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Cultura Pop

O mistério de Catherine Ribeiro

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O mistério de Catherine Ribeiro

A primeira comparação que qualquer pessoa faz quando ouve o som de Catherine Ribeiro, cantora de família portuguesa, nascida na França em 1941, é com (adivinhe só) Nico. Tem mais pontos em comum aí, além da voz e da musicalidade de Catherine e do clima de mistério de sua gravações: assim como a chanteuse do Velvet Underground, ela também começou fazendo trabalhos como atriz (em Tempo de guerra, filme de 1964 de Jean Luc Godard). Nas filmagens, conheceu um dos atores, o compositor e cantor parisiense Patrick Moullet, com quem passou a escrever música.

Tem quem compare a relação dos dois com a de Nico e Lou Reed, muito embora Catherine e Patrick tenham tido um casamento que durou até o começo dos anos 1970 e uma parceria musical sólida que continuou mesmo com o fim da união marital. Os dois tiveram uma filha, Ioana, a quem Catherine dedicou várias músicas. Mas a artista também teve momentos de barra pesada parecidos com o da cantora de All tomorrow’s parties: uma tentativa de suicídio em 1968, uma estupro poucos anos antes, momentos de fracasso e sumiço dos palcos após vários anos de carreira.

YEYÉ

Entre 1964 e 1966, quando os Beatles faziam sucesso no mundo todo, a França tinha sua reprodução do que acontecia no rock anglo-saxão a partir de um movimento apelidado de yeyé. Era, você pode imaginar, algo meio parecido com o “iê iê iê” aqui do Brasil. O nome foi dado pelo sociólogo Edgar Morin, veio (claro) de She loves you, dos Beatles e podia servir tanto para designar um movimento musical quanto para sacanear a galera que cantava rock na França – igualzinho como acontecia por aqui, por sinal.

Uma turma enorme costuma ser associada a esse tipo de música: Johnny Halliday, Françoise Hardy, Hervé Vilard e vários outros nomes. Em 1966, o fotógrafo Jean-Marie Périer junta vários desses artistas e produz “a foto do século” para a revista pop Salut Les Copains. Catherine é uma das que aparecem na imagem, que vira padrão para várias fotos de movimentos musicais tiradas pelo mundo afora, inclusive no Brasil: uma turma enorme vesida no rigor da moda jovem, uma ambiente descontraido (tinha até uma escada!) e todo mundo parecendo que estava ali por acaso. Catherie está entre as letras C e O de “copains” (veja aqui).

ALPES

Nos anos 1960, Catherine gravou vários discos com releituras de sucessos (incluindo músicas de Bob Dylan em versão francesa). Aparecia na TV, tocava no rádio e estava nas capas das revistas. Bem diferente do papel autoral que passou a desempenhar no fim da década, como cantora do grupo 2bis – que depois passou a se chamar Alpes.

Afirmando coisas como “a voz tem que ser mais um instrumento”, ela passou a se dedicar à música experimental, a fazer concertos em lugares improváveis como a catedral de Sainte Gudule, em Bruxelas, e a ser chamada de “a passionária vermelha”, pelo apoio dado a imigrantes e fugitivos de ditaduras. O som dela passa a ser definido como “rock progressivo”, apesar de dar vários passos além disso.

A música de discos como Catherine Ribeiro + 2bis (1969) e Nº2 (já creditado a ela e Alpes, 1970) pode impressionar bastante os fãs do Velvet Underground, dos discos solo de Nico e John Cale, e de bandas de krautrock. Por acaso, Catherine migrou para a Alemanha em 2010 quando se casou pela terceira vez, e está lá até hoje.

Em 1972, saiu Paix, com uma música de 25 minutos no lado B, Un jour… la mort. O som do grupo era marcado por instrumentos inventados por Patrick Moullet, como o cosmophone e o percuphone.

PIAF E IOANA

Apesar da eterna comparação com Nico, Catherine Ribeiro gostava mesmo era de Edith Piaf – tanto que gravou um disco com repertório dela em 1977, Le blues de Piaf. Em 1986, após vários anos na Philips francesa, montou o selo Ioana Melodies (uma homenagem à filha). Apesar de nunca ter sido um sucesso massivo – e de ter lutado com a depressão por vários anos – ela continuou gravando até o início dos anos 2000, inclusive discos ao vivo.

Nos anos 1990, já casada novamente com Claude Demoulin, que havia sido prefeito da comuna francesa de Sedan, passou por um problema familiar: sua filha Ioana estava passando maus bocados por causa do abuso de drogas. A cantora afastou-se dos palcos por alguns anos para ajudar a filha, que morreu em 2013, de complicações causadas pela aids.

Depois disso, Catherine Ribeiro sumiu de vez, completando um processo de desaparecimento e notícias entrecruzadas que já acontecia há anos. Na década passada, houve anúncio de planos como o de reformar o Alpes ou de lançar uma autobiografia, que não aconteceram. Recentemente, surgiu a notícia de que Catherine teve um derrame na Alemanha, e está hospitalizada.

O France Dimanche explica um pouco da história e diz que surgiram notícias bem sensacionalistas sobre ela nas redes sociais e em outros sites. Que Catherine fique bem e que obra dela – por sinal bastante incompleta nas plataformas digitais – seja logo redescoberta. Recentemente o selo Mexican Summer lançou uma caixa de LPs dela e do Alpes, por sinal.

VEJA TAMBÉM NO POP FANTASMA:

– O mistério de Judee Sill
– Peraí, quem é Celso Zambel?
– Mas quem são Tony Lopes & Os Sobreviventes?

Tem conteúdo extra desta e de outras matérias do POP FANTASMA em nosso Instagram.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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