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Cultura Pop

Saudosas Pequenas: as escuderias mais humildes da F1 em livro

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Todo fã de fórmula 1 tem uma equipe pela qual nutre um carinho especial. Tem a Mercedes do Lewis Hamilton, a Ferrari com toda sua tradição, a McLaren pelos títulos que deu ao Ayrton Senna, e por aí vai. Porém provavelmente pouca gente se lembra de escuderias como a Arrows, que disputou mais de 400 GPs e nunca conseguiu vencer uma corrida sequer. Ou então da Minardi, da Osella e de tantas outras equipes que também ajudaram a compor o espetáculo e tiveram lá os seus momentos de brilho. Mas que, pelos mais diversos motivos, não conseguiram se estabelecer na categoria máxima do automobilismo.

Disposto a não deixar que tantas histórias interessantes corressem o risco de cair no esquecimento, Rodrigo Mattar, jornalista do Fox Sports e verdadeiro apaixonado por velocidade, condensou as biografias de 41 delas no livro Saudosas pequenas, recentemente lançado pela Editora Gulliver. Com prefácio escrito pela lenda Reginaldo Leme, o livro nos brinda com fatos curiosos e às vezes engraçados envolvendo todas essas escuderias, além de ser um verdadeiro atestado de amor à fórmula 1.

Nós do POP FANTASMA procuramos o simpático Rodrigo Mattar, que contou entre coisas coisas, como surgiu a ideia de escrever esse livro, bem como seus “causos” favoritos! Confiram a entrevista abaixo e divirtam-se.

(na foto lá em cima, Perry McCarthy parecendo meio preocupado com seu carrinho da Andrea Moda)

POP FANTASMA: Como surgiu a ideia de fazer esse livro?
RODRIGO MATTAR: A ideia veio por volta de 2012 como forma de ocupar meu tempo, pois eu estava numa fase difícil, desempregado e com problemas pessoais. Então para fazer alguma coisa que pudesse chamar a atenção e tivesse relevância dentro do meu métier, que é a fórmula 1, resolvi fazer essa série Saudosas pequenas no meu blog A Mil Por Hora.

Escrevi a história de 25 equipes. E já naquela época todo mundo me abordava e dizia que isso tinha que virar um livro. Acabou não virando na época porque em maio de 2013 fui contratado pelo canal Fox Sports. Porém no ano passado começou essa pandemia e durante alguns meses, a Fórmula 1 parou, não tinha corrida. Naquele desespero de causa, eu me sentindo mal por estar isolado em casa sozinho, conversei com uma psicóloga e ela recomendou que eu fizesse algo que fosse relevante pra mim e me fizesse bem e isso me deu um estalo. Peguei o texto que escrevi no blog sobre a escuderia AGS, passei tudo para o Word, comecei a acrescentar também equipes que não havia falado na série como a Kojima, a LEC, Martini, Eiffeland, e outras. E então o projeto começou a ganhar forma.

Algumas escuderias nanicas como a Andrea Moda ou a Life eram escolhas óbvias, mas outras como a recente Hispania, que também teve uma carreira apagada e tumultuada na F-1, não foram citadas no livro. Quais foram os critérios que você usou pra definir o que é uma equipe pequena e quais deveriam entrar no livro? Meu critério foi antes de mais nada selecionar quais equipes foram mais relevantes e tiveram as melhores histórias. Daí o fato de a Marussia, que foi da mesma época, ter sido escolhida, mas ela e a Caterham não. A Hispania foi uma vergonha! É verdade que várias outras equipes dos anos 1990 também foram, mas pelo menos elas tinham histórias muito mais legais para contar.

A Hispania foi fruto de uma ideia infeliz do Max Mosley de abrir a fórmula 1 para outras equipes, porém infelizmente essa seleção foi feita sem critério nenhum, pois havia outras equipes muito mais estruturadas pleiteando uma vaga naquele momento, como a Prodrive e a Epsilon Euskadi. Ainda assim, Max Mosley preferiu trazer o John Booth (piloto dos anos 1980 e que montou equipes de relativo sucesso em categorias menores do automobilismo) associado ao Richard Branson (empresário dono da Virgin Records) com a Manor, que mais tarde viria a se tornar a Marussia, bem como a Campos (que posteriormente mudou de nome para Hispania) e a Lotus Malaysia (futura Caterham).

Tanto a Hispania quanto a Caterham não fizeram nada digno de nota. Já a Marussia não tinha como ficar de fora,  tanto pelas façanhas conseguidas pelo Jules Bianchi quanto pelo Pascal Wehrlein.

