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Crítica

Ouvimos: Moptop – “Long day”

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Ouvimos: Moptop - "Long day"

RESENHA: Após 15 anos, o Moptop volta com Long day, disco maduro, emocional e cheio de referências que vão do indie ao country e ao art rock dos anos 1980.

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O Moptop, a banda mais bem sucedida da onda indie-rocker brasileira dos anos 2000, espalha-se hoje em três continentes: América do Norte (o vocalista e compositor Gabriel Marques), Oceania (o guitarrista Rodrigo Curi) e América do Sul (o batera Mario Mamede e o baixista Daniel Campos). Long day, terceiro álbum, lançado após um chá de sumiço de 15 anos, foi gravado remotamente e chega às plataformas a bordo de um curioso cavalo-de-pau geracional: os Strokes, alta referência dos dois álbuns do Moptop gravados nos anos 2000, já viraram uma entidade referencial tão forte quanto o The Police era nos anos 1980.

Como assim? Explico: várias bandas indies (e até alguns artistas de indie pop) dos dias de hoje incluem batidas dançantes e guitarras em vibe Motown em suas músicas. Para quem tinha entre 20 e 30 anos em 2001, isso é basicamente “olha que legal, esses caras andaram ouvindo Strokes” – mesmo que os truques da banda norte-americana tenham sido chupadíssimos de grupos como The Clash, The Jam, Ramones e The Cure. Por outro lado, o Moptop que surge da audição de Long day é uma banda com uma biblioteca de referências bem mais rica do que há vinte anos.

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O Moptop volta decidido a contar histórias e dividir vivências nas letras – como nos álbuns anteriores, mas com mais foco e direcionamento. Long day é um disco sobre as consequências do cenário onde a própria banda surgiu (o mundo digital) e seus estresses, relacionamentos cagados, vagas arrombadas e traumas do dia a dia. Musicalmente, o som invade áreas como a do rock britânico oitentista (Last time) e acrescenta elementos como a união entre anos 1980 e 1960 (Ghosts), power pop (Glow, Running) e algo entre Pretenders e Eurythimcs (Fear, com graça extra dada pelos metais). E, inesperadamente, um clima herdado do country surge em faixas como Falling e Long day, adornadas com slide guitars – a segunda chega a lembrar o Lulu Santos de 1982 no começo.

No single Tightrope, a união de referências chega a um ponto máximo: é um rock com design de tecnopop, baixo à frente executado como num loop, e uma guitarra com um inesperado aspecto blues. No final, One in a million é talvez a canção mais emocional do dsco, com estileira de pop adulto oitentista, efeitos de guitarra e metais. O Moptop ressurge mais voltado para o art rock, cantando em inglês e conectado com os truques de produção e e design sonoro de 2025.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Yeah Rock Records
Lançamento: 6 de junho de 2025.

Crítica

Radar: Renegado, Rico Dalasam, Lan, Macacko, Gabriel Falcão, Lupe de Lupe, El Escama

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Radar: Renegado, Rico Dalasam, Lan, Macacko, Gabriel Falcão, Lupe de Lupe, El Escama

Estamos no meio do ano, e daqui pra frente tem muita gente que já vai planejar lançamentos para 2026 (!). Mas calma que ainda tem seis meses, tem muita gente disposta a escutar coisa nova – nós aqui no Pop Fantasma, por exemplo. Renegado e Lupe de Lupe, dois nomes que surgem no Radar nacional de hoje, estão com álbuns que vão chegar nas plataformas a qualquer momento. Macacko e El Escama acabaram de lançar os seus. Ouça!

Texto: Ricardo Schott – Foto Renegado: Marcus Knoedt/Divulgação

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RENEGADO, “NADA NOVO SOB O SOL”. “Esta é uma música que coloca todo mundo numa mesma página, para assim conseguirmos entender e refletir juntos, sobre a necessidade de uma retratação urgente com os povos pretos e originários desse país. Esse trabalho nasce com o objetivo de dar luz a uma série de questionamentos necessários para os dias atuais. Um novo mundo já está sendo construído e somos peças fundamentais para esta mudança”, diz o rapper mineiro Renegado.

