Connect with us

Crítica

Ouvimos: Self Esteem, “A complicated woman”

Published

on

Ouvimos: Self Esteem, “A complicated woman”

A “mulher complicada” do terceiro disco de Self Esteem (nome artístico da cantora e compositora britânica Rebecca Lucy Taylor) está mais para dedo na cara do que para tarja preta. A complicated woman é um álbum sobre liberdade: fazer o que se quer, sem pedir licença, esperar pelo melhor e celebrar vitórias. O som é uma dance music texturizada e trevosa, cheia de batidões, de referências de gospel e soul, destacando a boa voz da cantora.

Em faixas como Mother (“não sou sua mãe e nem você deveria querer que eu fosse”, “eu não sou sua terapeuta, você nem me paga o suficiente para isso”) machos escrotos são reduzidos a pó de merda. E na provocante e divertida 69, o sexo é tratado com criatividade: a letra rankeia posições sexuais e revela que Rebecca/Self Esteem não gosta de fazer, digamos, sexo oral recíproco (“é a única coisa que eu odeio / porque não consigo me concentrar”, avisa). I do and I don’t care une cordas, batidas, ruídos, vocal quase falado, e um coral que cresce no fim.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

O mesmo clima toma conta de faixas como If not now it’s soon, The deep blue okay, What now e Focus in power, voltadas para um pop próximo do gospel, e para corais que vão tomando conta da faixa aos poucos. The curse é um pop quase ambient, Logic, bitch! é um r&b provocador, Cheers to me é uma dance music de empoderamento cujo nome serve como grito de guerra.

Em A complicated woman tudo é muito bem produzido, e às vezes fica a leve impressão de que esse primeiro álbum verdadeiramente major de Self Esteem (ela gravava pela Fiction antes) tem mais discurso e produção do que canções verdadeiramente boas. De certa forma é por aí – e discos que marcam a chegada de um artista ao mainstream muitas vezes sofrem desse mal, do pé simultaneamente na ousadia e no mais-do-mesmo. Os próximos passos de Self Esteem dependem bastante de ousadia – dessa vez na parte musical.

Nota: 7
Gravadora: Polydor
Lançamento: 25 de abril de 2025

Crítica

Ouvimos: Preoccupations – “Ill at ease”

Published

on

Ouvimos: Preoccupations - "Ill at ease"

RESENHA: Preoccupations lança Ill at ease, seu melhor disco: pós-punk denso, melódico e sombrio, com ecos de R.E.M., Smiths e Interpol.

Existe algo bem forte no som da banda canadense Preoccupations (ex-Viet Cong – a alcunha mudou porque a banda começou a ter shows cancelados devido ao nome considerado ofensivo) que lembra uma mescla de Interpol, R.E.M. e Smiths. O tal “algo” inclui: vocais fortes, letras apocalípticas, climas pesados, mas tudo amaciado com vibes bem melódicas.

Ill at ease (algo como “constrangido”, “pouco à vontade”) leva essa receita ao máximo e é o melhor disco de Matt Flegel (baixo, vocais), Mike Wallace (bateria), Scott “Monty” Munro (guitarra, sintetizador) e Daniel Christiansen (guitarra) até o momento. Musicalmente é o retrato da transformação do pós-punk em, mais que um estilo musical, uma senha de compreensão musical, e uma chave de leitura para clima estranhos.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

É o que rola em Focus, uma canção sobre mal do século e culpa (“o diagnóstico é / estou fazendo o meu melhor / para esquecer tudo o que sei / mas não consigo me livrar da vergonha dos erros que cometi / deve ter acontecido aqui há mil anos’). E no pós-punk eletrônico de Bastards, uma canção que põe a nu a pose daquele ser humano que só pensa em grana e fama, mas com metáforas de fim de mundo: “talvez, quando você sentir tudo desmoronando / não há mais nada aqui para aproveitar / acho que estamos prontos para o asteroide”.

O disco aponta também para uma união entre a crueza do punk e o som dos já citados R.E.M. e Smiths (Andromeda), sons que lembram David Bowie (a faixa-título e Retrograde – essa última na onda da fase Berlim) e pós-punk robótico na cola de Can e New Order, simultaneamente (Panic). Sken tem experimentações rítmicas a rodo no começo, a ponto de confundir a/o ouvinte, e, finalizando, Krem2 é um blues pós-punk gótico e sombrio. Enfim, Ill at ease traduz inquietações com arranjos emocionantes, atmosferas densas e um senso constante de tensão.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Born Losers Records
Lançamento: 9 de maio de 2025.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Men I Trust – “Equus asinus”

Published

on

Ouvimos: Men I Trust - "Equus asinus"

RESENHA: Men I Trust lança Equus asinus, disco nostálgico e etéreo com folk desolado, pop barroco, emanações da música francesa, e clima de trilha soft porn das antigas.

