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Crítica

Ouvimos: Paris Texas, “They left me with the sword”/“They left me with a gun” (dois EPs)

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Ouvimos: Paris Texas, “They left me with the sword”/“They left me with a gun” (dois EPs)

O Paris Texas é um duo enfezado – Louis Pastel e Felix fazem rap com argamassa roqueira, não economizam na criatividade dos beats, não poupam palavras chulas, não têm medo de parecer sombrios e assustadores, e não estão nem aí para o que pensam deles. Dessa vez, os dois dedicam-se ao lançamento de dois EPs que vieram de surpresa, e que surgem como continuação um do outro – uma antologia armada (de espada e de arma de fogo, como dizem os títulos), e que apontam para lugares bem diferentes, embora complementares.

They left me with the sword já abre com a tempestuosa vinheta The sword, apontando para tempos sombrios e exortando: “como vocês lutarão sem uma arma?”. O clima sombrio perpassa o batidão hip hop frio e pesado de Dogma 25 (que parece um Ministry do rap), a grungeira rapper de Red eyes & blue hearts, e a tensão do horror rap de Tantrum. Sons entre o funk e o jazz dão uma amenizada nas sombras em Holy spinal fluid, Infinyte e El camino, essa última tomada por baixo e beats, copm um refrão quase emo-rap.

They left me with a gun, que é bem mais arrojado que o EP anterior, abre com um inusitado indie-pop-rap, Superstar, que encara o mundo das celebridades instantâneas com cinismo: “Todo mundo famoso/isso significa que ninguém é famoso/em um mundo onde todos nós somos artistas/por que estou com sono?”. Segue com a rapidez quase rap-hardcore de Twin geeker, com o synthpop podre de Stripper song, e com o rap pós-punk de Mudbone (cheio de micropontos góticos). Caminhando para o fim, a indie dance sinuosa de H A L O e o soul-de-quarto de No strings. E se há uma marca que o Paris Texas parece querer deixar é a da fúria direcionada com criatividade.

Nota: 8,5 (sword) e 9 (gun)
Gravadora: Paris Texas LLC
Lançamento: 21 de fevereiro de 2025 (sword) e 28 de fevereiro de 2025 (gun).

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Ouvimos: The Wombats, “Oh! The ocean”

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Ouvimos: The Wombats, “Oh! The ocean”

Em seu sexto disco, Oh! The ocean, os Wombats – uma banda de Liverpool, vale informar – fazem um indie rock que herda tanto das bandas do começo dos anos 2000 quanto de grupos como The Replacements, New Order e até Cheap Trick.

Cheap Trick? Sim. A ironia característica da banda norte-americana sempre esteve presente na música dos Wombats e reaparece aqui em faixas como o indie pop Sorry I’m late, I didn’t want to come (“desculpe pelo atraso, não queria vir”), o soul-indie rock I love America and she hates me (com sonoridade na linha do Arctic Monkeys) e The world’s not out to get me, I am (“o mundo não está contra mim, sou eu que estou”). Esta, soa como uma paródia do rock pesado cool de bandas como The Black Keys e Rival Sons, com versos como “vítima de mim mesmo, não posso culpar mais ninguém / mas você sabe que vou tentar”.

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Oh! The ocean também traz faixas com energia de rock oitentista, como Can’t say no, além de Blood on the hospital floor, que une The Replacements e Kaiser Chiefs, e canções mais ligadas à eletrônica do indie pop, como as boas Lobster, Kate Moss e Grim reaper. As linhas de baixo marcantes de My head is not my friend também se destacam.

Mas as maiores surpresas do álbum são a faixa bônus Reality is a wild ride, uma canção sinuosa e psicodélica que remete ao rock britânico do começo dos anos 1990, e Swerve (101), uma espécie de paródia do emo, com versos como “você nunca deixaria de ser feliz / com um novo sugar daddy / desviando para cima e para baixo na 101 (…)/ a maioria das coisas se resolve sozinha, você não sabe? / e algumas crescem como uma bola de neve até explodirem”. Em vários momentos, um disco que mantém a pose indie, mas sabe rir de si próprio.

Nota: 8,5
Gravadora: AWAL Recordings
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025.

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Ouvimos: Cathedrale, “Poison”

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Ouvimos: Cathedrale, “Poison”

Essa banda francesa é a prova de que grupos como The Cure, Wire e Killing Joke estão entre os mais influentes do mundo. Lançando mão de evocações sonoras desses grupos, o Cathedrale faz um pós-punk ousado, experimental (em certa medida) e pesado (idem), com uso de baixo distorcido, riffs graves de guitarra e vocais ríspidos e quase robóticos – às vezes lembrando David Byrne (Talking Heads), em outros momentos na cola de Mark E. Smith (The Fall).

O grupo também se equilibra entre distorções e microfonias em faixas como o pós-punk ruidoso Monuments & bricks, a mecânica South life e The setting sun, cheia de ecos de Joy Division e The Sound. Where the fire is é pós-punk sombrio com baixo lembrando Pixies, Radium é som selvagem com herança do Killing Joke e um desespero nada leve toma conta de músicas como The two words, além da dramaticidade meio 60’s de Healing.

Poison é também o disco de sons mais ligados ao punk como Cravings e Enchantess, do aviso de fim do mundo de Polonium, da luz e sombra de Wave goodbye (que parece unir B-52s e Wire na mesma medida) e de uma aproximação leve com a psicodelia em New light, que encerra o álbum. As letras, cantada em inglês com forte sotaque francês, seguem o mesmo rumo, misturando temas políticos e urbanos a assuntos como vícios severos e morte.

Nota: 8
Gravadora: Howlin Banana
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025.

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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O que foi deixado de lado em discos anteriores é…Bom, é quase tão difícil de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público convergiu – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2036.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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