Cultura Pop
Saudosas Pequenas: as escuderias mais humildes da F1 em livro

Todo fã de fórmula 1 tem uma equipe pela qual nutre um carinho especial. Tem a Mercedes do Lewis Hamilton, a Ferrari com toda sua tradição, a McLaren pelos títulos que deu ao Ayrton Senna, e por aí vai. Porém provavelmente pouca gente se lembra de escuderias como a Arrows, que disputou mais de 400 GPs e nunca conseguiu vencer uma corrida sequer. Ou então da Minardi, da Osella e de tantas outras equipes que também ajudaram a compor o espetáculo e tiveram lá os seus momentos de brilho. Mas que, pelos mais diversos motivos, não conseguiram se estabelecer na categoria máxima do automobilismo.
Disposto a não deixar que tantas histórias interessantes corressem o risco de cair no esquecimento, Rodrigo Mattar, jornalista do Fox Sports e verdadeiro apaixonado por velocidade, condensou as biografias de 41 delas no livro Saudosas pequenas, recentemente lançado pela Editora Gulliver. Com prefácio escrito pela lenda Reginaldo Leme, o livro nos brinda com fatos curiosos e às vezes engraçados envolvendo todas essas escuderias, além de ser um verdadeiro atestado de amor à fórmula 1.
Nós do POP FANTASMA procuramos o simpático Rodrigo Mattar, que contou entre coisas coisas, como surgiu a ideia de escrever esse livro, bem como seus “causos” favoritos! Confiram a entrevista abaixo e divirtam-se.
(na foto lá em cima, Perry McCarthy parecendo meio preocupado com seu carrinho da Andrea Moda)
POP FANTASMA: Como surgiu a ideia de fazer esse livro?
RODRIGO MATTAR: A ideia veio por volta de 2012 como forma de ocupar meu tempo, pois eu estava numa fase difícil, desempregado e com problemas pessoais. Então para fazer alguma coisa que pudesse chamar a atenção e tivesse relevância dentro do meu métier, que é a fórmula 1, resolvi fazer essa série Saudosas pequenas no meu blog A Mil Por Hora.
Escrevi a história de 25 equipes. E já naquela época todo mundo me abordava e dizia que isso tinha que virar um livro. Acabou não virando na época porque em maio de 2013 fui contratado pelo canal Fox Sports. Porém no ano passado começou essa pandemia e durante alguns meses, a Fórmula 1 parou, não tinha corrida. Naquele desespero de causa, eu me sentindo mal por estar isolado em casa sozinho, conversei com uma psicóloga e ela recomendou que eu fizesse algo que fosse relevante pra mim e me fizesse bem e isso me deu um estalo. Peguei o texto que escrevi no blog sobre a escuderia AGS, passei tudo para o Word, comecei a acrescentar também equipes que não havia falado na série como a Kojima, a LEC, Martini, Eiffeland, e outras. E então o projeto começou a ganhar forma.
Algumas escuderias nanicas como a Andrea Moda ou a Life eram escolhas óbvias, mas outras como a recente Hispania, que também teve uma carreira apagada e tumultuada na F-1, não foram citadas no livro. Quais foram os critérios que você usou pra definir o que é uma equipe pequena e quais deveriam entrar no livro? Meu critério foi antes de mais nada selecionar quais equipes foram mais relevantes e tiveram as melhores histórias. Daí o fato de a Marussia, que foi da mesma época, ter sido escolhida, mas ela e a Caterham não. A Hispania foi uma vergonha! É verdade que várias outras equipes dos anos 1990 também foram, mas pelo menos elas tinham histórias muito mais legais para contar.
