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Crítica

Ouvimos: Soul Asylum, “Slowly but Shirley”

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Ouvimos: Soul Asylum, “Slowly but Shirley”

Se o fim dos anos 1990 deu uma risadinha irônica para todas as bandas de Seattle que foram contratadas por grandes gravadoras, a mesma época deu um indigno eye-roll para vários grupos mais melódicos que chegaram ao grande público na mesma época. Bandas de altíssimo potencial como Redd Kross, Teenage Fanclub, Sugar, Lemonheads, Veruca Salt e Elastica voltaram-se novamente para o mundo indie ou foram desaparecendo. O Weezer, pertencente a essa turma, é caso raro: fez o movimento contrário e foi se tornando cada vez mais mainstream e “pós-grunge”.

O Soul Asylum também faz parte dessa galera. Aliás, é uma banda que fez parte de várias galeras. Começaram em 1981 em Minneapolis, fizeram parte do cenário alternativo oitentista da região, brigavam por espaço com bandas como Replacements e Hüsker Dü, e já tinham sido promessa fracassada de gravadora (com dois discos pela A&M em 1988 e 1989) quando estouraram na Columbia em 1992 e emplacaram o disco Grave dancers union, dos hits Somebody to shove e Runaway train, comerciais demais para serem considerados “alternativos” – e geralmente zoados por fãs de sons mais pesados. No futuro breve do grupo estariam turnês, hits e… aporrinhações com o mainstream, já que a Columbia engavetou o que seria inicialmente o oitavo disco deles, Creatures of habit, e mandou a banda refazer tudo (e isso aí gerou o razoável Candy from a stranger, de 1998).

A diferença do Soul Asylum para vários de seus colegas noventistas está numa coisa básica: a banda nunca desistiu. Ou pelo menos o líder Dave Pirner nunca deixou a bola cair, já que a formação original não existe mais há tempos – o último a sair, em 2012, foi o guitarrista solo original, Dan Murphy. Fora Pirner, o mais antigo da formação atual ingressou em 2005 – é o baterista Michael Bland, que tocou com Prince na era do New Power Generation.

Ouvir o Soul Asylum hoje em dia não chega a ser como ouvir outra banda. Até porque no disco novo, Slowly but Shirley (o nome é uma homenagem à pioneira mulher drag racer Shirley “Cha Cha” Muldowney, que aparece na capa), o grupo optou por em vários momentos, fazer “rock de Minneapolis”, no sentido de que a cara da região foi dada por eles e por bandas como Hüsker Dü (da vizinha Saint Paul) e Replacements, pródigas em boas melodias e em canções ágeis. Daí o disco novo opera numa confluência entre punk e power pop, com músicas como The only thing I’m missing, Trial by fire, If you want it back, Sucker maker e High road batendo uma bola bem mais forte do que canções “sensíveis” como as baladas You don’t know me e Freak accident.

O grupo retorna produzido por Steve Jordan, baterista dos Rolling Stones – substituto de Charlie Watts, enfim – e não é nada curioso que o lado mais hard rocker deles lembre direto o veterano grupo britânico, como acontece em Freeloader, High & dry e na suingada Tryin man. Já Makin plans responde pela faceta country rock do grupo, igualmente associável aos Stones e até ao Who.

Nota: 7,5
Gravadora: Blue Elan Records

Crítica

Ouvimos: Optic Sink – “Lucky number”

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Pós-punk afiado: no novo álbum, o Optic Sink mistura baixo frontal, bateria robótica e synths em faixas tensas, frias e cheias de energia.

RESENHA: Pós-punk afiado: no novo álbum, o Optic Sink mistura baixo frontal, bateria robótica e synths em faixas tensas, frias e cheias de energia.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Feel It Records
Lançamento: 31 de outubro de 2025

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Tem pós-punk estranho lá em Memphis. O Optic Sink parece com aquelas bandas que você descobre em coletâneas antigas da Factory – grupos para os quais o Joy Division chegou a abrir shows mas que ficaram no passado, ou que chegaram a ser considerados mais promissores que o New Order por alguns minutos. Claro que nada disso significa que o Optic Sink vai ficar para trás: no terceiro disco, Lucky number, eles vêm com músicas pontiagudas e altas habilidades no uso dos melhores truques dos estilos da “família” pós-punk.

  • Ouvimos: Anika, Jim Jarmusch – Father, mother, sister, brother (trilha sonora do filme)

Natalie Hoffmann, Ben Bauermeister e Keith Cooper usam e abusam de baixo na frente, batera robótica, riff de guitarra combinados com riffs de synth, heranças do krautrock, vibes repetitivas e bacanas, vocais que dão certos sustos no/na ouvinte – tudo isso surge em faixas como Laughing backwards, Lucky number, Don’t look down. Já Construction abre com algo que (opa) pode se parecer com a fase tecnopop do Queen, mas também pode não parecer – e que logo se torna algo mais próximo de bandas como Magazine e Stranglers.

