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Cultura Pop

Lendas urbanas históricas 1: O boneco Fofão

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Lendas urbanas históricas 1: O boneco Fofão

Estamos no mês das crianças e também do importado dia de Halloween… Tá certo, você pode torcer o nariz dizendo que o Halloween é uma forma de dominação cultural americana. E em seguida dizer que o importante mesmo é valorizar os seres fantasmagóricos seres do folclore brasileiro. Como o saci, o caipora e por aí vai.

Fazendo a linha diplomática, vou reunir nessa série lendas do mundo pop que de alguma forma chegaram ao Brasil. E também lendas urbanas nacionais modernas, além de outras, nem tão modernas assim. Existem estudos no mundo todo sobre as origens das lendas urbanas e sua importância sociológica, cultural e antropológica. Aliás, mesmo nos dias atuais, elas continuam pipocando por aí como sendo “hoax”, fake news, boatos e “creepypastas”.

FANTÁSTICO

Qual criança nos anos 1980 não ficava assustada com as histórias de terror narradas no programa Fantástico? Enfim, houve um tempo em que esse programa retratava encenações de lendas urbanas. Entre essas lendas, histórias de caminhoneiros assombrados por uma mulher vestida de noiva na estrada. Ou de taxistas que tinham como passageira uma misteriosa moça, que simplesmente desaparecia do banco de trás ao chegar ao seu destino.

Depois vieram os anos 1990. E o auge do sensacionalismo envolvendo lendas urbanas, ufologia e cultura pop fez o extinto jornal Notícias Populares destacar o nascimento de um bebê que seria filho do diabo. O periódico destacou também aparições do chupa-cabras. E do ET de Varginha.

Nos anos 1980, falava-se que ao tocar a música Stairway to heaven, da banda Led Zeppelin, utilizando um LP girado ao contrário, o resultado era uma oração satanista. Mas a concorrente brasileira em fazer adolescentes e jovens girar os vinis para tocar ao contrário era Doce mel, da modelo e apresentadora Xuxa. Lembram?

O POP FANTASMA vai fazer uma retrospectiva investigativa destas lendas urbanas. De algumas deles, com certeza vocês ao menos ouviram falar. E vamos apresentar as lendas urbanas do século 21. Que, afinal, ainda podem assustar muita gente. Inclusive os millenials.

A LENDA DO BONECO FOFÃO MACABRO (1983-1990).

Vamos combinar que a fantasia vestida pelo saudoso ator Orival Pessini para dar vida à personagem Fofão, do Balão Mágico – programa infantil que foi ao ar pela TV Globo pela primeira vez em março de 1983 – tinha um aspecto meio assustador.

A ideia inicial era que ele fosse uma mistura de cachorro com alienígena, oriundo do Planeta Fofolândia. Junto com Simony, que na época tinha em torno de sete anos, Fofão apresentava os desenhos e atrações do programa. Inicialmente o alienígena não falava. Apenas emitia sons estranhos, que eram decodificados pela pequena Simony. Mas o sucesso foi tamanho que ele passou a ganhar falas e a dividir as apresentações com a menina.

SUCESSO

Embora a aparência do boneco fosse um tanto estranha, especialmente nas bochechas, Fofão fez grande sucesso. Ganhou inclusive um boneco criado à sua imagem e semelhança pela fábrica de brinquedos, artigos escolares e papelaria Mimo. Por sinal, a empresa ainda existe, mas atualmente tem apenas 130 brinquedos catalogados, todos licenciados do exterior.

Era tempo de hiperinflação, desemprego nas cucuias e efervescente crise econômica e política. Mas o boneco vendeu quatro milhões de cópias. Ou seja: um absoluto hit de vendas! Começaram, então, a surgir histórias macabras envolvendo o inocente boneco.

FACÃO?

Diz a lenda que o boneco – composto de estrutura de plástico, de enchimento e roupas da personagem – caiu no chão após ser derrubado por uma criança. E em seguida, a família notou algo aterrorizante. Afinal, o enchimento era composto de um objeto pontudo parecido com um facão para colar a cabeça (que aparentemente ficava espetada na ponta da faca). Mas a tal família também teria visto velas pretas (!) no boneco.

Essa história foi o que bastou para que começasse a boataria Brasil afora. Diziam que o boneco conversava à noite com as crianças, falava que elas deveriam fazer maldades, praticar crimes. Mas o estopim foi dizer que o boneco saía correndo e matava crianças degoladas. E olha que isso foi bem antes do lançamento do filme Brinquedo assassino, de 1988…

Pessoas mais impressionáveis começaram a tentar decodificar não a linguagem alienígena de Fofão no programa infantil, mas mensagens subliminares com referências satanistas… Foi um pandemônio, com o perdão da palavra. A Mimo se defendia, dizendo que o assustador boneco atendia às normas de fabricação de brinquedos da época. E, que principalmente, os materiais de enchimento dos bonecos podiam ter aspectos desagradáveis.

