Destaque
POP FANTASMA apresenta Atalhos, “A tentação do fracasso”

Banda formada em Birigui (SP) e que hoje inclui a dupla Gabriel Soares (vocal, bateria e violão) e Conrado Passarelli (guitarra), a Atalhos tem uma pegada próxima do dream pop e da neopsicodelia oitentista. Um tipo de som feito quando os dois músicos ainda estavam nascendo. E que influencia bastante o single novo da dupla, A tentação do fracasso, cujo clipe foi dirigido por Gabriel, com ilustrações assinadas por Marina Quintanilha.
“A neopsicodelia traz uma grande nostalgia. São músicas que ouvíamos na infância e também na nossa adolescência. Nos anos 90, quando estávamos aprendendo a tocar instrumentos e montando nossas primeiras bandas com amigos da escola, a gente ainda escutava esse tipo de música tanto nas rádios quanto nas fitas K7”, conta Conrado, que resgatou em gravações recentes sintetizadores, guitarras com pedal chorus e até um pouco de saxofone.
ABSURDO EXISTENCIAL
A tentação do fracasso, aliás, tem uma história pitoresca e triste. A letra fala do suicídio de um homem que se jogou do prédio ao lado do edifício onde Gabriel morava, e caiu bem na entrada do seu prédio. Mas encerra a história com a pessoa ganhando asas e voando. É uma ideia de recomeço, embora Gabriel diga que a ideia não foi reescrever a história da pessoa que se jogou.
“A historia dele já está escrita e não tem volta. Mas entendo que foi uma maneira de reescrever a história da minha experiência sobre o que aconteceu. E imaginar dentro da ficção, da arte, ou seja, da música, um desfecho diferente para sua queda trágica”, diz.
Conrado completa dizendo que não há o objetivo de contar uma história de superação, mas que a ideia é mostrar um lado mais otimista da vida diante do absurdo existencial. “É difícil mensurar o quanto a música ou a letra podem impactar a vida das pessoas. Ficamos muito felizes quando alguém nos escreve dizendo que se identificou com uma letra nossa. Essa é uma das melhores experiências que podemos ter como músicos, além de tocar”, diz.
ATALHOS NO PANDA
A tentação e o single anterior, Mesmo coração, adiantam o quarto disco, que sai em 2021 pelo selo Scatter. O álbum reúne nomes fundamentais na ficha técnica. A banda repete a produção do chileno Ives Sepúlveda (The Holydrug Couple), ganha masterização assinada por Greg Calbi (Tame Impala, The War on Drugs) e foi mixado no mitológico estúdio argentino Panda, que já teve como clientes Charly García, Mercedes Sosa, Soda Stereo e outros nomões da música. As paredes do estúdio abrigam várias joias vintage, mescladas a equipamentos digitais.
A Atalhos gravou lá por acaso, quando Gabriel já tinha produzido as músicas do disco com Ives em Santiago, Chile. Insatisfeito com uma guitarra que havia gravado justamente para A tentação, o músico foi em julho de 2019 para Buenos Aires e procurou um estúdio. Achou o Panda num catálogo e telefonou.
“O próprio dono atendeu, o Miguel, uma figuraça que depois ficou meu amigo. Fui conhecer o estúdio e ele me mostrou aqueles equipamentos vintage maravilhosos. Nos corredores tinham expostos discos de platina do Charly Garcia, fotos do Spinetta, do Gustavo Ceratti, do Fito Paez… Quando ele me mostrou a mesa vintage API dos anos 1970, parecia que eu estava entrando numa nave”, conta ele, que gravou as guitarras imediatamente.
Até então, a ideia da Atalhos era mixar em São Paulo, mas Ives sugeriu terminarem no Panda. A dupla aproveitou bastante o astral das histórias legais do estúdio. “Fora a calma e a tranquilidade do bairro Floresta que é bem afastado de Palermo, onde eu sempre fico, e das regiões mais centrais. Foi tudo muito mágico. Acredito que isso contribuiu para esse aspecto mais onírico, que levou o nosso som, até então era mais caracterizado pelo folk, para o que chamam de dream pop”, conta Gabriel.
DISCO NOVO
Gabriel diz que Ives não só tirou a Atalhos da zona de conforto como também abriu caminho para experimentações.
“Quisemos desde o começo criar algo realmente novo. A começar pelas composições, que eu fiz todas na guitarra dessa vez. Todas as outras dos discos anteriores foram compostas no violão”, conta, dizendo que as novas músicas trazem as duas guitarras (dele e de Conrado) dialogando. Além de riffs em loop, baterias acústicas que soam como eletrônicas (algo bem anos 1980, por sinal) e o produtor pilotando camadas de sintetizadores e demais teclados. “Esse som mais encorpado, com mais camadas, possibilita várias audições da mesma música sem que ela se torne cansativa, e esses detalhes vão surgindo a cada nova escuta, como se estivessem se revelando a cada play”, diz.
O álbum vai ser o mais trabalhado da Atalhos. Por acaso, passaram cerca de doze horas por dia burilando o trabalho no Panda. “Mixamos em vários canais. Mas tomamos a decisão de enxugar em alguns grupos específicos e o maior trabalho foi conseguir lapidar essas imensas camadas sonoras que foram se formando durante a produção. É um trabalho que ainda não terminou. Nesse momento estamos terminando a última faixa, que estivemos trabalhando novamente porque não estávamos totalmente satisfeitos. Esse tempo extra que a pandemia acabou gerando nos deu essa oportunidade de retocar os últimos detalhes e deixou as canções amadurecerem”, conta Gustavo, feliz por constatar que, após meses ouvindo as mesmas músicas, elas não deixaram de parecer agradáveis a cada audição.
“Na maioria das vezes, depois de trabalhar tanto numa música, a gente não aguenta mais ouvir. Eu tenho escutado várias vezes e é uma delícia ouvir sem se arrepender ou sabendo que você podia ter feito melhor, como acontece com faixas dos nossos discos mais antigos”, diz.
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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