Destaque
John Wetton – muito (muito mesmo!) além do Asia

Saído de cena hoje após perder a batalha contra um câncer, o superbaixista John Wetton tá provocando certa disputa – velada – entre fãs de rock nas redes sociais. Como tudo vira polêmica, tem gente reclamando de quem o cita como líder do Asia (“ah, aquela banda ruim, de progressivo de FM”, bradam alguns), preferindo lembrar de sua (vigorosa) contribuição para três discos de estúdio do King Crimson, “Larks’ tongues in aspic” (1973), “Starless and Bible Black” (1974) e “Red” (1974). Outros já o mencionam como tendo sido baixista do Roxy Music – banda com a qual não gravou nenhum álbum e, se bobear, nem alguns dos fãs mais fiéis do grupo lembram que ele já foi da banda (eu nem desconfiava disso, confesso). Ele aparece em cinco faixas do LP ao vivo “Viva”, lançado em 1976.
Pra ninguém brigar e todo mundo poder tirar onda no Facebook até o fim do dia, seguem aí algumas coisas que Wetton fez ao longo de sua carreira.
Nos anos 1960 ele foi baixista e vocalista de uma série de bandas, sempre tendo como parceiro o músico inglês Richard Palmer-James, que posteriormente foi letrista do King Crimson e guitarrista e vocalista de uma das primeiras formações do Supertramp (gravou os dois primeiros discos e saiu). Entre 1970 e 1971 Wetton foi baixista do grupo progressivo-fusion Mogul Trash, com o qual gravou um disco epônimo em 1971. Olha aí.
Uma surpresinha para os fãs de última hora de Wetton – e até para alguns da antiga – é o trabalho bacaninha que ele fez com o músico inglês Gordon Haskell, que ocupou no King Crimson o lugar que poucos anos depois seria do próprio Wetton (baixista e vocalista). Fã de jazz e de Nat King Cole, Haskell tentou se adaptar ao progressivo cerebral do KC, mas não rolou. Em 1971, já solo, gravou o belo “It is and it isn’t”, que tem Wetton tocando baixo, órgão e cantando em algumas faixas.
E olha Wetton aí, tocando numa das raras faixas que compôs durante o curto período (1971-1972) que esteve por trás das notas graves da banda britânica Family.
Em 1973, ele tocou em apenas uma música do primeiro disco solo de Peter Banks, guitarrista da primeira formação do Yes.
E o produtor e músico Brian Eno recrutou os serviços de Wetton na gravação de “Baby’s on fire”, uma das melhores faixas de sua estreia solo, “Here comes the warm jets” (1974). O solo de guitarra é de Robert Fripp, líder do King Crimson.
Tá, isso você já sabe: Wetton tocou no King Crimson, em três discos. O pesadão “Red” (1974) é o favorito da casa.
Ele também tocou no Uriah Heep entre 1975 e 1976…
… e após tentar reativar o King Crimson (não rolou), montou uma (excelente) banda progressiva de curta duração, o UK. Allan Holdsworth (guitarra, Tempest, Soft Machine), Bill Bruford (bateria, Yes, King Crimson) e Eddie Jobson (teclados e violinoi, Curved Air, Roxy Music e Frank Zappa) estavam no primeiro line-up.
Teve também o Jack-Knife, projeto-de-um-disco-só em que reativou a parceria com o amigo Palmer-James, lá do comecinho deste texto, e gravou só um LP em 1979, com covers turbinadas e modernizadas de blues. Uma delas foi “Eyesight to the blind”, de Sonny Boy Williamson, que o Who gravou no disco duplo “Tommy” (1969).
E olha ele aí, tocando baixo na TV com o Roxy Music em “Out of the blue” (na gravação dessa faixa no disco “Country life”, de 1974, John Gustafson tocou baixo e Eddie Jobson, que depois montaria o UK com Wetton, tocou teclados e fez arranjos de cordas).
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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