A Minardi parece ser um sinônimo de equipe ruim na F1. Até hoje, mesmo após ter encerrado as atividades há quase 20 anos, ela ainda tem um séquito de admiradores apaixonados. A capa do seu livro inclusive é preta e amarela, as cores que os carros da Minardi ostentaram durante um bom tempo. Na sua opinião, de onde surgiu essa paixão dos fãs de automobilismo por ela? Por que será que equipes muito piores não são lembradas de forma tão carinhosa? No imaginário do público brasileiro que acompanha automobilismo, acho que ficou gravado na memória o que o Christian Fittipaldi fez na Minardi em 1992 e 1993. Isso fez a Minardi ganhar a simpatia do brasileiro, mas para a fórmula 1 em geral, acho que transparecia o amor com o qual o fundador da escuderia Giancarlo Minardi  fazia as coisas.

Sem contar que, dessas equipes da chamada “turma do fundão”, a Minardi foi a que conseguiu as maiores façanhas: Largou na primeira fila (NOTA: Quem conseguiu tal proeza foi o piloto italiano Pierluigi Martini, no GP dos EUA de 1990) e conseguiu liderar uma corrida durante algumas voltas (também com Pierluigi Martini, no GP de Portugal de 1989), coisas que eu não lembro de nenhuma outra equipe pequena ter conseguido. Esses momentos da Minardi são muito bonitos e genuínos. O choro do Luca Badoer em Nurburgring em 1999 (NOTA: Ele estava em quarto lugar quando a caixa de câmbio quebrou e ele teve que abandonar a corrida. Se tivesse completado, teria sido a primeira vez na carreira que ele teria pontuado, por isso Badoer foi às lágrimas) também foi muito marcante, acho que todo fã da fórmula 1 naquele momento estava torcendo para que ele pontuasse.

No fundo todos torciam pra ela pontuar, mas não dava, os carros eram muito fracos. E olha que eles revelaram uma série de bons pilotos: Jarno Trulli, Mark Webber e até o bicampeão Fernando Alonso! A equipe era tão simpática e a paixão do Giancarlo Minardi pelo esporte era tão bacana… enfim, era uma coisa que mexia muito comigo. Afinal, tudo na vida é movido a paixão! Nelson Rodrigues já dizia, “é preciso alma até para chupar um Chicabon”. Vejo em todas essas coisas uma espécie de catalisador para a Minardi ser a mais querida entre as equipes pequenas.

Sem contar também esses pequenos detalhes que fizeram a diferença para nós brasileiros, como a passagem do Christian Fittipaldi e o fato de a própria escuderia também tratar o público do Brasil e os jornalistas daqui sempre com muito carinho. Lembro que quando o Wagner Gonzalez  foi cobrir o seu 300º GP, a Minardi fez uma festa pra homenageá-lo! Sem falar que a comida ali era simplesmente maravilhosa! Na temporada de 1993, no auge das evoluções tecnológicas, a Minardi durante uma parte do campeonato chegou a ter mais pontos que a Ferrari!

Enfim, havia dezenas de itens que faziam da Minardi uma escuderia tão querida! E essa simpatia aumenta também quando lembramos que o Sebastian Vettel ganhou corrida com a Toro Rosso, que foi a continuação da Minardi (a empresa de energéticos Red Bull comprou a escuderia em 2005) e o Pierre Gasly também, já na Alpha Tauri. Ela teve muito bons momentos e eles têm que ser celebrados!

Eu percebi nas redes sociais que muitas pessoas reclamaram do fato de a equipe Fittipaldi não constar no livro. Eu concordo com o seu ponto de vista de que a história da Copersucar merecia um capítulo a parte pelo pioneirismo, e por isso mesmo gostaria de saber: há algum plano futuro de escrever outro livro para tratar exclusivamente do assunto? A ideia é que o meu próximo trabalho seja sobre a Copersucar, quero muito de alguma forma fazer justiça à sua história. Já até existe um livro escrito por Ricardo Sterchele (Copersucar Fittipaldi – A história completa do F1 brasileiro) que conta sobre a sua história, mas ele tem algumas falhas, além de uns erros de português. Normal, com certeza o Saudosas pequenas vai ter uns errinhos também. Em livros com mais de 400 páginas isso é quase inevitável, mas independente disso, a história da Copersucar merece ser contada e, sobretudo, valorizada.

