Cultura Pop
Uma porrada de coisas que você já sabia sobre London Calling, do Clash

London calling, terceiro disco do Clash, saiu em 14 de dezembro de 1979 e é tido muita gente séria como o álbum que encerrou os anos 1970 e começou os 1980 (epa: nos EUA, London calling é um disco da década seguinte – saiu lá só em janeiro).
Se os Sex Pistols eram uma banda de um álbum só, os Ramones tentavam arduamente conseguir sucesso mas sempre empacavam, e grupos como Buzzcocks, Damned e Stranglers alternavam dignidade rocker e grandes hits, os planos de Mick Jones (voz, guitarra), Joe Strummer (voz, guitarra), Paul Simonon (baixo) e Topper Headon (bateria) eram mais ambiciosos.
O Clash vinha ficando fascinado pela história do rock, tinha enorme vontade de emplacar canções no rádio e fazer discos que realmente vendessem, queria penetrar no mercado americano de forma a que os fãs da antiga não se sentissem muito traídos e – após um curto período de bloqueio criativo – vinha ficando mais e mais afiado nas canções de protesto. Daí a ideia de que o vindouro disco duplo unisse influências de rock, reggae, soul, r&b e tudo o que aparecesse pela frente.
Abaixo confira vinte coisas sobre London calling que possivelmente você já leu em todos os sites de música, mas não custa lembrar.
1) London calling teve, um digamos, precursor. Foi um EP que o Clash lançou em maio de 1979 chamado The cost of living, que já é tido como um disco menos punk, mais influenciado pelo folk e pelo rock americano. É o álbum que tem a cover deles para I fought the law, de Sonny Curtis.
2) Ah sim: o segundo disco do Clash, Give’em enough rope, foi um belo passo para que a banda fizesse London calling. Cientes de que precisavam estourar nos EUA, os quatro aceitaram Sandy Pearlman, produtor de bandas como o Blue Oyster Cult, como chefe das gravações. Sandy, só para citar, foi uma das cabeças por trás do hit Don’t fear the reaper, do BOC (a “do cowbell”). Muitos fãs das antigas detestaram a escolha e acharam que o Clash estava se vendendo muito rápido (mas Give’ em é um puta disco, ouve aí).
3) Uma das obsessões que rolavam na cabeça de Joe Strummer e Mick Jones na época de London calling era nada menos que o rádio. No comecinho do Clash, Strummer chegou a falar em entrevistas que queria ter sua própria emissora. E claro que a banda sonhava que o disco novo conseguisse um bom airplay.
4) Aliás o livro Route 19 Revisited: The Clash and London calling, de Marcus Grey, aponta que London calling, a música, termina até com a adaptação de uma frase conhecida dos boletins noticiários de rádio (o “at the top of the hour” virou ‘at the top of the dial”).
5) Já o nome da música veio dos anúncios da BBC World Service, que (lembra o livro The Clash: All the albums, all the songs, de Martin Popoff) ficaram bastante famosos nas regiões ocupadas durante a Segunda Guerra Mundial.
6) A letra de London calling, por sinal, toca em vários assuntos tensos: crise do petróleo, a chegada de Margaret Thatcher no cargo de primeira-ministra do Reino Unido, o acidente no reator nuclear de Three Mile Island (na Pensilvânia, EUA) e até mesmo o uso de heroína (no verso “I saw you nodding out”). Até mesmo uma crise de hepatite que Joe Strummer teve em fevereiro de 1978 entrou nos versos da canção (quando ele fala num sujeito “com olhos amarelados”).
7) Para divulgar London calling e a turnê 16 tons – que divulgava o disco – o Clash decidiu criar uma mistura de fanzine e programa de tour. O The Armagideon Times teve duas edições, trazia textos escritos pela dupla de compositores da banda e foi feito em parceria com o selo Stiff, que cuidou do design.
8) O volume 1 do Armagideon Times não deixou o Clash muito satisfeito: a Blackhill, que empresariava a banda, ocupou espaço do zine com anúncios e a Stiff, aproveitando o ensejo, fez o mesmo. O grupo acompanhou mais de perto a produção do segundo volume – que por sinal custa uma grana no eBay.

9) Olha aí o pôster que a Epic usava para divulgar London calling nos Estados Unidos. Parece uma obra de Andy Warhol, mas são várias reproduções da imagem clássica de Paul Simonon estraçalhando o baixo, em negativo.

