Cultura Pop
Afinal, quem é esse tal de Galã?

Há alguns dias, o Brasil chorava a perda de Tarcísio Meira, um dos maiores galãs da teledramaturgia brasileira. Por acaso, quase no mesmo dia em que Tarcísio se despedia da vida e do trabalho, descobríamos na internet um disco bastante inusitado. Era o álbum de um cantor chamado Galã – e até o momento só sabemos quase que apenas isso a respeito dele.
Raízes brasileiras, aparentemente o único disco gravado pelo Galã que não é o Tarcísio, é um álbum de samba com um tantinho de sons nordestinos e latino-americanos. Ou pelo menos apostamos nisso, visto que se trata de um disco tão misterioso que não está inteiro no YouTube, nem consegue ser achado no Soulseek (sim, o Soulseek ainda está na ativa, sabia?).
A capa do disco traz Galã fazendo pose de (duh) galã, com um microfone na mão. Acima do nome dele, o logotipo do cantor, e o nome do álbum. Curiosamente, o título do LP está escrito numa fonte de letras que mais lembra vários nabos ou cenouras unidos e retorcidos (tudo a ver com o conceito de Raízes brasileiras, enfim).
O único som do álbum de Galã que, até o momento, pode ser escutado no YouTube é a capoerística Filosofia amorosa. Boa música, por sinal. Quem jogou o vídeo no ar foi a rapaziada da loja Melômano Discos, de Maringá, Paraná. A gerência da loja não sabe muito a respeito do álbum. O disco tem ainda canções como Sonho causídico, Dupla imortal e Vou ver de perto. Boa parte do repertório foi composta por nomes como Dedeu e Babaú da Mangueira – este último um compositor da verde-e-rosa gravado por nomes como Beth Carvalho e Aracy de Almeida.
O site de discos Discogs registra o disco, por acaso. Mas há algumas informações que não batem. Com o selo do disco à disposição (tá tudo lá) dá para ver pelo número do GRA (que registrava as gravações, antes do sistema mudar para ISRC) que as músicas foram registradas lá pelo fim da década de 1970, começo da de 1980. Ainda assim, quem pôs o disco no site informou que se trata de um lançamento de 1990.
“Que legal, é um disco independente?”, você deve estar se perguntando. Bom, Raízes brasileiras é um lançamento de um curioso e assustador selo chamado Grupo Cem Calças. Como se não bastasse o número de informações a atormentar seu pobre coração, o label da gravadora apresenta… o desenho de uma bundinha.
O Discogs não tem mais nenhum disco do Cem Calças, mas sabe-se que a gravadora lançou mais alguns discos, todos de repercussão tão sigilosa quanto o do Galã (no Mercado Livre tem esse aqui à venda, não nos responsabilizamos por sua compra). Raízes brasileiras ainda por cima foi “gravado nos estúdios Som Livre em 24 canais”. Numa espécie de efeito “entendeu ou quer que eu desenhe?”, o nome “Som Livre” aparece representado pelo logotipo que a empresa usou entre 1971 e 1978.
O que assusta mesmo não é nem o nome do disco, nem o do cantor e nem o da gravadora. De meter medo mesmo é a lista de músicos do long-play do Galã.
Para começar, entre os produtores do disco está ninguém menos que Zé Menezes, um dos primeiros guitarristas do Brasil, com um currículo de acompanhante que incluiu nomes como Radamés Gnatalli e Roberto Carlos. Aliás, Zé chegou a participar de um especial de fim de ano do Rei, que elogiou os dedos ágeis do músico.
Hábil igualmente em violão e banjo, o cearense Zé Menezes fez também o tema dos Trapalhões, o que lhe deu bastante fama nos anos 1970. Em Raízes brasileiras, dividiu o trabalho de produzir o álbum com mais três (!) pessoas: Ildeffonso Oliveira (o Dedeu, que é autor de boa parte do disco), Esdras Pereira e Jorge Menezes.
Há também outros nomes de colocar medo. De Raízes brasileiras participam Jane Duboc, Radamés Gnatalli, Chiquinho do Acordeom, Copinha (o flautista Nicolino Copia, grande nome do choro), Jamil Joanes, Bezerra da Silva (era percussionista antes da fama), Rosana (a própria, do Como uma deusa, dando uma força nos vocais), Raphael Rabello (grafado sem o sobrenome).
De Raízes brasileiras participou também uma turma classe A de percussionistas (Marçal, Luna, Canegal, Ney). E um outro time invejável de músicos de orquestra (Walter Hack, Giancarlo Pareschi, João Daltro, Alceu Reis, Marcio Mallard). Todos unidos no estúdio de uma das principais gravadoras do Brasil, usando uma máquina de 24 canais e trabalhando ao lado de um time de feras. Todos acompanhando o Galã.
O Cem Calças, pelo que diz o selo do disco, ficava na Rua Anita Garibaldi, em Copacabana. O tal álbum que encontramos à venda no Mercado Livre mostra que a empresa funcionou também num sobrado na Rua das Marrecas
Bom, o disco que aparentemente é o único do Galã, esse cantor misterioso, está aí, e até o momento, mal teve chance de se transformar numa raridade, ou de ser descoberto por grandes colecionadores de LPs. Fica a dúvida, que ainda pretendemos descobrir: afinal, quem é o Galã? Como é que um disco tão cheio de músicos-estrela se tornou um obscuro disco independente?
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
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Cultura Pop
Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.
Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação
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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.
No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.
Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.
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Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.
O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.
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E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.
“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela
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Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.
“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
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