A Hispania foi fruto de uma ideia infeliz do Max Mosley de abrir a fórmula 1 para outras equipes, porém infelizmente essa seleção foi feita sem critério nenhum, pois havia outras equipes muito mais estruturadas pleiteando uma vaga naquele momento, como a Prodrive e a Epsilon Euskadi. Ainda assim, Max Mosley preferiu trazer o John Booth (piloto dos anos 1980 e que montou equipes de relativo sucesso em categorias menores do automobilismo) associado ao Richard Branson (empresário dono da Virgin Records) com a Manor, que mais tarde viria a se tornar a Marussia, bem como a Campos (que posteriormente mudou de nome para Hispania) e a Lotus Malaysia (futura Caterham).
Tanto a Hispania quanto a Caterham não fizeram nada digno de nota. Já a Marussia não tinha como ficar de fora, tanto pelas façanhas conseguidas pelo Jules Bianchi quanto pelo Pascal Wehrlein.
A Minardi parece ser um sinônimo de equipe ruim na F1. Até hoje, mesmo após ter encerrado as atividades há quase 20 anos, ela ainda tem um séquito de admiradores apaixonados. A capa do seu livro inclusive é preta e amarela, as cores que os carros da Minardi ostentaram durante um bom tempo. Na sua opinião, de onde surgiu essa paixão dos fãs de automobilismo por ela? Por que será que equipes muito piores não são lembradas de forma tão carinhosa? No imaginário do público brasileiro que acompanha automobilismo, acho que ficou gravado na memória o que o Christian Fittipaldi fez na Minardi em 1992 e 1993. Isso fez a Minardi ganhar a simpatia do brasileiro, mas para a fórmula 1 em geral, acho que transparecia o amor com o qual o fundador da escuderia Giancarlo Minardi fazia as coisas.
Sem contar que, dessas equipes da chamada “turma do fundão”, a Minardi foi a que conseguiu as maiores façanhas: Largou na primeira fila (NOTA: Quem conseguiu tal proeza foi o piloto italiano Pierluigi Martini, no GP dos EUA de 1990) e conseguiu liderar uma corrida durante algumas voltas (também com Pierluigi Martini, no GP de Portugal de 1989), coisas que eu não lembro de nenhuma outra equipe pequena ter conseguido. Esses momentos da Minardi são muito bonitos e genuínos. O choro do Luca Badoer em Nurburgring em 1999 (NOTA: Ele estava em quarto lugar quando a caixa de câmbio quebrou e ele teve que abandonar a corrida. Se tivesse completado, teria sido a primeira vez na carreira que ele teria pontuado, por isso Badoer foi às lágrimas) também foi muito marcante, acho que todo fã da fórmula 1 naquele momento estava torcendo para que ele pontuasse.
No fundo todos torciam pra ela pontuar, mas não dava, os carros eram muito fracos. E olha que eles revelaram uma série de bons pilotos: Jarno Trulli, Mark Webber e até o bicampeão Fernando Alonso! A equipe era tão simpática e a paixão do Giancarlo Minardi pelo esporte era tão bacana… enfim, era uma coisa que mexia muito comigo. Afinal, tudo na vida é movido a paixão! Nelson Rodrigues já dizia, “é preciso alma até para chupar um Chicabon”. Vejo em todas essas coisas uma espécie de catalisador para a Minardi ser a mais querida entre as equipes pequenas.
Sem contar também esses pequenos detalhes que fizeram a diferença para nós brasileiros, como a passagem do Christian Fittipaldi e o fato de a própria escuderia também tratar o público do Brasil e os jornalistas daqui sempre com muito carinho. Lembro que quando o Wagner Gonzalez foi cobrir o seu 300º GP, a Minardi fez uma festa pra homenageá-lo! Sem falar que a comida ali era simplesmente maravilhosa! Na temporada de 1993, no auge das evoluções tecnológicas, a Minardi durante uma parte do campeonato chegou a ter mais pontos que a Ferrari!
