Cultura Pop
Mark Arm, do Mudhoney, gravando (e parodiando) Bob Dylan

O lançamento do primeiro single solo de Mark Arm, do Mudhoney, surgiu na mídia numa edição de revista que acabou dando muita dor de cabeça para um colega de banda do cantor. Dan Peters, baterista do Mudhoney, posou para as fotos da capa da Sounds publicada em 27 de outubro de 1990 como… novo batera do Nirvana. O músico foi convidado para entrar na banda, fez alguns ensaios no Reciprocal, estúdio de Jack Endino e fez sua estreia como “baterista” (muito entre aspas) do grupo no Motorsports International Garage de Seattle, no dia 22 de Setembro de 1990, um dia antes das tais fotos serem tiradas.
O “muito entre aspas” acontece pelo fato de que Dave Grohl, que efetivamente assumiria a bateria do grupo depois disso, já estava até assistindo à banda na plateia daquele show. Aliás, Grohl ainda ajudou Peter a colocar as peças de bateria na van e estaria no dia seguinte com a banda na casa do baixista Krist Novoselic, local em que as fotos do Nirvana para a Sounds foram tiradas. E Peters foi o último a saber que não estava nem um pouco dentro do Nirvana.
Quem contou a história foi o próprio autor da matéria da Sounds, Keith Cameron, no livro Mudhoney: The sound and the fury from Seattle, com direito a Peters dizendo que estranhou muita coisa que viu no Nirvana. “Os ensaios eram só uma hora de mau humor, eles nunca se divertiam, não era como sair e festejar. Foi realmente a primeira vez em que toquei com uma banda em que os integrantes eram só conhecidos, não eram amigos de verdade”, contou, deixando claro que se sentiu feito de otário. De qualquer jeito, anos depois, Dan lembrou que no dia do primeiro ensaio, informou a Kurt que odiava heroína e as pessoas que a usassem. “E eu nem sabia que Kurt era um junkie. Ele era um zé-ninguém no que dizia respeito às turmas de Seattle”, contou, imaginando que isso pode ter sido levado em conta.
Bom, na mesma edição da Sounds, havia a informação de que o Mudhoney estava gravando um novo disco (que, segundo a revista, seria um álbum duplo) e que Mark Arm estava gravando uma versão de Masters of war, de Bob Dylan, para um single solo. Estava mesmo: no dia 1º de novembro de 1990 saía The freewheelin’ Mark Arm, primeiro compactinho solo do guitarrista e vocalista do Mudhoney, com capa e título zoando o segundo disco de Bob Dylan, The freewheelin’ Mark Arm (1963).
O disquinho tinha a versão raivosa de Mark para Masters of war no lado A e My life with rickets, uma “parceria” de Arm com o veterano roqueiro Bo Diddley – Arm na verdade limitou-se a copiar o estilo do autor de I’m a man. Zoando a campanha dos EUA contra Iraque em 1991, Mark e uma amiga imitavam a pose de Bob Dylan e sua então namorada Susan Rotolo pelas ruas de Nova York, que aparecia na capa do Freewheelin‘ do cantor – só que apareciam usando máscara contra gases. Na contracapa do single, um texto vendia Mark como se fosse um gênio da música dos anos 1960.
O single acabou sendo o único lançamento solo de Mark e saiu pelo singles club da Sub Pop. Já o tal disco duplo do Mudhoney foi deixado de lado e a banda soltou em 1991 o (excelente) álbum simples Every good boy deserves fudge, produzido por um jovem produtor chamado Conrad Uno, que nem conhecia a banda.
Cultura Pop
O 1967 dos Beatles no podcast do Pop Fantasma

Da mesma forma que uma década muitas vezes não começa no ano em que ela se inicia (já havia um “anos 1990” encartado no fim da década anterior), as mudanças vividas pelos Beatles em 1967, ano do disco Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, começaram pelo menos uns dois anos antes.
Mas para todos os efeitos, foi há 55 anos que John, Paul, George e Ringo lançaram um dos discos mais desafiadores da história da cultura pop, tramaram sua volta ao cinema, fizeram duas aparições significativas na televisão (numa delas, lançaram um telefilme que deixou sensação de entalo nas gargantas de muitos fãs), realizaram montes de experiências de estúdio, perderam tragicamente seu empresário e começaram a dar passos rumo à independência. E, ah, graças a um certo composto químico de três letras, sintonizaram dimensões bem diferentes das que os pobres mortais estavam acostumados naquela época.
O último episódio da segunda temporada do Pop Fantasma Documento levanta os causos de uma das épocas mais movimentadas do dia a dia dos quatro de Liverpool. Aumente o volume, ligue-se e sintonize!
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Turn Me On Dead Man, Trudy and The Romance, Dario Julio & Os Franciscanos.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração: Ricardo Schott. Arte: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta!
Cultura Pop
Devo: no YouTube, tem versão “rascunho” do filme The Men Who Make The Music

