Lançamentos
Radar: Olivia Yells, Moptop, Gustavo Ortiz, Manny Moura, Gab Ferreira, Mariana Nolasco

Tem tanta coisa legal saindo que, na hora de fazer o Radar, a gente tem que organizar tudo numa fila, pensar em prioridades, ver o que bate mais com nosso gosto e com a sonoridade valorizada pelo Pop Fantasma, e quase usar uma fórmula matemática própria para ver o que sai na seção – que tem alternado entre lançamentos nacionais e internacionais, e sai quatro vezes por semana. Hoje, juntando tudo, temos essa turma aí. Ouça e crie suas próprias playlists (Foto Olivia Yells: Divulgação).
Texto: Ricardo Schott
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OLIVIA YELLS, “GUILTY”. Devidamente noticiada pela gente quando era apenas um single, Guilty, música da curitibana Olivia Yells, acaba de virar clipe. No vídeo, dirigido por Maju Tohme e pela própria Olivia, ela interpreta a personagem da música – uma mulher de véu, atormentada pela culpa e manipulada psicologicamente pela religião (“todo meu corpo é culpado”, diz o refrão, várias vezes). A faixa rola entre o punk, o metal e o stoner, com emanações de To bring you my love, canção de PJ Harvey, e da sonoridade de Jack White – o ex-White Stripes é lembrado no ataque sonoro da guitarra base, tocada por Olivia.
MOPTOP, “TIGHTROPE”. Investindo cada vez mais em partículas de rock solar, o retorno da banda carioca Moptop rendeu um último single antes do lançamento de Long day, o terceiro álbum, que vai estar disponível nesta sexta-feira (6). Apesar da melodia alegre, lembrando bandas como Arctic Monkeys e as mais alegrinhas dos Strokes, Tightrope, novo single do Moptop é sobre a busca de sentido em coisas da vida que são complicadas de entender – e é uma despedida a alguém que foi partindo aos poucos.
Versos como “nós vamos superar tudo / porque agora eu sei / eu tenho me apegado a fantasmas e mentiras / esperando por uma chance de dizer adeus” parecem o exorcismo de uma fase difícil, e o verso final (“procurando respostas, mas talvez / existem respostas que você não pode saber”) vem como o momento de superação.
GUSTAVO ORTIZ feat ROMULO FROES, “JOSÉ, JOÃO”. O que não falta são clássicos do samba em homenagem ao trabalhador brasileiro. O poeta operário, imortalizada por Bezerra da Silva, fala do sujeito que bate ponto cedo na fábrica e, em casa, escreve versos – e ainda cantou a injustiça da mais-valia no verso “ganha mais quem nada faz / menos ganha quem produz”. Já Com toda essa gente, cantada por Beth Carvalho, rima: “eu quero ouvir de novo a voz do meu povo que traz o suor / a esperança vadia de ter algum dia uma vida melhor”. Fora sucessos de Chico Buarque como Pedro pedreiro e Construção – a segunda colocando em letra e música o crescimento desordenado das cidades e a desproteção do operário.
José, João, lançada por Gustavo Ortiz no simbólico 1º de maio, reverencia o pai do compositor – um ex-caminhoneiro que começou a trabalhar ainda na infância, e morreu de covid poucos dias antes de receber a vacina. Romulo divide vocais e faz a produção da faixa, que está num EP prestes a sair. Uma música de memórias e lutas – e glórias. A faixa já ganhou clipe, em clima de festa familiar.
MANNY MOURA, “OBJECT OF DESIRE”. Radicada em Los Angeles, a carioca Manny Moura descreve essa música nova como sua composição mais vulnerável. Isso porque dessa vez, ela decidiu fazer um “mergulho interno que conecta traumas antigos com inseguranças atuais”, sem manter distanciamento – ou seja, é ela toda na música, sem medo de falar o que sente. Object of desire é um pop com cara folk, influenciado por Olivia Rodrigo e Taylor Swift, e que fala sobre aquele sentimento ruim, de não se sentir suficiente aos olhos de alguém. No lyric video, Manny aparece vestida de cupido – na real, um cupido que flecha os outros mas adoraria ser flechado.
GAB FERREIRA, “PONTA DA LÍNGUA”. Aquela sensação de ter algo atravessado na garganta, prestes a sair, mas que nunca chega a virar palavra. Em Ponta da língua, Gab Ferreira traduz esse impasse com delicadeza e tensão. O novo single, que antecipa o primeiro álbum da artista, traz um indie pop de tons psicodélicos e solares – melodia relaxada, quase etérea, contrastando com uma letra inquieta sobre conversas que nunca se completam. “O quase dito, o sentido mas não expresso”, define Gab. E entre nuances e surpresas no arranjo, o silêncio ganha voz.
MARIANA NOLASCO feat MARO, “DO RASO AO FUNDO”. Em busca de profundidade emocional, Mariana lança Do raso ao fundo como um convite ao mergulho em conexões reais. A parceria com a cantora portuguesa Maro reforça essa ideia, e amplia o alcance sensível da faixa. O arranjo é uma fusão suave de folk, pop e clima onírico, num dueto delicado sobre escutar, sentir e se permitir ir além do óbvio. A faixa já ganhou clipe.
Crítica
Ouvimos: Alaide Costa – “Uma estrela para Dalva”