Enfim, havia dezenas de itens que faziam da Minardi uma escuderia tão querida! E essa simpatia aumenta também quando lembramos que o Sebastian Vettel ganhou corrida com a Toro Rosso, que foi a continuação da Minardi (a empresa de energéticos Red Bull comprou a escuderia em 2005) e o Pierre Gasly também, já na Alpha Tauri. Ela teve muito bons momentos e eles têm que ser celebrados!
Eu percebi nas redes sociais que muitas pessoas reclamaram do fato de a equipe Fittipaldi não constar no livro. Eu concordo com o seu ponto de vista de que a história da Copersucar merecia um capítulo a parte pelo pioneirismo, e por isso mesmo gostaria de saber: há algum plano futuro de escrever outro livro para tratar exclusivamente do assunto? A ideia é que o meu próximo trabalho seja sobre a Copersucar, quero muito de alguma forma fazer justiça à sua história. Já até existe um livro escrito por Ricardo Sterchele (Copersucar Fittipaldi – A história completa do F1 brasileiro) que conta sobre a sua história, mas ele tem algumas falhas, além de uns erros de português. Normal, com certeza o Saudosas pequenas vai ter uns errinhos também. Em livros com mais de 400 páginas isso é quase inevitável, mas independente disso, a história da Copersucar merece ser contada e, sobretudo, valorizada.
O que o Emerson e principalmente o Wilsinho fizeram, de acreditar na viabilidade de fazer um carro de fórmula 1 no Brasil, ninguém mais conseguiria fazer. E além de tudo, ainda tiveram que encarar o descrédito da imprensa que tratava a aventura deles exatamente como se fosse uma aventura mesmo e que não poderia ser levada a sério. Pelo fato de a imprensa brasileira na época não ter o mínimo conhecimento de automobilismo como tem hoje, o olhar do público daqui nos anos 1970 e 80 era diferente. Hoje os amantes da fórmula 1 querem ver isso contado de uma forma melhor, mais digna e mais bonita.
Claro, isso não significa que temos que mascarar as escolhas erradas que cometeram durante sua jornada, como trazer um cara como o David Baldwin para ser projetista do carro, que fez uma cópia do Ensign, que na época já não era grande coisa. E muito menos esquecer do Ralph Bellamy, que projetou o F-6 (carro da temporada de 1979 que foi um verdadeiro fiasco), e que muitos consideram que marcou o início do fim da Fittipaldi.
O Emerson e o Wilsinho pagaram muito caro por essas escolhas. Tiveram méritos, claro, como o modelo F5A que fez um ótimo campeonato em 1978 e o modelo F8 de 1980 projetado por Harvey Postlethwaite, pena que faltou dinheiro para desenvolver este último. Prova disso é que em 1982 Postlethwaite foi para a Ferrari, usou os mesmos conceitos no carro, que naquela temporada foi apelidada de “Red Fittipaldi” devido a semelhança entre eles e a Ferrari acabou campeã de construtores, mesmo com todas as tragédias que aconteceram com seus pilotos (NOTA: Gilles Villeneuve faleceu no treino de classificação para o GP da Bélgica e Didier Pironi colidiu com o italiano Riccardo Paleti no GP do Canadá, acidente esse que vitimou Paleti e deixou Pironi tão traumatizado que ele decidiu abandonar a fórmula 1). Depois que a Copersucar deixou o projeto e eles passaram a se chamar Fittipaldi, não havia mais dinheiro, e foi aí que naufragaram de vez.
Mudando um pouco o tema do livro para falar de você. Sei que você acompanhou por alguns anos a Fórmula 1 nos circuitos e por isso gostaria de saber: qual foi a história mais inusitada ou surreal que você presenciou em todo esse tempo? Na verdade, não fui em tantas corridas assim. A trabalho eu só fui ao GP do Brasil duas vezes, em 2003 e 2008, mas foram ambas corridas históricas. Em 2003 foi o ano daquela vitória do Giancarlo Fisichella pilotando uma Jordan naquela corrida onde caiu uma chuva torrencial e 2008 foi quando o Felipe Massa perdeu o campeonato pro Lewis Hamilton por alguns segundos.
