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Crítica

Ouvimos: Chico Chico, “Estopim”

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Ouvimos: Chico Chico, "Estopim"
  • Estopim é o segundo álbum solo de Chico Chico, produzido por Pedro Fonseca e Rafael Ramos. É o segundo lançamento do cantor pela Deck – em 2023 saiu o EP Espelho. Nomes já conhecidos dos álbuns dele, como Julia Vargas, Tui Lana e João Mantuano, participam do álbum.
  • Pedro, que vem trabalhando com o cantor desde 2023, “entendeu bem essa dualidade das composições, tanto das imagens rurais quanto das urbanas que permeiam meu trabalho e se fazem presente neste álbum”, diz Chico.
  • Nomes como Marlon Sette (trombone), Walter Villaça (guitarra e violão de aço), Thiago da Serrinha (percussão) e Jorge Continentino (sax barítono, flauta e pife) estão na lista de músicos.

Segundo álbum individual de uma carreira bastante voltada a registros em dupla ou grupo, Estopim é o disco mais sistemático (vamos dizer assim) que Chico Chico conseguiu fazer até o momento. E ele conseguiu isso numa gravadora de porte – a Deck -, sem abdicar da identidade própria que havia em todos os lançamentos anteriores. No novo álbum, a voz dele, mais até do que lembrar a da mãe Cássia Eller, soa como vários anos de história da MPB pós-tropicalismo condensados numa pessoa só – numa onda musical que abarca Elis Regina, Luiz Melodia, Gilberto Gil e até Oswaldo Montenegro.

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Nem parece, mas a carreira discográfica de Chico Chico já está prestes a completar dez anos – sua estreia 2×0 Vargem Alta, que era na verdade a estreia epônima de uma banda (formada por ele e vários amigos), saiu em outubro de 2015. A sonoridade quase blues e predominantemente acústica do disco ainda dá as caras em Estopim mas foi sendo acrescida de outros elementos, cabendo o soul forte de Parado no vento (na qual o registro vocal do cantor lembra o de Cazuza), o rock nordestino à moda de Alceu Valença e Raul Seixas em Toada, um som mais pop e suingado em Terra à vista (que por sinal foi o primeiro single do álbum) e uma MPB bem próxima da sonoridade pop setentista em Vai. Além do frevo de Moda do chapéu e do pop com sonoridades arábicas de Acorda Zé.

Quem curtiu músicas folk e brasileiras de Chico como Ribanceira (cujo potencial levou-a à trilha do remake da novela Pantanal) vai ficar feliz com o forró folk ágil de Altiva, gravada com Juliana Linhares, e com a interiorana Urminino, com participação (infelizmente pouco audível) de Julia Vargas. De novidade, tem a experimental Abismo, uma canção cujo arranjo é composto de várias vozes sobrepostas.

Nota: 8,5
Gravadora: Deck.

Crítica

Ouvimos: Finneas, “For cryin’ out loud!”

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Ouvimos: Finneas, "For cryin' out loud!"
  • For cryin’ out loud! é o segundo álbum de Finneas, irmão (e parceiro, e produtor) de Billie Eilish. O disco foi revelado pela primeira vez numa reportagem da Rolling Stone, na qual Finneas disse que dessa vez queria que seu disco fosse hipercolaborativo, já que se sentiu “solitário” fazendo o primeiro álbum. E ele também achou que o primeiro disco saiu “apenas OK”.
  • O músico avisou também que For cryin’ out loud! surgiria “afastando a mentalidade do produtor de quarto e partindo para um ambiente clássico de estúdio/banda”.
  • No disco novo, Finneas apresenta uma única música individual, Starfucker. O restante foi composto ao lado da turma que tocou no disco: Aron Forbes (baixo, guitarra), David Marinelli (percussão, teclado, programações), Lucy Healy (vocais, teclados), Matthew Fildey (guitarra, synth), Miles Morris (bateria e guitarra-barítono) e Sam Homaee (teclado, percussão, guitarra).

