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Cinema

14 clássicos da “Sessão das Dez”, do SBT

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Sessão das Dez

Quem cresceu nos insanos anos 1980 deve se lembrar com carinho da extinta Sessão das dez, exibida nas noites de domingo no SBT. Em 99,9% do tempo eram exibidas tralhas simplesmente inacreditáveis, muitas vezes reprisadas à exaustão, mas que apesar da ruindade geral (ou talvez por causa dela, vai saber…), ficaram marcados na memória. Portanto,com o objetivo de manter viva essa lembrança afetiva (ou de irritar você que há muito queria esquecer tais obras), reunimos a nata dessas pérolas e, pra melhorar, ainda colocamos os links no Youtube para revê-los (nem todos estão dublados ou legendados, mas vocês certamente não se importam, né?)!

A ILHA DOS HOMENS-PEIXE (Itália, 1979). Plágio descarado do clássico A ilha do Dr. Moreau. A única diferença é que no original um cientista maluco misturava seres humanos com os mais variados animais. Já aqui, como o título já entrega, só mesmo em peixes.
DESTAQUE: As fantasias de homens-peixe eram constrangedoras de tão mal feitas, mas imagino que os produtores ao menos eram pessoas conscientes. Só isso justifica o fato de eles aparecerem no máximo uns 15 minutos durante toda a película! Não basta ser ruim, tem que ser propaganda enganosa…

THUNDER, UM HOMEM CHAMADO TROVÃO (Itália, 1983). Você já viu Rambo? Se viu, não precisa ver esse, pois praticamente não há diferença. A única alteração relevante é que em vez de um veterano do Vietnã, aqui temos um índio que retorna a uma cidadezinha e toca o terror quando vê que o cemitério onde seus ancestrais estavam foi comprado por um conglomerado e colocado abaixo.
DESTAQUE: Na verdade, o mais engraçado se perde na versão dublada: como o filme é italiano, foi dublado em inglês para o mercado americano, mas o negócio foi tão mal feito que é de rolar de rir! Não raro personagens falam sem mexer a boca, e as vozes são afetadíssimas e exageradas… Ah, e é no mínimo estranho um índio ser interpretado pelo italiano Mark Gregory, mais branco que este que vos escreve (que é quase um palmito)!

KERUAK , O EXTERMINADOR DE AÇO (Itália, 1986). Espécie de Exterminador do futuro com sérias restrições orçamentárias, o filme conta a história de Paco Queruak (sim, para piorar o título brasileiro está grafado de forma errada!), criado pra ser uma máquina de matar, mas que falha logo em sua primeira missão ao não conseguir eliminar um ecologista paralítico (é, a tecnologia italiana não é das mais confiáveis), passando o resto do tempo fugindo da polícia e da fúria de seu criador.
DESTAQUE: Há uma cena do filme que destoa de todas a bagaceirice dominante, onde nosso herói verifica os mecanismos do seu braço. Parece até que foi retirada do Exterminador do futuro original de tão bem feita… E FOI MESMO! Simplesmente os produtores de Keruak compraram uns takes não utilizados pela obra de James Cameron a preço de banana e enxertaram na cara de pau!

EXTERMÍNIO DE MERCENÁRIOS (EUA, 1987): Na minha modesta e humilde opinião, o clássico supremo do SBT! Exibido inúmeras vezes na emissora com os mais variados títulos (De Extermínio de mercenários a Isca mortal, passando por Danton – Sozinho e armado, e por aí vai) , é a mais perfeita definição da palavra “tosqueira”: Mike Danton é um cara que põe Rambo, Schwarzenegger e Chuck Norris TODOS no chinelo! Entre suas proezas, ele consegue botar um braço quebrado de volta no lugar com uma pedra embaixo do sovaco, mata um cara cravando um GRAVETO em seu peito, escapa ileso de tiros a queima-roupa disparados a centímetros dele, consegue ficar invisível na mata apenas pendurando uns galhos nos ombros (ficando igual uma passista de escola de samba)e por aí vai…como não virar fã?
DESTAQUE: A cena final, onde Danton arranca um braço do vilão e em seguida o mata USANDO O BRAÇO DECEPADO COMO PORRETE! Preciso dizer mais alguma coisa?