Porém, um episódio que ocorreu naquele fim de semana me chama a atenção até hoje. Foi nesse campeonato que aconteceu toda aquela história em Singapura envolvendo o Fernando Alonso e o Nelsinho Piquet, e que só viria à tona em 2009 (NOTA: Nelsinho Piquet bateu de propósito no muro para provocar a entrada do Safety Car, o que favoreceu seu companheiro de equipe Fernando Alonso, que veio a vencer o Grande Prêmio) quando Nelsinho foi demitido da Renault pelo Flavio “Dom Corleone” Briatore. Eu me encontrei no paddock com alguns colegas de profissão e ficamos um tempo por lá observando o movimento até darmos de cara com o Nelsinho Piquet, seu pai Nelson, Flavio Briatore e Pat Symonds, todos os quatro juntos e de cara amarrada.
Nesse momento, um dos meus amigos, Luiz Fernando Ramos, que fazia reportagens para a Rádio Bandeirantes, me saiu com essa: “Será que isso não tem a ver com Singapura?” e nós ficamos intrigados, até porque antes disso o Nelsinho fez um ótimo GP do Japão, terminando na quarta colocação. Logo depois desse fim de semana soubemos que o Nelsão pai chegou até Charlie Whiting (diretor de F1 da FIA) e disse que iria abrir o jogo e contar tudo sobre esse episódio. Whiting, que o conhecia desde os tempos da Brabham, aconselhou Nelsão a não fazer isso, ao menos não naquele momento, e que o certo deveria esperar a FIA abrir uma investigação sobre o assunto.
No fim, Nelsinho teve seu contrato prorrogado para 2009. Eu inclusive fui o primeiro a dar essa notícia no SporTV, mas ele acabou sendo mandado embora durante a temporada e foi então que o escândalo tornou-se público.
Falando um pouco sobre o Roberto Pupo Moreno, piloto brasileiro que é citado diversas vezes no livro: como foi seu contato com ele? Pergunto isso porque já ouvi umas histórias de que ele é pavio curto e fica bravo por qualquer coisa… E qual você acha que foi o auge dele na Fórmula 1? O Moreno não é assim tão temperamental quanto as pessoas pensam… Muitas histórias do livro a respeito dele eu soube através de terceiros e outras eu soube graças às lives que participei com ele no YouTube no Cadeira Cativa. As histórias do tempo da (equipe) Coloni que estão no livro foi ele quem contou, aquela história da Eurobrun de quando ele expulsou o intermediário do seu carro também foi ele quem contou, os “elogios” ao (piloto americano) Eddie Cheever… Tudo isso foi aproveitado da live ou contado pessoalmente por ele.
E se for para pinçar um grande momento dele na F-1 afora aquela heroica classificação da Andrea Moda para o GP de Mônaco em 1992 e o segundo lugar que ele conseguiu no GP do Japão de 1990, indubitavelmente temos que celebrar também o que ele fez com a fraquíssima Coloni no GP de Portugal em 1989. Deixemos de lado o resultado da corrida: ele conseguiu ficar em 12º no primeiro treino e em 15º no segundo, o que foi um feito impressionante! Só não melhorou o tempo porque ele e o Eddie Cheever se enroscaram, mas ter conseguido o 12º lugar por si só foi coisa de gênio, pra ser aplaudido de pé!