RESENHA: Em Uma estrela para Dalva, Alaíde Costa homenageia Dalva de Oliveira com emoção e arranjos únicos, revelando novas camadas em clássicos da MPB.
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Reposicionada no mercado com dois discos fortes de inéditas, Alaíde Costa decidiu recordar o repertório de Dalva de Oliveira em seu novo álbum – uma homenagem que remonta à época em que estava começando, participava de programas de calouros no rádio e tinha Dalva como modelo.
Uma estrela para Dalva, à primeira vista, para quem olhava de fora, poderia até parecer com uma dessas manias de artista – como aconteceu há alguns anos, quando Wanderleia desistiu de fazer com Marcus Preto um disco que recordava sua fase glam para se aventurar num álbum de chorinho. No caso de Uma estrela, de jeito nenhum: Alaíde reúne tudo conceitualmente, e interpreta todo o repertório com várias lágrimas na voz, ao lado de músicos que dão – cada um deles – uma cara própria para cada faixa.
Relendo as músicas imortalizadas por Dalva, Alaíde descobre melancolias que haviam até mesmo na marchinha Bandeira branca, com Amaro Freitas no piano. Além de passar pela intensidade de Tatuado (com piano circular de Zé Manoel), Há um deus (clima quase clássico com Vitor Araújo nas teclas), Bom dia (quase seis minutos de música, com Guinga no violão). Itamar Assiere faz um piano quase bossa-pop em Estrela do mar, e Maria Bethânia divide com ela Ave-Maria no morro – as duas acompanhadas por João Camareiro no piano.
Já Sebastiana da Silva, com clima quase lo-fi e Roberto Menescal na guitarra, conta a história de uma copeira que “convidada pelo maioral” do morro, vira porta-estandarte contra sua vontade. A música acaba se transformando em recordação (recordação?) de um racismo naturalizado, onde a personagem “não negou a sua raça”, sambou, prosperou financeiramente, “ficou cheia de si” e voltou para o morro. Serve como beleza musical, como documento e como denúncia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Deck
Lançamento: 9 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Luedji Luna – “Um mar pra cada um,”

RESENHA: Em Um mar pra cada um, Luedji Luna mergulha fundo em sons e sentimentos, unindo jazz, soul, samba e reflexões íntimas em um disco inventivo e maduro.
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Um mar pra cada um, disco novo de Luedji Luna (que saiu há alguns dias e já foi completado pela continuação Antes que o mundo acabe – em breve aqui no Pop Fantasma), vem após momentos de reflexão e de respiro. Momentos esses em que ela percebeu que estava com mais necessidade de exibir musicalidade do que aparatos de palco, coreografias, e qualquer coisa que transformasse seu show numa atração pop comum. Um processo que ela detalhou numa entrevista ao jornal O Globo, e que incluiu também um interesse recente por animais abissais, criaturas do fundo do oceano.
Daí para a frente, Luedji considera que passou a falar de sentimentos de maneira mais profunda – enxergando coisas que muitas vezes não estão mesmo na superfície. Isso certamente contou para a sessão de terapia da vinheta jazzística 4hz (com uma narração sobre desejos de mulheres), para as previsões de Karma – faixa entre o samba-soul e o jazz – e para o amor inventado de Harém, com Liniker nos vocais. E também para o blues-soul de Joia, com citação e sample de Pérola negra, de Luiz Melodia.
O que mais chama a atenção em Um mar pra cada um é que a música vem mais profunda e mais inventiva do que em lançamentos anteriores, acompanhando o processo pessoal de Luedji. O disco abre com clima “jazz from hell” na instrumental Genesis, invoca o jazz soul de Sade em Kyoto, e migra para um pop adulto de respeito em Rota e Dentro ali (essa última, uma faixa candidata a quebrar qualquer tipo de bloqueio, com vibe lembrando Adriana Calcanhotto). Há também samba reggae marítimo em Gamboa e emanações do neo soul noventista em Salty, jazz soul que combina vibrações solares e noturnas em dupla exposição.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 26 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: The Twist Connection – “Concentrate, give it up, it’s too late”

RESENHA: Vindo de Portugal, The Twist Connection mistura indie dos anos 2000 com pós-punk sombrio. Soa melhor quando aposta no lado mais tenso e soturno do rock.
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Com uma carreira que começou há quase dez anos, o grupo português The Twist Connection equilbra sua música entre o indie rock do começo dos anos 2000 e o clima sombrio do pós-punk oitentista, no álbum Concentrate, give it up, it’s too late. As letras são em inglês e os vocais lembram de leve os momentos mais desesperados de Ian Curtis, como nas tensas Smiling man e Crime – essa, com riff de duas notas apitando no ouvido. Já I can’t breathe now é indie chique sessentista com emanações de Roxy Music.
See if you can hang lembra o Echo and The Bunnymen do começo, com vocal parecendo um improviso poético por cima da música, e guitarra com som circular, enquanto Pulse, com clima new wave, traz os vocais da convidada Tracy Vandal. São esses os melhores lados do Twist Connection, que busca também soar como uma banda do começo dos anos 2000 em People like (com pegada Strokes), Concentrate e no garage rock Robbery. Quanto mais voltado para a face lúgubre do rock, mais o Twist Connection soa convincente e bacana. Ouça.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Lux Records.
Lançamento: 4 de abril de 2025.
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