tropicalista de Olho grego, a quebradeira rítmica e métrica de João e o balanço de Vendaval, logo na primeira metade do álbum.

Fica claro que as diferentes experiências musicais dos integrantes – que vão do hip hop à MPB – dão o tom não apenas das composições como da produção de Estranho pra vizinha, um disco que ainda tem uma pecinha psicodélica cheia de autotune (Pirata), as batidas afropunk de Métrica, o clima de desenho animado de Boca adentro e a MPB pop de Hoje mais cedo, entre outras.

Nota: 8
Gravadora: Seloki Records

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Ouvimos: Clara Bicho, “Cores da TV” (EP)

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Ouvimos: Clara Bicho, "Cores da TV" (EP)

“Artista visual, musicista e jornalista pela UFMG”, como se define em seu instagram, Clara Bicho oferece mais do que apenas música em seu aguardado primeiro EP, Cores da TV – o disco é um universo esperando para ser desvendado. As melodias tem ar indie pop, as letras têm clima de diário, os cenários mostram Clara interagindo com todos os lugares dos quais ela fala nas letras.

A paleta indie pop do disco traz influências de disco music na faixa-título Cores da TV (parceria com Sophia Chablau), que traz sonoridade remetendo a grupos como Girl Ray, enquanto Meu quarto é mais experimental, soando como um passeio introspectivo pelos guardados de Clara Bicho e pelas recordações de uma vida (“faz um tempo ue eu tento me organizar / mas disso tudo aqui eu não quero me livrar”).

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Quase sempre, o som de Cores da TV parece “derreter”, como numa psicodelia pop, herdada tanto de Mutantes quanto de Flaming Lips. Rola isso na bossa indie Música do peixe, que depois se transforma numsamba-rock, e também no pop adulto oitentista (city pop, digamos) de A rua. Luzes da cidade, quase na mesma vibe, é um pop de quarto que remete ao boogie dos anos 1980, cujo vocal tem sujeira de gravação feita em casa.

No final, o som luminoso e repleto de recordações de Árvores do fundo do quintal, gravada ao lado da banda catarinense Exclusive Os Cabides (“as árvores do fundo do quintal / mandam lembranças / de quando a gente era criança”). Uma música, e um EP, em que passado e afeto são tão importantes quanto o futuro, e formam uma visão nova de música pop.

Nota: 9
Gravadora: Bolo de Rolo
Lançamento: 5 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Maré Tardia, “Sem diversão pra mim”

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Ouvimos: Maré Tardia, “Sem diversão pra mim”

Lançada em 2022, a estreia epônima do Maré Tardia era um disco bastante juvenil, mais ligado a uma combinação de indie rock e surf music. Mas já indicava o caminho que a banda seguiria com Sem diversão pra mim, seu segundo álbum. O Maré Tardia atual soa mais explosivo, apresenta composições bem mais afiadas e parece ancorado em diversas fusões estilísticas que se alternam: punk dos anos 1970, indie dos anos 2000, pós-punk (tanto o original quanto o revisitado a partir da virada do milênio) e, em especial, sonoridades que remetem a bandas como Libertines e Television Personalities.

Essa mistura aparece em faixas como Leviatã, Já sei bem, Junkie food (com um clima surfístico-misterioso que lembra o início do Dead Kennedys) e na faixa-título – cujos vocais evocam a fase punk do Ultravox e, não por acaso (note o nome do disco), também têm algo de Titãs. Tarde demais traz vários riffs, vocais gritados, uma pegada grunge e, surpreendentemente, encerra com um clima de maracatu punk, com percussões marcantes e guitarras inspiradas. Uma inesperada brasilidade também marca Nunca mais, última do álbum, com batida discreta de bossa nova e um improviso samba-rock no final.

Ian Curtis, que homenageia o saudoso vocalista do Joy Division, tem guitarras que lembram o U2 do início e grupos pouco lembrados do pós-punk, como Comsat Angels. Já a despojada Nadavai, lançada como single, é punk indie com batidas à la Dave Grohl e um vocal descolado que remete ao rock dos anos 2000 (Arctic Monkeys, Strokes). Sem diversão pra mim, o disco, carrega por acaso muito do romantismo que permeou o rock brasileiro de vinte anos atrás – aquela estética de falar de si e dos sentimentos como quem comenta o mundo, firmando posição diante de tudo. Ouça correndo.

Nota: 8,5
Gravadora: Deck
Lançamento: 30 de abril de 2025.

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Ouvimos: Y3ll, “Entre samples roubados & cerveja barata”

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Ouvimos: Y3ll, "Entre samples roubados & cerveja barata"

Direto do extremo leste de São Paulo – entre Guaianases e Cidade Tiradentes -, Daniel Oliveira, o popular Y3ll, soltou nas plataformas Entre samples roubados & cerveja barata, álbum de título certeiro e alma 100% urbana. Aqui, o rap vira quase city pop, mesmo nos momentos em que a estética japonesa não está diretamente presente. É trilha sonora de rolê pela cidade — real ou imaginária —, desses que começam na quebrada e terminam em algum lugar no controle remoto ou nas profundezas das plataformas de streaming.

A faixa Livre já dá o tom: sample do tema do programa do Datena no SBT misturado com Estou livre, de Tony Bizarro. Não se vão carrega peso e ironia: um rap encorpado por grooves de disco music e sonoridades de flashback, com Y3ll fazendo a pergunta que vale um milhão: “por que idiota falando bosta atrai multidão?”. Em Coral — que traz o título do disco num dos versos —, o clima muda: sambinha-rap suave, tranquiilo. Pela Leste, por outro lado, volta pro grave e dançante: batidão pesado, com sample até do programa do João Kléber.

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Os temas variam entre prazeres simples e duras realidades: sábado à noite, boletos, tretas, polícia, morte. Estão todos ali na sombria Dono do pedaço, com um riff de teclado de influência árabe, e no rap falado, lento e quase confessional de Não sei. Interlúdios dão o respiro: Comerciais simula um dial girando entre anúncios, Interlúdio traz papos paralelos, e Viva a vida é um velório vem com ninguém menos que Zeca Pagodinho filosofando sobre os enterros felizes no bairro carioca de Irajá.

No fim das contas, Entre samples roubados & cerveja barata é um disco-vinheta. Um mosaico sonoro da quebrada, da vida, da cidade — daqueles que não contam só uma história, mas várias ao mesmo tempo.

Nota: 8,5
Gravadora: Independente/Tratore
Lançamento: 9 de maio de 2025.

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