Outro momento excepcional que precisa ser mencionado foi ele ter conseguido pontuar com a AGS (chegou em sexto no GP da Austrália de 1987). OK, ele foi ajudado pelo fato de o Ayrton Senna ter sido desclassificado no fim da corrida, mas convenhamos, não é qualquer um que chega em sétimo lugar com um carro que tinha um chassi de 1983 e o fundo de madeira compensada! Não era um assoalho de fibra de carbono, pra você ver a precariedade daquela cadeira elétrica! Aquele carro era um verdadeiro Frankenstein, muito ruim! E quando Moreno sentou naquele veículo para fazer os primeiros testes no circuito de Paul Ricard, ele baixou em 4 segundos o tempo que o Pascal Fabre (piloto principal da AGS na época) virava! A equipe espertamente pegou todo o acerto de suspensão que o Moreno fizera e o Pascal Fabre conseguiu classificar o carro pra corrida da Espanha com os acertos do Roberto, mas nas provas seguintes isso não foi possível, até porque o Pascal era fraco demais.
Foi então que o campeonato da F-3000 acabou, o “baixo” ficou disponível para as duas últimas provas de 1987 e ele fez o que fez. Cabe lembrar que o Moreno havia tido uma grande oportunidade na F-1 em 1982 (substituiu Nigel Mansell na Lotus no GP da Holanda), mas não conseguiu se classificar para a corrida. Por causa disso, a capacidade dele vivia sendo posta em dúvida, só que era um senhor piloto! Correu tudo que você possa imaginar e sempre muito bem: Indy, F-2, F-Nippon, ele era genial! Você disse antes para mim que o considerava o melhor piloto brasileiro que nunca venceu uma corrida. Não sei se concordo com isso, porém com certeza eu o incluo entre os melhores brasileiros de todos os tempos.
É cada vez mais complicado e caro montar uma equipe de Fórmula 1, por isso como saudosista e apaixonado por automobilismo que você é (e o livro deixa transparecer isso a todo momento), preciso perguntar: como você vê a fórmula 1 hoje em dia? Antes de mais nada, é preciso perceber que não há mais espaço para romantismo. A F-1 se tornou um negócio, e um negócio bem caro. Ela não está mais conseguindo atrair montadoras. Hoje temos somente 4 construtoras envolvidas com fornecimento de motores: a Ferrari, a Mercedes, a Honda e a Renault.
Muito pouco se comparado por exemplo com a Fórmula E, onde temos 7 ou 8 grandes montadoras mais envolvidas com a mobilidade urbana como a Volkswagen, a Citröen, a Jaguar e por aí vai. A categoria está proibitiva, não há mais a possibilidade de uma equipe pequena chegar e ter a liberdade que existia nos anos 1970 que era usar motor e pneu padrão (Ford Cosworth e Goodyear). Era muito mais simples. Agora você tem que criar o seu carro, fazer sua suspensão, desenvolver seu próprio sistema eletrônico, etc. É tudo muito caro e, principalmente, proibitivo.
Hoje você vê a dificuldade que a Williams passa, mesmo com toda a expertise que o Frank Williams (chefe da equipe até 2012) tinha. A Williams hoje bate cabeça no fundo do pelotão junto com a Haas e a Alfa Romeo e, até a mudança do regulamento em 2022, vai continuar assim. Eu não sei se esses novos donos da Williams vão colocar as pessoas certas nos lugares certos ali para desenvolver os carros e terão paciência de fazer a coisa acontecer. A Haas ainda não vingou e, dizem, está com os dias contados.
Então a F-1 é proibitiva para equipes entrarem, mas por outro lado não dá para negar que a temporada de 2020 foi ótima! Excluindo o Lewis Hamilton que é um caso a parte, pois é, na minha opinião, o maior da sua geração junto com o Fernando Alonso, tivemos 13 pilotos diferentes subindo ao pódio, o Pierre Gasly conseguindo vencer com uma Alpha Tauri, a Racing Point se estabelecendo como terceira força apesar do Lance Stroll, a Renault tendo uma temporada consistente com pódios tanto do Daniel Ricciardo quanto do Esteban Ocon, a Ferrari mal das pernas e por aí vai. Tudo isso ajudou para que tivéssemos um campeonato muito legal e eu torço para que o de 2021 seja tão bom quanto!