A BATALHA FINAL (EUA, 1990). David A. Prior, o mesmo diretor de Extermínio de mercenários, nos brinda com mais essa tralha. Para acabar com a guerra entre EUA e URSS, as grandes potências têm uma ideia bem idiota: Escolher um soldado de cada país pra se enfrentar numa mata (no meio dos EUA, olha só que conveniente!). Sim, é só isso! Durante quase duas horas, um cara fica perseguindo o outro (isso quando não corta para a sala de controle, onde os soldados são monitorados). Minimalismo é isso aí!
DESTAQUE: O final, que foi uma das conclusões mais absurdas e imbecis da história da sétima arte e a dupla que monitora os passos dos guerrilheiros: Muitas vezes a mulher que deveria prestar atenção no americano deixa o protagonista em maus lençóis porque, ao invés de fazer o que foi designada para fazer, fica mais interessada em cantar o seu colega!

ROBOT JOX – OS GLADIADORES DO FUTURO (EUA, 1990) :Stuart Gordon, o mesmo que nos brindou com a obra prima trash Reanimator, dirigiu este filme que tem uma premissa até semelhante com a do já citado A batalha final. A diferença é que aqui as superpotências têm um orçamento um pouco melhor e resolvem suas querelas em brigas com robôs gigantes!
DESTAQUE: Confesso que Robot Jox marcou muito a minha infância porque toda a vez que via a primeira cena de confronto entre os robôs, pensava que haviam gravado na Sapucaí, hahahaha! Sério, a arquibancada é idêntica!

POLICE STORY (China, 1985) : Até que enfim algo decente nessa lista: Jackie Chan é ídolo, não se discute e, nos áureos tempos da Sessão das dez foram exibidos vários filmes de sua fase mais prolífica, quando ainda era um completo desconhecido nos EUA e tanto ele quanto sua equipe de dublês arriscavam o pescoço em cenas absurdas que testavam os limites do corpo humano. Destes trabalhos, Police story certamente foi o que mais marcou.
DESTAQUE: Diversos momentos impressionam até hoje, mas sempre ressalto dois: No começo, quando os bandidos caem de um ônibus de dois andares direto no concreto (percebe-se na cena que Jackie ainda para e olha para os dublês como se quisesse se certificar que tudo está bem antes de seguir) e no final, quando Chan arrebenta as mãos ao deslizar diversos andares por um cano repleto de lâmpadas. Dói só de olhar!

https://www.youtube.com/watch?v=zLS8F8ufVk0

O ÚLTIMO TUBARÃO (Itália, 1981): Essa picaretagem da grossa tem uma história engraçada: Foi lançado nos EUA como sendo uma continuação legítima do clássico do Steven Spielberg, mas é claro que, tirando o fato de ambos os filmes terem um tubarão como antagonista, não há ligação entre eles. Porém, sabe-se lá porque ele começou a dar uma boa bilheteria (reza a lenda que faturou mais até que Tubarão 2!!), o que deixou os produtores da obra original p**** da vida. Por causa disso, meteram um processo no diretor Enzo G. Castellari, forçando-o a retirar o filme dos cinemas de lá e proibindo-o a lançá-lo em VHS, DVD ou coisa que o valha, o que o tornou uma raridade disputada a tapa na terra do Tio Sam.
DESTAQUE: A estranha cena final, onde o tal tubarão ataca numa regata, mas curiosamente prefere devorar os barcos dos participantes do que os humanos (tem gosto pra tudo mesmo)! Vai entender…

OS SETE MAGNÍFICOS GLADIADORES (EUA, 1983): Outra obra com uma história pitoresca: Reza a lenda que o italiano Bruno Mattei (um dos piores diretores de todos os tempos) assinou um contrato pra dirigir um filme chamado Hércules 1987. Porém ao verem a porcaria que estava ficando, os produtores Menahem Golan e Yoran Globus resolveram minimizar o prejuízo dando um orçamento merreca pra ele fazer outro filme com o mesmo elenco e cenários de Hercules 1987. Mattei se animou e encomendou um roteiro copiado até a medula de Os sete samurais, mas ambientado na Antiguidade. O resultado é uma aventura paupérrima e hilária que era um dos meus favoritos quando moleque!
DESTAQUE: Além do óbvio constrangimento causado por ver Lou Ferrigno (que já teve dias melhores como o Hulk da série de TV) pagando mico como protagonista, vale ressaltar a pobreza dos cenários, que parecem saídos diretamente de um episódio do Chapolin…

https://www.youtube.com/watch?v=ZsjxG16QkaY

O HOMEM COBRA (EUA, 1973): Não dava para terminar sem citar esse momento mágico da sétima arte que deixou muita criança sem dormir! O roteiro é genial: cientista cria um soro que transforma homens em cobras porque segundo ele a crise energética que assolava os anos 1970 faria o mundo se tornar inabitável em 50 anos, portanto a solução seria que todos fossem seres de sangue frio… Na verdade esse filme é surpreendentemente interessante, com um clima tenso constante até o final, onde parece que resolveram chutar o balde e a tosqueira que passa a dominar torne involuntariamente engraçado (a transformação do protagonista em cobra – sem querer soltar spoilers, mas pombas, é o que se espera de um filme com esse título, né? – é ridícula)… mas ainda assim considero-o um bom passatempo até hoje!
DESTAQUE: O título original em inglês é Ssssssssss!