O que o Emerson e principalmente o Wilsinho fizeram, de acreditar na viabilidade de fazer um carro de fórmula 1 no Brasil, ninguém mais conseguiria fazer. E além de tudo, ainda tiveram que encarar o descrédito da imprensa que tratava a aventura deles exatamente como se fosse uma aventura mesmo e que não poderia ser levada a sério. Pelo fato de a imprensa brasileira na época não ter o mínimo conhecimento de automobilismo como tem hoje, o olhar do público daqui nos anos 1970 e 80 era diferente. Hoje os amantes da fórmula 1 querem ver isso contado de uma forma melhor, mais digna e mais bonita.

Claro, isso não significa que temos que mascarar as escolhas erradas que cometeram durante sua jornada, como trazer um cara como o David Baldwin para ser projetista do carro, que fez uma cópia do Ensign, que na época já não era grande coisa. E muito menos esquecer do Ralph Bellamy, que projetou o F-6 (carro da temporada de 1979 que foi um verdadeiro fiasco), e que muitos consideram que marcou o início do fim da Fittipaldi.

O Emerson e o Wilsinho pagaram muito caro por essas escolhas. Tiveram méritos, claro, como o modelo F5A que fez um ótimo campeonato em 1978 e o modelo F8 de 1980 projetado por Harvey Postlethwaite, pena que faltou dinheiro para desenvolver este último. Prova disso é que em 1982 Postlethwaite foi para a Ferrari, usou os mesmos conceitos no carro, que naquela temporada foi apelidada de “Red Fittipaldi” devido a semelhança entre eles e a Ferrari acabou campeã de construtores, mesmo com todas as tragédias que aconteceram com seus pilotos (NOTA: Gilles Villeneuve faleceu no treino de classificação para o GP da Bélgica e Didier Pironi colidiu com o italiano Riccardo Paleti no GP do Canadá, acidente esse que vitimou Paleti e deixou Pironi tão traumatizado que ele decidiu abandonar a fórmula 1). Depois que a Copersucar deixou o projeto e eles passaram a se chamar Fittipaldi, não havia mais dinheiro, e foi aí que naufragaram de vez.

Mudando um pouco o tema do livro para falar de você. Sei que você acompanhou por alguns anos a Fórmula 1 nos circuitos e por isso gostaria de saber: qual foi a história mais inusitada ou surreal que você presenciou em todo esse tempo? Na verdade, não fui em tantas corridas assim. A trabalho eu só fui ao GP do Brasil duas vezes, em 2003 e 2008, mas foram ambas corridas históricas. Em 2003 foi o ano daquela vitória do Giancarlo Fisichella pilotando uma Jordan naquela corrida onde caiu uma chuva torrencial e 2008 foi quando o Felipe Massa perdeu o campeonato pro Lewis Hamilton por alguns segundos.

Porém, um episódio que ocorreu naquele fim de semana me chama a atenção até hoje. Foi nesse campeonato que aconteceu toda aquela história em Singapura envolvendo o Fernando Alonso e o Nelsinho Piquet, e que só viria à tona em 2009 (NOTA: Nelsinho Piquet bateu de propósito no muro para provocar a entrada do Safety Car, o que favoreceu seu companheiro de equipe Fernando Alonso, que veio a vencer o Grande Prêmio) quando Nelsinho foi demitido da Renault pelo Flavio “Dom Corleone” Briatore. Eu me encontrei no paddock com alguns colegas de profissão e ficamos um tempo por lá observando o movimento até darmos de cara com o Nelsinho Piquet, seu pai Nelson, Flavio Briatore e Pat Symonds, todos os quatro juntos e de cara amarrada.

Nesse momento, um dos meus amigos, Luiz Fernando Ramos, que fazia reportagens para a Rádio Bandeirantes, me saiu com essa: “Será que isso não tem a ver com Singapura?” e nós ficamos intrigados, até porque antes disso o Nelsinho fez um ótimo GP do Japão, terminando na quarta colocação. Logo depois desse fim de semana soubemos que o Nelsão pai chegou até Charlie Whiting  (diretor de F1 da FIA) e disse que iria abrir o jogo e contar tudo sobre esse episódio. Whiting, que o conhecia desde os tempos da Brabham, aconselhou Nelsão a não fazer isso, ao menos não naquele momento, e que o certo deveria esperar a FIA abrir uma investigação sobre o assunto.

No fim, Nelsinho teve seu contrato prorrogado para 2009. Eu inclusive fui o primeiro a dar essa notícia no SporTV, mas ele acabou sendo mandado embora durante a temporada e foi então que o escândalo tornou-se público.