Raridade por vários anos para muitos fãs do Devo, o filme The men who make the music (1981), realizado pela banda, foi lançado sob o rótulo maluco de “vídeo-LP”. A produção combina imagens de shows do Devo (focando bastante na turnê de 1978) com textos irônicos sobre a indústria da música, além de aparições do controverso personagem General Boy (interpretado por Robert Mothersbaugh Sr, pai dos irmãos Mark e Bob).
O tal conteúdo “anarquista” do vídeo fez com que ele ficasse arquivado por uns dois anos, já que The men who make the music foi terminado em 1979. O lançamento deveria ter acontecido em paralelo com o disco Duty now for the future, tanto que o LP original anuncia um endereço para os fãs comprarem um produto chamado Devo-vision, que sairia pela Time-Life (empresa responsável por arquivar o filme por dois anos, irritada com as mensagens anti-indústria da música do vídeo).
O material ainda aparece intercalado com imagens bem antigas do Devo. O grupo aparece tocando Jocko homo em 1976, em imagens do primeiro curta do Devo, The truth about de-evolution – que também incluía o clipe do grupo em 1974 tocando Secret agent man, igualmente incluído em The men. Nessa época, o Devo tinha uma formação bastante variável. Com pelo menos cinco ou seis músicos gravitando em volta (incluídos aí três irmãos Mothersbaugh), a banda virou quarteto no clipe de Secret agent man.
The men who make the music, por sinal, teve ainda uma versão demo, feita com produção amadora, em 1977. Tá no YouTube. Foi dirigida por Jerry Casale e produzido por Marina Yakubic, que era namorada de Mark na época.
O vídeo (sim, é vídeo, produzido com câmeras de TV) tem diferenças nos diálogos, nos cenários, na qualidade de som e de imagem (bastante rascunhadas) e no fato de que as músicas não aparecem em clipes. Todas são gravadas em versões extremamente cruas, ao vivo num palco.
Uma surpresa para os fãs é que, originalmente, a versão do grupo para (I can’t get no) Satisfaction, dos Rolling Stones, era quase um blues maníaco e lembrava Captain Beefheart. Muito diferente do que se imagina do Devo.
Aproveita e pega The men who make the music, a versão oficial, que também tá no YouTube.
Cultura Pop
The Lost Sheep: um single (da Virgin, de 1979) com ovelhas soltando a voz

Você provavelmente não conhece Adrian Munsey. Dono de uma carreira de sucesso como produtor de TV, o britânico trabalhou em canais como BBC Worldwide, ITV, Universal, e dirigiu dois longas, além de uns 45 documentários. Também tem uma extensa carreira como produtor musical e dono de gravadora. A vida dele tá aqui.
Agora, um detalhe que garantiu bastante popularidade a ele no fim dos anos 1970 foi ter aderido à mania sempre em alta dos novelty records – discos feitos para vender por uns tempos, com piadas ou assuntos da moda. Em 1979, ele soltou o single The lost sheep, creditado a “Adrian Munsey, ovelha, sopros e orquestra”. Essa pérola aí.
Lançado pela Virgin, o single trazia, segundo o site World’s Worst Records, ” uma fatia medíocre de monotonia sub-clássica que apresenta um cordeiro balindo enquanto uma pequena orquestra – repleta de baixista e baterista – toca a música mais sentimental que você já ouviu”.
Se você já acha pitoresco escutar isso em áudio, olha aí o próprio Munsey tocando a peça ao vivo no Russel Harty Show, na London Weekend Television. Munsey levou para o palco uma ovelha (“é uma fêmea”, esclarece) e a mãe do animal – além da orquestra, para tocar ao vivo. Só que o bichinho ficou meio amedrontado e não “cantou” nada. Sobrou para Munsey fazer o “béééé” ao vivo. A plateia ri, os músicos de orquestra não movem um músculo das faces.
Russel fica indisfarçavelmente de boca aberta ao ouvir Munsey contar como foi que surgiu a ideia de fazer música com ovelhas. Ele fez uma viagem e passou por um anfiteatro que estava cheio delas, balindo. “Acho que as pessoas às vezes se sentem como ovelhas perdidas um dia”, contou, já anunciando que sairia um single em ritmo de discoteca. Saiu sim: C’est sheep, lançado também em 1979, e produzido por Ron e Russell Mael, os dois irmãos da banda Sparks. Essa música, mais tarde, foi incluída na compilação da Virgin Methods of dance.
Ah sim, tinha o lado B de The lost sheep. Era Echoing spaces, essa maravilha pós-prog relaxante aí.
Um detalhe bem louco a respeito de C’est sheep, o tal single disco de Munsey, é que ele foi detonado por um colega de gravadora do cantor. John Lydon, já cantando à frente do Public Image Ltd, foi participar do Juke box jury da BBC, programa no qual uma turma de jurados comentava lançamentos recentes. A canção, cheia de balidos com beats dançantes, foi apresentada e provocou verdadeira aflição nos convidados, que precisaram dar suas opiniões na frente do próprio Munsey (!), mais perdido que cebola em salada de frutas. Lydon diz que a música é “a Virgin Records tentando faturar uns trocados e falhando miseravelmente”.
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