São falas da maior importância, que fizemos questão de manter na íntegra, para anunciar que está vindo por aí o sétimo álbum do rapper, Marge now, programado para 18 de julho. Em Nada novo sob o sol, single-clipe que anuncia o disco, Renegado fala sobre como o povo preto continua sendo violentado e morto – incluindo as nações indígenas como vítimas do massacre diário. “Ser preto no Brasil é crime / e bandido branco no Brasil faz arte (…) / no Brasil todo mundo tem sangue de preto / sangue nas veias, ou sangue nas mãos”.

(e de lá para cá já saiu o single Tobogã.)

RICO DALASAM, “IMÔ. Rico Dalasam lança o clipe de uma das faixas mais fortes de seu disco de 2023, Escuro brilhante, último dia no Orfanato Tia Guga. O vídeo une luto e festa num contraste marcante: dirigido por Ricardo Souza, o vídeo alterna cenas de velório com imagens do carnaval de rua paulistano.

“Esse luto que aparece no clipe é aquela fantasia romântica quando acontece no carnaval e desmorona assim que ele acaba”, comenta o artista. Filmado nos blocos Te Pego no Cantinho e União Fraterna, o clipe transforma dor em poesia visual e confirma o poder afetivo da música – uma das mais queridas do disco, conforme demonstrado pelos fãs nos shows.

LAN, feat. RUAS MC, “ACELERANDO, BBY”. “Ouvi por aí que o house estaria ‘morto’, por ter se fundido com outros gêneros, mas é justamente isso que me interessa: ultrapassar fronteiras, criar sem amarras”, conta MC Lan, da dupla Badzilla, que escolheu climas dançantes e vaporosos associados a nomes como Solange, Little Simz e The Internet para seu primeiro single solo, Acelerando, bby. Ele parte da eletrônica pra criar encontros: entre passado e futuro, entre Brasil e mundo. É som que acelera, mas sabe de onde vem. Ruas MC participa da faixa fazendo vocais entre o rap e o trap, e trazendo Bad Bunny para conversar com os personagens da letra.

MACACKO, “FORRÓ ESPACIAL”. Gustavo Macacko retorna relendo suas músicas em formato acústico – por acaso inspirado na nostalgia dos acústicos MTV. Memórias do futuro, o novo álbum do cantor e compositor, é puxado por Forró espacial, uma canção nordestina e sonhadora, que mais do que levar o forró para outro planeta, propõe uma viagem, que na real, é mais existencial do que física – como se o trajeto fosse para dentro de nós mesmos, e não exatamente para o espaço. Uma jornada interior, como “pegar nossa bicicleta e viajar pelo nosso próprio espaço sideral”. Bora?

GABRIEL FALCÃO feat MONIQUE LIMA, “QUE HORAS SÃO?”. O EP de Gabriel, intitulado justamente Que horas são?, é curto, mas bastante conceitual – um repertório que veio para mudar o destino dos ponteiros, aprender com o passado e iniciar uma relação com o mundo, e com o tempo, que passa pela calma, pela contemplação e pela poesia. Gabriel canta e toca violão, e compõe as melodias, e Monique, “sonhadora, escritora, letrista, pesquisadora, artista de rua e de rádio”, é a autora dos versos. Na lírica faixa-título, a dupla canta “à alvorada”. E o repertório dos dois, encabeçado por uma epígrafe do cantautor revolucionário Victor Jara, é pura resistência.

LUPE DE LUPE, “REDENÇÃO (TRÊS GATOS E UM CACHORRO)”. Em seu novo single, Redenção (Três gatos e um cachorro), a Lupe de Lupe transforma o luto de um casamento desfeito em um épico doloroso de quase dez minutos. Pós-punk, pop, ruído e sofrência sertaneja se misturam numa faixa densa e melancólica, que antecipa o disco Amor, com lançamento marcado para 1º de julho.

