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Crítica

Ouvimos: Lestics, “Bolero #9”

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Ouvimos: Lestics, “Bolero #9”
  • Bolero #9 é o nono álbum da banda independente paulistana Lestics. O grupo tem na formação Olavo Rocha (voz), Umberto Serpieri (violão, guitarra, bateria, percussão, teclados e backing vocals) e Marcelo Patu (baixo). O material foi gravado no homestudio de Umberto (em São Roque, SP), que também gravou e mixou todas as faixas.
  • Olavo define o disco como “dez canções que falam da vida (do que mais poderiam falar?) e que também soam um pouco com ela, no sentido da singeleza e da baixa fidelidade. Porque este é (o que mais poderia ser?) um disco lírico e lo-fi”.
  • Figura indispensável no disco novo (tocando vários instrumentos, gravando e mixando), Umberto estava fora do grupo desde 2012. “O disco não deixa de ser uma celebração sem nostalgia da sua volta”, diz Olavo.

Uma banda independente que existe desde 2007, nunca encerrou atividades e já está no nono álbum, é algo para se comemorar – e ficar de olho. O Lestics começou como um spin-off de outra banda interessantíssima de São Paulo, o Gianoukas Papoulas, e ganhou história própria, com direito a um design musical e lírico que se aproxima da criação de contos ou crônicas. E que, muitas vezes, aproxima o Lestics de bandas mais invernais, do underground britânico dos anos 1980.

Justamente por isso, o Lestics não é uma banda de rock comum – está mais para uma banda de rock mutante, que pode se aproximar do pós-punk em alguns momentos, ou do folk, ou do indie rock mais recente, sempre mantendo a liberdade musical como principal bandeira.

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O álbum Bolero #9 vai nessa onda, abrindo com o folk nostálgico e introvertido de Correnteza e Commedia de bolso, seguindo com o tom de cabaré de Elogio ao desfibrilador, a quase psicodelia do country rock Desculpe alguma coisa e a tranquilidade do alt-country Medo da vida (Revisitado), marcado por teclados e percussões de tom quase marítimo. Na parte final, o violão-e-voz de Enquanto houver tempo, mais próximo da MPB, mas filtrada via Fellini. E que vem seguida pela quase-bossa de A dança, pelo rock-balada de Ninguém deu em nada, e pelo final de festa paradisíaco e solitário de Último bolero – que lembra uma paródia de antigos jingles de bebidas, ou de canções nostálgicas que faziam parte da playlist pré-Spotify de avós e bisavós.

Vale dizer que um clima de fim do sonho (e de esperança após o fim do sonho) passa por todas as letras, como na redescoberta do amor de A dança, a positividade de Enquanto houver tempo (“nem tudo é coerente/mas tudo é pra sempre/enquanto houver tempo”) e a zoeira com antigas expectativas de Ninguém deu em nada (“nem gênio da raça/nem monstro sagrado/nem louco da praça/ninguém deu em nada”), o que dá um ar bastante conceitual ao novo do Lestics. E faz com que os dilemas de Bolero #9 sejam os de qualquer pessoa, a qualquer tempo.

Nota: 9
Gravadora: Independente

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Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

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Ouvimos: Home Is Where - "Hunting season"

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.

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O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).

Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.

Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.

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Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

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Ouvimos: Satanique Samba Trio - "Cursed brazilian beats Vol. 1" (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1

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Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).

Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.

A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.

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Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

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Ouvimos: Mugune - "Lua menor" (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.

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Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.

A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.

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