Destaque
Peraí, o que é esse tal de Stemphylium?

Se tem uma banda com uma história, digamos, pitoresca (por falta de adjetivo melhor) no cenário underground, essa banda é o Stemphylium.
A banda foi formada originalmente em Niterói (RJ) no distante ano de 1996 e grafada erroneamente como STEPHELYUM. O nome foi tirado de uma matéria do programa Globo Rural, mas quem teve a ideia não anotou corretamente. Levamos anos pra descobrir isso. Bom, em 1996 a Internet mal existia, deem um desconto!.
A banda tocava um punk / hardcore com letras bem-humoradas e teve diversas encarnações ao longo dos anos entre idas e vindas até acabar em 2013 (ao menos por enquanto). Mas o fantasma da banda parece me acompanhar.
Aliás, eu sou o vocalista, baixista e único membro remanescente dos primórdios, Luciano Cirne, vulgo Milhouse. E é engraçado, porque volta e meia alguém descobre o videoclipe que jogamos de sacanagem no Youtube (o de Raiva, irritação e nervosismo) ou o nosso Soundcloud e entra em contato. No meu trabalho então, algumas músicas viraram hits! Tem gente que passava por mim, me cumprimentava e mal lembrava do meu nome, mas sabia minhas músicas de cor.
Em toda sua extensa trajetória, o Stemphylium teve apenas um EP gravado, Pra quem não tinha nada, metade é o dobro. O disco que teve uma tiragem limitadíssima e foi gravada de forma completamente mambembe.
Aliás, conseguimos uma proeza: não gastamos um centavo sequer pra gravá-las! Usamos o equipamento que o guitarrista tinha na época em casa e levamos do jeito que deu. Como não dava pra montar e microfonar uma bateria lá, usamos uma bateria eletrônica mesmo. Até o videoclipe que fizemos foi editado usando um programa que baixamos na internet e as imagens utilizadas, tirada de um site com filmes antigos que caíram em domínio público. E vocês aí achando que o Nirvana gravando o Bleach por uma merreca descobriu a pólvora… sabe de nada, inocente!.
Hoje o EP está no Soundcloud.
A primeira fase da banda durou de 1996 a 1998. Os outros integrantes quiseram montar um negócio mais sério e fizeram uma banda de rap chamada Doi Codi, que durou até o início do ano 2000. Fiquei em várias bandas que não duraram nada. Em 2002 voltei a ter contato com o Rafael, guitarrista do Stemphylium e do Doi Codi, e a gente se animou para voltar a tocar juntos. Chamamos um amigo nosso, o Paulo CP, para tocar bateria. E fizemos uma apresentação no canal da Universidade Federal Fluminense (UFF). Que por sinal foi bem marcante por vários motivos.
Para começar, o show foi no dia da partida entre Camarões e Arábia Saudita pela Copa de 2002. E mais: não sei como não fui expulso do programa, porque antes de tocarmos, falaram que não podia falar palavrão nem falar mal do prefeito. Dito e feito: antes de tocar a primeira música, dediquei a canção “para aquele filho da puta do prefeito”. Ficaram putos, claro! Isso durou só até 2003, por aí.
De 1996 a 1998 fizemos shows, e de 2002 a 2003 foram uns dois shows no máximo. Foi tudo em lugares que não existem mais, como Farol, Gato Preto, Boungainville, em Niterói e São Gonçalo. Eu estava fazendo faculdade de Direito, o baterista estava desempregado e sem grana. A gente não aguentava pagar do próprio bolso para pagar ensaio, e demos um tempo. Até que em 2010 veio outra formação e entrou o Oliver na guitarra. O Paulo CP continuou na bateria.
O Oliver tinha um estúdio caseiro e lá foi gravado o nosso primeiro EP, sobre o qual você leu lá em cima. Além das já citadas programações de bateria, tem algumas programações de baixo ali, porque em algumas vezes que tentamos gravar não ficou legal. Bom, a gente é do departamento do “quanto pior melhor”, tá tudo bem.
Mesmo com tanto improviso, obtiveram alguns resultados positivos. Carlos Eduardo Lima, que hoje dirige o site Célula Pop curtia muito nosso som e chegou a tocar nossa música Ode ao vale-refeição no programa de rádio que apresentava. Agora fiquei sabendo que na rádio Amparo em Pernambuco (98,1) minha música começou a ser tocada também! Foi no programa do Alexandre Neves. Aproveito para agradecer a ele inclusive. Nesse ritmo, de uma música tocar em rádio a cada dois ou três anos, daqui a uns 50 anos a gente estoura! Hahahaha! Só espero estar vivo até lá.
E para o futuro? Sei lá! A essa altura dos acontecimentos, eu não tinha mais expectativa alguma, já imaginava que estivéssemos mortos e enterrados. Agora do nada uma música começou a tocar em Pernambuco, então vai saber? Como diria o Zeca Pagodinho, deixa a vida me levar e, se essa brincadeira der frutos, ótimo; se não der, tudo bem também, contanto que eu continue me divertindo!
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
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A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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