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Cinema

A versão ~safadinha~ de Alice No País das Maravilhas

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A versão ~safadinha~ de Alice No País das Maravilhas

O roteiro de Alice no País das Maravilhas já foi criativamente revisitado muitas vezes nas últimas décadas. A história escrita em 1865 pelo britânico Lewis Carroll – você já leu sobre isso no POP FANTASMA – já inspirou desenho animado psicodélico feito na antiga União Soviética. Inspirou também uma adaptação cinematográfica de assustar crianças. E até uma bisonha animação anti-drogas que traumatiza qualquer moleque. Saiu também um charmosíssimo livro em japonês com toda a jornada de Alice em ideogramas, dentre outras publicações envolvendo a história.

A febre de produções explícitas que rolou nos anos 1970 (ou seja: a chamada Idade de Ouro da Pornografia, com Garganta profunda, Debbie does Dallas, entre outros) não poderia deixar essa de fora, claro. Enfim, também fizeram uma versão pornô de Alice in Wonderland em 1976. O papel principal coube a Kristine de Bell, uma ex modelo da Ford que havia aparecido numa capa da Playboy. E que após interpretar a menina que se perdia no País das Maravilhas, passou a fazer papéis na TV e no cinema com mais frequência.

A versão ~safadinha~ de Alice No País das Maravilhas

NA BIBLIOTECA

No filme, a Alice era uma bibliotecária que pegava no sono justamente lendo Alice no País das Maravilhas. Já dormindo, sonhava com o Coelho Branco (um coelhão interpretado por Larry Gelman, ator veterano de séries de TV nos EUA). Em seguida, o acompanha até o tal país. Mas se as aventuras infantis da Alice do livro já soam adultas e psicodélicas demais para o que normalmente se espera de um livro infantil, não espere nada comportado aqui.

INFÂNCIA? ESQUECE

A Wonderland na qual a bibliotecária entra é repleta de joguinhos sexuais, a fim de que Alice perca completamente suas inibições. O roteiro inclui cabriolas sexuais de Alice com o Chapeleiro Maluco e os problemas de impotência de Humpty Dumpty. Além de um relacionamento incestuoso entre os gêmeos Tweedledee e Tweedledum. E uma transa (não simulada) de Alice com a Rainha de Copas (Juliet Graham, que tinha feito teste para o papel principal, sem sucesso). Enfim, toda a sua infância destruída em 72 minutos.

Aliás, reinterpretar histórias comportadas em filmes nada comportados estava na moda naquele período. A referência do filme tinha sido a comédia sexual Flesh Gordon, de 1974, uma paródia de baixíssimo calão em cima do super herói Flash Gordon. No Brasil, tivemos as aventuras de Branca de Neve contadas de maneira extremamente bizarra em Histórias que nossas babás não contavam, de 1979.

Alice in Wonderland (a equipe nem sequer tratou de diferenciar o nome do filme do da história de Carrol) era um filme dirigido por Bud Townsend e produzido por Bill Osco. Este último, responsável por um dos filmes inaugurais da onda explícita, Mona, de 1970, e também por Flesh Gordon. E, aliás, um dos raros produtores da época a não ter medo de ver seu nome associado a um pornô. A trilha sonora é do então famosíssimo Peter Matz, um autor escandalosamente caro para o orçamento apertado do filme, e que já trabalhara com nomes como Marlene Dietrich, Noël Coward e Barbra Streisand.

GRANA E SUCESSO

As aventuras sexuais de Alice in Wonderland levaram vários curiosos e curiosas ao cinema. Por fim, o montante arrecadado esteve perto de US$ 90 milhões. Isso porque, para incluir o filme na classificação R (ou seja: até adolescentes poderiam assistir, desde que com os pais do lado), o diretor cortou alguns minutos de cenas mais explícitas. Mas alguns anos depois, quando o negócio de homevideos pornôs estava bem aquecido, Osco pôs de volta as tais cenas e reposicionou o longa no mercado.

As filmagens aconteceram de maneira extremamente rápida (foram apenas dez dias) e estressante numa propriedade rural em Nova York. Em virtude disso – e de outras coisas – nem tudo foram flores. A equipe considerava Osco um cara intimidante e abusivo. Julliet Graham lembra de ter sido vítima de assédio moral e sexual por parte de Osco. Que aliás costumava receber várias críticas por seus filmes cheios de piadas infames e de cenas sexuais sem pé nem cabeça. Ainda em 1976, processaram Bill Osco quando descobriram que as filmagens de Alice in Wonderland  aconteceram em vários locais históricos sem autorização.

A turma do filme por sinal incluía alguns atores fora do universo pornô. Também incluía produtores como Gela Nash, que depois faria sucesso com a grife Juicy Couture e se casaria com John Taylor, do Duran Duran.

(ER) LEGADO

O Alice no País das Maravilhas pornô fez a alegria de vários (er) fãs de cinema explícito quando ganhou, finalmente, edições em VHS e depois em DVD. Aliás, para um filme do qual possivelmente pouca gente lembra, o caminho dele até que foi bem mainstream. Em 2004, Osco voltou à ação dirigindo um musical off-Broadway no Kirk Theatre, em Nova York, intitulada Alice no Pais das Maravilhas: Uma comédia musical para adultos. A peça tinha um subtexto de empoderamento (Alice está cansada do namorado e da mãe, na peça). O diretor Ken Russel, da versão cinematográfica de Tommy, chegou a iniciar um roteiro para um remake do filme, junto com Bill, mas morreu antes da conclusão do texto.

Ah, e se você quiser muito ver a versão pornô de Alice no País das Maravilhas inteira, ela está num certo site ~liberal~ que começa com X. E na plataforma Mubi.

Via The Rialto Report

Veja também no POP FANTASMA:
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Ouvimos: Raveonettes – “PE’AHI II”

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Ouvimos: Raveonettes - "PE'AHI II"

RESENHA: Os Raveonettes mergulham de vez no lo-fi e shoegaze em PE’AHI II, disco que soa mais próximo de uma transição do que de uma realização.

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Raveonettes, aquela dupla que misturava distorções a la Jesus and Mary Chain, clima melodioso herdado dos anos 1950 e estética do filme Juventude transviada, lembra? Pois bem, eles guiaram o timão de vez para gêneros como shoegaze e lo-fi. Não é algo estranho ao som deles, vale falar. Climas “serra elétrica” sempre tiveram lugar nos discos de Sune Rose Wagner e Sharin Foo. PE’AHI II, novo disco, é a continuação de PE’AHI, disco de 2014 que já promovia suas invasões nessas áreas. Sem falar que 2016 atomized – disco anterior de inéditas da banda, 2017 – surfava essa onda.

Só que o Raveonettes de 2025 chega a soar experimental, mesmo quando abre o novo disco com uma balada nostálgica e melancólica, Strange. E na sequência, o ruído programado de Blackest soa como uma curiosa mescla de blackgaze e pop de câmara. Já Killer é uma nuvem de microfonias que lembra bandas como Drop Nineteens, só que com mais cuidado na melodia.

Entre as outras curiosidades do disco, estão o noise rock programado de Dissonant, a viagem sonora e distorcida de Sunday school e a onda sonora de microfonia (alternada com toques dream pop) de Ulrikke. O resultado final deixa um ar de EP, de mixtape, mais do que de um álbum completo e realizado dos Raveonettes. Ainda que PE’AHI II tenha momentos ótimos, soa mais como uma transição para o que vem por aí.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Beat Dies Records
Lançamento: 25 de abril de 2025

  • Ouvimos: The Raveonettes – Sing…
  • Ouvimos: Drop Nineteens – 1991
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Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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