Som
Pocket Rockers: aquele formato de áudio do qual ninguém lembra

Durante um tempo, deu certo e parecia uma boa ideia. Os Pocket Rockers foram lançados há 30 anos nos EUA pela empresa de brinquedos Fisher-Price como um cruzamento entre o mundo dos produtos para adolescentes, o universo da moda, a subcultura dos colecionáveis e, claro, a indústria da música. Era um cassette com um anel de fita, para ser tocado num aparelho próprio, e que tinha uma ou duas canções de sucesso que nunca acabavam. Assim que você inseria a fita no cassette, ela ficava tocando interminavelmente.
Alguns desses aparelhos, hoje em dia, são vendidos em sites como o eBay. Olha um deles, aí.
O comercial do Pocket Rockers era esse aí. Se você se recorda (sei lá, pergunta pro seu pai), nos anos 1980 estava super na moda usar jaquetas jeans cheias de buttons e apliques malucos. E a ideia era que o comprador adquirisse as fitinhas e colocasse em sua jaqueta, ou em alguma peça de roupa qualquer, ou num penduricalho à escolha dele. Sim, isso tirava o humor de muitos pais, professores e inspetores escolares, lá fora.
“Isso só pode ser brincadeira. Que artista maluco lançaria um compacto assim?”, você pode se perguntar. Cara, Bon Jovi lançou, Whitney Houston também, Bangles também (Walk like an egyptian fazia sucesso pra burro). Madonna também lançou. E parecia de fato uma ideia bem legal. Até que, evidentemente, esses volúveis adolescentes percebessem que ficar escutando a mesma música em looping e usar uma fita pendurada na jaqueta não era nada cool. Isso rolou em 1991, quando o produto foi descontinuado.
O youtuber Techmoan, que faz vídeos sobre tecnologia antiga, arrumou um desses e mostrou como funciona.
Notícias
Urgente!: Sly Stone se despede. Pedro Francisco (Papangu) solo – e mais

RESUMO: Sly Stone morre aos 82, deixando legado no funk e rock. Pedro Francisco (Papangu) lança single solo. Crise do Arcade Fire.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
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Qualquer palavra é pouco para explicar a importância de Sylvester Stewart, o popular Sly Stone – influência básica no funk, no rock, e em quase tudo do universo pop que surgiu depois que ele apareceu. O músico, criador da banda Sly and The Family Stone, morreu nesta segunda (9) aos 82 anos. Sua família divulgou uma nota revelando o óbito: “Após uma batalha prolongada contra a doença pulmonar obstrutiva crônica e outros problemas de saúde subjacentes, Sly faleceu em paz, cercado por seus três filhos, seu amigo mais próximo e sua família extensa”.
O som de Sly and The Family Stone, grupo que formou em 1966 com seu irmão Freddie, não se prendia a gêneros: era funk e soul, mas era psicodelia, gospel, música de protesto, orgulho negro, tudo junto – e a formação da “família” de Sly acompanhava a variedade, com pretos, brancos, mulheres. Dance to the music, hit de 1967, criou uma base para futuros músicos que se aventurassem a unir soul e lisergia. Os Temptations aprenderam direitinho e lançaram os LPs Cloud nine (1969) e Psychedelic shack (1970). George Clinton (Parliament-Funkadelic) foi outro aluno aplicado. A apresentação de Sly and The Family Stone no Festival de Woodstock, em 1969, marcou época: o grupo botou a plateia hippie para berrar “higher!” no refrão do balanço I wanna take you higher.
Os excessos foram tomando espaço demais na vida de Sly Stone: o abuso de cocaína e PCP (e o posterior uso de crack) comeu sua fortuna e foi deixando o músico catatônico. Shows cancelados e discos fracassados começaram a ser mais comentados pela imprensa do que suas poucas aparições públicas. Em 2011, o jornal New York Post descobriu que Sly estava vivendo como sem-teto, morando numa van branca em Los Angeles. Um casal de aposentados deixava que ele usasse o chuveiro de sua casa e checava se ele havia se alimentado.
