Crítica
Ouvimos: Sutil Modelo Novo, “A teoria d q td vai dar certo no final”

- A teoria d q td vai dar certo no final é o primeiro álbum de estúdio da banda carioca Sutil Modelo Novo, formada por Guilherme Vieira (baixo, guitarra e voz), João Terra (bateria e voz), Pedro Nigro (guitarra, voz e baixo) e Theo Necyk (trompete, teclados, baixo, guitarra e voz).
- Antes do álbum, o grupo tinha lançado quatro singles e um EP ao vivo, Ao vivo no Escritório, lançado em outubro de 2024, e gravado na casa de shows alternativa Escritório, no Rio.
O Sutil Modelo Novo é uma banda bem (combinando com o nome, aliás) nova. Surgiu já no pós-pandemia, em 2022, e em sua música, traz muito da angústia daqueles tempos de isolamento. O primeiro álbum do grupo une pós-punk, emo, shoegaze e até elementos do post-rock, tudo encapsulado nas nove faixas, e unido com várias outras referências. Tanto que abrem o disco com a variada 23, que dura seis minutos. A faixa abre como uma espécie de emo-blues e depois ganha ritmos quebrados, mas sem a urgência do pós-hardcore (“aos 23 eu cansei de sofrer”, diz a letra).
Sutil modelo novo, a música, fala sobre erros do passado que voltam ao pensamento – a faixa é basicamente um shoegaze. Um pouco da ingenuidade do indie rock nacioal dos anos 2000 retorna em Sozinho (s), uma balada que, na letra, usa até elementos de astrofísica (“colecionadora de histórias/que é a sobra do bóson que faz a nossa bossa/ou é só minha ilusão/que somos partículas em colisão?”). Algo mais acústico e quase MPBístco surge em Quinta cinza e na faixa-título.
Na parte final do disco, há toques de New Order no baixo de Flores, e um dream pop em Fim do mundo, além do riff de trompete e dos elementos de screamo em Memento, que encerra o disco. No geral, um rock sentimental e fluido musicalmente.
Nota: 7,5
Gravadora: Independente.
Lançamento: 13 de dezembro de 2024.
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Crítica
Ouvimos: The Mars Volta, “Lucro sucio; Los ojos del vacio”.

Você pode até pensar: “pô, o disco novo do The Mars Volta dura 50 minutos, vou ouvir só vinte minutos e depois escuto o resto…” ou “que legal, saiu disco novo do Mars Volta, vou ouvir enquanto lavo a louça”. Eu acho, francamente, que ninguém faria isso, mas se for o seu caso, pode tirar o cavalinho da chuva: Lucro sucio; Los ojos del vacio, nono álbum da banda texana, vai te sugar para um vórtice auditivo de alta profundidade – e você só vai conseguir voltar à realidade quando escutar tudo.
A Kerrang!, QG jornalístico do metal, classificou Lucro sucio como um disco feito para testar os limites da paciência do/da ouvinte, e ainda disparou que “há uma linha tênue entre a genialidade e a insanidade”. Mas talvez a questão aqui nem seja o quanto o Mars Volta, uma banda progressiva bastante peculiar, é genial. Isso porque Lucro sucio é um disco tão bom, e tão repleto de detalhes para serem descobertos, que ele se presta mais a discussões intermináveis do que a conversas fechadas. Parece que ninguém ali está muito preocupado em parecer “genial”, e muita coisa do álbum soa como diversão musical levada a sério – por sinal, como acontecia em discos de bandas como Gong e Can.
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Lucro sucio não começa: ele decola, com os vocais harmonizados e a ambientação de igreja de Fin, o batidão ambient e dance de Reina tormenta, e a vibe de Sympathy for the devil pós-punk de Enlazan las tinieblas – que lá pelas tantas se parece mais com um Radiohead novobaiano. Até que chega um momento no álbum em que fica claro que o melhor de Lucro sucio é a união de elementos pop e progressivos. É o que surge em faixas como Mictlán e The iron rose, por exemplo. Ou no som latino e calmo, entre Djavan e James Taylor, do soft rock jazzístico Voice in my knives – levado adiante com voz, percussão, violão e piano Rhodes.
Quem é fã radical de climas prog vai curtir a primeira parte de Cue the sun, lembrando o começo do álbum Obscured by clouds (1972), do Pink Floyd. Além do jazz destruidor de Alba del Orate, a lisergia sombria de Celaje, e a balada enevoada Maullidos. E já que o Pink Floyd foi citado, vale citar que o Mars Volta, em vários momentos do disco – e de sua história – parece querer juntar a frieza do progressivo britânico ao soul do Earth, Wind and Fire, como acontece em Morgana e Cue the sun 2. No final, o progressivo latino e espacial da faixa Lucro sucio, que dá parte do título do disco.
Resumindo: Lucro sucio; Los ojos del vacio é uma experiência, mais até do que um álbum.
Nota: 10
Gravadora: Clouds Hill
Lançamento: 11 de abril de 2025
Crítica
Ouvimos: Doce Creolina, “Debaixo do chapéu de um cogumelo”