Falando um pouco sobre o Roberto Pupo Moreno, piloto brasileiro que é citado diversas vezes no livro: como foi seu contato com ele? Pergunto isso porque já ouvi umas histórias de que ele é pavio curto e fica bravo por qualquer coisa… E qual você acha que foi o auge dele na Fórmula 1? O Moreno não é assim tão temperamental quanto as pessoas pensam… Muitas histórias do livro a respeito dele eu soube através de terceiros e outras eu soube graças às lives que participei com ele no YouTube no Cadeira Cativa. As histórias do tempo da (equipe) Coloni que estão no livro foi ele quem contou, aquela história da Eurobrun de quando ele expulsou o intermediário do seu carro também foi ele quem contou, os “elogios” ao (piloto americano) Eddie Cheever… Tudo isso foi aproveitado da live ou contado pessoalmente por ele.

E se for para pinçar um grande momento dele na F-1 afora aquela heroica classificação da Andrea Moda para o GP de Mônaco em 1992 e o segundo lugar que ele conseguiu no GP do Japão de 1990, indubitavelmente temos que celebrar também o que ele fez com a fraquíssima Coloni no GP de Portugal em 1989. Deixemos de lado o resultado da corrida: ele conseguiu ficar em 12º no primeiro treino e em 15º no segundo, o que foi um feito impressionante! Só não melhorou o tempo porque ele e o Eddie Cheever se enroscaram, mas ter conseguido o 12º lugar por si só foi coisa de gênio, pra ser aplaudido de pé!

Outro momento excepcional que precisa ser mencionado foi ele ter conseguido pontuar com a AGS (chegou em sexto no GP da Austrália de 1987). OK, ele foi ajudado pelo fato de o Ayrton Senna ter sido desclassificado no fim da corrida, mas convenhamos, não é qualquer um que chega em sétimo lugar com um carro que tinha um chassi de 1983 e o fundo de madeira compensada! Não era um assoalho de fibra de carbono, pra você ver a precariedade daquela cadeira elétrica! Aquele carro era um verdadeiro Frankenstein, muito ruim! E quando Moreno sentou naquele veículo para fazer os primeiros testes no circuito de Paul Ricard, ele baixou em 4 segundos o tempo que o Pascal Fabre (piloto principal da AGS na época) virava! A equipe espertamente pegou todo o acerto de suspensão que o Moreno fizera e o Pascal Fabre conseguiu classificar o carro pra corrida da Espanha com os acertos do Roberto, mas nas provas seguintes isso não foi possível, até porque o Pascal era fraco demais.

Foi então que o campeonato da F-3000 acabou, o “baixo” ficou disponível para as duas últimas provas de 1987 e ele fez o que fez. Cabe lembrar que o Moreno havia tido uma grande oportunidade na F-1 em 1982 (substituiu Nigel Mansell na Lotus no GP da Holanda), mas não conseguiu se classificar para a corrida. Por causa disso, a capacidade dele vivia sendo posta em dúvida, só que era um senhor piloto! Correu tudo que você possa imaginar e sempre muito bem: Indy, F-2, F-Nippon, ele era genial! Você disse antes para mim que o considerava o melhor piloto brasileiro que nunca venceu uma corrida. Não sei se concordo com isso, porém com certeza eu o incluo entre os melhores brasileiros de todos os tempos.

É cada vez mais complicado e caro montar uma equipe de Fórmula 1, por isso como saudosista e apaixonado por automobilismo que você é (e o livro deixa transparecer isso a todo momento), preciso perguntar: como você vê a fórmula 1 hoje em dia? Antes de mais nada, é preciso perceber que não há mais espaço para romantismo. A F-1 se tornou um negócio, e um negócio bem caro. Ela não está mais conseguindo atrair montadoras. Hoje temos somente 4 construtoras envolvidas com fornecimento de motores: a Ferrari, a Mercedes, a Honda e a Renault.

Muito pouco se comparado por exemplo com a Fórmula E, onde temos 7 ou 8 grandes montadoras mais envolvidas com a mobilidade urbana como a Volkswagen, a Citröen, a Jaguar e por aí vai. A categoria está proibitiva, não há mais a possibilidade de uma equipe pequena chegar e ter a liberdade que existia nos anos 1970 que era usar motor e pneu padrão (Ford Cosworth e Goodyear). Era muito mais simples. Agora você tem que criar o seu carro, fazer sua suspensão, desenvolver seu próprio sistema eletrônico, etc. É tudo muito caro e, principalmente, proibitivo.

Hoje você vê a dificuldade que a Williams passa, mesmo com toda a expertise que o Frank Williams (chefe da equipe até 2012) tinha. A Williams hoje bate cabeça no fundo do pelotão junto com a Haas e a Alfa Romeo e, até a mudança do regulamento em 2022, vai continuar assim. Eu não sei se esses novos donos da Williams vão colocar as pessoas certas nos lugares certos ali para desenvolver os carros e terão paciência de fazer a coisa acontecer. A Haas ainda não vingou e, dizem, está com os dias contados.

