Connect with us

Crítica

Ouvimos: Ministry, “The squirrely years revisited”

Published

on

Ouvimos: Ministry, “The squirrely years revisited”

O provável penúltimo disco do Ministry (Al Jourgensen, criador do grupo, diz que vai lançar só mais um depois desse, já com o ex-inimigo Paul Barker de volta) é um projeto que a maioria dos fãs não esperava. No ano passado, Al testou o repertório inicial do grupo, do começo dos anos 1980 – mais voltado ao tecnopop e à música eletrônica do que ao metal industrial – no show que o Ministry fez no festival Cruel World, em Pasadena, na Califórnia. Deu certo, aparentemente. Aliás, deu tão certo, que o músico venceu um ranço de décadas (músicas como Work for love não eram executadas havia quase 40 anos) e decidiu regravar o repertório.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

The squirrely years revisited, que traz na capa um esquilo sexualmente excitado (para não dizer outra coisa), é o retorno do Ministry às músicas de With sympathy, seu primeiro disco (1983), além de alguns singles lançados pelo selo indie Wax Trax. Sim, Al deu uma mudada nas músicas e deixou tudo mais podre: Work for love, Here we go, All day… Tudo isso soa mais como o Ministry do disco de transição Twitch (1986), um dos melhores álbuns do grupo. Só que, vamos lá, o Ministry já era meio podre até mesmo como banda de synthpop. Tanto que mesmo as canções mais redondinhas do grupo tinham alguma coisa estranha para confundir ouvidos. E às vezes o Ministry soava como um Depeche Mode mal-humorado.

Vale citar que as versões novas nem são tão melhores que os originais assim. Revenge volta mudada de verdade, mas… o original era um tecnopop com a cara do Ultravox, e a nova versão lembra um metal melódico (!). E sei lá se era preciso reler (Every day) is halloween, sucesso de 1984 que já tinha uma baita cara de hit do submundo – e que, vai entender, também foi vítima da implicância de Al Jourgensen por vários anos. Aqui, ela volta com algumas guitarras a mais e com evocações de Thieves, música de 1989 do Ministry.

Dentre as outras regravações que o Ministry fez, tem I’m not an effigy (pós-punk roqueiro no original, pós-punk metalizado em Squirrely), I’m falling (o original era basicamente pós-punk com alma gótica, e o grupo não fez muitas modificações) e Same old madness (outrora um tecnopop rápido e pesado, agora uma música pesada e com uma mixagem razoável). I’ll do anything for you é a musica com mais cara de synthpop dentre as regravações, com Al equilibrando vocais graves e registros altos, com drive, Já as três versões do álbum Twitch que encerram o disco não acrescentam muita coisa. No fim das contas, Squirrely vale mais para roqueiros que detestam qualquer coisa mais “pop” e odeiam sintetizadores.

Nota: 6
Gravadora: Cleopatra
Lançamento: 28 de março de 2025.

Crítica

Ouvimos: Mark Pritchard & Thom Yorke, “Tall tales”

Published

on

Ouvimos: Mark Pritchard & Thom Yorke, "Tall tales"

DJ e produtor, o britânico Mark Pritchard é uma companhia perfeita para Thom Yorke mergulhar em experimentações. Além da experiência de ambos em criar atmosferas sonoras densas e sensoriais, há um espírito comum: o gosto por projetos paralelos. Pritchard coleciona codinomes e colaborações; Yorke, por sua vez, é o tipo de artista que raramente se acomoda.

Tall tales, projeto que une música e filme, nasceu de um encontro entre os dois em 2011, quando Pritchard remixou faixas do Radiohead, e começou a tomar forma em 2020, em plena pandemia. Foi justamente o isolamento que impulsionou a colaboração: Thom, entediado em casa, pediu que Mark lhe enviasse ideias para trabalhar. O que se seguiu foram cinco anos de trocas virtuais — mensagens, conversas no Zoom — sem um único encontro presencial.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

A proposta era buscar sons não convencionais. Mark cavou fundo em synths fora de linha e softwares obscuros, enquanto Thom deixou de lado guitarras e investiu em sintetizadores e distorções vocais. O resultado? Um disco sem calor, nascido da distância e da incerteza — e que reflete exatamente isso. E não entenda o “sem calor” como depreciativo: o gelo faz parte da aventura.

Mesmo para os padrões já estranhos de Yorke, Tall Tales soa dissonante, tenso e desolador. A fake in faker’s world e Ice shelf, que abrem o disco, sugerem que estamos sempre à beira de um abismo — a segunda amplifica essa sensação com uma sirene circular e hipnótica. Bugging out again até soa etérea, quase sonhadora, mas só depois de atravessarmos um corredor de vocais distorcidos e espectrais.

