Destaque
POP FANTASMA apresenta Black Circle, “Mercury”

O grupo carioca Black Circle ficou mais conhecido por, entre 2016 e 2017, ter percorrido palcos com um tributo ao Pearl Jam. A ideia de Lenny Prado (voz), Luiz Caetano (guitarra), Sérgio Filho (guitarra), Gabriel Z (baixo) e Nyck Magnani (bateria), no entanto, sempre foi iniciar um trabalho autoral – concretizado agora com o lançamento de Mercury, o primeiro álbum.
“Já pensávamos nesse caminho embora não houvesse nada concreto no momento da formação da banda. As autorais vieram espontaneamente, com a convivência e o tempo de estrada. Eu considero que essa transição acabou de começar com o lançamento do nosso primeiro álbum autoral”, conta Sérgio. O disco novo tem dez faixas, nove delas composições próprias. Completando o repertório, a banda ousou fazer uma releitura de Love reign o’e me, do The Who, que por sinal já havia sido gravada pelo próprio Pearl Jam.
Todo o material do Black Circle é cantado em inglês e, sim, existe a vontade de iniciar uma carreira internacional. Quem sabe até uma turnê pela Europa, lá para 2021 ou 2022, com o apoio de fãs de todo o mundo.
“É um objetivo da banda desde o início do projeto, mas até o começo da pandemia o único passo que tínhamos dado em direção a isso foi termos criado um projeto de crowdfunding que não chegamos a levar a frente”, conta Nyck, afirmando que a banda expandiu muito sua abrangência com as lives. “E num nível que era quase impensável antes desse momento. No bojo disso, conhecemos vários fãs que nos ajudam muito a espalhar nosso nome por outros países, principalmente nos EUA”.
CLIPES
Para divulgar Mercury, a banda gravou quatro clipes. Dois deles já foram lançados e o mais recente é o de Low white ceiling. Todos foram gravados no mesmo dia, numa antiga fábrica de sabão no subúrbio do Rio, e com todos os cuidados necessários em tempos de pandemia.
“Nossa equipe foi muito pequena, com apenas quatro pessoas. Gravamos em um lugar amplo e com bastante circulação de ar. Obviamente usamos máscaras todo o tempo que estávamos fora das lentes e lavando a mão frequentemente”, conta Sérgio.
Luiz conta que valeu a pena, mas foi cansativo. “Nos dias anteriores à filmagem choveu bastante. Então eu tive que ir com o Raphael Medeiros, diretor dos clipes, passar rodo no chão da locação inteira, pra podermos filmar no dia seguinte. No dia, a banda subiu e desceu as escadas do prédio com o maquinário, além de cuidar da produção. E, no topo disso, performar como artista na frente da câmera. Foi do it yourself raiz, eu diria”, conta.
VETERANO GRUNGE NO ESTÚDIO
Seguindo na contramão do mercado – que cada vez mais só pensa em plataformas digitais – o Black Circle viabilizou o lançamento de Mercury em CD (para o Brasil) e LP (por enquanto, apenas para EUA e Canadá). E o grupo ainda contou com o trabalho de um veterano da cena grunge, Chris Hanzsek, na masterização. O trabalho com o técnico, que masterizou discos de Soundgarden e Mudhoney, entre outras bandas, foi feito à distância.
“O papo foi todo por e-mail. O Chris foi uma indicação de um amigo meu também produtor musical que teve várias boas experiências com ele e deu a dica. Como a gente estava prensando LPs nos EUA, eu achei uma boa escolha fazer a masterização com alguém experiente, que entende a linguagem do gênero e que pudesse aprovar a cópia de teste. Afinal, ele estava lá e fez parte do movimento”, conta Sérgio. “Foi excelente. Além de super profissional e de produzir um resultado incrível, ele foi super simpático. E disse ter se divertido bastante com o trabalho”.
CONVITE DE EDDIE VEDDER
O guitarrista Sérgio Filho conta que a banda já pensa num próximo disco, mas diz que o Black Circle não vai abandonar o tributo ao PJ enquanto foca no autoral. O trabalho com a obra da banda norte-americana acabou atraindo a atenção de Eddie Vedder e de Mike McCready, respectivamente vocalista e guitarrista do grupo.
Aliás, Eddie e sua mulher Jill convidaram o quinteto para fazer a abertura do evento beneficente Venture Into Cures, em prol de crianças e famílias acometidas por epirdemólise bolhosa, e que acontece dia 18 de novembro, em transmissão pela internet. Entre os participantes, Renée Zellweger, Bradley Cooper, David Letterman e Adam Sandler.
A admiração do casal Vedder pelo grupo é real, a ponto de Jill ter sido a primeira a revelar a capa de Mercury em seu instagram. “Nós mantemos contato (com os Vedder) com a frequência que eu considero normal pra pessoas que estão sempre engajadas em algum projeto, como é o caso deles. Mesmo em isolamento eles estão apoiando e gerando iniciativas muito legais e que estão beneficiando muita gente. Pro Venture Into Cures nós fizemos o show das nossas vidas”, diz Sérgio.
“Fico feliz de termos nos aproximado de forma genuína, sem forçar a barra. Acho que isso foi o principal pra começarmos a desenvolver uma relação, ao invés de ser apenas um encontro pontual. E o Venture Into Cures vai ser a maior iniciativa que já participamos até hoje. É uma oportunidade fruto da generosidade genuína da família Vedder”, conta Luiz.
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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