Na sua opinião, por que algumas montadoras como a Porsche, a Lamborghini e a Subaru não conseguiram ter o mesmo sucesso e longevidade que a Ferrari e Merecedes por exemplo? Das montadoras que você citou, eu só não concordo com a Porsche, porque ela foi campeã fornecendo motores para a McLaren nos anos 1980. Você está baseando seu ponto de vista na malfadada parceria entre a Porsche e a equipe Footwork em 1991, que foi um caso isolado. Sem contar que ela teve uma época positiva como equipe nos anos 1960.
Se a parceria com a Footwork não deu certo, foi por uma questão de filosofia. Mesmo motivo a meu ver pelo qual a Subaru fracassou. Foi uma ideia muito mal aplicada, usando um conceito para motores que já era considerado anacrônico nos anos 1980. Já a Lamborghini tinha o Mauro Forghieri, que era engenheiro da Ferrari, tiveram a ideia de fazer um motor de 12 cilindros, mas não foi considerada exatamente uma equipe deles porque os italianos nunca injetaram dinheiro e nem se envolveram diretamente com o projeto, o que fez com que sua participação na F-1, com o nome Modena, tenha sido um desastre.
O motor tinha potencial, só não estava na equipe certa e no momento certo. Tanto isso é verdade que quando o Ayrton Senna testou, andou muito bem. Ron Dennis tentou uma negociação, mas acabou não vingando. Tudo questão de filosofia, todos os casos que você citou não deram certo devido à concepção errada.
Para finalizar, quais as histórias do livro que você gosta mais? Imagino que a do (piloto inglês) Perry McCarthy, que perdeu a pesagem e foi desclassificado da corrida porque ficou jogando Super Nintendo, deva estar no seu Top 3 pessoal, não é? Com certeza essa do Perry McCarthy pra mim é a melhor (risos)! Se distrair com um jogo de videogame e perder a pesagem obrigatória do piloto é algo que beira o surreal! Ele trabalhar com guia de turismo para custear suas despesas é inacreditável também (NOTA: Sim, é isso mesmo que você entendeu, Perry McCarthy NÃO recebia salário para correr pela Andrea Moda! Para poder viajar e custear suas despesas, ele conseguiu um acordo com uma empresa de turismo, que pagava sua passagem aérea e sua hospedagem. Em troca, Perry guiava os turistas pelo paddock)!
O Bruno Giacomelli ter conseguido andar 11 voltas com a Life até o carro quebrar (considerado por muitos o pior carro da história da F-1) e ele melhorar 27 segundos do primeiro tempo que ele virou, que foi 1m41, um tempo altíssimo para aquele circuito, também foi algo muito pitoresco, mas a melhor pra mim é a que envolve o piloto colombiano Ricardo Londoño, que foi impedido de correr em 1981 porque ele era financiado pelo Cartel de Medellin. Ele era obscuro, com um currículo muito ruim e, para piorar, nesse ano foi quando passaram a exigir a superlicença aos pilotos. Talvez já prevendo que poderia dar merda, a Ensign (equipe que contratou Londoño) inscreveu o suíço Marc Surer como piloto reserva.
No treino para o GP do Brasil, Londoño se envolveu numa querela com Keke Rosberg, sua superlicença por causa disso não foi concedida e tiveram que buscar Marc Surer no hotel em São Conrado onde ele estava hospedado numa Kombi. Mesmo com um dia a menos de treino, Surer fez um corridão, chegando em quarto lugar. Acho essa história espetácular, pois já mostra como a fórmula 1 era dependente de dinheiro e você vê que mesmo um piloto sem talento algum como o Londoño pôde chegar lá com uma grande forte por trás. Pena que Londoño acabou sendo assassinado depois num acerto de contas com o tráfico de drogas.
Cultura Pop
Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada
A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.
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O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.
“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).
Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.
Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.
O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.
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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.
Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.
E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.
Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.
De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.
Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.
O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.
O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.
Já Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.
Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.
Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025
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