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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre New York, de Lou Reed

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Várias coisas que você já sabia sobre New York, de Lou Reed

Muita gente ouviu um disco inteiro de Lou Reed pela primeira vez quando levou uma cópia de New York, seu disco de 1989, para casa. O álbum veio numa época de mudanças na vida profissional do cantor, que chegava no auge da sua fase “respeitável” e adulta, e conseguia fazer sucesso como não fazia há muito tempo. E justamente com um de seus discos mais críticos, falando do dia a dia das ruas de Nova York e de como a cidade estava totalmente distante da magia das luzes eternamente acesas.

New York tinha um condimento especial: lançado pouco depois da morte de Andy Warhol – o descobridor da ex-banda de Lou Reed, Velvet Underground – o álbum vinha cheio de lembranças da cidade nos anos 1960. O subtexto decadente apontava para o destino nada venturoso de vários personagens da Factory, ateliê de Warhol. Por sinal, pouco antes de começar o disco, Reed e seu ex-colega de banda, John Cale haviam trocado algumas palavras (pela primeira vez em vários anos) no enterro de Andy. Surgiu um convite para os os dois homenagearem o amigo num disco e num concerto em dupla, que acabaria virando Songs for Drella.

Os fãs de New York (pelo menos os que têm uma grana sobrando) têm motivos para ficar felizes. O disco vai ganhar uma edição comemorativa que já está em pré-venda e sai dia 25 de setembro. A edição deluxe tem três CDs, dois LPs e um DVD, tudo cheio de gravações inéditas. Com a falta geral de tempo que todo mundo tem hoje, vai ser um bom exercício tentar ouvir todo esse material “de uma vez só”, como sugeria Lou Reed.

E aí vão algumas coisas que você já sabia muito bem a respeito de New York mas que a gente resolveu te lembrar.

TRETA. Pouco antes de New York, em meados de 1988, os fantasmas do Velvet Underground voltaram a assombrar Lou Reed mais uma vez. Reed tentou achar ótimo fazer o disco Songs for Drella, ao lado do velho colega John Cale, em homenagem a Andy Warhol – e no comecinho a dupla estava animada. O álbum só saíria em 1990, após muitos embates entre Reed e John Cale.

TRETA MESMO. Enfim, a animação não durou muito. Reed, que chegava no estúdio com listas de coisas pra fazer (preparadas por sua mulher), reclamava do jeito dispersivo de Cale, que lia jornais, dava telefonemas e fazia mil coisas antes de começar a escrever. No fim, reclamou que o parceiro não lhe dava atenção e que tudo teria fluído melhor sem estresse.

MORTE. No meio da preparação do disco, em 18 de julho de 1988, morreu Nico, que cantara no primeiro disco do Velvet Underground e com quem Lou tivera um affair que não foi para a frente. Após penar vários anos por causa da heroína, a cantora morrera de forma inimaginável para uma junkie de carteirinha: sofreu um acidente de bicicleta em Ibiza, caiu no chão e se foi.

SIRE. Pouco antes de iniciar New York, no segundo semestre de 1988, Lou trocou de gravadora, e foi para a Sire Records, selo que lançara bandas como Ramones e Talking Heads e faturava horrores com Madonna. O contrato com a RCA, para a qual Lou tinha voltado em 1981 (após alguns anos na Arista), tinha encerrado após o bom disco Mistrial, de 1986. Era mais um dos discos “adultos” que Reed lançava nos anos 1980, com sonoridade básica de rock e qualidade de gravação tipicamente oitentista, com aquele reverb amigo da época.

HOMEM DE FAMÍLIA. Você já leu sobre isso no POP FANTASMA: Lou Reed, após se casar com a designer Sylvia Reed, no começo dos anos 1980, embarcou numa mudança de imagem. Passou uma borracha no passado de drogas e depravação ligado ao Velvet, começou a investir numa imagem “de família”, e fez propaganda das scooters da Honda, ao som de Walk on the wild side.

DIGA NÃO ÀS DROGAS. Entre 1986, ano de Mistrial, e 1989, o de New York, Lou investiu bastante nessa imagem adulta e (vá lá, estamos falando de 1986) “hetero”. Participou de shows beneficentes, gravou com amigos, abriu um show para o U2 (em maio de 1987) e topou participar de uma campanha antidrogas da MTV. Essa campanha, por sinal, trouxe muita consciência pesada para o cantor, que chegou a gravar um spot falando “não quero te dizer o que fazer, mas falando por mim, bla bla bla”. “Lou, sem ofensa, mas isso vai ser visto por crianças de oito anos. Faça isso e elas vão dormir”, atalhou o diretor. O autor de Heroin e White light/White heat terminou sua gravação com um singelo “eu usei drogas… não use”.

LIVRO. New York, o disco, era uma espécie de coroação, de ponto máximo dessa nova imagem de Lou, que definiu o lançamento numa entrevista como “um disco sério, para adultos”. Na contracapa, um texto do cantor recomendava aos/às ouvintes que escutasse o disco (de 57 minutos) de uma vez, como se fosse um livro ou um filme, e na ordem.

