Cultura Pop
Dez coisas sobre Squeeze, o disco mal-amado do Velvet Underground

A primeira coisa a se dizer sobre Squeeze, último lançamento de estúdio do Velvet Underground, que completou 45 anos este ano (saiu em fevereiro de 1973) é: sim, dá pra ouvir. Vale pelo menos como uma curiosidade simpática dos anos 1970.

O álbum, gravado sem nenhum integrante original do grupo e tendo na formação apenas o guitarrista e cantor Doug Yule – que entrara em 1968 para substituir o talentoso John Cale – tem atrativos. Se aparecer algum crítico ou até mesmo algum fã da banda elogiando DEMAIS o disco, desconfie. Não é pra tanto: Doug não era (pelo menos naquela época) um compositor tão talentoso quanto Lou Reed e John Cale, e o álbum funciona mais como um lançamento solo com o nome do Velvet do que qualquer outra coisa. Se quiser tirar suas próprias conclusões, ele segue aí.
Segue aí uma listinha de dez coisas sobre Squeeze, ou importantes para se compreender de onde saiu o disco.
BOAS VIBRAÇÕES. Yule chegou numa época em que o Velvet estava se reformando e tentando fazer sucesso. Sem o embate entre Lou Reed e John Cale, o grupo tinha certeza de que não sobreviveria à fama de banda “vanguardista”, desconhecida do público e um tanto antipatizada por formadores de opinião. The Velvet Underground, o terceiro disco (1969), investia num tom mais formal de rock, com poucos experimentalismos e – Doug jurou em entrevistas – clima leve no estúdio. Loaded, o quarto álbum (1970), continuava no mesmo clima e ainda funcionava bem mais. Entre um e outro disco, o Velvet deixou um material gravado na sua antiga gravadora, a MGM, do qual já falamos aqui.
GLASS MENAGERIE. Era o nome da banda na qual Doug tocava antes de entrar para o Velvet, em Boston. Na época, disse Yule numa entrevista, o Velvet estava numa contenção de despesas tão grande, que ao ir a Boston, nem ficava em hotéis. Filava os colchões de um apartamento que pertencia ao empresário do Glass Menagerie, e onde Doug e seus amigos também ficavam. “O Velvet nunca fez muito dinheiro quando toquei com eles”, recordou Doug. Numa dessas, o baixista do Velvet, Sterling Morrison, ouviu Yule tocando e comunicou ao empresário do Velvet, Steve Sesnick, que tinha gostado do som. Steve sugeriu que ele entrasse para o Velvet, para preencher a vaga deixada por John Cale. Doug sequer era fã da banda e até ficou surpreso quando ligaram.
TCHAU, LOU. Após o lançamento de Loaded, Lou Reed deixou o grupo, reclamando de cortes em faixas do álbum. O líder da banda foi sem dar tchau: simplesmente não compareceu a um show. O restante da banda foi avisado da saída do principal compositor pelo empresário Steve Sesnick. Yule nunca entendeu porque é que Reed sequer impediu que a banda continuasse sem ele. Logo depois foi Sterling que saiu.
O CHEFÃO. Sesnick é tido como o cara que forçou o Velvet a fazer um som mais acessível, que ajudou a tirar John Cale da banda e que influenciou os outros três a aceitarem Yule. Geralmente é tido como a sementinha da discórdia no grupo, e como não costuma dar entrevistas, ficam valendo as versões que enfocam no máximo Sesnick como um sujeito que lutou muito para que o Velvet desse grana, mas que enfatizam seu lado sombrio. Doug, na real, culpa o empresário até pela saída de Lou Reed. “Ele e Lou tinham um relacionamento onde Lou dependia do apoio moral dele. Reed confiava em Sesnick e basicamente ele disse: ‘Foda-se'”, contou.
O CHEFÃO 2. Da mesma forma, sem Sesnick não haveria Squeeze. Em 1971, o grupo, sem Reed e Sterling, tinha na formação Doug (voz e guitarra), Willie Alexander (teclados,vocal), Walter Powers (baixo) e Maureen Tucker (bateria e a única que sobrara dos áureos tempos). Yule diz ter sido avisado pelo empresário de que gravaria um disco com suas músicas, mas que seria um disco do Velvet. Os outros integrantes também teriam sido sacados da banda pelo empresário, antes de Squeeze.
DEEP PURPLE. Ian Paice, baterista do Purple, fez um job nesse disco do Velvet tocando em todas as faixas. Doug cantou e tocou os outros instrumentos. Em 1995, quando concedeu uma de suas raras entrevistas, Yule disse detestar a mixagem do disco, e que deu várias sugestões ao empresário, que acredita nem terem sido ouvidas. Também confessou não ter o disco em casa.
INFLUENCIOU ALGUÉM? Sim. A banda indie americana Luna gravou ano passado uma releitura (boa) de Friends, uma das melhores músicas do álbum.
INFLUENCIOU MAIS ALGUÉM? A banda new wave Squeeze admitiu em entrevistas que seu nome foi tirado do disco, apesar de considerá-lo “uma esquisitice do Velvet”.
https://www.youtube.com/watch?v=wQ4GlU-gqzk
KISMET. É o selo de relançamentos que pôs na rua uma edição em CD de Squeeze, pirataça, em 2012. O álbum também ganhou uma edição em vinil 180 gramas.
DEFESA. A contribuição de Doug para o Velvet Underground tem sido posta em dúvida há décadas, muito embora a banda tenha tido até mais resposta comercial com ele na formação. O Pitchfork fez um texto bem interessante defendendo Yule e seu trabalho no grupo. Segue aí (em inglês). Atualmente, Doug vive em Seattle e trabalha com restauração e criação de violinos e violas clássicas.
Via Noisey, Furious e Rolling Stone.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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