Destaque
Olha a pisada!: musical conta no YouTube a história dos pedais de guitarra

Keith Richards ou Jimi Hendrix… será que teriam se tornado heróis da guitarra sem a ajuda nada pequena daquelas fabulosas caixinhas “mágicas” usadas pelos guitarristas para incrementar o som de seus instrumentos, os pedais?
“Não sei, mas certamente os pedais não teriam sido os mesmos sem esses guitarristas”, decreta Alice Scott, diretora e co-roteirista de Pedals: The Musical, em conversa com o POP FANTASMA. “A mensagem que queremos transmitir é que por trás de cada pedal há uma pessoa, que usou esse pedal para mudar vidas, para mudar a cultura, para fazer declarações e para iniciar revoluções”.
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Verdade que vários guitarristas clássicos se apropriaram tão bem de alguns pedais que os tornaram praticamente sua própria assinatura musical, como o guitarrista David Gilmour, do Pink Floyd, e o pedal de delay (atraso); Jimi Hendrix e o oitavador; Eddie Van Halen e o phaser (alterador de fase); ou o distorcedor tone bender de Jimmy Page, do Led Zeppelin. Isso sem falar em uma das maiores estrelas entre todos os pedais, o wah-wah, que tem seu nome oriundo do próprio efeito que provoca, fazendo a guitarra soar como uma onda hipnótica e psicodélica, um queridinho de praticamente todos os grandes nomes do instrumento – especialmente quando o papo é rock.
No musical americano Pedals, um a um, cada “pedal” (um ator “vestido” como um pedal, o que dá um efeito engraçado) entra em cena acompanhado de uma banda para contar, cantando, a sua história, importância e influências na música, com direito à coreografia. O musical foi criado durante a pandemia, apresentado sem plateia, claro, filmado por uma equipe reduzida e está disponível apenas na internet.
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As músicas são muito legais, independentemente do musical, mas para ter a experiência completa é bom saber um pouco de inglês, porque não tem legendas em português (acionar as legendas disponíveis em inglês pode ajudar).
Dos três roteiristas (Alice, seu marido Josh Scott e Kelsey White), apenas Josh realmente toca guitarra – ele é, inclusive, o criador da fabricante de pedais JHS. Kelsey tem alguma formação musical, mas não é guitarrista. E Alice não toca nenhum instrumento.
“Esse é o ponto. Você não precisa ser um guitarrista para apreciar o roteiro. Na verdade, escrevemos Pedals: The Musical também para educar os não-guitarristas sobre a história dos efeitos”, explica Alice Scott. “Encontramos uma forma cômica de apresentar a história dos pedais de forma que as pessoas não se sentem inadequadas ou burras se não souberem exatamente do que está sendo contado. Além de ter muita informação sobre cultura pop, para que qualquer um possa perceber o evento histórico ou o significado do que cada pedal fez pela cultura da época”.
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A época, no caso, são os anos 1960, quando uma geração de jovens começou a imaginar que talvez existisse uma outra maneira de se fazer as coisas.
“Havia coisas que você podia fazer no estúdio e coisas que você não podia fazer”, rememora Jimmy Page em seu recente livro Jimmy Page: The Anthology (Genesis, 2020), sobre suas inúmeras sessões de gravação. “E a única coisa que você realmente não podia fazer era aumentar o volume do seu amplificador porque ele iria vazar nos microfones do outro músico. Então, eu queria ter algo que superasse isso, que quando você tocasse uma nota ela tivesse uma sustentação infinita. Quando cheguei com meu pedal fuzz pela primeira vez nos estúdios, os outros guitarristas ficaram horrorizados. Mudou tudo, e aos poucos todos os guitarristas passaram a querer seus pedais”.
E quem poderia pensar que esses despercebidos e desconhecidos equipamentos pudessem até se tornar protagonistas de um musical?
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“O teatro musical permite uma dissociação da lógica cotidiana, amplificando as possibilidades do imaginável, como animais que falam, personagens de quadrinhos saírem dos gibis e até objetos do dia a dia ganharem vida”, explica a atriz e cantora Sabrina Korgut, que é referência brasileira em musicais. “Este é o caso desse Pedals, onde esses objetos de conhecimento de um público muito específico acabam atraindo um público maior, que uma vez embarcado no contexto até se esquece que se tratam de pedais”.
A diretora Alice Scott conta que criar Pedals: The Musical não foi difícil. “Não precisamos inventar histórias. As histórias dos pedais já foram escritas, e as pessoas adoram histórias, adoram ouvir sobre como algo surgiu ou foi criado. A criação desperta o interesse e todos podem se envolver em uma história. Acabamos fazendo os personagens dos pedais porque queríamos contar suas histórias de origem. Então, realmente não foi um desafio escrever o musical, ou transmitir o que esses pedais fizeram pela cultura e pela música, porque era tudo verdade”.
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Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã
Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
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