Então a F-1 é proibitiva para equipes entrarem, mas por outro lado não dá para negar que a temporada de 2020 foi ótima! Excluindo o Lewis Hamilton que é um caso a parte, pois é, na minha opinião, o maior da sua geração junto com o Fernando Alonso, tivemos 13 pilotos diferentes subindo ao pódio, o Pierre Gasly conseguindo vencer com uma Alpha Tauri, a Racing Point se estabelecendo como terceira força apesar do Lance Stroll, a Renault tendo uma temporada consistente com pódios tanto do Daniel Ricciardo quanto do Esteban Ocon, a Ferrari mal das pernas e por aí vai. Tudo isso ajudou para que tivéssemos um campeonato muito legal e eu torço para que o de 2021 seja tão bom quanto!

Na sua opinião, por que algumas montadoras como a Porsche, a Lamborghini e a Subaru não conseguiram ter o mesmo sucesso e longevidade que a Ferrari e Merecedes por exemplo? Das montadoras que você citou, eu só não concordo com a Porsche, porque ela foi campeã fornecendo motores para a McLaren nos anos 1980. Você está baseando seu ponto de vista na malfadada parceria entre a Porsche e a equipe Footwork em 1991, que foi um caso isolado. Sem contar que ela teve uma época positiva como equipe nos anos 1960.

Se a parceria com a Footwork não deu certo, foi por uma questão de filosofia. Mesmo motivo a meu ver pelo qual a Subaru fracassou. Foi uma ideia muito mal aplicada, usando um conceito para motores que já era considerado anacrônico nos anos 1980. Já a Lamborghini tinha o Mauro Forghieri, que era engenheiro da Ferrari, tiveram a ideia de fazer um motor de 12 cilindros, mas não foi considerada exatamente uma equipe deles porque os italianos nunca injetaram dinheiro e nem se envolveram diretamente com o projeto, o que fez com que sua participação na F-1, com o nome Modena, tenha sido um desastre.

O motor tinha potencial, só não estava na equipe certa e no momento certo. Tanto isso é verdade que quando o Ayrton Senna testou, andou muito bem. Ron Dennis tentou uma negociação, mas acabou não vingando. Tudo questão de filosofia, todos os casos que você citou não deram certo devido à concepção errada.

Para finalizar, quais as histórias do livro que você gosta mais? Imagino que a do (piloto inglês) Perry McCarthy, que perdeu a pesagem e foi desclassificado da corrida porque ficou jogando Super Nintendo, deva estar no seu Top 3 pessoal, não é? Com certeza essa do Perry McCarthy pra mim é a melhor (risos)! Se distrair com um jogo de videogame e perder a pesagem obrigatória do piloto é algo que beira o surreal! Ele trabalhar com guia de turismo para custear suas despesas é inacreditável também (NOTA: Sim, é isso mesmo que você entendeu, Perry McCarthy NÃO recebia salário para correr pela Andrea Moda! Para poder viajar e custear suas despesas, ele conseguiu um acordo com uma empresa de turismo, que pagava sua passagem aérea e sua hospedagem. Em troca, Perry guiava os turistas pelo paddock)!

O Bruno Giacomelli ter conseguido andar 11 voltas com a Life até o carro quebrar (considerado por muitos o pior carro da história da F-1) e ele melhorar 27 segundos do primeiro tempo que ele virou, que foi 1m41, um tempo altíssimo para aquele circuito, também foi algo muito pitoresco, mas a melhor pra mim é a que envolve o piloto colombiano Ricardo Londoño, que foi impedido de correr em 1981 porque ele era financiado pelo Cartel de Medellin. Ele era obscuro, com um currículo muito ruim e, para piorar, nesse ano foi quando passaram a exigir a superlicença aos pilotos. Talvez já prevendo que poderia dar merda, a Ensign (equipe que contratou Londoño) inscreveu o suíço Marc Surer como piloto reserva.

No treino para o GP do Brasil, Londoño se envolveu numa querela com Keke Rosberg, sua superlicença por causa disso não foi concedida e tiveram que buscar Marc Surer no hotel em São Conrado onde ele estava hospedado numa Kombi. Mesmo com um dia a menos de treino, Surer fez um corridão, chegando em quarto lugar. Acho essa história espetácular, pois já mostra como a fórmula 1 era dependente de dinheiro e você vê que mesmo um piloto sem talento algum como o Londoño pôde chegar lá com uma grande forte por trás. Pena que Londoño acabou sendo assassinado depois num acerto de contas com o tráfico de drogas.

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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