BELZEBU É MEU PASTOR

Teorias da conspiração iam mais além, soltando boatos de que Orival Pessini havia feito pacto com belzebu para obter sucesso. Outros diziam que a culpa era da fábrica de brinquedos. Há alguns anos, um suposto autor da fofoca venenosa disse que foram mesmo os programas infantis rivais que tentaram denegrir a imagem do fofíneo alienígena.

Tais boatos não foram suficientes para manchar a reputação de Fofão, que teve seu próprio programa na TV Bandeirantes (atual Band) entre 1986 e 1989, o TV Fofão. Com produtos licenciados, discos e até um longa-metragem, o alienígena mega fofo continua sendo um dos mais icônicos personagens para a geração X.

E DEPOIS?

Recentemente, o suposto autor do boato, Deusenir Prieto – que nada tem de investigador paranormal – deu entrevista à Revista Superinteressante. E revelou que tão somente fez críticas às composições do enchimento do boneco na época, por ser especialista em Métodos e Processos na fabricação de brinquedos. Mas não adiantou nada: a crítica tomou proporções sobrenaturais.

Confira as outras lendas da série aqui.

44 anos. Gosta de Cultura Pop, Moda, Literatura, Sociologia, Cinema, Fotografia e é movida à Música desde que se entende por gente. Bacharel em Direito, enveredou-se para as Relações Internacionais e atualmente encontra-se em fase de mudanças profissionais.

Crítica

Ouvimos: Charli XCX, “Brat and it’s completely different but also still brat”

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Ouvimos: Charli XCX, “Brat and it’s completely different but also still brat”

Vai chegar o momento em que as pessoas vão fazer como acontece depois de qualquer tipo de onda, e vão recordar a era de Brat, disco de 2024 de Charli XCX, com carinho, com afeição ou até como um barômetro de seu tempo. Assim como (e isso aconteceu até com os imitadores de Sgt Pepper’s em 1967/1968) muita gente vai se perguntar: “Como é que a gente foi achar legal esse negócio de um disco ter uma capa que até meu sobrinho de 7 anos poderia fazer no canva? Ou essas reedições com títulos engraçadinhos? E como tanta gente gostou disso?”

Enquanto isso não acontece – e vale citar que o dicionário Collins já escolheu “brat” como palavra do ano de 2024 – Charli XCX já aproveita para recauchutar seu sexto disco, lançado originalmente em 7 de junho, pela terceira vez. Já havia saído uma edição com três faixas a mais. E dessa vez, Brat and it’s completely different but also still brat transforma as dezoito faixas associadas ao disco numa verdadeira maratona. E numa festa.

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  • Resenhamos Brat aqui.

O álbum duplo traz o material regravado, mudado e remixado por vários convidados, entre nomes novos e veteranos. Robyn e Yung Lean acrescentam seus versos e nomes a 360. Ariana Grande elenca as cascas de banana da fama em Sympathy is a knife, ao lado de Charli – com direito a frases ótimas como “é uma facada quando seu amigo começa de repente a pisar em você”, ou “é uma facada quando alguém diz que gosta mais da minha velha versão do que da nova/e eu penso: quem é ela, porra?”. Billie Eilish responde a Charli em Guess e marca presença no pop sáfico. Essas duas últimas são as únicas versões que valem como “grande e indispensável complemento ao original”.

Algumas coisas foram feitas propositalmente para desconstruir as noções de hit do original: I might say something stupid virou ambient nas mãos de Jon Hopkins e The 1975, e Bon Iver deu uma cara melancólica a I think about it all the time. O rapper sueco Bladee aumenta a lista de estresses da fama em Rewind, e Charli XCX confessa nos novos versos que acrescentou, que o dinheiro e a vida em Los Angeles (ela vive lá e em Londres) fizeram com que ela se tornasse “mais competitiva”.

Muita coisa no Brat reimaginado não influi nem contribui, mas não chega a ser ruim. Só que tem o lado chato, aliás chatíssimo: Julian Casablancas pegou Mean girls, uma das melhores músicas do disco, e transformou num indie-pop cagado com vocal de autotune, e a rapper espanhola BB Trickz diminuiu a velocidade de Club classics e só dá mais vontade de ouvir o original, mesmo. Por sinal, Brat and it’s completely different but also still brat vem com o Brat deluxe no disco 2, e reouvindo, dá para perceber o quanto o álbum de Charli é um hype dos mais justificados. Tem festa, sexo, doideira, vícios, saudade dos amigos, redes sociais, as nostalgias dos millennials, e um pop que vai do sombrio ao festeiro em pouco tempo – e de fato, é um barômetro comportamental de 2024, ou deveria ser.

Nota: 7
Gravadora: Atlantic.

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Cultura Pop

No podcast, Sparks da pré-história à era de “Kimono my house”

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No nosso podcast, Sparks, da pré-história à era de "Kimono my house"

Sparks, a melhor banda que você nunca ouviu, mas da qual já ouviu falar. Uma banda que na verdade é uma dupla – e uma dupla de irmãos. Russell Mael (o vocalista extrovertido) e Ron Mael (o tecladista introvertido de bigode) já atravessaram mais de cinco décadas fiéis às suas concepções de música e de espetáculo. Em discos como o clássico Kimono my house (1974), os Sparks fizeram pós-punk, new wave e synth pop antes do punk surgir – e adiantaram até mesmo o som do indie rock dos anos 2000.