Houve vários retornos durante os últimos anos. Em 2010, ele retomou a Family Stone e fez um show no festival Coachella. Em 2011, mesmo ano em que surgiu a história de que ele vivia numa van, Sly soltou o disco I’m back! Family & friends, com remixes e três inéditas. Em 2023, o artista lançou uma autobiografia, Thank you (Falettinme be mice elf agin) e, para divulgar o livro, concedeu uma raríssima entrevista para o periódico britânico The Guardian. A conversa rolou por e-mail e sem fotos novas, mas foi reveladora.
“Tenho problemas com meus pulmões, problemas com minha voz, problemas com minha audição e problemas com o resto do meu corpo também”, disse ao repórter Alexis Petridis, que diante das evidências anotou que Sly Stone estava “claramente muito doente” aos 80 anos. “Os problemas de saúde não me impediram de ouvir música, mas me impediram de fazê-la”, disse Sly em outra altura do papo. E enfim, morre Sly Stone, mas ficam a música e a ousadia.
***
A banda paraibana Papangu é dedicada a uma mistura de sons progressivos e pesados – nada a ver com “metal progressivo”, o lance deles está mais próximo da pauleira das antigas, misturada com sons nordestinos (falamos do disco Lampião rei aqui) e sons de vanguarda. Pedro Francisco, multi-instrumentista do grupo, acaba de se lançar solo com o single Abelhas. Mas não espere nada parecido com sua banda de origem: a (ótima) canção de Pedro lembra Guilherme Arantes, 14 Bis, Dalto, Byafra e pop adulto oitentista em geral. Além de compor e cantar, o músico opera instrumentos como os sintetizadores Yamaha Reface DX e Roland JV-1080.
“É uma canção que fala sobre mudança de perspectiva, sobre ‘virar a chave’ e enxergar valor nas coisas do cotidiano”, afirma ele, que lançou em maio um EP instrumental, Rabiscando os sons, e prepara agora o álbum solo Pedregulhos, previsto para o segundo semestre de 2025 pela gravadora Taioba Music.
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Direto do site Hearing Things (montado por ex-repórteres e críticos da Pitchfork), uma análise bem interessante sobre o que foi acontecendo com o Arcade Fire nos últimos anos, e todos os problemas em torno do mais recente álbum da banda, Pink elephant (resenhado pela gente aqui).
A autora do texto, a jornalista Jill Mapes, descreve-se como uma fã antiga da banda e reconhece o quanto o crescimento do AF aconteceu numa época em que, por intermédio da eleição de Barack Obama, tudo parecia renovado nos Estados Unidos – “uma promessa de esperança e mudança”, lembra ela. Com o tempo, e com as acusações de má-conduta sexual envolvendo o vocalista Win Butler (reportadas inicialmente pela própria Pitchfork), muita coisa mudou, mas não apenas isso. “Era fácil para ouvintes casuais ignorarem o Arcade Fire diante dessas alegações porque a música estava em declínio há muito tempo”, argumenta ela.
Lançamentos
Radar: A Olívia, Marcela Lucatelli, Mateus Fazeno Rock, Andre L. R. Mendes, Diablo Angel, Humberto Gessinger, Marcelo Duani

Radar nacional de volta nesta segunda e lá estamos nós sofrendo para dar conta de tanta música boa que anda saindo – tanto que muita coisa atrasa, às vezes atrasa BASTANTE, mas sai. Estamos na expectativa de muitos álbuns legais que estão para sair, como os próximos discos da banda A Olívia e de Mateus Fazendo Rock. Mas tem artista divulgando seus singles e álbuns já lançados com clipes, compactinhos lançados entre um álbum e outro… Muitas estratégias diferentes de lançamento. Vá sem medo e faça suas playlists.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação (A Olívia)
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A OLÍVIA, “INSUSTENTÁVEL”. Preparando o álbum Obrigado por perguntar (“o maior projeto da carreira da banda”, como afirmam) que sai em julho, os paulistanos do A Olívia lançam o novo single, um rock com argamassa pop que demorou quase dez anos para ficar pronto. A banda começou a fazer Insustentável em 2016, e a música mudou tanto de lá para cá que, eles contam, nem se parece com o tema original no qual trabalharam inicialmente. “Isso pra mim diz muito sobre a mensagem que a música passa: nós precisamos ser a nossa própria mudança, mesmo que o cenário seja Insustentável”, diz o cantor do A Olívia, Louis Vidall.
