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Cultura Pop

O Salvador Da Pátria era uma novela do c… (e vai voltar)

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O Salvador Da Pátria era uma novela do c... (e vai voltar)

Se o Canal Viva não mudar de ideia (vai que…), dia 12 de abril nada menos que O salvador da pátria, de Lauro Cesar Muniz, volta à telinha. A trama, que foi ao ar originalmente entre 9 de janeiro e 12 de agosto de 1989, volta em dois horários (0h45 com reprise às 14h15). Com Lima Duarte no papel principal, a trama contava a tortuosa ascensão do simplório boia fria Sassá Mutema (o próprio Lima) ao poder.

Aliás, a história de Sassá é mais que apenas “tortuosa”. O personagem, mais perdido que cego em tiroteio, transforma-se em boneco nas mãos do deputado Severo Blanco (Francisco Cuoco) e do radialista populista Juca Pirama (Luiz Gustavo). Numa situação bizarra, Severo escolhe Sassá para se casar com sua amante, com a finalidade de encobrir (de maneira completamente sem sentido) o adultério. Logo depois Juca Pirama é assassinado, o que torna tudo mais confuso ainda.

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Se quiser ter uma ideia de tudo o que acontece na trama, tem um resumo – com relação de elenco, trilha sonora, etc – no essencial site Teledramaturgia. Nosso assunto aqui é mostrar pra você que a trama, que teve também colaborações de Alcides Nogueira e Ana Maria Moretzsohn, é a novela que você deve acompanhar caso você só tenha tempo de ver uma. Então seguem aí nove motivos.

CONFUSÃO POLÍTICA. O Salvador da Pátria (cujo nome faz referência ao verdadeiro nome de Sassá, Salvador Silva) foi lançada originalmente no ano da disputa entre Lula e Fernando Collor de Mello pela Presidência da República. Lauro César chegou a declarar que, por causa disso, houve “uma interferência direta de Brasília na cúpula da Globo”, com gente pensando que Sassá era uma propaganda de Lula, todas as noites, na novela das 20 da maior emissora do Brasil.

MAIS CONFUSÃO. Por outro lado, o PT achava que Sassá era uma gozação com Lula. O autor afirma que a ideia era mostrar a “ascensão do povo ao poder”. Mas Lauro diz que o lado mais político da história acabou tendo que ser esquecido com o tempo. Além disso, o autor garante que ouviu nos bastidores da Globo a frase “o autor dessa novela vai eleger o próximo presidente”.

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INSPIRAÇÃO. A cidade em que Sassá morava, Tangará, era uma velha conhecida da nação noveleira. Era a mesma cidade da novela O Casarão, também de autoria de Lauro Cesar Muniz, exibida pela Globo em 1976 e bastante popular pelo embaralhamento do tempo, com núcleos de 1900, 1926 e 1976. De maneira idêntica, O Casarão falava de fatos históricos (a crise mundial de 1929). E deu uma incomodada básica na censura (no caso a censura federal, da ditadura, muito mais perigosa e impregnante).

RÁDIO. Um ano antes de O Salvador da Pátria, em 1988, o governo José Sarney, presidente do Brasil na época, distribuiu 539 concessões de TV, além de 632 rádios FM e 314 AM. Aliás, entre 1985 e 1988, foram nada menos que 1.028 concessões. Era o período conhecido como o do “é dando que se recebe”. Em virtude dessas benesses, políticos ganhavam rádios e as utilizavam como plataforma. O cenário da rádios novas favorecia o passe radiofônico de mais e mais comunicadores policialescos e conservadores (caso de Juca Pirama)…

RÁDIO 2. … e de artistas populares, que por sinal dominaram o dial no fim da década. Aliás, no período, o rock nacional se retraiu. E a MPB mais clássica só apresentava grandes hits após banho de loja radiofônico (mas o bloqueio se quebrou justamente com uma música da trilha de O Salvador da Pátria, Bem que se quis, na voz de Marisa Monte). Na novela, uma das cenas mostrava Severo Blanco feliz da vida por ouvir uma canção de Wando, Deus te proteja de mim (também da trilha), justamente no horário de seu inimigo Juca Pirama, recém-assassinado.

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ALIÁS E A PROPÓSITO, o radialista paulistano Afanásio Jazadji se sentiu bastante ofendido com a figura de Juca Pirama. Segundo Lauro, Afanásio chegou a processar a Globo por causa da novela. “Foi feita uma perícia e, é claro, o juiz nos deu ganho de causa. Era algo completamente absurdo. O cara queria faturar em cima da popularidade da Rede Globo e do fato de Juca Pirama ser um personagem com grande empatia popular’.

O ELENCO, CLARO. Qualquer novela com um elenco que inclui Lima Duarte como astro principal já é excelente de cara. Só que ainda por cima o relacionamento de Sassá com a professora Clotilde (Maitê Proença) é lindíssimo, e a escalada dele dos campos até a política é cheia de situações muito bem contextualizadas. Luiz Gustavo, como Juca Pirama, faz um dos raros personagens nada cômicos de sua carreira televisiva. Francisco Cuoco, como Severo Blanco, dá raiva – mas com a desidratação do lado “político” da novela, virou galã. Susana Vieira (Gilda, a esposa traída de Severo) e Betty Faria (Marina Sintra, a poderosa opositora de Severo) são grandes destaques. Mas José Wilker, como o irmão injustiçado de Juca (o piloto João Matos), roubou tanto a cena que brilhou na capa do LP nacional da trilha sonora.

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ARADO NA TRILHA. A trilha nacional de O Salvador da Pátria trazia na abertura Amarra o teu arado a uma estrela, música que Gilberto Gil já vinha cantando em seus shows desde 1988. Muita gente interpretou a letra como mais uma homenagem a Lula (por causa da estrela do PT). O LP nacional trazia best sellers da época (Wando, Rosana, Simone, João Bosco), uma novidade (Marisa Monte) e nomes que vinham de sucessos no começo da década (Wander Taffo, A Cor do Som, Claudio Nucci). Mas o grande feito foi reabilitar a carreira de Oswaldo Montenegro, com a onipresente Lua e flor, tema do amor de Clotilde e Sassá.

SALVADOR DO POP. Novelas com uma cara mais “brasileira”, costumeiramente, não tinham trilha sonora internacional. Tinham no máximo um LP nacional “número 2”. Mas O Salvador da Pátria foi exceção, e sua trilha internacional é um excelente retrato do pop da época. Tem Milli Vanilli (Girl you know it’s true), Pet Shop Boys (Domino dancing), Rick Astley (Hold me in your arms), Bon Jovi (I’ll be there for you). O ex-Ultravox Midge Ure, redescoberto após trabalhar no projeto Band Aid com Bob Geldof, comparece com um tema de amor do “núcleo jovem”, Dear God. Mas a maior curiosidade é I believe in you, da banda white metal Stryper, como tema internacional de Sassá e Clotilde.

 

4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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