Crítica
Ouvimos: Angélica Duarte – “Toska”

RESENHA: Toska expõe o humor ácido de Angélica Duarte em synthpop, brega e pós-punk, atacando padrões e abusos com ironia e deboche.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: YB Music
Lançamento: 23 de outubro de 2025
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Muitas mudanças aconteceram no caminho de Angélica Duarte desde a estreia com o álbum Hoje tem (2021) – e no meio do caminho ainda houve singles e o EP Odara (2018). Toska, o novo álbum, tira definitivamente das sombras o humor e o sarcasmo que já existiam nos discos anteriores, em músicas como Hoje tem, Pakera fraka e Música infantil pra adultos.
- Ouvimos: Thársila – Rasante (EP)
A nova fase da paulistana radicada no Rio já surge na foto “operística” e na capa parodiando o lay out dos álbuns do selo clássico Deutsche Grammophon e os libretos de óperas – mas musicalmente Toska é um disco de dedo na cara, zoeira e clima sonoro entre os anos 1980, a música eletrônica e o brega. Day by day, na abertura, abre como pós-punk indie e vai ganhando clima derretido, pop e divertido, enquanto a letra manda recados como “já gostei de você, agora tenho pena / não me liga, não me xinga (…) / não me vem com zapzinho”.
Doida é um synthpop que lembra um Ultravox do Pará, só que com guitarra pesada e vocal operístico. Já o quase tecnopop Barriga de lanche, que havia sido lançado em single em 2023, é um manifesto pela autoestima e pelo corpo livre: “eu não quero ser bonita de biquíni/eu já sou/não vou passar fome pra tentar ser skinny/eu não vou/não vou me matar de fazer regime”. Em várias músicas, aliás, Toska mira nos padrões da sociedade e nos abusos e abusadores do dia a dia. E não apenas em ex-namorados e familares, mas até em amigos problemáticos, como na dance music moderninha Amiga: “amiga, pelo amor de deus / meu ouvido não é penico / cala a boca e vem dançar (…) / amiga, a pista te espera / amiga, a terapia também”.
- Batemos um papo com Angélica Duarte no lançamento do disco Hoje tem
Outros assuntos e zoeiras livres surgem em Toska, como no krautpop brega de Vira lata caramelo, na deprê da curtinha Ninguém se importa, no skazinho tecnobrega de Dolores em mi pechos e Selinho pressaum e o no clima Eurovisão de Gostuesso. Tem ainda Sua mãe só quer seu bem, tecnopop realista que fala em “34 anos de fracasso financeiro / trabalhando todo dia, o dia inteiro (…) / enrijeci o maxilar, unhas roí, me descabelei / eu só quero melhorar”.
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Crítica
Ouvimos: Danny Brown – “Stardust”

RESENHA: Stardust marca Danny Brown sóbrio, mergulhando no hyperpop para criar paisagens sonoras intensas, misturando rap outsider, pós-punk e experimentação.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Warp
Lançamento: 7 de novembro de 2025
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Com uma carreira discográfica que surgiu nos anos 2000 (sua primeira mixtape, Hot soup, é de 2008), o rapper norte-americano Danny Brown geralmente é elogiado por sua disposição em inovar – que muitas vezes o coloca numa trincheira mais psicodélica e alternativa do rap, habitada também por Earl Sweatshirt e Tyler The Creator, e que igualmente já teve Kanye West como expoente.
Danny tem um álbum chamado Atrocity exhibition (o terceiro, de 2016), mesmo nome de uma música do Joy Division – e não por acaso, volta e meia detalhes do pós-punk emergem de seu som. Outro detalhe é que muitas vezes seus raps focam mais no lado outsider, da vida no desvio, do que propriamente em gangues, brigas ou pura ostentação. Distopias e papos de ficção científica também volta e meia aparecem nas letras dele – sempre com uma trilha sonora no mesmo clima.
E daí que Stardust, primeiro disco que Danny faz totalmente sóbrio – ele passou por um rehab em 2023 – traz o rapper cada vez mais comprometido com a construção de paisagens musicais, todas filtradas pela variedade do hyperpop. Ao lado dele, artistas de procedência bem curiosa, como o grupo experimental pop Frost Children, o criador de dubstep Underscores, o rapper-folktrônico Quadreca e gente inseparável do estilo hyperpop, como Jane Remover.
- Ouvimos: Tyler The Creator – Don’t tap the glass
- Ouvimos: Earl Sweatshirt – Live laugh love
- Ouvimos: Chiedu Oraka – Undeniable (EP)
Stardust quase sempre é tão dançante quanto Brat, de Charli XCX, mas é mais alternativo ainda, construindo pontes com gospel e soft rock (Book of Daniel, que parece construída em cima de uma música do 14 Bis ou do Roupa Nova), emo (Green light), house music (Flowers, um manifesto sobre o quanto ele se sente marginalizado pelo mercado fonográfico) e algo que parece ter sido construído em cima de um sample antigo de dance music, só que aceleradíssimo (Baby, responsável pelo lado mais romântico e sacaninha do disco).
O hyperpop geralmente é formado por referências quase cara de pau à música do passado – que muitas vezes soam distorcidas e encaixadas à força – e por climas “derretidos” em vocais (com autotune) e teclados. Um daqueles sons que só poderiam ter saído da mente de gente que passa o dia pensando em produções e mixagens. Danny começou a ficar mais próximo do estilo há algum tempo, e em Stardust, o hyperpop e seu primo digicore transformam músicas como Copycats, Whatever, Whatever the case e Starburst em experiências sonoras – com riffs de videogame, batidas quebradiças que lembram mais o pós-hardcore e sons de fita rodando rápido ao contrário como “melodia” para os beats. 1L0v3myL1f3! é quase um electrohardcore rap, com sons que desmancham no ouvido e vibe metálica.
As lembranças das experiências amargas ainda estão muito frescas – surgem em várias letras de Stardust e encerram o disco com a épica e intensa The end (de oito minutos) e All4U, cuja letra é um misto de declaração de amor ao rap e história de redenção após abusos e perdas. No geral, Stardust consegue soar curioso e interessante mesmo nos momentos em que você ouve e tem vontade de falar “oi?”.
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Crítica
Ouvimos: Vanna Blue – “JoyCry” (EP)

