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Crítica

Ouvimos: The Chills, “The lost EP” (EP)

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Ouvimos: The Chills, "The lost EP" (EP)
  • The lost EP é o primeiro EP da banda neozelandeza The Chills (1985), recentemente relançado. Ele foi lançado originalmente pelo selo Flying Nun Records, após as fitas ficarem perdidas por doze meses. Antes, o grupo havia participado de um disco com bandas de sua cidade, Dunedin (o EP duplo Dunedin double, de 1982, do mesmo selo).
  • O cantor e principal compositor do grupo, Martin Phillips, morreu no dia 28 de julho. Ultimamente o material reeditado do grupo vinha saindo num Bandcamp. Ele estava trabalhando num novo lançamento da banda.

Definida como power pop ou jangle pop por muita gente, a banda neozelandeza The Chills tem nas costas a formatação do lado mais misterioso e orquestral do indie rock dos anos 1980/1990. E também a cocriação da ponte entre dream pop e pós-punk, com suas melodias belas e maníacas, suas letras quase literárias, e sua vocação para soar meio “maldita”, mesmo quando o foco é a produção de músicas cantaroláveis e de teor quase folk.

Soft bomb (1992), talvez seu único disco conhecido no Brasil (por causa do single The male monster from the Id, sucesso nas college radios norte-americanas, e cujo clipe passou na MTV por aqui) não soava estranho para quem estava começando a conhecer o R.E.M. naquela mesma época. Mas trazia um lado misterioso associável a David Crosby, The Doors, XTC, Beach Boys (Van Dyke Parks, parceiro de Brian Wilson, contribui numa das faixas) e ao lado mais sombrio dos Beatles. E mostrava em detalhes a genialidade e a versatilidade do líder Martin Phillips, que naquele momento não conseguiu segurar a própria onda – o grupo começou a ter problemas internos, foi escanteado pela gravadora, e encerrou atividades por uns tempos, voltando logo depois como Martin Phillips & The Chills (retomariam o nome original posteriormente).

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Drogas, hepatite e problemas colaterais foram minando a energia de Phillips, cuja história gerou um excelente documentário, The Chills: The triumph & tragedy of Martin Phillipps, de 2019, exibido no Brasil no festival In-Edit em 2020. O líder dos Chills, lamentavelmente, morreu no dia 28 de julho, deixando um disco da banda por terminar (Springboard: Early unrecorded songs) e envolvido numa série de relançamentos do grupo. O mais recente deles foi o do primeiro EP do grupo, The lost EP, lançado originalmente em 1985 pelo selo indie local Flying Nun, responsável por documentar a cena indie de Dunedin, cidade da Nova Zelândia que se tornou polo musical no fim dos anos 1980.

The lost EP pode igualmente ganhar a definição de power pop. Mas é um “pop poderoso” que varia do punk à psicodelia, e que abre num clima quase Syd Barrett + Ramones, em This is the way, letra de teor cínico e destrutivo (“essa é a minha maneira/a única para mim/encher a cabeça de álcool, revistas em quadrinhos e drogas”), e que prossegue num punk rock com guitarras lembrando The Cars (Never never go).

Don’t evek know her name e Bee bah bee bah bee boe soam como punk folclórico, a última levada adiante por acordeom e violão. Whole weird world é pós-punk quase gótico, com reverb nos vocais e som lembrando as produções de Martin Hannett (Joy Division). E encerrando, tem as várias partes da psicodélica e apocalíptica Dream by dream. Um começo promissor e ainda “maldito” para o mercadão.

Nota: 7,5
Gravadora: Fire Records

 

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Os melhores discos de 2025 até agora!

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Os melhores discos de 2025 até agora!

Mudamos algumas coisas no Pop Fantasma nos últimos tempos – e houve mudanças básicas em março. O site passa a falar cada vez mais de discos novos, e nesse mês que se passou, seções diferentes (Radar e Urgente!) surgiram para dar conta de, respectivamente, lançamentos em singles, e assuntos variados. Em março, o número de textos publicados por semana subiu bastante também. E ideia é que o Pop Fantasma facilite cada vez mais a vida de quem acompanha tudo que sai de música, selecionando os melhores lançamentos (e alguns piores também).

Ainda falta muita coisa acontecer, mas aqui, a casa está sempre em obras, e sempre sendo arrumada. E agora, você fica com os melhores discos de 2025 ouvidos pelo Pop Fantasma até agora, incluindo os meses de janeiro, fevereiro e março. Ouça tudo com a gente!