MARCELA LUCATELLI, “ANTICIVILIZADOR”. “Não é uma música para consolar. É para instigar”, diz Marcela Lucatelli, que transformou em clipe – dirigido e roteirizado por ela própria – uma das faixas de seu álbum lançado no ano passado, Coisa má. A faixa e o clipe são repletos de quebrações rítmicas, vocais performáticos e danças ritualísticas, num trabalho que é tão artístico quanto político – afinal, Anticivilizador é um canção sobre observar as ruínas, juntar o que sobra e seguir em frente, apesar de tudo. Um típico ritual de sobrevivência na selva do dia a dia.
MATEUS FAZENO ROCK, “ARTE MATA”. Se você já viu o clipe de Arte mata, faixa nova de Mateus Fazeno Rock, já sabe: não é só música nem clipe – é denúncia, é pixação, é aviso, é quase cinema novo, com Mateus declamando a letra e tocando guitarra, numa sonoridade próxima do post-rock, e cheia de brasilidade no arranjo e na melodia.
Na letra, Mateus oferece um retrato amargo e realista da arte da sobrevivência, num país cuja história é repleta de injustiças e golpes. “Quero ser o verso poderoso de quem poderia segurar a bandeira, mas tá sem forças. Aquele que caiu, mas vai se levantar. Aquela que falhou, mas vai tentar de novo”, afirma. No final, completa: “Brasil mata. Ou morre o sonho, ou morre o sonhadouro”.
ANDRE L. R. MENDES, “MEDO DE AVIÃO III”. Existem três canções que se chamam Cotidiano. A primeira é de Chico Buarque, a segunda, Cotidiano nº 2, de Toquinho e Vinicius de Moraes (a do “mas não tem nada não / tenho o meu violão”, lembra?), e a terceira, Cotidiano nº 3, feita por Odair José – cada uma enxergando o tédio do dia a dia a seu modo. Sabendo que Belchior tinha feito uma Medo de avião e uma Medo de avião II, o baiano Andre L. R. Mendes decidiu batizar sua canção sobre fobia de voar como… Medo de avião III.
Ele conta que nem fez a música pensando nisso, foi uma ideia que surgiu depois – e que, na verdade, o ponto de partida para continuar as canções de Belchior foi ter descoberto a existência de uma Sem você (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e uma Sem você nº2 (de Chico Buarque). O resultado é uma balada romântica folk sobre alguém que vai encontrar seu amor lá longe, mesmo detestando voar. Tudo no faça-você-mesmo – André gravou, produziu, fez a capa do single e até um clipe.
DIABLO ANGEL feat TOCA OGAN, “SOBREVOO”. Com participação de Toca Ogan (Nação Zumbi), o novo single da banda pernambucana Diablo Angel cruza sonoridades e territórios, com uma letra que narra um voo de Caruaru ao Rio, passando por Fortaleza e Bahia, até chegar a Recife. Musicalmente, é uma boa mistura, que inclui percussões brasileiras (agogô, conga, berimbau), clima indie-pop que aponta para a disco music com guitarras, e vocal rasgado, feito pela guitarrista Kira Aderne, que lembra o rock nacional dos anos 1980.
Esse é o primeiro dos dois singles que a banda lança com convidados. No dia 13 de junho, o grupo lança uma releitura pop e eletrônica de A feira de Caruaru, hit de Luiz Gonzaga, com participação do autor da canção, o veterano Onildo Almeida. No mesmo dia, a banda divide o palco com ele, num show especial da programação oficial do São João de Caruaru, promovendo uma união atualizada de rock e sons nordestinos.
