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Cultura Pop

Aniversário do Come On Pilgrim, estreia dos Pixies!

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Aniversário do Come On Pilgrim, estreia dos Pixies!

É hoje! É bem verdade que nem é exatamente uma data redonda, mas tá lá: dia 28 de setembro de 1987 os Pixies lançaram seu primeiro EP, Come on pilgrim. Um daqueles casos de EP tão bom que precisa necessariamente fazer parte da discografia dos grandes fãs.

Na prática, Come on pilgrim é mais um LP curtíssimo do que um EP: são oito músicas em vinte minutos, revelando a sonoridade meio punk, meio latina de Black Francis (voz, guitarra), Kim Deal (voz, baixo, creditada como Mrs. John Murphy), Joey Santiago (guitarra) e David Lovering (bateria). E havia muito mais do que as oito músicas: a fitinha surgiu da chamada Purple tape, fita demo tamanho-família com 17 músicas gravadas no estúdio Fort Apache, em Boston, em março de 1987.

O Fort Apache foi montado em 1985 numa área em Boston que já começava a ser tomada por uma espécie de pré-cracolândia. Tanto que o nome do estúdio foi inspirado no filme Fort Apache, The Bronx, policial de 1981 estrelado por Paul Newman (e que no Brasil passou como Inferno no Bronx). No comando das salas, um time de músicos ligados à banda Sex Execs, entre eles Paul Kolderie, técnico de gravação de Come on pilgrim, e o produtor do disco, Gary Smith.

Como nada na história dos Pixies pode ser realizado sem um pouco de estresse, Kolderie disse ao livro Fool the world: The oral history of a band called Pixies, de Josh Frank e Caryn Ganz, que o clima no estúdio durante as gravações foi tenso. O Fort Apache ainda era o lugar mais cool de Boston com uma máquina de oito canais – e para gravar os Pixies, a turma fez questão de alugar uma máquina de 16 pistas, na qual tiveram que aprender a mexer na marra. E os atributos da tal máquina deveriam ser aproveitados ao máximo pelo mínimo de tempo possível.

>>> Mais Pixies no POP FANTASMA aqui.

Por causa disso, ao todo, foram cerca de 72 horas de gravação praticamente sem parar e com pouco sono – quem tirava uma soneca, o fazia amontoado no estúdio. Além de mais 72 horas de mixagem. Foram seis dias extenuantes, com músicos cansados, técnicos de som exaustos (tentando driblar a falta de automação das máquinas com movimentos rápidos) e frio, porque o estúdio só tinha aquecedores bem antigos, que faziam tanto barulho que a solução foi deixá-los desligados.

Se você sempre achou meio sofridos os vocais de Levitate me, a última faixa, pode acreditar: foi sofrido mesmo. Black Francis não tinha a letra totalmente pronta e ainda ouvia sugestões dos colegas sobre como ela deveria ficar. Quando foram gravar, o cantor estava sem dormir e morrendo de frio. Erros também aconteceram: a técnica apagou trinta segundos de um dos mixes de Vamos!, uma das faixas (regravada depois na estreia em LP, Surfer rosa, de 1988). A solução foi voltar ao estúdio para regravar.

Em Levitate me, aliás, surge o título do disco, na frase “come on pilgrim, you know he loves you”. O “ele” no caso, é “Ele”, com inicial maiúscula, já que se tratava de uma frase que o cantor gospel Larry Norman usava para animar suas plateias a se entregar a deus. Black Francis, que foi bastante cristão quando bem jovem, conheceu o trabalho de Norman quando frequentava uma livraria cristã aos 14 anos. E recordou que religiosos de modo geral nem eram tão fãs de Norman. “Não creio que religiosos tivessem respeito pela figura dele porque ele era muito esquisito. Ele era mais um rebelde do rock com aquela imagem dele”, conta.

Norman, vale citar, foi um dos participantes de um inusitado Woodstock de Cristo, a Explo 1972 (do qual já falamos no Pop Fantasma). Antes da fama, tinha tocado numa banda chamada People!, que teve um hit só (I love you). E num determinado momento, era autor de canções para musicais. Em 1968, após se converter ao cristianismo, passou a pregar o evangelho pelas ruas de Los Angeles. No ano seguinte, causou polêmica lançando um disco que pode ser tranquilamente considerado um álbum de psicodelia cristã, Upon this rock. Os pastores evangélicos televisivos fizeram uma enorme campanha contra Norman e a Capitol, sua gravadora, tirou o disco das lojas. Numa das músicas, a bizarra Forget your hexagram, Norman dava porrada nos ocultistas, nos espíritas e nos adeptos da astrologia.

Ao final, com tudo gravado, a fita foi enviada para Ivo Watts-Russell, dono do selo inglês 4AD, que começava a desbravar o universo encantado do underground norte-americano. Apesar de Francis e até do produtor Gary Smith acharem que o material só fazia sentido se fosse lançado na íntegra, o dono da gravadora achou que só oito músicas estavam maduras o suficiente para um lançamento. Também mandou remixar o material separado para o disco. E foi ele quem sugeriu que Come on pilgrim, de citação em letra, virasse o título. “Foi só uma ideia, não estaria surpreso se Charles (nome de Black Francis) dissesse um ‘fuck off'”, relatou Ivo.

Ainda teve a capa de Come on pilgrim, feita pela dupla Vaughan Olivier (design) e Simon Larbalestier (foto). Kim Deal chegou a pensar que aquele sujeito peludo fosse Vaughan. Aquele cara é um amigo de Simon, e a foto faz parte de uma série que o fotógrafo fazia inspirado no livro As tentações de Santo Antonio, de Gustave Flaubert. Segundo Simon, a imagem fazia parte de um período experimental dele e todo o trabalho foi feito bem devagar e pacientemente.

No fim das contas, os seis dias sem dormir valeram a pena: Come on pilgrim foi tão bem recebido que assustou até mesmo a banda e a gravadora. E a Melody Maker foi uma das primeiras a dar um papo com aqueles caras, estranhos para os padrões de uma época acostumada com Guns N Roses. E brilhantes.

Aproveita e pega aí Pixies ao vivo em 1986.

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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