Arte: Aline Haluch

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TURMA DA NOTA 8
Art D’Ecco, Serene demon
Bartees Strange, Horror
Brian D’Addario, Till the morning
Chest, All good things end (EP)
Drop Nineteens, 1991
Hello Cosmos, Keep digging (EP)
Horsegirl, Phonetics on and on
Jack White, No name live (EP)
Jennie, Ruby
Lathums, Matter does not define
Lilly Hiatt, Forever
Melissa Weikart, Easy (EP)
Olly Alexander, Polari
Panda Bear, Sinister grift
Ringo Starr, Look up
Rose Gray, Louder, please
Sasami, Blood on the silver screen
Sleeper’s Bell, Clover
Squid, Cowards
Swave, Foi o que deu pra fazer
Tunng, Love you all over again
Yo La Tengo, Old joy (EP)

TURMA DA NOTA 8,5
Arnaldo Antunes, Novo mundo
The Backfires, This is not an exit
Bad Bunny, Debí tirar más fotos
Cathedrale, Poison
Circuit Des Yeux, Halo on the inside
Eel Men, Stop it! Do something!
FACS, Wish defense
Far From Alaska, 3
Franz Ferdinand, The human fear
Frog Eyes, The open up
Getúlio Abelha, Autópsia (EP)
Hamilton Leithauser, This side of the island
Heartworms, Glutton for punishment
Japanese Breakfast, For melancholy brunettes (& sad women)
Jethro Tull, Curious ruminant
Kathryn Mohr, Waiting room
Krisj Wannabe, Mirror (EP)
Lady Gaga, Mayhem
Lilywhite, Silver lining (EP)
Menores Atos, Fim do mundo
Mogwai, The bad fire
Paris Texas, They left me with the sword (EP)
Pink Turns Blue, Black swan
Porridge Radio, The machine starts to sing (EP)
Prism Shores, Out from underneath
Rés, Peba
Souls Extolled, Soulsex
Star 99, Gaman
Terraplana, Natural
Véu Sublime, Não é nenhum segredo (EP)
The Wombats, Oh! The ocean
Young Knives, Landfill

TURMA DA NOTA 9
20/20, Back to California
Alessia Cara, Love & hyperbole
Andy Bell, Pinball wanderer
BK’, Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer
BaianaSystem, O mundo dá voltas
Basia Bulat, Basia’s palace
Baths, Gut
Benjamin Booker, Lower
Bob Mould, Here we go crazy
Chalk, Conditions III (EP)
Chloe Slater, Love me, please (EP)
Dadá Joãozinho, 1997 (EP)
Delivery, Force majeure
Dilettante, Life of the party
Divorce, Drive to Goldenhammer
Gang Of Four, Shrinkwrapped (relançamento)
Ichiko Aoba, Luminescent creatures
Lambrini Girls, Who let the dogs out
The Main Squeeze, Panorama
Manic Street Preachers, Critical thinking
Matt Berry, Heard noises
Miya Folick, Erotica Veronica
The Murder Capital, Blindness
Ney Matogrosso & Hecto, Canções para um novo mundo
Paris Texas, They left me with a gun (EP)
Sharon Van Etten & The Attachment Theory, Sharon Van Etten & The Attachment Theory
Skinner, New wave vaudeville
Tátio, Contrabandeado
Thiago Amud, Enseada perdida
Throwing Muses, Moonlight concessions
The Velveteers, A million knives
The Waeve, Eternal (EP)
The Weather Station, Humanhood

TURMA DA NOTA 10!
The Hausplants, Into equilibrium (EP)
Hifi Sean & David McAlmont, Twilight
Marshall Allen, New dawn
Miami Horror, We always had tomorrow
Nyron Higor, Nyron Higor
Paulinho da Viola, 80 anos – Ao vivo

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Ouvimos: Djonga, “Quanto mais eu como, mais fome eu sinto!”

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Ouvimos: Djonga, “Quanto mais eu como, mais fome eu sinto!”

Boa parte da audição de Quanto mais eu como, mais fome eu sinto!, novo disco de Djonga, dá vontade de dizer: “Para! Descansa! Respira!” O rapper mineiro despeja versos em um fluxo incessante, costurando sílabas entre uma frase e outra, fazendo as palavras se encaixarem em uma métrica própria – que, de certa forma, dialoga com o sotaque das Minas Gerais, cheio de abreviações e recriações do português.

