Som
Democracia chinesa: “Sweet child o’mine” tocado num guzheng
Seria legal ver essa cena num restaurante chinês. Todo mundo sentado, almoçando, quando de repente entra uma menina carregando um guzheng (espécie de cítara chinesa, com 26 cordas) e começa a tocar Sweet child o’mine, do Guns N’Roses. A musicista canadense Michelle Kwan já tem meio caminho andado para promover essa cena: já até arrumou um guzheng e fez uma versão da música.
Lançamentos
Nova Materia: batidão electro-clash no single “Fictions of myself”
De origem franco-chilena, o Nova Materia faz uma mistura de música industrial, eletrônica, pós-punk e electro-clash – e chega a lembrar os batidões que o funk carioca volta e meia usa como base, em sua primeira faixa lançada nas plaformas, Fictions of myself. Dá para perceber claramente referências de coisas legais como Miss Kittin e Front 242 – eles inclusive citam ambos como influência.
O Nova Materia é formado por Caroline Chaspoul e Eduardo Henriquez, ambos ex-integrantes do Panico, um grupo chileno que ganhou reconhecimento nos anos 2000 unindo punk e sons latinos. Além de instrumentos normais e sons eletrônicos, o projeto lança mão de sons tirados de metais, pedras (!) e objetos encontrados por aí, e sampleados, criando um efeito de percussão industrial. Os dois definem inclusive seus shows como cerimônias sonoras.
Fictions chega nas plataformas com um clipe feito em Nova York, que usou a inteligência artificial para transformar as imagens das pessoas que passavam na rua em uma espécie de fundo fantasmagórico. Um efeito que “alinha-se perfeitamente com o tema da música de identidades fluidas e em constante mudança”, diz a dupla em seu texto de lançamento. “A música tem uma mensagem de auto-reinvenção — uma voz que abraça o direito de incorporar múltiplas identidades. É uma celebração da complexidade e da natureza fluida da identidade”, continuam.
- E esse foi um som que chegou até o Pop Fantasma pelo nosso perfil no Groover – mande o seu som por lá!
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Lançamentos
Estragonoff: EP novo com lambada em ritmo de… punk rock?
A banda gaúcha Estragonoff lançou exclusivamente em seu canal de YouTube um EP chamado Sabor pop punk vol. 1, que traz seis sucessos da lambada dos anos 1980/1990 em clima de punk rock. O grupo escolheu regravar duas músicas que estão de volta à telinha: Me chama que eu vou (Sidney Magal) e Tieta (Luiz Caldas), respectivamente das novelas Rainha da sucata e Tieta. Também fizeram um medley com Haja amor (Luiz Caldas), Adocica (Beto Barbosa) e Baby doll de nylon (Robertinho de Recife).
O disco faz parte das comemorações de 20 anos da Estragonoff, que prevê o lançamento de um EP com músicas inéditas no ano que vem. Atualmente formada por Giordano Larangeira (voz), Murillo Santos (guitarra), Pedro Alexandre (baixo) e Rafael Garske (bateria), a banda lançou o disco pelo selo Grudda Records, com produção de Davi Pacote. O disco, aliás, é acompanhado de três vídeos dirigidos por Alexandre Birck.
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Segundo Rafael, a ideia é que os vídeos mostrem a irreverência e a energia do Estragonoff. “Somamos a isso a experiência do karaokê, afinal são músicas que todo brasileiro já teve contato e sabe a letra. Poder trazer uma atmosfera de nostalgia, mas contendo uma novidade, um novo olhar sobre essas músicas”, diz. “Todas as músicas vieram da vivência dos anos 80/90. Seja na TV ou cinema. Claro, como somos uma banda de hardcore e pop punk, colocamos as letras nas melodias que gostamos de tocar. Criamos o nosso lambacore”, continua.
A receita musical do grupo foi influenciada por uma mescla de emocore, punk pop, hardcore e clássicos do punk (inclusive bandas nacionais, como CPM 22 e Dead Fish). A era dos punk covers, as versões de músicas conhecidas em tempo punk que apareciam em programas como Napster e KazAa (lembra?) também marcou o grupo. “Quantas vezes baixamos MP3 com o nome ‘punk covers’ sem saber o nome real da banda? Nosso repertório é composto por músicas autorais e versões punk/hardcore de músicas que consideramos interessantes na nossa memória afetiva e musical”, diz o baterista.
Curta Sabor pop punk vol.1 aí embaixo (Foto da banda: Jones Peroni/Divulgação)
Crítica
Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”
- How did this happen and what does it now mean é o vigésimo-primeiro disco de estúdio da cantora e compositora britânica Joan Armatrading. A única coisa que ela não fez no disco foi a engenharia de gravação: ela compôs, tocou, cantou, produziu e programou tudo.
- Ao The Guardian, ela explicou o título do disco (“como isso foi acontecer e o que significa agora?”): “Acho que nos tornamos polarizados porque quando você está cara a cara com alguém, coisas como linguagem corporal e contato visual nos impedem de fazer certas coisas. Isso não acontece nas mídias sociais, então se espalha para o mundo real. Não vamos nos livrar de todas as guerras e desentendimentos, mas o título do álbum está perguntando como diabos podemos sair dessa situação em que estamos e como voltamos para um lugar melhor”.
Descobrir, sem estar esperando, que Joan Armatrading lançou um novo álbum, é uma surpresa enorme. Ver que o disco é um projeto quase inteiramente solo (ela compôs, produziu, tocou e programou tudo sozinha) não chega a ser uma surpresa para quem conhece um pouco da história dela e pelo menos alguns hits e discos clássicos.
No caso de How did this happen and what does it now mean, o estilo conhecido de pop-rock confessional dela, já a partir do título, vem com um subtexto de sobrevivência e superação. Ainda que algumas histórias contadas nas letras apontem para ressacas amorosas e falsidades do amor em geral, como no pop-rock Someone else e no r&b I gave you my keys (“eu te dei minhas chaves para tudo que eu tinha/você era minha divindade, você governou meu mundo/governou minha terra, governou meu céu/como você pôde me machucar tanto?”).
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Já o blues-rock-soul percussivo I’m not moving põe violência urbana no disco, com Joan recordando as cenas que viu durante um assalto, e levando a história para uma situação em que a minoria tem as maiores cartas na mão (“posso ser pequeno/mas sou poderoso/você pode ser muito mais velho/mas ainda assim eu governo você”). O pop com argamassa soul e musicalidade herdada do folk, especialidade dela, volta em faixas como 25 kisses, Here’s what I know e a faixa-título, que conta outra história de amor que acaba com problemas e dúvidas (“onde está aquela versão de nós mesmos/que nós amávamos, que era tão preciosa/em nosso mundo, em nossos corações?”).
Para quem tem saudades do lado baladão de AM de Joan, registre-se a presença de Irresistible e Say it tomorrow e do gospel Redemption love. No disco novo, ela fez questão de que todos os seus lados musicais convivessem sem problemas, cabendo até dois instrumentais, Now what e Back to forth, nos quais ela se mostra uma excelente guitarrista de blues e rock. Aos 74 anos e sabendo fazer de tudo num estúdio, Joan é o poder, mesmo que falte um certo empoderamento nas histórias amorosas das letras.
Nota: 7,5
Gravadora: BMG
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