10) O produtor escolhido pela banda, Guy Stevens, não agradou nem um pouco à CBS, gravadora da banda. Guy tinha produzido os primeiros (e fracassados) disco do Mott The Hoople, banda pela qual Mick Jones era fanático. Mas, além de ter tido vários problemas com drogas, era um produtor pouco convencional, que costumava jogar cadeiras no chão pelo estúdio, para criar uma, er, atmosfera rock´n roll.
AUG 1979: The Clash enter Wessex Studios with producer Guy Stevens to start the recording sessions for their third album. https://t.co/SzkDNxXuMs
— The Clash (@TheClash) August 1, 2019
11) O contato da banda com Guy Stevens já vinha de alguns anos antes: em 1976, Guy havia produzido demos do Clash no estúdio da Polydor.
12) Outra loucura que Stevens, que era alcoólatra em altíssimo grau, fez: jogar vinho nas teclas do piano do estúdio (o Wessex, em, Londres) e cerveja num aparelho de TV que ficava jogado por lá. Dois anos depois da gravação de London calling, por sinal, Stevens morreria de overdose (ironicamente por causa da droga que estava tomando para se livrar do vício do álcool).
13) O lado malucão de Guy Stevens em estúdio chocou bastante os integrantes do Clash, mas de modo geral, a banda curtia o produtor. Paul Simonon lembra que certa vez, num papo com Stevens, ele soltou a seguinte frase: “Só há dois Phil Spectors no mundo, e eu sou um deles”, disse, fazendo referência a outro produtor conhecido por seus métodos pouco convencionais (e bastante tóxicos, diga-se de passagem).
14) Train in vain, a última faixa, entrou por último no disco (dois meses depois que tudo já havia sido gravado) porque tinha sido uma canção especial que a banda fizera para um flexidisc que seria encartado no New Musical Express. O single não deu certo e como London calling ainda não havia sido mandado para a fábrica, a solução foi colocá-la como última faixa do disco. Só que – enfim – as capas já estavam prontas. Por isso é que a música não aparecia listada na capa da edição original.
15) Train in vain, por sinal, tem uma letra romântica, saiu imediatamente em single e subiu direto para o Hot 100 nos Estados Unidos – e tocou (enfim) bastante em rádio. Mas não é verdade (como se diz por aí) que a banda tenha deixado de colocar seu nome na contracapa porque ficou com vergonha de lançar uma faixa tão pop. Esse boato rolou por muitos anos.
16) Num papo com o The Guardian, Penny Smith, fotógrafa que fez a imagem icônica de London calling, revelou que o Clash é uma exceção na vida dela: ela detesta falar sobre seu trabalho, raramente se anima a expor suas imagens, mas acabou curtindo o som da banda, e ficou amiga dos integrantes. Quando Joe Strummer morreu, em 2002, ela foi uma das primeiras pessoas a serem avisadas.
17) Mais: Penny, apesar de ter trabalhado por um bom tempo no NME, nunca foi fã de rock e nunca tinha levado o assunto a sério até conhecer o Clash. “Nem sabia que bandas tinham formações fixas, como os times de futebol”, contou.
18) Por sinal, os quatro integrantes da banda contaram histórias do Clash no documentário em quatro partes Audio ammunition, lançado pelo Google Play. Olha aí a parte dedicada a London calling.
19) O refrão de Lost in the supermarket, uma das melhores músicas de London calling, começou a ser escrito por Joe Strummer nas costas de um pacote de cordas para guitarra, da marca Ernie Ball.
20) Outra sobre Penny Smith: até 19 de abril de 2020, o Museu de Londres apresenta The Clash: London Calling, uma exposição que revela bastidores da criação do disco. Um dos itens é o que sobrou do tal baixo Fender Precision que Paul Simonon espatifou e que virou a foto da capa do álbum. Só que um item bastante curioso ficou de fora da expo por vontade de Penny: um relógio de pulso com tampo de vidro quebrado, que o baixista deu a ela porque sabia que a pulseira do relógio da fotógrafa estava quebrada.
Veja também no POP FANTASMA:
– Fizeram uma versão de (Don’t fear) The reaper só com cowbell
– Aquela vez em que os baixistas dos Stranglers e do Clash saíram na porrada
– Aquela vez em que Bob Dylan gravou com músicos do Sex Pistols e do Clash
– The Clash no Roxy: documentário da BBC no YouTube
– Diário de Ian Hunter, do Mott The Hoople, volta às livrarias
4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
Cultura Pop
Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada
A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.
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O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.
“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).
Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.
Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.
O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
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