Do início ao fim, Tall Tales é um álbum gelado. Suas letras lembram fábulas, e suas faixas se alinham ao modelo de “não-canção” explorado pelo Radiohead em Kid A. Back in the game e Gangsters poderiam muito bem estar em trilhas de videogame — assim como a batida seca e minimalista de This conversation is missing your voice evoca o som vintage de um Tele-Jogo (lembra disso?). The white cliffs traz um blues ambient repleto de sintetizadores, com clima espectral e distante, quase como uma miragem — uma imagem potente para um mundo confuso como o de 2020. Já a faixa-título sintetiza o mundo como um deserto, em clima sombrio.

Entre tantas abstrações, The man who dances in stag’s head se destaca por lembrar uma canção de verdade — ainda que no sentido mais torto do termo. É uma balada que remete a Lou Reed, com pandeirola, vocais quase falados e atmosfera desolada que remete a Here she comes now, do Velvet Underground. Já a faixa final, Wandering genie, mistura vocais sobrepostos, cordas e sintetizadores até virar puro vento — como se tudo fosse varrido por uma força invisível.

No fim das contas, é art rock — mas bem mais art do que rock puro, como boa parte da trajetória do Radiohead.

Nota: 9
Gravadora: Warp
Lançamento: 9 de maio de 2025

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Shn Shn, “Serpent’s skin”

Published

on

Ouvimos: Shn Shn, “Serpent’s skin”

Vinda do Canadá, a musicista, compositora e cantora Shn Shn (nome verdadeiro: Shanika Lewis-Waddell) se dedica a um experimentalismo eletrônico que lembra bastante a vibe dos anos 1980 – e daquele som que costumava ser chamado de new age. A música de seu primeiro álbum, Serpent’s skin, é um ambient relaxante, que se cruza com vários estilos, e que alterna silêncios e sons em poucos segundos. Outerlands une esse design sonoro com reggae, Divergent paths é um soul eletrônico que lembra um tema de filme (com direito a conversas ao fundo) e Home is another place cria um ambiente relaxante e caseiro, com teclados, cordas e poucas notas.

O som esparso do disco traz outras coisas na receita. Há um toque forte de jazz e afrobeats distribuídos pela sonoridade de Serpent’s skin. Um som que lembra uma steel drum coadjuva a visonária Glimmer, batidas afro criadas por baixo, teclados e cordas criam New horizons e um concretismo musical cavernoso dá as caras em Tender bodies. Anomalies e Blip in the… são temas de piano, marcados por ruídos de fundo, barulhos marítimos e por uma microfonação que revela o ruído do banquinho usado por Shn Shn. Já Flow é um ambient “voador” e percussivo. Um disco que convida à escuta atenta, e que revela novas camadas a cada audição.

Nota: 8
Gravadora: Stadik Records
Lançamento: 28 de março de 2025.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Big|Brave, “OST”

Published

on

Ouvimos: Big|Brave, "OST"

O som do grupo canadense de metal experimental Big|Brave já está bem longe de ser um dos mais acessíveis do mundo – sonoridades como rock industrial e shoegaze são pouca areia na hora de definir a banda. Mas dessa vez o grupo foi longe demais: OST (original soundtrack, “trilha sonora original”) é uma “trilha sonora” feita sem que haja um filme para o qual ela tenha sido composta – e a banda entrou em estúdio sem ter nenhuma composição pronta, só com a disposição para improvisar em cima do que aparecesse.

Esse clima de Araçá azul do demo perpassa todas as oito faixas do disco – todas chamadas Innominate, variando apenas o número delas (de I a VIII). Quem quer conferir sons aterrorizantes, pode pular para a Innominate nº II, com notas sombrias de piano, ruídos de estática e um zumbido que parece alguém bem de longe querendo dizer algo. O disco abre com ruídos que vêm de longe (na Innominate nº I), segue com tremeliçações sonoras (na III) e com algo que se assemelha a barulho de metal vibrando (na IV) – praticamente uma enciclopédia experimenta musical, que soa mais como os ruídos de fundo de um filme do que com a música usada para um galã beijar a gatinha, ou a câmera mostrar um cenário infinito.

Se você não estiver com a menor vontade de se irritar, recomendamos pular a Innominate nº V – os barulhos soam tanto como um inseto voando, que chega a dar vontade de pegar um jornal para matar o bicho. A Innominate nº VII volta vagamente para o clima de terror da segunda faixa, com gritos que parecem vir de uma comemoração, mas ganham logo um tom de horror – em meio a sons que lembram um berimbau sendo tocado e tratado eletronicamente. Ousadia musical para poucos, e poucas.

Nota: 7,5
Gravadora: Thrill Jockey Records
Lançamento: 25 de abril de 2025

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Continue Reading
Advertisement

Trending