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Cultura Pop
“(Let’s dance) The screw”, uma canção bem esquisita de Phil Spector

Phil Spector, morto na semana retrasada, não era fác… Não, pensando bem, não dá para falar isso de um cara cujo último ato público conhecido foi um assassinato. O produtor e compositor americano era, além de um profissional bastante difícil, uma pessoa bem doentia e escrota. Além dos músicos que trabalharam com ele (que sofriam com um produtor que costumava trabalhar em rotinas de 15 horas por dia e chegava armado às salas de gravação), quem teria histórias bizarras para contar a respeito dele era seu ex-sócio, Lester Sill, com quem dividiu o selo Philles.
Lester era bem mais velho que Phil em 1960, quando o selo começou. Tinha 43 anos e tinha sido uma força por trás dos estouros do rock e do r&b. Enquanto seu sócio tinha apenas 21, já era produtor e compositor havia um tempinho e usaria a estrutura do selo para fazer vingar sua técnica de gravação, o wall of sound (uma porrada de instrumentos gravados com overdubs e ecos, dando uma ambiência inaudita até aquele momento). Phil havia conhecido Lester pouco antes, quando era um pós-adolescente recém saído da banda The Teddy Bears (a do hit To know him is to love him) e fazia produções para um selo do futuro sócio, Trey Records.
Sill ainda montaria mais um selo, Gregmark, ao lado de seu sócio de então, Lee Hazlewood. O negócio não foi pra frente, e o velho produtor decidiu montar o Philles com Phil Spector, apesar de os dois já terem tretado por conta da produção de um álbum do grupo Paris Sisters, com Sill de olho nos custos e Spector fazendo tudo disparar. A Philles já chegou invadindo as paradas com uma gravação do grupo preferido de Sill, The Crystals, There’s no other (Like my baby). Foi um excelente começo.
https://www.youtube.com/watch?v=QQzWGUJjr8c
MOLEQUE
Só que a coisa não iria para a frente, pelo menos não no plano dos negócios. Sill, mais rodado e experiente, era obrigado a conviver com um moleque talentoso e petulante, que tinha um ego imenso, gostava de controlar detalhes das gravações e já estava contratando artistas sem comunicar a Lester. Aliás dava altos perdidos no sócio, marcando reuniões que jamais aconteceriam.
Restou a Sill sair fora da própria empresa por um dinheiro que era considerado uma ninharia (60 mil dólares). Por sinal, só para piorar um pouco, Spector se recusaria a pagar essa grana, alegando que o ex-sócio lhe devia grana pelo trabalho com as Paris Sisters. Restou (mais uma vez) a Sill se meter num tribunal e processar o ex-amigo e mentorando.
O resultado do ranço (injustificável) que Spector passou a sentir de Sill virou uma das gravações mais bizarras e misteriosas da história do pop. Esse troço aí: (Let’s dance) The screw, com a girl-band xodó de Lester Sill, The Crystals.
PARA DANÇAR
(Let’s dance) The screw pode ser incluída sem favor algum na onda de músicas que serviam apenas para lançar danças novas, numa época em que canções mal precisavam ter letras. E em vários casos, consistiam apenas de poucos acordes, uma batida dançante, poucos vocais e um maluco à guisa de mestre de cerimônias apresentando a canção.
Algumas dessas canções viravam clássicos – enfim, teve The twist, do Chubby Checker. Mas volta e meia aparecia alguém meio desencantado com esse gênero musical e lançava alguma paródia no mercado. Uma das primeiras gravações de ninguém menos que Lou Reed, contratado como compositor pelo selo Pickwick, foi uma zoação com esse tipo de canção, The ostrich (“o avestruz”, lançada em 1964). A letra propunha uma nova, er, dança: “Ponha sua cabeça no chão/e arrume alguém para pisar nela”. A canção saiu creditada a um grupo inexistente chamado The Primitives.
Existem algumas fofocas em relação a essa gravação. A mais conhecida é a de que, no tal processo, Phil Spector havia prometido os royalties do próximo single da Philles para o ex-sócio. Para zoar tudo, lançou essa canção, de oito minutos, dividida em duas partes, e com chance zero de estouro.
SÓ PRA ZOAR
Uma investigação feita pelo site Snopes mostra que isso não é bem uma verdade, ainda mais em se tratando de uma raposa velha como Sill: dificilmente ele exigiria que o ex-parceiro, com quem já havia tretado, gravasse algo que rendesse grana pra ele, quando podia pedir logo os 60 mil dólares combinados anteriormente. Fora que o próprio Sill, segundo o próprio, estava tão louco para se livrar de Phil Spector que já estava aceitando o que aparecesse.
O produtor e agora único dono da Philles simplesmente resolveu trancar-se no estúdio com três músicos e com as cantoras para… nada, aparentemente. Gravou o single, fez poucas cópias (todas raras hoje em dia) e mandou uma delas para Lester apenas para sacanear o ex-amigo. The screw nem sequer esteve à venda – a gravação depois aparecia em coletâneas da Philles e do próprio Phil.
Lester teve uma carreira bem menos famosa, mas bem menos errática: depois de um tempo sumido, em 1964 ele reapareceu com um cargo bacana na Screen Gems-Columbia Music, como consultor de Don Kirschner, o presidente. Chegou a assumir a presidência da empresa, até que em 1985 virou presidente e CEO da Jobete Music, braço editorial da Motown. Em 31 de outubro de 1994, quando morreu, ainda trabalhava na empresa. Sobre The screw, Lester basicamente disse: “Phil só quis me pegar e falar: ‘foda-se, camarada'”, relembrou.
Via The Smogs Blog
Mais Phil Spector no POP FANTASMA aqui.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
Crítica
Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.
Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.
Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.
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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.
É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).
Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.
O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.
Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.
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