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Crítica

Ouvimos: Displicina, “As núpcias ósseas”

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Ouvimos: Displicina, “As núpcias ósseas”

Com participação criativa de um ex-integrante do Akira S e as Garotas que Erraram, Alex Antunes (além do próprio Akira como convidado fazendo algumas programações), o Displicina é um posto avançado do underground paulistano dos anos 1980. A estreia As núpcias ósseas é um disco sombrio e explosivo na mesma medida, unindo samples de nomes como Joseph Campbell, Leonard Cohen e Laurie Anderson, evocações a Gang Of Four, Genesis P. Orridge e Public Image Ltd, e uma maneira abrasiva de usar não apenas os instrumentos como os próprios recursos de gravação.

Em As núpcias ósseas, tem experimentalismo de terror (na vinheta Bardo), funk-punk fundido com rap e poesia cáustica (Almoço nu), oito minutos de eletropunk sombrio e repleto de efeitos sonoros – em Friedkin: Pasolini (You can hear the bones humming) – e seis minutos de gemidos, ruídos e narrações em Bardo (Antibardo). O samba-punk-funk Os bones do ofício (Que Mario?), de versos como “morrer é só nascer ao contrário / nascer é só morrer ao contrário / os ossos do ofício / escondidos no armário”, é bastante recomendável para fãs de Black Future. Com Tit-Flash-Death (Harrison Ford said), essa música forma o lado menos antipop do álbum – no caso dessa, a familiaridade se dá pelo andamento funkeado e pelo riff lembrando A praieira, de Chico Science e Nação Zumbi.

As núpcias ósseas é também o disco de colagens sonoras como O que diria Joseph Campbell? e a inacreditável O funeral de Alex Antunes, uma narração sombria que encerra com uma vinheta entre o punk, o funk e uma vibe progressiva e podre. E quem comprar os áudios do disco no Bandcamp ganha oito demos.

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 8 de setembro de 2024

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Crítica

Ouvimos: Jovens Ateus, “Vol. 1”

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Ouvimos: Jovens Ateus, “Vol. 1”

Aguardado com certa expectativa, o álbum da banda paranaense Jovens Ateus é sombrio, opera entre o pós-punk e a darkwave, e pode ser resumido por uma referência: o The Cure de discos sorumbáticos como Seventeen seconds (1980) e Disintegration (1989). O baixo de Bruno Deffune dá a argamassa de boa parte do repertório, e ele caminha, em várias faixas, para algo próximo dos hits mais deprês do grupo britânico, como A forest e Lovesong.

Você encontra essa sonoridade em faixas de Vol. 1 como Espelhos, Cedo demais, Homem em ruínas e Passos lentos, e também na fantasmagórica Introspectro, algo entre The Cure, Joy Division e My Bloody Valentine. Em Mágoas, um riff de guitarra costura aquele que é o pós-punk mais ensolarado do álbum – por sinal num álbum no qual a palavra “ensolarado” não pode ser encaixada com facilidade. Baixo e synth dão a cara de Flores mortas, vibrações eletrônicas marcam a vinheta tamanho-família Twinturbo mixtape e um insuspeito lado metalcore (!) da banda dá as caras em Saboteur got me bloody, que lembra Ministry.

Nota: 8
Gravadora: Balaclava Records
Lançamentos: 10 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Funeral Macaco, “Idade do pássaro” (EP)

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Ouvimos: Funeral Macaco, “Idade do pássaro” (EP)

Com origens na “cacofonia da favela de Rio das Pedras, Zona Oeste do Rio” (frase tirada do próprio Instagram do grupo), o som do Funeral Macaco une pós-punk e brasilidades, num resultado que lembra tanto o rock pernambucano dos anos 1990 quanto bandas como Black Future e Paulo Bagunça e a Tropa Maldita. A capa do disco, por sua vez, dá uns traços com a de Exuma I, a estreia do Exuma (do hit Exuma, The Obeah Man).

Canicule, a faixa-título, resume tudo: baixo pesado, batuque de umbanda, vocal parecendo um dialeto, guitarra econômica, bateria soando como uma porrada rápida, entre rock e jazz – basicamente uma só nota entendida e transformada em algo pesado e sombrio. Congo e Angola é um samba fantasmagórico, com letra que lembra algo de Luiz Melodia. Frevo é um frevo de vocal furioso e bateria igualmente tensa, uma energia que passa pelo entendimento pós-punk do estilo.

General Candongueiro traz vocal cantado num ponto de umbanda, letra soando como homenagem a uma entidade – algo que ressoa na percussão-e-voz de Morangueira, e no ritmo quase cardíaco, que vai crescendo aos poucos em letra e peso musical, de O tempo do maquinário não é o mesmo de Exu Elégbará. Ao vivo, o Funeral Macaco deve ser uma enorme surpresa – e vale esperar pelos próximos shows.

Nota: 10
Gravadora: Independente
Lançamento: 13 de março de 2025

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Crítica

Ouvimos: Morcegula, “Caravana dos desajustados”

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Ouvimos: Morcegula, “Caravana dos desajustados”

Com formação pouco usual – um duo de guitarra e bateria, sendo que a bateria é tocada em pé e sem uso de pratos – o Morcegula, formado por Badke (Carbona) e Rebeca Li (Pulmão Negro) faz rock de garagem e punk com referências de Ramones, Blondie, B-52s, Cramps e até Rita Lee e Mutantes.

Algo que remete ao grupo paulistano pode ser encontrado nas letras de faixas como Formiga (uma espécie de apologia às formigas, e uma das melhores letras do disco) e Ratazanagem, enquanto um cruzamento com The Hives surge em Jupiter falou. Tomo 13 é punk melódico com lembranças de Strenght to endure (Ramones) e um clima próximo das músicas de Chuck Berry aparece na abertura de R de rei.

O lado Cramps do Morcegula surge não apenas em referências musicais, como também na opção por um rock “de terror” – sempre apontando para o lado das criaturas marginais, como na faixa-título, e em músicas como Noiva cadáver e Causa mortis. Basicamente rock simples e com ganchos que remetem ao punk noturno e rueiro, destinado ao último volume.

Nota: 8,5
Gravadora: Goma Base
Lançamento: 10 de abril de 2025

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