Cultura Pop
Rio Turismo: TV para turistas e insones, há trinta anos

A cultura pop no Rio deve as calças à TV Record. Que nos anos 1980 tinha entre seus sócios ninguém menos que o aniversariante de hoje, Silvio Santos, e apresentava atrações como o Realce e o BBVideoclipe. O primeiro era um programa de surfe que tinha como tema de abertura Blue monday, do New Order. O segundo, um dos mais criativos programas de clipes que o Brasil já teve, com apresentação de Billy Bond.
Em fevereiro de 1987, essa união foi sacramentada com a criação de uma operação realmente carioca da Record no Rio. O antigo canal 9 (era a estação da Record) virou TV Copacabana, erguida sobre um tripé de programas independentes que compravam horário, filmes antigos e programas turísticos. Além, lógico, do obrigatório Programa Silvio Santos. E de desenhos inesquecíveis como O gênio maluco. A música da vinheta de abertura do canal era (claro) Copacabana, de Barry Manilow.
Em julho daquele ano, a TV Copacabana acabou tendo, por lei, que mudar de nome para TV Corcovado. O motivo da mudança de nome, além de toda a história do canal, você encontra nesse texto aqui.
Agora o que importa mesmo é o setor de programas turísticos do canal. Que tinha uma atração que fez a alegria (ou a tristeza) de vários insones no fim dos anos 1980. Além de dar informações a vários visitantes. Em meados de 1987, a estação botava no ar de madrugada um programa chamado Rio Turismo. Que imediatamente virou conversa de bar por mostrar, durante TODA A MADRUGADA, o mesmo filme, narrado em três línguas (português, inglês e espanhol), mostrando as atrações do Rio de Janeiro para turistas. Olha aí.
Como a ideia era pegar a turistada na hora em que estavam no hotel, a atração ia ao ar de tarde também. E tinha versões em inglês e espanhol na sequência. A narração em português foi providenciada pelo mitológico Murilo Nery. Quem soltou a voz na língua de Shakespeare foi Malcolm Forest. Em espanhol, o papo ficou a cargo de Mário Garcia Guillén.
O filme mostrava o que aguardava o turista assim que ele saísse do avião nos anos 1980. Praia, hotéis, arquitetura do Rio antigo, um sunset espetacular (a frase “ah, o pôr do sol no Rio…” virou meme depreciativo para dias chuvosos e passeios frustrados), passeios noturnos. E eventos de carnaval, com shows de fantasias. A boate Help era um dos locais que apareciam no Rio Turismo.

Coincidência infeliz: um dos passeios que apareciam como opções no programa era a viagem a bordo do Bateau Mouche. Era algo popularíssimo entre turistas na época. Só que o navio naufragaria no Réveillon do ano seguinte. A atriz Yara Amaral estava entre os mortos.

Você está acostumadíssimo com uma fartura de programas de TV para assistir durante a madrugada, fora as suas estripulias na Netflix e no YouTube, correto? Pois é, sorte sua. Nos anos 1980, não havia TV de madrugada. Canais de TV faziam uma pausa, para voltar só às 6h30. A Rede Globo ia, se tanto, até as 2h e olhe lá. Olha aí um encerramento das transmissões da emissora em 1987.
Ou seja: pra fazer aquele efeito abajur de responsa no quarto e não ser surpreendido pelo chuvisco da TV sem transmissão, só deixando o Rio Turismo ligado a madrugada inteira. O que levou uma turma que não estava fazendo turismo em lugar algum a assistir ao programa. E também fez alguns críticos de TV prestarem atenção àquela atração inusitada. Em 28 de junho de 1987, saiu na revista Domingo, do Jornal do Brasil, uma crítica assinada por Marcia Vieira, com título Vai gostar do Rio assim… que dava uma zoada no programa e tentava investigar de onde viera a atração.
“A primeira impressão de quem liga a televisão no canal 9 de madrugada é de que há algo de estranho no ar. Primeiro aparecem na tela pontos turísticos do Rio, apresentados em português. Depois vêm os mesmos lugares, só que narrados em inglês. Eles voltam a aparecer ainda mais uma vez, desta vez em espanhol. Quando o telespectador, já cansado do Rio, pensa que o programa acabou, começa tudo de novo. Em português, inglês e espanhol. De meia-noite às 9 horas, a TV Corcovado decidiu mostrar o Pão de Açúcar, o Corcovado e o carnaval em Rio Turismo, que ainda é repetido das 15h30min às 18h30min.
(…) Um programa inusitado, que ainda é um mistério até mesmo para a própria emissora. Saber os motivos que levaram a TV Corcovado (ex-Record e ex-Copacabana) a exibir o programa não é nada simples. No Rio dizem que o Rio Turismo veio pronto do Sistema Brasileiro de Televisão, em São Paulo. Lá dizem que a TV Corcovado, no Rio, é que tem as informações. Finalmente, o gerente comercial da emissora, Amaury Worms, explicou que a idéia do programa foi do apresentador e um dos proprietários do SBT, Sílvio Santos. Mas a irmã do apresentador, a gerente regional da TV Corcovado, Sara Soares, desconhece esta versão”.
Mas não é que a ideia do programa foi do Patrão mesmo? O roteirista do Rio Turismo foi Marcos Resende, que recentemente pôs algumas linhas sobre a atração em seu site pessoal. E recorda que o próprio Silvio teve a ideia e pediu a ele que realizasse. Marcos passou o carnaval de 1987 editando a atração, que teve direção de Eduardo Linardi.
O Rio Turismo ainda teve uma outra versão, feita em 1988. Não está no YouTube e mostrava uma visão mais classe A do Rio, com direito a um passeio pelas boates da moda na época. A trilha sonora dessa incursão noturna, inclusive, era Love Missile F1-11, do Sigue Sigue Sputnik. Essa continuação, diz Marcos, teve supervisão de Carlos Alberto de Nóbrega e direção do filho do humorista, Beto Nóbrega. E aí, ficou com saudades? 🙂
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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