E hoje no Pop Fantasma Documento, nosso podcast, você vai conhecer tudo que você sabe, não sabe e deveria saber sobre uma das bandas mais instigantes do mundo do rock, da pré-história até o auge. Ouça no volume máximo.

Século 21 no podcast: Immoral Kids e Dani Bessa.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Crítica

Ouvimos: Lou Reed, “Why don’t you smile now: Lou Reed at Pickwick Records 1964-1965”

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Ouvimos: Lou Reed, “Why don’t you smile now: Lou Reed at Pickwick Records 1964-1965”

“Eu era uma Ellie Greenwich malsucedida, uma Carole King pobre”, descascava sem dó Lou Reed, sobre o período em que foi um projeto de hitmaker (um “futuro” hitmaker que não emplacava hit nenhum, enfim) no selinho norte-americano Pickwick, localizado em Long Island City. Uma etiqueta musical que fabricava imitações de sucessos das paradas, e tentava ganhar grana lançando tudo em singles e coletâneas cata-corno de baixo preço. Essa época ressurge dissecada na coletânea Why don’t you smile now: Lou Reed at Pickwick Records 1964-1965, com 25 faixas nas quais Lou teve participação como compositor, intérprete ou as duas coisas.

Se for encarar as músicas de Why don’t you smile now todas de uma vez, vá com calma: o material tem bem pouco a ver com o que Lou Reed faria no Velvet Underground e nos primeiros anos de sua carreira solo – embora a composição de músicas para grupos vocais de garotos e garotas acabasse se tornando uma obsessão que iria pairar sobre vários álbuns importantes seus, inclusive New York, de 1989. Formado na Universidade de Syracuse, com planos bem mais ambiciosos em relação ao rock do que apenas fazer músicas por encomenda, e prestes a gravar as primeiras demos do que seria o Velvet Underground, Lou entrou para o time de compositores do selo Pickwick, ao lado dos colegas Terry Philips, Jerry Vance e Jimmie Sims.

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  • Temos episódio do nosso podcast sobre Velvet Underground aqui.
  • E dois episódios sobre Lou Reed aqui e aqui.

O selo já existia desde 1950, aliás resistiria bravamente até 1977 pirateando discos fora de catálogo (pôs nas lojas vários discos de Elvis Presley que estavam esgotados e deu muita dor de cabeça para a gravadora oficial do rei do rock, a RCA). E naquele momento tentava surfar simultaneamente várias ondas pop. The ostrich, por exemplo, era um tema bizarro que explorava os modismos inúteis do rock então em curso havia pelo menos dez anos. A faixa ensinava os passos da “dança do avestruz”, que consistiam em “você dá um passo para frente e então vira para a direita/você vira para a esquerda e põe seus pés para cima da sua esquerda” (!). A faixa, motivada por um modismo de roupas com penas de avestruz, foi composta pelo quarteto de compositores do selo, cantada por Lou e creditada a um grupo de proveta chamado The Primitives.

The ostrich geralmente é a faixa mais citada dessa fase por fãs roxos de Reed. Mas o material tinha bem mais: imitações de Jan & Dean (em Cycle Annie, creditada a The Beachnuts), pastiches de Phil Spector (como Love can make you cry, cantada por uma tal de Ronnie Dickerson) e muita coisa que poderia ter ido parar no repertório das Shangri-Las, como a tragédia adolescente Johnny won’t surf no more (com Jeannie Larrimore) e Teardrop in the sand (esta, com vozes masculinas, interpretada por The Hollywoods).

O método de trabalho era fazer o maior número de composições que pudesse ser feito em pouco tempo. Segundo Lou, Terry Philips – que chefiava o trabalho – pedia à turma: “Faça dez California songs, agora dez Detroit songs…”, numa demonstração básica de que o trabalho servia para agradar tanto os fãs de imitações dos Beach Boys quanto os seguidores da Motown. Uma curiosidade no disco é a faixa-título Why don’t you smile, parceria entre Lou Reed e seu novo amigo John Cale, que fazia parte do repertório do All Night Workers. Uma banda que não era uma invenção de Lou, mas sim um grupo formado por colegas seus de faculdade – o single deles saiu pela Round Records, selinho ligado à Pickwick.

The ostrich, por sua vez, acabou por se tornar o verdadeiro pré-Velvet: após o lançamento do single, a Pickwick achou que valia a pena investir num grupo de verdade para promover o disco. Terry Philips havia conhecido dois sujeitos numa festa, John Cale e Tony Conrad, que convidaram o amigo Walter DeMaria para compor a banda. Não deu certo, mas Cale e Reed formaram uma parceria que gerou o Velvet Underground e rendeu frutos por alguns anos.

Nota: 7
Gravadora: Light In The Attic

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