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Cultura Pop

Sete mentirosos – ou supostos mentirosos – do pop

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Amanhã é dia primeiro de abril e a música pop é repleta de histórias mentirosas, fantasiosas e estranhas – e de mentirosos, ou de gente que acusa os outros de mentir. Confira sete exemplos aí embaixo.

RICK JAMES. Morto em 2004 após anos de abuso de drogas, o cara do hit funkeiro “Superfreak” (se você não conhece, saiba que o batidão carioca surgiu em parte daí) andava pelo Canadá nos anos 1960 e foi vocalista de uma banda de rock e r&b de lá, os Mynah Birds, que chegou a ter Neil Young como guitarrista. Esse grupo chegou a assinar contrato de sete anos com a Motown – só que James era desertor da Marinha e ninguém da gravadora sabia. Foi preso e invalidou o contrato da Motown com a banda, que deixou lá apenas um single gravado, “It’s my time”/”Go on and cry”. O disco foi engavetado e só reapareceu em 2006 na compilação “The complete Motown singles, Vol. 6: 1966”. Olha “It’s my time” aí.

BOB DYLAN: Lembra da menina que apareceu de braço dado com Bob Dylan na capa do seu segundo disco, “The freewheelin’ Bob Dylan”? Era Suze Rotolo, que começou a namorar o cantor em 1961, quando ele literalmente não era ninguém. Na época, o futuro astro fazia shows de graça em bibocas de Nova York, para meia dúzia de não-pagantes. “Ele era carismático. Era apenas mais um dos imitadores de Woody Guthrie, mas tinha algo que era só dele”, lembrou Suze no clássico livro “Rock wives”, que virou best seller nos anos 1980 ao passar a limpo a difícil vida de esposa de roqueiro. Suze viu a transformação de Dylan em popstar, a partir da contratação pela Columbia. E recorda que nas primeiras entrevistas, Dylan começou a inventar um monte de histórias fantasiosas. Dizia que era órfão, nascido no Novo México, e que já estava na estrada há anos, vivendo pelas ruas. Também começou a isolar antigos amigos. “Ele tinha medo de alguém chegar para ele e falar: ‘Eu sei quem você é de verdade'”, contou.

https://www.youtube.com/watch?v=3l4nVByCL44&list=PLFYTc9C8uBI2__lvfIGGvqF0YCV45oAhu

WANDO: Rei do samba-rock bem antes de virar astro da música brega, o mineiro Wando fazia um baita sucesso nos anos 1970 com músicas como “Senhorita, senhorita”, “Moça” e “Nega de Obaluaê”. Teve períodos de baixa e passou por várias trocas de gravadora entre os anos 1970 e 1980. Nessa época, estava na moda as gravadoras lançarem álbuns de regravações de sucessos nacionais e internacionais, feitos por grupos de proveta integrados por músicos conhecidos. O livro “Pavões misteriosos”, de André Barcinski, revela que num período de vacas magras, Wando topou regravar suas próprias músicas (sem usar seu nome, claro) para um disco de versões.

LADY GAGA: Será? Bom, a ex-assistente dela, Jennifer O’Neill, diz que a cantora de “Born this way” e “Poker face” é uma mitômana de carteirinha e “atua 24 horas por dia”. Acusa Gaga de contar várias histórias mentirosas para a imprensa, entre elas, a de que obrigava Jennifer a dormir na cama com ela, “porque não queria ficar sozinha”. Também disse num papo no Reddit que Gaga, entre 2009 e 2010 se alimentava apenas de água e vegetais. Chegou a rolar uma briga entre as duas na justiça, já resolvida.

PETER CRISS: O ex-baterista do Kiss lançou em 2013 a autobiografia “Makeup to breakup: My life on and out of Kiss”, em que alegadamente contava tudo sobre sua vida. Estaria tudo bem se sua ex-mulher Lydia Criss não resolvesse lançar seu próprio livro sobre como era viver com um rockstar, “Sealed with a Kiss”, e resolvesse contar sua versão sobre muitas histórias contadas pelo músico. Lydia deu entrevistas acusando o ex-marido de mentir ou omitir fatos. “Quando estávamos casados, havia um ponto em que eu estava realmente desconfortável, porque ele me colocava numa espécie de pedestal. E agora ele lança um livro em que basicamente diz que não se importava tanto assim comigo!”, reclamou a ex-mulher, dizendo que o músico escreveu motivado por sentimentos de vingança e acusando-o de ser “muito dramático, um exagero, um queixoso, um mentiroso”.

RAY DAVIES: O irmão Dave Davies acusou Ray (ambos, você sabe, são criadores da banda britânica Kinks) de distorcer fatos a seu favor. Quando surgiu o musical “Sunny afternoon”, sobre a história da banda, em 2014, reclamou que Ray sempre tinha contado uma versão fantasiosa a respeito da criação do riff de “You really got me”. Ray diz que perfurou uma caixa de som com uma agulha de tricô para conseguir o som distorcido do riff. Dave diz que na verdade cortou o cone de um alto-falante com uma lâmina de barbear e o riff foi feito, e que foi criado por ele mesmo, Dave. “Nunca revindiquei direitos autorais sobre a composição da música, mas ela não teria sido feita sem meu som de guitarra”, disse.

JIMMY PAGE: Em agosto de 1967, um cantor chamado Jake Holmes deu a sorte (ou o azar) de abrir o show dos Yardbirds no Village Theater, em Nova York. Apresentou sua balada “Dazed and confused”, e na plateia estavam justamente o baterista e o guitarrista do grupo, Jim McCarty e Jimmy Page. Os dois curtiram tanto o show e a canção que saíram no dia seguinte para comprar o LP de estreia de Holmes, “The above ground sound of Jake Holmes”. A música entrou para o repertório de palco dos Yardbirds e, quando o Led Zeppelin (futura banda de Jimmy Page) gravou seu primeiro disco, em outubro de 1968, Page lembrou da faixa e decidiu gravá-la. Só que tirou o nome de Holmes e surrupiou a música. Holmes diz que escreveu várias cartas para Page pedindo a ele que pelo menos colocasse seu nome nos créditos, mas foi ignorado. “Agora, é como se seu filho de 2 anos tivesse sido sequestrado e criado por outra mulher. Depois de todos esses anos, o filho é dela”, disse a Mick Wall no livro “Led Zeppelin – Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra”.

https://www.youtube.com/watch?v=ehwSEVbBZl4

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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