O mais fácil é comparar o Doce Creolina, dupla de Passo Fundo (RS) formada por Julia Manfroi e Mattos Rodrigues, com Júpiter Maçã ou Mutantes – temas doidões são muito comuns no EP de estreia deles, que por acaso se chama Debaixo do chapéu de um cogumelo. Tem muito mais ali: Beach Boys, Rita Lee (a ironia de várias letras e o clima tranquilo de algumas melodias descende direto da Rita de 1980) e até a psicodelia com cara latinesca dos Doors, além de estilos musicais cubanos.
Debaixo… começa com Micelios: sininhos, teclados, percussão abolerada, até que o clima vira para um rock sixties, com guitarra psicodélica. Vanuza tem violão cigano e percussão, com letra cheia de promessas de amor e melodia lembrando uma versão lisérgica dos Gipsy Kings – uma musicalidade que bate também no folk gauchesco e invernal de O vento e o tempo, que encerra o disco.
O lado brega-psicodélico do grupo surge no bolero de Para onde foram os morcegos da Vila Indiana? E também em Tema de marcação, chacundum com cara de Kinks e de Who, mas também ligado a Roberto Carlos e Júpiter Maçã – e que na verdade é releitura de uma canção de teor altamente guerrilheiro, lançada em 1975 pelo cantor gaúcho Leopoldo Rassier.
O EP do Doce Creolina tem ainda um subtexto punk, de protesto, exposto nos textos de lançamento do disco – um manifesto que fala sobre exploração dos recursos da natureza e os destroços do progresso e da civilização. A vibe da dupla é também uma proposta de amor à liberdade, pessoal e musical, seguindo rumo ao último volume.
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 9 de abril de 2025
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Crítica
Ouvimos: Roberta Lips, “En plein coeur”

Quarteto francês formado por mulheres, o Roberta Lips parece um desvio punk-garage rock das riot grrls, com referências óbvias tanto de Bikini Kill quanto de Blondie e Runaways – e até The Damned e Ramones. En plein coeur tem energia próxima da new wave em vários momentos, cabendo punk rocks com órgão e promessas de dancinhas malucas. É o som que brota de faixas como Roberta Lips (a banda tem uma música com seu próprio nome), Cafard e 9 meses.
No final a faixa-título consiste numa guitarra wah-wah que vai crescendo e se sobressaindo na faixa, ao lado de baixo, bateria e vocais. O clima confessional do disco já começa pela capa, com um telefone fora do gancho – En plein coeur, por sinal, abre com um ruído de ligação, e encerra com um telefone ocupado.
Nota: 7,5
Gravadora: Le Cepe Records/Modulor
Lançamento: 28 de março de 2025.
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