O lado mais frio e ritmado do grupo continua dando as cartas em músicas como How can I help you? e Kinetic world, duas canções que constroem atmosferas urbanas e musicais na frente de quem ouve o disco. Já Golden hour, um duelo entre baixo e guitarras funciona como se pusesse Joy Division e New Order lado a lado. Luxury of honesty, encerrando o álbum, tem curiosamente algo de raggamuffin na batida, e chega a lembrar a mania do Public Image Ltd pela exploração de ritmos em meio ao instrumental frio.

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Ouvimos: Alan James – “Solar/Sonhar”

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Solar/Sonhar, novo álbum de Alan James, junta Beatles, sunshine pop e Clube da Esquina em faixas psicodélicas e sessentistas, com toques de Skank, Guilherme Arantes e Elton John.

RESENHA: Solar/Sonhar, novo álbum de Alan James, junta Beatles, sunshine pop e Clube da Esquina em faixas psicodélicas e sessentistas, com toques de Skank, Guilherme Arantes e Elton John.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 7 de novembro de 2025

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Fã de Beatles, de Roberto Carlos, do já saudoso Lô Borges, de Todd Rundgren e de nomes do chamado sunshine pop (estilo musical mais ou menos popular na Califórnia no fim dos anos 1960, gerado por fãs de Beach Boys e The Mamas and The Papas como a banda The Millennium), o carioca radicado em SP Alan James faz a junção de tudo isso em seu segundo álbum solo, Solar/Sonhar.

  • Ouvimos: Julian Lennon – Because… (EP)

Solar/Sonhar começa juntando Todd Rundgren e The Who na psicodélica Não precisa mais – que ganha duas partes no disco, a segunda encerrando o álbum numa onda meio britpop, meio Guilherme Arantes. Luz da manhã, na sequência, tem toques herdado tanto do Clube da Esquina quanto de sensações pop sessentistas como The Cowsills. A onda sunshine pop toma conta de faixas puramente sessentistas como Não se prenda ao medo, Pra ver o sol e Olha, enquanto a vinheta Por que isso aconteceu comigo? (cuja letra é apenas o seu título) tem muito de bandas como High Llamas.

Perto do final, Solar/Sonhar ganha uma cara parecida com a fase Maquinarama / Cosmotron do Skank, em Sobrevivo e Graciosa ilusão, e junta Guilherme Arantes, Elton John e Carpenters na bela Aquela que brilha.

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Crítica

Ouvimos: Scarlet Rae – “No heavy goodbyes” (EP)

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Scarlet Rae estreia com No heavy goodbyes, EP indie/alt-rock noventista, intimista e ruidoso, que mistura Smashing Pumpkins, shoegaze e folk para tratar de luto e confissão.

RESENHA: Scarlet Rae estreia com No heavy goodbyes, EP indie/alt-rock noventista, intimista e ruidoso, que mistura Smashing Pumpkins, shoegaze e folk para tratar de luto e confissão.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Bayonet Records
Lançamento: 19 de setembro de 2025

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Scarlet Rae é uma cantora de Los Angeles que hoje vive em Nova York, e que após trabalhar em vários projetos na adolescência, começou a lançar faixas solo em 2020. Seu meio de origem é o indie folk – ela chegou a cantar numa banda do estilo, a Rose Dorn, que gravou pelo selo Bar None Records.

No heavy goodbyes é o EP solo de estreia, e é mais uma prova audível de que os Smashing Pumpkins (que há poucos meses atrás não pareciam ser uma banda tão “seguida” por artistas novos) virou referência maníaca. Músicas como The reason I could sleep forever são tão reverentes ao grupo de Billy Corgan quanto o disco de estreia do Rocket, R is for rocket. Não apenas isso: A world where she left me out vai na onda shoegaze, e tem mais do que apenas uma ou outra referência dos SP e também do Joy Division. É um rock barulhento com o pé no radiofônico – coisa que tem se tornado comum nos dias de hoje, aliás. Não por acaso, volta e meia você vai lembrar dos Cardigans e do Placebo ouvindo o EP, o que já insere Scarlet num corredor noventista.

Apesar das influências de Smashing Pumpkins e da vocação para fazer barulho, o som de Scarlet – vale dizer – é bem baixos teores nesse sentido. O foco de No heavy goodbyes é na demonstração dos talentos de uma ótima cantora e compositora ligada a climas mais introspectivos e a letras confessionais – o idioma do soft rock traduzido para sons “alternativos”. Bleu, primeiro single de Scarlet, vem na sequência com ruídos eletrônicos, vocais gravados “lá atrás” e clima hipnótico. No fim do disco, Light dose e Call of the day são as canções mais aprochegadas do “indie folk” – trazendo violões com senso rítmico e melódico, e um certo ardidinho grunge.

As letras de Scarlet, por sua vez, trazem bem mais do que tristeza e pé na bunda. O material de No heavy goodbyes foi fortemente influenciado pela morte de irmã da cantora – e além do luto, a própria pulsão de morte do ser humano entra em discussão nas letras (daí o EP ter uma faixa chamada The reason I could sleep forever). Um disco que pede imersão, ainda que por um curto tempo.

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