https://www.youtube.com/watch?v=OKzSbHevvDQ

CAÇADORES DE ATLÂNTIDA (Itália, 1983): Obra que mais parece uma viagem lisérgica do diretor Ruggero Deodato, consegue a façanha de misturar futuro pós-apocalíptico, punks, Atlântida, um submarino nuclear afundado, tiroteios a esmo, etc. Nada tem a ver com nada, e por isso mesmo (ou apesar disso, sei lá) é divertidíssimo!
DESTAQUE: São tantas pérolas que fica difícil pinçar uma, mas falas sem pé nem cabeça como “se você fosse uma ilha, onde estaria?” (sim, eles indagam isso uns aos outros ao invés de consultar um mapa para encontrar o local), o penteado brega dos tais punks (alguns parecem ter um floco de algodão doce ou um poodle na cabeça) e a música de abertura, que repete ad infinitum “Falling, Falling, Black Inferno / Rolling, Rolling, Black Inferno” grudam na cabeça e martelam por semanas… aliás, a quem interessar possa, os responsáveis por essa canção xarope foram os irmãos italianos Maurizio e Guido de Angelis, que fizeram muito sucesso por lá com o pseudônimo de – pasmem – Oliver Onions!

https://www.youtube.com/watch?v=sc51jjDnXjc

A GANGUE DOS DOBERMANS (EUA, 1972): Quando esse texto foi postado originalmente, apareceu gente reclamando que não citei essa pérola, portanto venho aqui fazer um mea culpa e vestir a carapuça: Como pude vacilar dessa maneira? Perdoem-me, amigos leitores! Espécie de comédia involuntária, essa obra é sobre um ladrão fracassado que após algumas tentativas frustradas de assalto a bancos, tem uma brilhante ideia: adestra os cachorros para roubar por ele!
DESTAQUE: Na verdade é mais uma curiosidade: Sabiam que esse foi o primeiro filme da história da sétima arte a conter a mensagem “Nenhum animal foi machucado durante as filmagens” nos créditos finais?

https://www.youtube.com/watch?v=8p1XmNcdfpA

A MONTANHA DOS CANIBAIS (Itália, 1978): Nos anos 1970 e 1980 foi moda entre os italianos fazer filmes de terror sobre canibais; afinal eram fáceis de fazer e geralmente davam um belo retorno. A montanha dos canibais foi um dos precursores do gênero: Mulher organiza uma expedição para a selva da Papua Nova Guiné com o objetivo de encontrar o marido perdido, mas lá chegando ela e sua equipe são dizimados um a um pelos nativos.
DESTAQUE: Na verdade, se analisarmos friamente, esse filme é até bem chatinho, pois além de levar um tempão pra coisa engrenar, as mortes são fraquinhas, mal feitas e sem graça (se compararmos com o muito superior Holocausto canibal, então, chega a dar vergonha)… Se não tivesse tanta mulher pelada, daria pra ser exibido na Sessão da tarde atualmente sem problemas, mas os tais canibais ao menos são pitorescos, tem de tudo ali: brancos, negros, loiros, até anões! Isso sim é diversidade e inclusão!

https://www.youtube.com/watch?v=xjkfQ7pShNs

SHAOLIN CONTRA A BOXEADORA DE BALI (Indonésia, 1973): Caramba, peguei pesado agora, hein? Duvido que mais alguém além de mim lembrava dessa maravilha, que é o único da lista que foi presença garantida em dois canais: Antes do SBT, também foi exibido até cansar na antiga Sessão faixa-preta na Rede Globo! A sinopse (que eu tive que catar na internet) supostamente trata de uma mulher que parte para vingança contra um sujeito que matou seu pai e roubou sua espada, mas não precisam se atentar a isso, NADA faz sentido!
DESTAQUE: Sabem o Pânico na Band? Já viram quando eles editam uma cena e ficam repetindo ela até enjoar? Pois bem, provavelmente tiveram essa “brilhante” ideia após assistirem essa bagaça aqui! Tem figurante que morre mais de dez vezes, não é brincadeira!!

 

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Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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