Muita coisa mudou no front de Finneas nos últimos anos – e nem precisa perguntar muito o motivo, levando em conta o sucesso de sua irmã (Billie Eilish, cuja carreira surgiu com as produções-musicais-de-quarto que ela fazia com ele). Era evidente que o segundo álbum solo de Finneas viria com uma produção muito melhor. Além de um foco muito maior em mostrar que por trás do produtor e do “irmão de Billie Eilish” há um artista talentoso, variado e classicamente pop. For cryin’ out loud! vai nessa linha, e foi trilhado no corredor de um som mais adulto e menos (digamos assim) “Brat summer”, mas trazendo elementos que jogam nos dois lados.

Também era evidente que ao contrário do EP Blood harmony (2019) e do álbum de estreia Optimist (2021), Finneas não encararia sozinho a missão de dar prosseguimento à sua carreira. Ao contrário de seus discos anteriores, que eram blocos-do-eu-sozinho, o material de For cryin’ out loud! foi feito coletivamente por Finneas e a turma que foi para o estúdio com ele. Enquanto os discos anteriores ainda não se diferenciavam totalmente, em termos de produção e até composição, do trabalho com Billie (e vá lá, soavam bem menos interessantes que os álbuns da irmã), o novo disco viaja por várias noções de pop, dando atenção especial às mesclas com power pop, soul, soft rock setentista, sons oitentistas e coisas parecidas.

Até um skazinho folk alegre com refrão meio Coldplay (mas o Coldplay dos primeiros anos, calma!) surge entre as faixas, Cleats. O disco é aberto com uma balada tristinha e grandiloquente de piano, a atrevida Starfuckers, mas joga na cara do ouvinte um provável futuro hit de rádio adulta, o new jack swing What’s it gonna take to break your heart?, com base de guitarra lembrando Spandau Ballet e Simply Red – que por sua vez chuparam só uns 15 guitarristas e arranjadores de soul dos anos 1970, lógico.

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O lado que aponta para o folk-rock inglês dos anos 1990/2000 (meio do qual justamente o Coldplay surgiu) traz ainda faixas como Little window, Family feud e Same old story. É a faceta menos atrativa de For cryin’ out loud!, que ainda traz um bubblegum de rodinha de violão (2001), um indie rock coolzaço e descolado que lembra uma mescla de Artic Monkeys e Tears For Fears (Sweet cherries, que ganha “parte 2” como nas músicas novas de Billie, com interlúdio de piano e voz, e final em clima hyperpop) e um quase-popzão de boyband (a faixa-título). No final, a música mais anos 1980 do disco, Lotus eater, mirando o som britânico da época, mas com vocais de soft rock. Agora deu certo para Finneas.

Nota: 8
Gravadora: OYOY/Interscope

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Ouvimos: A Place To Bury Strangers, “Synthesizer”

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Ouvimos: A Place To Bury Strangers, "Synthesizer"
  • Synthesizer é o sétimo álbum da banda novaiorquina A Place To Bury Strangers, hoje formada por Oliver Ackermann (baixo, guitarra, voz), John Fedowitz (baixo) e Sandra Fedowitz (bateria). O grupo ganhou desde o começo a reputação de “banda mais barulhenta de Nova York”.
  • Ackermann disse que o disco novo é uma resposta a “essa era em que, na música, tão pouco é DIY (do it yourself, faça você mesmo) e tanto é deixado para a IA (inteligência artificial)”, dizendo também que o ponto do novo álbum é “fazer algo que pareça deliberadamente caótico, bagunçado e humano”.
  • O álbum é o segundo da banda lançado pelo selo Dedstrange, que tem Oliver como um dos chefes. Ele também é criador da Death By Audio, marca de pedais de efeito.

Prepare-se para levar um susto logo na abertura desse Synthesizer, já que o novo disco do A Place To Bury Strangers já começa com a guitarra de Oliver Ackermann apitando como se fosse um sirene do apocalipse – na faixa Disgust, uma canção que não chega a ser gótica ou shoegaze, mas passa por tudo isso, costurando estilos com ruído, eletrônica e sensação de perigo.

Quem é fã da banda sabe que o APTBS já soou ruidoso a ponto de parecer quase inaudível, embora seja igualmente capaz de criar melodias que pegam (como nas faixas Playing the part, de 2021, e Keep slipping away, de 2009, mais associáveis a bandas como New Order e The Cure). Dessa vez o grupo decidiu fazer a melodia funcionar a favor do barulho, com experimentações musicais, programações sujas e vocais podres favorecidos por bons riffs e temas melódicos – como nas faixas Don’t be sorry, Fear of transformation (uma mescla de Bauhaus, Kraftwerk e Alien Sex Fiend, com riff de teclado de guardar na memória) e Join the crowd (que lembra a união exata de Depeche Mode e Suicide). Além da nitroglicerina pura da dançante You got me.