A banda mineira brinca com o próprio mito no release da faixa (“a infame Lupe de Lupe é uma razoável banda de rock barulhento de Belo Horizonte, Minas Gerais, formada por 4 garotos que vieram do interior e se julgam bons compositores, no que se iludem”, afirmam). Mas entrega uma música que bate forte – sem branding, só coração despedaçado.

EL ESCAMA, “VALE DA ESTRANHEZA”. El Escama – ou Victor Machado, seu nome verdadeiro – acaba de lançar seu segundo álbum solo, Esse é meu último disco. Se ele resolver cumprir a promessa do título, vai se despedir tendo lançado um disco bem forte, cheio de ironia e critica social – destacando Vale da estranheza, uma balada-blues que fala sobre um dia a dia em que não sabemos bem o que é ficção e realidade, muito menos diferenciar uma da outra.

E a faixa acaba de ganhar um clipe de terror vintage, dirigido por Eduardo Pavloski. “Escrevemos uma narrativa que acena pro Frankenstein expressionista dos anos 1930 na era digital, onde a nossa criatura ganha vida com inteligência artificial”, conta El Escama.

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Ouvimos: Turnstile – “Never enough”

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Ouvimos: Turnstile - "Never enough"

RESENHA: Em Never enough, o Turnstile mistura hardcore, emocore e pop futurista num disco emocional, ousado e cheio de surpresas que fogem do óbvio.

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Provavelmente Never enough vai estar em boa parte das listas de melhores álbuns de 2025, coroando um trabalho muito bem feito do Turnstile – o quinteto do Baltimore vem fazendo o possível e o impossível para tirar o hardcore do gueto, e hoje há fãs de música pop, e de hip hop que são fãs do grupo. Por “tirar do gueto”, entenda-se que quando estilos como hardcore e hardcore melódico começam a ficar mais famosos, acontecem algumas anomalias – bandas como Blink-182, por exemplo, acabam chamando mais a atenção de caras de 30, 40 anos que não quiseram crescer.

O Turnstile, surfando uma onda que vai para os lados do hardcore, do emocore e da experimentação, decidiu apostar na conexão com um público que quer ter uma experiência emocional com a música. Tanto que as músicas de Never enough têm mais a ver com a mistura de estilos e épocas do hyperpop (e por consequência, com Charli XCX) do que com a dureza e a crueza de um dos desdobres mais radicais do universo punk. E vale citar que além de tudo, ele é um álbum visual dirigido pelo vocalista Brendan Yates e do guitarrista Pat McCrory, que reúne as 14 faixas do álbum em uma imersão audiovisual contínua.

A política de Never enough, vale dizer, é a dos sentimentos, do respeito ao processo, da vontade de cortar laços com o mundo. Isso aproxima o Turnstile de grupos como The Cure, Smashing Pumpkins, até de Legião Urbana – e musicalmente, toques ligados ao indie pop surgem aqui e ali no novo disco. Climas espaciais e ondas art rock transformam Never enough, a faixa-título, numa espécie de emo ambient em que a banda fala sobre carências e vulnerabilidades (“nunca baixe a guarda / onde quer que você vá”, “amor nunca é o suficiente”). Sole, aberta em clima próximo do metal, e prosseguido com uma das maiores tradições do hardcore, os vocais “de torcida”, prega: “firme enquanto você flutua / você está melhor sozinho”. E fala sobre as lições do “deixar ir”.

É nessa mescla de união de elementos musicais e de manual de sobrevivência jovem na selva que Never enough se sustenta, partindo para uma união de emo e Smiths (com tontons de bateria dos anos 80!) em I care. E depois para uma curiosa união entre hardcore e afropop latino (quem no Brasil faria um som desses?) em Dreaming. Por outro lado, há momentos em Never enough que as coisas parecem bem estranhas – ou talvez mal coladas. Sunshower é um hardcore melódico com final falso e parte 2, com synths e flautas tomando à frente. Look out for me, emo-ambient de seis minutos que surgiu como single, dá a impressão de algo que precisava MUITO de edição, com uma “parte eletrônica” que surge lá pelas tantas.