RESENHA: JoyCry, EP de Vanna Blue, mistura dream pop e pós-punk em faixas hipnóticas que alternam luz e sombra, com texturas cintilantes e certa agressividade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Noon Records
Lançamento: 13 de novembro de 2025
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Com composição de repertório iniciada em 2019 – e com as trevas da pandemia, que rolou em 2020, ajudando a balizar músicas e letras – JoyCry, o EP de estreia da norte-americana Vanna Blue surge marcado pelo encontro entre dream pop e pós-punk. Mas surge também como o resultado do encontro entre alegrias e tristezas diárias, entre memórias ruins e boas, entre realidade e imaginação. Esse clima é absorvido por algumas faixas, como o pop vaporoso de Back and forth, que lembra o começo da fase eletrônica do Tame Impala – lembra também Angra dos Reis, sucesso da Legião Urbana.
- Ouvimos: Evvvie – How to swallow a lie (EP)
Tudo que surge no disco é filtrado por um clima meio hipnótico, até meio típico do dream pop, mas com uma certa agressividade que vem lá do fundo, como na mescla de The Cure e Cranberries de Pheromones (com guitarra bonita e melódica e vocal cheio de texturas) e FMHU, ou em Black and blue, cujos teclados e guitarras têm vibe mágica. Tides é dream pop com batida meio funkeada, numa estrutura musical que parece voar.
O disco tem também um momento ruidoso em Closer, faixa na qual algo meio sombrio vai surgindo aos poucos. Mas o principal de Vanna Blue e JoyCry é valorizar a cintilação sonora, em todas as faixas.
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Crítica
Ouvimos: Pipa – “Funk é matemática”

RESENHA: Funk é matemática vê Pipa explorar o funk à distância, misturando ambient, beats experimentais e viagens eletrônicas em movimentos cheios de atmosfera.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 1 de dezembro de 2025.
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Produtor e compositor, Pipa lançou seu disco Funk é matemática com a ideia de fazer uma declaração de amor ao estilo musical. “Ele é surpreendentemente complexo e desafiador de criar”, afirmou num texto publicado em seu Xwitter, afirmando também que logo percebeu o enorme espaço que teria para criar coisas novas, sem se prender a padrões.
- Ouvimos: MC Taya – Histeria agressiva 100% neurótica vol. 2 – Muito mais neurótico (EP)
O resultado é que Funk é matemática é basicamente um disco de ambient – um álbum que propõe uma visão à distância do funk, do que pode caber nele, do que existe entre uma batida e outra. Dividido quase todo em “movimentos”, ele insere climas voadores e viajantes como respiro para os beats (Primeiro movimento, Segundo movimento), cria representações gráficas em que beats, samples de voz e vibes lembrando o Azymuth chegam na frente (Terceiro movimento) e une batidões a climas misteriosos que lembram ArtHur Verocai e Toninho Horta (Quarto movimento).
O disco encerra com a viagem quase post-funk da faixa-título, que vai ganhando beats e clima de celebração tribal-tecnológica. Até lá, surgem momentos de beat forte e experimentação eletrônica (Quinto movimento), gravações de rua e vibes meditativas (Sexto movimento) e um jungle-funk leve (Sétimo movimento).
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