Demoramos para resenhar o disco do Men I Trust, Equus asinus, lançado em março, e acabou que a banda canadense já cumpriu o que havia prometido e soltou nas plataformas Equus caballus, novo álbum e “outra face” do disco anterior.

São de fato dois discos com astrais bem diferentes um do outro – Caballus fica para uma próxima resenha, mas Asinus investe fortemente numa nostalgia ligada ao pop barroco, à música francesa e… aos temas de antigos filmes soft porn. Pois é: faixas como Girl, Bethelehem e The landkeeper caberiam bem em algum filme da franquia Emmanuelle, ou em alguma produção liberalzaça rodada numa praia deserta.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Também é um disco marcado por estruturas musicais ligadas ao folk desolado, como em Unlike anything (“quando minha mão se for, você será o mesmo / você é diferente de tudo que eu conheço / você ainda é aquele que não pode ser domado”), I don’t like music, Frost bite, a celestial Burrow. Moon 2 é uma balada jazzística, psicodélica, derretida, que soa como uma viagem bem estranha – e é seguida por um instrumental de piano, What matters most.

Na real, o que o Men I Trust fez foi dividir seu som em dois lados diferentes, e colocar cada lado em cada disco – e a face tranquila e enevoada surge em Equus asinus. É uma opção que acaba cobrando algumas coisas do grupo: mesmo que Asinus tenha algumas músicas excelentes, o cansaço acaba vencendo várias vezes, e fica a impressão de um disco bem maior do que seus quase 45 minutos.

A curiosidade fica por conta da capa, que mostra uma foto num clima nada sexy: um casal no quarto, o homem passando roupa, a mulher de costas. Pode ser uma autozoação, mas fica na memória o que alguém disse do disco no site Album Of The Year: “Desculpe, mas a ironia não pode salvar esta capa”. E é verdade.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Independente
Lançamento: 19 de março de 2025

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Scar – “Lado A: O óbvio ululante” (EP)

Published

on

Ouvimos: Scar - "Lado A: O óbvio ululante" (EP)

RESENHA: Scar, de Nilópolis, lança Lado A: O óbvio ululante: synthpop com pegada 80s, vaporwave e referências de videogame, pagode e Turma da Monica.

Synthpop de Nilópolis (cidade da Baixada Fluminense, Rio), feito por uma banda-de-uma-mulher-só, com referências que vão de trilhas de videogames dos anos 1990 a histórias da Turma da Monica. O Scar, comandado pela musicista Isis Cardoso, vai além disso, apresentando no EP Lado A: O óbvio ululante quatro faixas que falam sobre amores, distâncias, batalhas diárias, transporte público, e uma noção de synthpop que passa principalmente pelo pop adulto dos anos 1980 e pelo retrofuturismo.

Shinji, a faixa de abertura, fala sobre o dia a dia de alguém que trabalha o dia inteiro (em telemarketing, como sugerem o início e fim da faixa), em meio a uma trama de programações, vocais e synths que remete tanto a Yellow Magic Orchestra quanto a grupos de pagode, tudo funcionando como se tivesse sido gravado no quarto. Maktub invade as áreas da Orchestral Manoeuvres In The Dark, do Ultravox e de Marina Lima, unindo observações do urbano e do existencial (“já estive tanto no lugar errado / já estive tanto no mesmo lugar”).

Na segunda metade do EP, Coisas tem batida seca e pós-punk, que evolui para algo sintetizado, ensolarado e tropicalizado, com pandeiro e percussão no fim. Tamagochi, aberta pelos incríveis versos “semana passada você passou com seu Chevette / com seus óculos escuros / com o seu walkman / e disse pra ouvir a fita que você gravou” une synthpop, pagode e clima vaporwave, como se desse início a um sonho em que várias perspectivas de futuro se confundem.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Quarto Escuro Sounds
Lançamento: 3 de maio de 2025

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

 

Continue Reading
Advertisement

Trending