Destaque
Aquela história em quadrinhos que rola no stories do POP FANTASMA
Isso que você está vendo na foto abaixo é uma parte do meu acúmulo (não é uma coleção, coleção é outra coisa) de revistas em quadrinhos, que está perdido no meu guarda-roupa.
Boa parte dessas revistas me acompanha desde que eu era BEM pirralho. Lembro de ter aprendido a ler em várias delas, e quadrinhos de modo geral sempre me ensinaram muita coisa. Sempre foram uma fonte boa de cultura pop, inclusive. Só pra você ter uma ideia, a primeira vez que li o nome David Bowie (grafado como “Davy Bowie”) foi numa HQ do Cebolinha em que ele e o Cascão resolviam montar um grupo cover dos Secos & Molhados chamado Os Abobrinhas.
Mais: a primeira vez que soube de um ator chamado Robert Redford foi quando uma historinha do Zé Carioca mostrou a vinda de um ator gringo ao Brasil, o Robert Redifusca. Em outra história, não sei se do Pato Donald ou do Zé Carioca, reproduziram um festival da canção daqueles dos anos 1960, no qual aparecia a banda “Os Gritantes, cantando Que banana”. Era uma zoação com o tropicalismo, e uma mistura bizarra de associated acts do rock nacional sessentista. No caso, os festivaleiros Mutantes e os desconhecidos Sueli (de Sueli Chagas, amiga de infância de Rita Lee e uma de suas primeiras parceiras) e Os Kanticus, do obscuro single Que bacana. Tenho essa revista aqui em casa num canto qualquer, se um dia achar posto no site.
Corta agora pra 2018, redes sociais, e um dia em que, especialmente, eu estava bastante entediado com o Instagram do Pop Fantasma, que funciona em @popfantasma_. Comecei a postar umas coisas no stories para testar – numa época em que não havia ainda IG TV e eu estava tentando me acostumar com a possibilidade de colocar pequenos vídeos e fotos que durassem 24 horas.
Eu nunca fui um grande desenhista, mas tenho mais ou menos a ideia de como funciona a dinâmica de uma história em quadrinhos, e resolvi testar desenhar na própria telinha do smartphone. Fiz umas coisas ao vivo, texto e “desenho” (na verdade dois bonequinhos que mal representam graficamente duas pessoas), e soltei no stories. Eu mal sabia, mas tinha acabado de criar uma história em quadrinhos no Pop Fantasma, e que funcionaria no stories. Sim, é tudo ao vivo, e não é raro que eu resolva fazer o texto baseado em todas as conversas que eu estou ouvindo no momento. Quando os bonequinhos “cobriram” os jogos do Brasil, eu estava na redação em que trabalho, vendo a partida. Tudo o que ouvi dos meus amigos falando, foi parar ali.
Eu costumo chamar informalmente, quando posto por aí, a historinha de “os bonequinhos”. Dois caras de trinta e poucos anos que passam o tempo conversando, discordam (muito) um do outro, provocam-se mutuamente e mantém fidelidade na amizade apesar das discordâncias. Que, diga-se de passagem, não são enormes o suficiente para abalar amizade nenhuma (sim, amizade com CEM POR CENTO de discordância em todos os assuntos básicos é tão utopia quanto acreditar que amigos nunca discordam).
O nome da historinha não é “os bonequinhos”. Aliás, nem a história tem um nome, nem mesmo os dois caras têm um nome. Nem nunca vão ter. Aparência física, só se um dia alguém se animar com essas historinhas a ponto de fazer um filme com elas, ou se alguém me chamar pra fazer um roteiro baseado nelas (pô, quem topa?). A história funciona como um podcast em quadrinhos dentro do site, já que rola papo sobre música, séries da Netflix, TV. Pode rolar papo sobre política também, quem sabe. Eles também conversam muito sobre o Pop Fantasma. Reclamam do conteúdo, discordam até de mim mesmo, e nem sempre as opiniões deles são as minhas.
Eu não sei se tem mais gente usando o stories para fazer esse tipo de coisa. Fui meio intuitivamente nessa onda e estou feliz de ter podido criar uma coisa diferente para o Instagram do site, melhor do que só me limitar a colocar fotos das matérias do Pop Fantasma. As histórias da dupla acontecem quase todo dia, e podem acontecer a qualquer momento.
E se antigamente quem lia uma tirinha em quadrinhos só ia poder ter acesso a ela de novo se recortasse e guardasse, aqui é a mesma coisa: tem que salvar o desenho e guardar, se você curtir. Abri exceção para a primeira série dos dois bonequinhos, que pode ser lida nos destaques do Insta. Como na época estava rolando a overdose da Demi Lovato e a ideia é que os personagens volta e meia conversem sobre algum tema atual do rock e da música pop, fiz uma historinha em que eles reencontram um coleguinha com quem fizeram bullying na escola.
Já tem historinha lá hoje.
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen
A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica
A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro
Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã
Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
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