TIME. New York começou a surgir de um telefonema de Lou para o amigo guitarrista Mike Rathke, que na época era cunhado de sua esposa. Reed tinha feito músicas cujas letras invariavelmente falavam sobre a cidade, ligou para convidar o músico para ir à sua casa e o conceito do disco surgiu na cara da dupla. Rob Wasserman estava no baixo e Fred Maher na bateria. E quem é vivo (ou melhor, viva) sempre aparece. Moe Tucker, ex-baterista do Velvet Underground, apareceu no estúdio para tocar seu kit com baquetas de ponta de feltro em Dime story mystery e Last great american whale. O astro ítalo-americano Dion DiMucci, do grupo Dion & The Belmonts, soltava a voz em Dirty blvd.

A CIDADE QUE NUNCA DORME. A ideia de Lou não era falar da Nova York maravilhosa da canção imortalizada por Frank Sinatra. New York está repleto de recordações de personagens da época do Velvet Underground, de gente morrendo por causa da aids, pessoas passando fome, hipocrisia religiosa, protestos contra o antissemitismo (tema de Good morning Mr. Waldheim). “É vergonhoso ter de esperar que os garotos filhos de gente rica comecem a cair mortos para que alguém diga: ´Uau! Talvez seja uma boa ideia fazer algo contra a aids'”, reclamou Lou.

LATINOS EM NY. Algumas canções do disco são dedicadas ao dia a dia sofrido da comunidade latino-americana na capital. Dirty blvd, primeiro single do disco, é a história de um rapaz chamado Pedro, que sofre abusos em casa e começa a se prostituir para ganhar a vida (no tal bulevar sujo do título). Romeo had Juliette fala de mortes de policiais, brigas de gangues e do dia a dia de um garoto chamado Romeo Rodriguez.

REFAÇÃO. Considerado um dos pais do punk, Lou Reed deixou a improvisação de lado em New York e reescreveu várias vezes todas as letras, usando dois cadernos (!) lado a lado. “Cada música do disco teve umas cinco, seis versões até chegar à definitiva. Essa é a diferença básica entre New York e meus discos anteriores”, contou.

WARHOL. Em 22 de fevereiro de 1987 morria o descobridor do Velvet Underground, Andy Warhol. Reed e John Cale, você leu lá atrás, já tinham feito um disco inteiro em homenagem a ele, Songs for Drella. As lembranças do dia do funeral de Warhol na catedral de St Patrick vazaram para Dime story mystery, dedicada com carinho ao esteta pop. “Ela ataca um velho e clássico problema humano. A questão: ‘Por que estou aqui? O que isso tudo significa? Se eu morrer hoje, me arrependerei da vida que tenho levado?'”, contou Lou, que também havia sido bastante impactado por A última tentação de Cristo, de Martin Scorsese.

NO ELEVADOR. Hold on, uma das músicas mais críticas do disco, falava sobre brigas de gangues, brutalidade policial e chamava a Estátua de Liberdade de “estátua do racismo”. Um dos personagens citados na música, Mike Tyson, já havia encontrado com Lou Reed várias vezes no elevador. “Ele mora no mesmo prédio que eu”, dizia o cantor.

DEU CERTO. New York levou Lou Reed aos holofotes, vendeu como um disco do cantor já não vendia havia anos e despertou o interesse de um público que fazia xixi nas calças e falava “gugu dadá” na época do Velvet Underground. E em maio de 1989, Lou apareceu num espaço de prestígio: a capa da Rolling Stone.

NEM TANTO. A crítica se dividiu bastante em relação a New York. Houve quem o considerasse um disco totalmente pretensioso, muito barulho por nada, e muita gente não engoliu aquela história de “disco para ser ouvido como um livro”. A Nation queixou-se da “vaga consciência social” de Lou Reed e de protestos “atrapalhados” nas letras. Jim Farber, crítico da Rolling Stone e da Daily News, reclamou do comportamento de rebanho dos jornalistas, que “sentiram a necessidade de levar esse disco tão a sério quanto ele se leva”. O guitarrista experimental Glenn Branca pisoteou o álbum com classe: “Bon Jovi fez New Jersey e Lou Reed fez New York!”.

QUEDA. No fim de 1989, divulgando New York, Lou tomou uma queda feia no palco durante a passagem de som e precisou ficar seis semanas engessado. Houve quem visse isso como o efeito “tudo que vai, volta” de quando Lou escarneceu publicamente da queda (gravíssima) de Frank Zappa no palco, alguns anos antes, atacado pelo namorado ciumento de uma fã

LOU MICKEY. Durante o período em que estava no estaleiro, Reed foi abordado pela Hyperion, editora ligada à Disney (!), que estava interessada em reunir suas letras num livro. Deu trabalho: Between thoughts and expression só ficou pronto em 1991. Hoje pode ser lido inteiro na internet.

Tudo que você leu aqui saiu de uma entrevista de imprensa que a Sire distribuiu em 1989 (e que acabou publicada no Brasil pela Bizz) e do livro Transformer: a história completa de Lou Reed, de Victor Bockris.

Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, e a London calling (Clash). E a Fun house (Stooges).
– Demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Lou Reed no POP FANTASMA aqui.

Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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