Mais: vibes herdadas do lo fi e do krautrock tomam conta de Dull e Light design. Sons que lembram The Police e o começo de Sting solo batem ponto em Seein stars – música que herdou muito também do balanço de David Bowie e Michael Jackson nos ano 1980. De qualquer jeito, para fazer um suposto agradinho aos fãs antigos, o lado “hardcore feroz” do grupo surge em Birds e Slowdive, enquanto Time is happening é puro punk pop melódico.

A face inusitada do Turnstile volta a bater ponto em Ceiling, faixa de 1:13 que parece uma vinheta do Daft Punk ou do Massive Attack com participação do Turnstile. Magic man, que encerra o disco, é tudo que os fãs do grupo talvez não esperassem. E também é uma mostra de que talvez os pais ou avós dos fãs do Turnstile também tornem-se fãs da banda: é uma faixa de teclados e voz que soa como um ABBA progressivo, ou como o Alphaville de Forever young. Tudo isso faz de Never enough um disco sobre risco, doação, ganhos e perdas – e transforma o Turnstile numa banda bem diferente de quase todas as outras.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Roadrunner
Lançamento: 6 de junho de 2025

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Ouvimos: Lifeguard – “Ripped and torn”

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Ouvimos: Lifeguard - "Ripped and torn"

RESENHA: Lifeguard estreia com Ripped and torn, disco de 2025 que parece perdido em 1978: pós-punk ruidoso, no wave, caos melódico e energia crua do começo ao fim.

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Kai Slater (guitarra, voz), Asher Case (baixo, guitarra barítono, voz) e Isaac Lowenstein (bateria, synth), os três do Lifeguard, poderiam ser três caras de 60-65 anos hoje em dia. E Ripped and torn, primeiro álbum do trio, poderia ser uma obra perdida do indie rock norte-americano gravada em 1978 e esquecida num estúdio – ou guardada como uma mensagem na garrafa.

Mas nada disso. O Lifeguard é uma banda de 2025, nascida em Chicago, e que faz pós-punk, no wave e rock ruidoso em geral, com emanações do esporro: Wire, Gang Of Four, Public Image Ltd e Slits são devidamente lembrados nas doze faixas de seu debute, Ripped and torn.

A tightwire, na abertura, é pós-hardcore (modernidade, enfim) feito com mente de fã de Ramones e de Black Flag. It will get worse e Me and my flashes são puro ruído guitarrístico – a segunda apita como uma sirene. Faixas como Charlie’s vox e Ripped + torn são quase sludge metal dosado, lembrando algo que fica entre Melvins, Flipper e Swans.

  • Ouvimos: Gang Of Four – Shrinkwrapped (relançamento)
  • Aquela vez em que Andy Gill (Gang Of Four) gravou solo
  • Relembrando: Wire – Pink flag (1977)

A anarquia sonora de faixas como (I wanna) Break out e Like you’ll lose tem algo da maneira como a no wave e o começo do math rock foram relidos no Brasil – Voluntários da Pátria, Patife Band. Já How to say deisar é a prova de que, em meio aos decibéis, o Lifeguard sabe construir boas melodias – aliás em meio à experimentação também, porque aqui surge algo que lembra Captain Beefheart e disco music punk, com ecos também de Gang Of Four e Wire. France and põe quilos de peso em algo que lembra The Damned e Buzzcocks.

A variedade do Lifeguard aponta ainda para uma união de no wave, psicodelia e clima mod na onda do Who e dos Kinks (Under your reach) e para o som maníaco, percussivo e experimental (a vinheta instrumental Music for 3 drums, quase um ET jazzístico, experimental e dadaísta num disco de punk rock). Se não ouvir no volume máximo nem tem graça.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Matador Records
Lançamento: 6 de junho de 2025.

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