Isso não é um problema, longe disso. É, na verdade, impressionante como Gustavo Pereira Marques – nome de batismo de Djonga – empilha histórias e batidas com intensidade. Quanto mais eu como, mais fome eu sinto! pede para ser ouvido com o encarte das letras em mãos. Faixas como Fome, onde a história de Exu é contada pelo próprio rapper, Qq cê quer aqui, Ponto de vista e PRRT! carregam um peso emocional que remete ao rap de BNegão, mas com um fôlego impressionante, como se as rimas fossem fruto de descobertas recentes ou de energias represadas há anos.

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Além da velocidade alucinante, Djonga também brinca com a melodia, variando linhas vocais e deixando diferentes flows coexistirem na mesma faixa. Isso fica evidente em Real demais e João e Maria, onde ele solta o verso guerrilheiro: “Tá pra nascer / alguém que faça essa guerra parar de ter sentido pra mim”. O encontro com a MPB que BK’ realizou em seu disco Diamantes, lágrimas e rostos pra esquecer (resenhado aqui) também acontece aqui em clima mineiro, com Samuel Rosa dando ar de rodinha de violão a Te espero lá e Milton Nascimento (carioca criado em Minas) soltando a voz em Demoro a dormir, canção sobre pessoas que ficaram para trás, com citação do filme Ainda estou aqui.

Bom, tem também o sample de Último romance, dos Los Hermanos, que soa como um enxerto meio excessivo na romântica e emotiva Melhor que ontem. Por outro lado, Dora Morelenbaum dá um ar doce a Ainda, um rap romântico e idealista, de briga, ainda que lembre do amor e das coisas da vida (“ainda que o pouco fosse tudo para nós / a gente teria a gente”). Pode ser que Djonga, em outro disco, queira alinhar uma participação de Gilberto Gil. O baiano, mesmo não cantando no disco, está presente – graças a lembranças de Vamos fugir e Não chore mais nas letras do rapper. E teria sido uma excelente adição ao universo afrobrasileiro e sonhador de Quanto mais eu como, mais fome eu sinto!

Nota: 9
Gravadora: A Quadrilha
Lançamento: 13 de março de 2025.

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Ouvimos: Rael, “Onda”

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Ouvimos: Rael, “Onda”

Rael disse que Onda é um disco para as pessoas apenas ouvirem – não é um disco de guerra nem de contestação. A guerrilha do disco é sonora: Onda já abre com Simbora, um batidão entre funk e umbanda, com refrão lembrando Gilberto Gil. Prossegue com a faixa-título, que tem sample de Onda (hit de Cassiano), traz Rael e Mano Brown dividindo rimas e citando nomes importantes da cultura musical black brasileira – e encerra com bênção do mestre black nacional Dom Filó. “O filósofo Friedrich Nietzsche declarou: ‘Não acredito num deus que não dance’. E eu, Dom Filó, acrescento, ‘Não acredito num fiel que não se mexa”, diz o produtor e DJ.

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É por aí que vai Onda, disco em que boa parte das canções são românticas, e a maioria dos convidados conduz mais à descontração do que à cara franzida. Ivete Sangalo e Gabriel do Borel dividem vocais no rap-axé indianista Outro nível, Marina Sena surge no rap de paquera Na minha (do excelente verso “tomei coragem, mas também tomei tequila”) e o trio de produtores Los Brasileros se solta no rap-MPB Suave. Um álbum que indica caminhos mais descontraídos para o rap brasileiro, e talvez indique mudanças empresariais cruciais no estilo – já que foi o último disco lançado pelo selo Laboratório Fantasma antes da separação dos sócios e irmãos Evandro Fióti (por sinal, co-produtor de Onda) e Emicida.

Enquanto não rolam as próximas movimentações do selo, a onda de Onda vira para o reggae, o forró e o samba no decorrer do álbum. É o que surge na vibe nordestina de Saudade de lascar e Na minha cabeça (nessa, Mestrinho toca um acordeom virtuosístico, cheio de baixos que chegam a dar um tom roqueiro). E também no samba-trap Vibe, com Ludmilla – a cantora volta como citação na baileira Até o sol raiar, que encerra o álbum. Chá de lírio e Me deparei com a lua guiam Onda para o som praieiro, e o rap romântico Meu iô iô, com Luedji Luna, é uma das raras músicas quase vintage do disco, evocando o boogie nacional oitentista.

Onda não vai, provavelmente, ser um disco histórico para o rap nacional – mais acostumado com guerrilhas e discos solenes. Mas alivia bastante o clima de um estilo musical pesado e trevoso por convicção.

Nota: 8
Gravadora: Laboratório Fantasma
Lançamento: 20 de março de 2025.

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