HUMBERTO GESSINGER, “SEM PIADA NEM TEXTÃO”. “Escrevi essa música para falar da busca de serenidade e simplicidade nos tempos nervosos em que vivemos. A ansiedade que está no ar às vezes se fantasia de humor grosseiro, às vezes de puritanismo estéril. Sempre vários tons acima”, diz Humberto, cujo single novo é uma das duas músicas inéditas do álbum ao vivo Revendo o que nunca foi visto, marcado para sair dia 27 de junho (a outra é Paraibah, parceria com Chico Cesar). A faixa é uma canção com herança dos anos 1960 – só que relido pela estética folk oitentista – gravada ao lado de Adal Fonseca (bateria), Luciano Granja (guitarra) e Lúcio Dorfman (teclados), integrantes da formação dos Engenheiros do Hawaii que gravou álbuns como Minuano (1997). E o clipe da faixa é uma animação feita pelo artista Vini Albernaz em cima de vídeos pré-gravados pelo próprio Humberto
MARCELO DUANI feat GRAZI MEDORI, “LUA AREIA”. Marcelo tem quase três décadas de história na música brasileira – sua carreira inclui shows e turnês no exterior, e trabalhos ao lado de artistas como Marlon Sette, George Israel, Gabriel Moura, Marcos Suzano, Wilson Simoninha e vários outros, sempre unindo samba, jazz e música dos terreiros. Preparando o quarto álbum, ele lança novo single: o samba lento, praieiro e elegante Lua areia, no qual junta sua voz ao registro gracioso de Grazi Medori. Se Wilson Simonal estivesse por aqui, gravaria essa.
Crítica
Ouvimos: Miley Cyrus – “Something beautiful”

RESENHA: Miley Cyrus lança Something beautiful, um disco pop irregular, com ótimos momentos, mas um tanto quanto bagunçado na direção criativa.
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Ouvir e entender esse novo disco de Miley Cyrus pelo que ele é de verdade pede calma. Ainda mais se você ficou animada/animado com a promessa de um disco pop revolucionário e psicodélico, “inspirado no The wall, do Pink Floyd”, como ela própria anunciou. É preciso lembrar que nem todo pop precisa ser “conceitual” para ser bom. Nem todo mundo é David Bowie, George Michael ou Lady Gaga, e tá tudo bem. E até mesmo The wall tinha furos conceituais, e momentos que desafiavam a paciência de qualquer um. Vai por aí.
Com uma lista de colaboradores enorme – que inclui Danielle Haim, Flea, Cole Haden (Model/Actriz), Brittany Howard, Adam Granduciel (The War On Drugs) e mais uma porrada de gente – Something beautiful, novo disco de Miley, não é “progressivo”, não é psicodélico e nem mesmo é um disco conceitual. A começar pelo fato de “conceitual” ser uma palavra pra lá de desgastada, enfim. É um disco pop com momentos de contação de histórias e elementos de sujeira, como no aspecto lo-fi da faixa-título, no som anos 1980 de More to lose e no tecnopop pretensamente lisérgico (e bom) de Pretend you’re god – que combina sons de teremim, guitarras com distorção e texturas estranhas.
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Essas músicas mais “difíceis” (em tese) do disco é que dão mais graça a ele, porque Something beautiful tem pelo menos dois pecados sérios justamente na área pop. Que são a caidinha End of the world (com vibe meio Elton John meio Coldplay) e o tom não-disse-a-que-veio de Every girl you’ve ever loved, uma imitação do ABBA com participação de Naomi Campbell – que mais parece um remix de algum hit oitentista, como aqueles remixes do Kid Abelha que tocavam o dia todo no rádio no fim dos anos 1990.
Por outro lado, tem a ótima Easy lover, pop com cara de anos 1970-1980, com piano Rhodes e algo das faixas solo de Stevie Winwood. E duas faixas em que dá para perceber o quanto Miley vem sendo influenciada por Stevie Nicks – o soft rock Golden burning sun e a disco Walk of fame, a tal faixa com Brittany Howard. Encerrando o disco, tem Give me love, pop grandiloquente com clima gratiluz e meio hippie, com final aterrorizante – e que deixa a impressão de que se não fosse uma música perdida num disco perdido, faria mais sentido.
No fim das contas, Something beautiful tem momentos legais e nem de longe é um disco ruim. Mas se é preciso um gerente ou um diretor criativo para dar organizar as ideias num disco pop cheio de colaboradores, deu bagunça na gerência.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: MCEO/Columbia/Sony Music
Lançamento: 30 de maio de 2025.
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