Cultura Pop
Quando Richard Lloyd (Television) levou porrada de Jimi Hendrix

Sabe quando seu melhor amigo conta que é amigo de uma pessoa famosa e você manda ele parar de mentir? Bom, você pode até não saber o que é isso, mas Richard Lloyd, guitarrista e criador da banda novaiorquina Television – grande cria da geração de grupos revelados pelo CBGB’s – sabe muito bem. Em “fim de 1968, início de 1969”, antes de montar o Television, o adolescente Lloyd ficou sabendo que seu melhor amigo, Velvert Turner, estava tendo aulas de violão com… Jimi Hendrix.
Na época, Hendrix já era uma estrela com três discos gravados (se isso aconteceu depois de outubro de 1968, ele já estava divulgando Electric ladyland, lançado naquele mês e ano) e morava a seis quarteirões de Lloyd, em Nova York. Velvert, que merecia um textinho só para ele no POP FANTASMA, fez carreira a partir de 1972 com o Velvert Turner Group e passou para a história como “o único aluno de Jimi Hendrix”.
“Sempre que ele estava por perto, ele dava aulas de guitarra a Velvert Turner, que era meu melhor amigo. E ele era meu melhor amigo porque eu acreditava nele. Se um garoto de 17 anos afirma conhecer Jimi Hendrix, todo mundo ri dele. Pensei que ele estivesse brincando. Mas dei como certo o fato de ele conhecer Hendrix”, disse Lloyd nesse papo aqui.
Turner ia na casa de Lloyd, pegava a guitarra dele e treinava lá tudo o que havia aprendido com Hendrix. O guitarrista acabou sabendo que Velvert tinha um melhor amigo chamado Lloyd e o futuro criador do Television acabou ficando amigo também de Hendrix. Chegou a conversar bastante com ele, até mesmo quando o amigo não estava por perto. E ganhou um soco (!) de Hendrix numa festa em que ambos já tinham esgotado o estoque de bebidas da casa.
Lloyd lembra que Hendrix estava estressado por causa de uma turnê americana que ele não queria fazer, e estava sendo forçado a ir para o palco pelo seu empresário Michael Jeffery, tido como grande vilão de todas as histórias bizarras envolvendo Jimi, incluindo aí muito desvio de grana (o guitarrista vivia duro e o empresário mantinha contas multimilionárias só com o dinheiro do Experience).
O estresse não era à toa. Logo após se recusar a fazer essa turnê, Hendrix foi preso por posse de heroína em Toronto. Pouco depois de se apresentar no festival de Woodstock, em 1969, foi sequestrado, mantido refém por vários dias e resgatado em meio a um tiroteio. Jeffery é apontado como autor de todas essas “obras” e tem gente bem próxima de Hendrix que jura até hoje que o guitarrista foi, na verdade, assassinado por Jeffery.
Segundo Lloyd, Hendrix disse a ele que havia dito a Jeffery que não queria fazer a turnê porque “todo mundo quer que eu dance igual a uma galinha”, mas recebeu do empresário a ameaça de ter seus dedos quebrados. “Se você gosta dos seus dedos, vai fazer exatamente o que eu mando, Jimi. Há muito dinheiro a ser ganho aqui e você vai ganhar, Jimi”, teria dito Michael.
“Então essa era a espada de Dâmocles pairando sobre Jimi. Numa noite estávamos todos bêbados em uma festa, e ele começou a conversar comigo sobre como não iria durar muito, sobre como não podia fazer o que queria. Eu tentei animá-lo. Eu pensei que ele estava apenas bêbado e (agindo) com pena de si mesmo. Todo artista pode sofrer com isso. Mas, finalmente, causou algo em mim e eu comecei a falar com Jimi: “Todo mundo te ama, cara. Esqueça esse negócio de que não vai viver muito’. Acho que ele ficou ofendido com isso”, afirmou Lloyd. Quando a festa acabou e já tinha gente até dormindo no local, Lloyd enxergou Hendrix se virando para ele e levou três socos do guitarrista.
O músico diz que Hendrix bateu nele porque sentiu que ele estava sendo, digamos, paternal. E recorda que, no meio da bebedeira, chegou a falar o clássico “vai pra casa, você tá bêbado” para o músico.
“Eu estava tentando lutar contra aquele estado bêbado e grosseiro em que as pessoas que usam muito álcool entram”, explicou Lloyd, que ainda foi surpreendido, depois das porradas, com uma indagação de Velvert, o tal “melhor amigo”. “Ele disse:’Você sabe por que ele bateu em você, certo’. Eu disse: ‘Por que ele me bateu?’ E Velvert disse: ‘Eu sei, mas não vou lhe contar. Você terá que descobrir por si mesmo’. Levei anos”, afirmou.
E falando nisso, pega aí uma aula de guitarra com Lloyd.
E pega aí o Television ao vivo no Brasil em 2005. Eu tava lá.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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