Os fãs do lado podre do grupo vão ficar felizes com a porradaria da desnorteadora Bad idea, mas as melhores músicas são as que pões o APTBS na turma das bandas influenciadíssimas pelo Jesus and Mary Chain de Psychocandy (1985), mas que decidiram aumentar o grau de ruído, como na ágil Plastic future e no peso psicodélico de Have you ever been on live. No final, os quase oito minutos de rajada sonora de Comfort never comes, encerrada com uma guerra de microfonias. Pode ouvir no volume dez que seus vizinhos vão adorar 😉

Nota: 8,5
Gravadora: Dedstrange

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Ouvimos: Balance And Composure, “With you in spirit”

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Ouvimos: Balance And Composure, "With you in spirit"
  • With you in spirit é o quarto álbum da banda norte-americana Balance And Composure. É o primeiro disco da banda desde seu retorno no ano passado – o grupo havia feito uma turnê de despedida em 2019, mas decidiu voltar.
  • A banda (que é da Pensilvânia) é formada hoje por Jon Simmons (voz, guitarra), Erik Petersen (guitarra), Andy Slaymaker (guitarra), Matt Warner(baixo) e Dennis Wilson (bateria). Dennis entrou para a banda substituindo Bailey Van Ellis, que estava na bateria do grupo desde o começo, em 2007.
  • Num papo com o site Stereogum, Simmons diz que nunca quis terminar a banda. “Eu estava apenas seguindo o que os caras queriam fazer. Mas isso me quebrou de certa forma. No nosso último show em 2019, eu estava chorando no final, o que é constrangedor, mas eu realmente não estava pronto para terminar. Mas eles estavam na época”, contou. Também revelou que o grupo vinha tendo muitos problemas com o ex-baterista, sem detalhar o que rolou.

Provavelmente a pandemia fez com que o Balance And Composure voltasse. Uma turnê de despedida foi agendada para 2019 e não parecia haver interesse do grupo num retorno. Só que um single novo emergiu em 2023, e possivelmente a outra variável que entrou na história foi a nostalgia dos fãs da mescla de emo e pós-hardcore que a banda havia espalhado por três álbuns (num papo com o Stereogun, o cantor Jon Simmons disse acreditar também que as próprias bandas, ao retornarem, estão percebendo o que elas haviam deixado no meio do caminho).

Por acaso, o BAC tem dois discos que indicam o retorno ao passado, ou a observação de certas coisas sob uma ótica nova – The things we think we’re missing, o segundo disco (2013) e o anterior, Light we made (2016), que quase foi o último do grupo. O grupo ficou afastado do mercado num período maluco em que surgiram artistas lançando discos mínimos, em que EPs se tornaram um dos padrões do mundo fonográfico, em que músicas de um minuto e meio viraram a saída para muita gente, e em que a chefia do Spotify passou a sugerir que artistas lançassem singles quase como quem bebe água.

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Com With you in spirit, o disco novo, o quinteto retorna quase transformado numa máquina de singles – metade do álbum já foi publicada em compactos desde maio. Soa também como uma banda verdadeiramente pós-grunge. Músicas como Any means, Believe the hype, Sorrow machine e a faixa-título vão além do rock dos anos 1990 e incluem elementos de pós-punk, batidas quebradas e tempos pouco usuais como no pós-hardcore, e em alguns casos, clima de valsa punk com paredão de guitarras (como em Closer to god).

No mais, Cross to bear é o baladão emocore do disco. Ain’t it sweet adequa as batidas do punk aos blips eletrônicos da abertura. E o Balance And Composure retorna de olho nas emoções em frangalhos, na angústia existencial e no pessimismo dos novos tempos, em faixas como Any means (“perdoei deus por todas as suas pequenas catástrofes/devo estar me sentindo horrível”), With you in spirit (“estou mortificado/acordado a noite toda/sufocando quando começa a ficar pesado, não consigo suportar todo o peso disso”) e outras.

Nota: 7,5
Gravadora: Memory Music

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